Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 72
A caçada


Notas iniciais do capítulo

Acabei de postar a história que disse que ia fazer sobre o Hermes e a Jenny. Quem quiser acompanhar, vai ser super bem-vindo: https://fanfiction.com.br/historia/732314/Retorne_Ao_Remetente/

Quanto ao capítulo de hoje, espero que gostem.
Boa leitura, pessoal!



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POV Apolo

 

Os olhos de Thomas brilharam ao me ver aproximar. Eu esperava encontrá-lo sozinho e com medo, no meio das árvores. Talvez sujo de lama ou chorando, mas para a minha grande surpresa, ele estava em pé ao lado da minha irmão.

— Ei, carinha! — Disse me aproximando devagar. Tudo com Ártemis era um assunto delicado, por isso ainda estava tentando entender a situação em que o garoto se metera para a minha irmã estar ali.

— Você chegou! — Gritou Thomas em entusiasmo, mas logo virou-se para Ártemis, ignorando minha presença — Você vai gostar muito dele! Ele é amigo da minha namorada, e sabe fazer magia!

Pelos olhos azuis furiosos dela, pude ver que algo não estava certo.

— Por Zeus, Thomas, no que você se meteu? — Perguntei preocupado.

— Apolo. — Disse Ártemis quebrando o silêncio, quando Thomas esticou a mão se segurou o braço dela com seus dedinhos infantis. Se ele fosse um homem, já estaria morto. A mão dela mexeu-se como um raio, livrando seu braço dele e agarrando o garoto pela nuca como se fosse um filhote de gatinho — Ele é seu?

— Bem, sim. Eu estava atrás dele. — Olhei tenso e apreensivo para os olhos do menino — Thomas, você viu ela tomando banho? Porque se você viu, não há nada que eu possa fazer para salvar a sua vida.

— O quê? Eca! Não. — Ele ficou vermelho com a ideia. Thomas olhou para Ártemis sorrindo — Ela é minha amiga!

— Não, não sou. — Respondeu impaciente.

— Ela tem um arco e flechas, e vai caçar um monstro de verdade! — Exclamou em um entusiamo tipicamente infantil. Ártemis bufou e empurrou-o em minha direção.

— Esse garotinho — Ela falou como se a palavra lhe causasse enjoo — está atrapalhando a minha caçada, e eu não tenho tempo para ser babá das suas crianças.

— Ele não é minha criança! É o primo da Alice que fugiu de casa. — Rebati.

— Espera, vocês se conhecem? — Perguntou Thomas, olhando ora para mim, ora para ela.

— Ela é minha irmã. — Contei e aproveitei a oportunidade para acrescentar — Mais nova.

— Eu odeio tanto você. — Ela falou me fuzilando com o olhar. Ártemis fez um “xô daqui” com as mãos para Thomas — Vai logo com ele. Eu tenho coisas a fazer.

— Mas nós podemos ajudar! — Gritou Thomas não querendo deixá-la ir embora. Ártemis gemeu, impaciente. Estava vendo a hora em que ela transformaria Thomas em um passarinho, ou em um cervo, e isso não seria bom — Ele é um bruxo, ele faz magia! E eu sou inteligente e forte! Podemos caçar juntos. — Ele voltou os olhos brilhantes para mim — Quer caçar com a gente?

— Espera aí, bruxo? — Repetiu Ártemis e foi então que a minha irmã deu uma risada. Muito provavelmente, a primeira em décadas — Ele é um bruxo? Eu não acredito nisso.

Eu sabia o que ela estava fazendo. Queria atiçar Thomas para me fazer passar vergonha. Tão típico de irmãs mais novas!

— Acredite! Ele é um bruxo de verdade! — Exclamou Thomas — Ele fez uma vassoura dançar!

— Uma vassoura dançar? Uau! — Exclamou ela, vestindo a perfeita interpretação de uma garotinha de dez anos inocente — Ele deve ser muito poderoso então! Mas eu não sei se acredito. Ele não está usando nenhum chapéu pontudo.

— Corta essa. — Reclamei. Thomas olhou para mim, curioso.

— Você usa chapéus de bruxo?

— Não! — Reclamei irritado.

— Você voa na sua vassoura mágica, irmão? — Perguntou Ártemis sorrindo com prazer em me ver passar vergonha. Um deus resumido a um bruxo? Que vexame! — Ah, meus deuses! Você têm verrugas?!

— Como ousa?! — Exclamei ofendido — Minha pele é perfeita, sua invejosa!

— Não acredito que pôde esconder um segredo desses de mim. — Disse fingindo estar chocada — Eu vou contar para a nossa família sobre isso, vai ser muito interessante!

— Não ouse! — Apressei-me e agarrei o braço de Thomas — Vem! Vamos embora agora.

— Não! Nós vamos caçar com a sua irmã! — Disse Thomas lutando contra mim — Por favor! Eu quero caçar um monstro com ela!

— Ela não caça com garotos, Thomas! Minha irmã caça sozinha, porque ela é idiota. — Respondi arrastando-o. Thomas fincou os pés no chão, e eu saí puxando-o, deixando uma trilha de terra pelo caminho.

— Não é não! — Exclamou ele — Ele é muito legal! E ela ia me emprestar o arco e flechas dela!

— Há! Disse eu duvido. — Ri da ideia de um mortal segurar o arco de Ártemis — Mas não se preocupe, tudo que ela sabe fazer com aquele arco, fui eu quem ensinei. E eu tenho o meu próprio arco e flechas, posso te mostrar minhas incríveis habilidades quando nós che-

Uma flecha passou rente ao meu rosto e sumiu na escuridão. Virei-me com raiva para reclamar com Ártemis, mas vi que algo tinha mudado em seus olhos. Não havia mais nenhum traço de humor ou zombaria, e sim o olhar gélido de uma caçadora profissional. Ela ajeitou outra flecha, pronta para atirar e foi na nossa direção em passos largos.

— Ele está ali. — Alertou focada. Meus olhos se voltaram para a escuridão e foi só então que eu percebi sua presença. Eu tinha que admitir, ninguém conseguia rastrear algo melhor do que ela.

— Quem? — Perguntou Thomas, curioso.

— O manticore. — Respondeu em um tom sério e sombrio. Meu sangue imortal congelou por alguns instantes. Aquela era uma péssima criatura para se encontrar, principalmente quando você está tentado levar uma criança teimosa para casa e sua namorada está com a prima esnobe sozinha te esperando voltar.

— Ok, presta atenção. — Falei olhando para Thomas e apertando a mão dele — Vai ficar tudo bem, mas você vai ter que me ouvir. Nós dois vamos achar Alice, porque ela está sozinha com a Heather. Vamos salvar as duas, enquanto a minha irmã mata esse bicho, entendeu?

— Nós temos que matar esse bicho para Alice ficar segura. — Rebateu Thomas negando com a cabeça. Ártemis não nos deu tempo de falar mais nada. Com força, nos empurro para o chão e nós caímos de cara.

— Fiquem aí! — Gritou segundos antes da criatura pular por cima de nós. Thomas virou-se para ver o monstro. Seus olhos passaram de admiração para medo em segundos ao ver aquele gigante corpo de leão, dentes afiados de besta, cauda de escorpião e asas de dragão nas costas. O Manticore era uma mistura de tantas coisas, que parecia que alguém tinha jogado os predadores mais perigosos em um liquidificador e feito uma batida.

— Ele é horrível. — Disse Thomas chocado. Puxei-o para o chão de novo, antes que pudesse levantar e fiquei agachado do seu lado. Ártemis e a criatura se encaravam, andando de um lado para o outro como dois ursos prontos para um combate.

— E perigoso. — Completei — Está vendo a cauda dele? A ponta tem muito veneno. Se ele te atingir com aquilo, você morre. As garras dele também fazem um estrago, e não vamos nem falar do pior.

— Os dentes de tubarão? — Perguntou Thomas com os olhos arregalados.

— Não. O bafo dele. — Fiz uma careta. Será que uma boca podia feder mais do que aquilo? Nojento.

— Finalmente. — Disse Ártemis e então deu um sorriso torto. Com mais agilidade do que a criatura, minha irmã se esquivou de uma investida, saltou vários metros para longe, virou com a flecha posicionada e atirou acertando-o bem no peito. O Manticore, em pé nas patas traseiras, rugiu de dor, debatendo-se inquieto. Ele recuou mostrando os dentes — Vai pagar por ter atacado minhas caçadoras.

Ártemis sacou três flechas de uma vez e soltou-as quando o monstro avançou em sua direção, da mesma forma que um leão pula em cima de uma gazela. As três flechas entraram pela garganta, fazendo-o se desesperar e tombar para o lado ao invés de em cima da deusa.

— Uau! — Fez Thomas, impressionado com o que tinha visto.

— Pff, eu faço isso com os olhos vendados. — Esnobei. Crianças, sempre ficar com surpresas com pouco.

Ártemis colocou o pé em cima da carcaça do monstro e chutou-o para o lado, vendo-o se contorcer. Pegou uma última flecha com a mão e fundou entre as costelas dele, fazendo-o desaparecer em uma fumaça amarela. Torci o nariz. Até aquilo fedia.

— Você é incrível! — Gritou Thomas, que agora parecia mais uma fangirl descontrolada — Aquele bicho era gigante, mas você acabou com ele!

Ártemis não parecia relaxada, o que me preocupou.

— Não comemore ainda. Tem outro a solta. — Disse olhando para Thomas — Volte com o meu irmão para-

Nós ouvimos um grito. Agudo, alto e em completo pânico.

— Alice! — Exclamei levantando-me em um pulo. Olhei para Ártemis — Fica com ele! Eu tenho que…!

Eu vou! É o último! — Cortou-me. Eu não queria discutir. Rapidamente, segurei Thomas e coloquei-o sentado em meus ombros. Eu e Ártemis começamos a correr o máximo que podíamos. O garotinho agarrou meus cabelos de forma dolorosa, e gritou um “Urrul!” enquanto ganhávamos cada vez mais velocidade.

 

POV Alice

— Não. Grite. — Sussurrei para Heather. Nós tínhamos nos distanciado demais do lugar onde Apolo nos deixara, de forma que agora eu não fazia ideia de como voltar para lá. Nada disse fazia muita diferença agora que um monstro andava metros de nós, tentando farejar onde estaria sua próxima refeição.

— O quê é? É um urso? — Perguntou ela, tremendo de medo. Sentadas, de costas para uma pedra e escondidas, nós não conseguíamos ver o que era. Melhor ainda. Eu não sabia identificar aquele monstro, mas sabia que era muito mais do que um animal selvagem.

— Eu não sei direito. — Murmurei — Mas é grande e perigoso.

Em vez de manter-se quieta, Heather esticou a cabeça para o lado para vê-lo. Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ela soltou um grito, alto e agudo, em completo desespero e histeria.

— Heather! — Gritei com raiva. O monstro rugiu como um leão e avançou em nossa direção. Peguei o grampo de cabelo e quebrei-o, liberando minha espada. Há quanto tempo eu não usava ela? Segurá-la era uma sensação quase nostálgica, mas junto desse sentimento vinha o medo de saber que minha vida estava em risco mais uma vez.

Levantei-me rapidamente e cortei o ar na frente da criatura, antes que ela pudesse pular sobre nós. Olhar para seu rosto me trouxe ainda mais medo. Era uma mistura de humano com leão, com dentes afiados como facas. O corpo dele era maior do que eu imaginava que seria.

Heather correu para trás de mim, o que dificultou meus movimentos. O monstro farejou o ar na minha frente, e com um hálito de morte e podridão disse:

— Semideusa. — Uma mistura de voz humana com rosnado. Acertei seu focinho com a espada, fazendo um corte e provocando confusão e dor. Aproveitei a oportunidade e agarrei o braço de Heather empurrando-a para o lado.

Nós corremos para ganhar distância, mas eu sabia que não conseguiríamos por muito tempo.

— Corre! — Disse e apontei em uma direção aleatória — Vai!

— Por que você tem uma espada?! — Gritou em choque.

— Só corre! — Gritei de volta e nós saímos em disparada, tropeçando em nossos próprios pés e nas raízes altas no caminho. Para piorar a minha situação, eu era muito mais rápida que Heather. Embora nós duas estivéssemos correndo pelas nossas vidas, a maldita bailarina estava ficando sem fôlego e cada vez mais para trás.

O monstro nos seguia pulando como um leão furioso, pronto para derrubar uma zebra.

Olhando para trás para ver Heather, tropecei em uma pedra e tombei no chão, batendo de cara. Heather passou por mim como um raio, sem se preocupar em me levantar. Ela começou a gritar em desespero pelo nome de Tyler.

Meus ouvidos zumbiram quando eu me levantei. O monstro estava cada vez mais perto, e meu coração cada vez mais acelerado. Catei minha espada, apertei-a na mão e esperei. Não havia nada que eu pudesse fazer. Não dava tempo de fugir.

Ele abriu a boca mostrando todos os seus dentes, mas para minha alegria algo entrou ali, fazendo-o se engasgar. Heather voltara e atirara uma pedra bem no meio da boca dele. Se fosse um daqueles brinquedos de parque de diversão, Heather teria ganhado um ursinho de pelúcia.

— Vamos! — Gritou ela para mim, como se eu fosse um pokémon que ela escolhera — Ataca!

Não tive tempo de sentir raiva dela. Fui para o lado, esquivando das patas dele e fiz outro corte. Dessa vez, meu alvo foi sua pata dianteira. O monstro rugiu o melhor que pôde, ainda engasgado com a pedra. Senti vontade de vomitar com aquele bafo horrendo, mas engoli minha nauseá e me preparei para outro ataque.

Ia acertar a lateral de seu corpo, mas algo me pegou de surpresa. O monstro se abaixou, como se estivesse fazendo uma posição de ioga, esticando o tronco no chão e erguendo o rabo. Foi aí que eu percebi.

O rabo dele era como o de um escorpião. Mal tive tempo de defender-me quando o ferrão atravessou o ar e acertou minha barriga em cheio.

Senti minha pele ser atravessada por aquilo, mas foi só ao sentir o veneno que eu gritei. Parecia que meu corpo estava sendo queimado de dentro para fora. Berrei de novo quando ele puxou o ferrão para fora e cobri o local com as mãos. Minha espada já estava jogada na terra. Eu não conseguia me abaixar para pegá-la, não queria flexionar meu abdome.

Dei dois passos para trás com a boca e os olhos bem abertos, em choque. Respirar doía, circular sangue nos meus vasos doía. Minha cabeça começou a latejar e o monstro olhou para mim com um tipo de sorriso de satisfação. Sua boca foi se abrindo devagar, a saliva escorrendo pelos cantos como se a mãe dele tivesse acabado de colocar seu prato favorito na mesa.

Alice! — Eu ouvi alguém gritar atrás de mim, mas não identifiquei a voz. Pateticamente, não consegui fazer nada além de dar um passo para trás e cair sentada no chão. Meu corpo latejou de dor mais uma vez. Eu sentia como se meu coração fosse explodir.

Quando achei que o monstro ia me engolir viva, duas flechas acertaram-no no rosto. Ele rugiu, mas eu não conseguia mais sentir seu bafo de podridão. Minha visão começou a ficar turva lentamente, até que a criatura era só um borrão se contorcendo, lutando pela vida.

De repente, não havia mais nada.

— Alice! — Gritou Apolo, entrando no meu campo de visão. Ele sorriu para mim, sua imagem era um pouco mais nítida, mas mesmo assim não conseguia focar em seus olhos azuis — Vai ficar tudo bem! Nós matamos ele!

Acho que ele esperava que eu comemorasse, mas não consegui me mover. Respirei com dificuldade, sentindo minha barriga doer como se eu tivesse levado um soco. Estava me sentindo cada vez mais estranha. Ele tocou minha testa.

— Você está fervendo. — Disse franzindo o cenho — E está pingando de suor! Alice, o que…?

— Eu… — Minha voz era baixa demais até para que eu mesma ouvisse. O rosto dele foi para mais perto de mim, e pude ver preocupação. Seus olhos encontraram as minhas mãos e a tiraram de cima da minha barriga. Fiz uma careta de dor, sentindo minha cabeça latejar.

— Ele te acertou? — Perguntou com um traço de pânico na voz — Alice! Alice, fique acordada.

Eu nunca senti aquela sensação. Era como ser puxada de mim mesma, lentamente, até que eu não aguentasse mais e cedesse a força. Eu estava morrendo, e dessa vez de verdade.

— Alice! — Ele chamou e tocou meu rosto, mas eu não senti sua mão. Não sentia mais nada. De alguma forma, ele me colocara deitada com a cabeça sobre seu colo e eu nem percebera. Tive que escolher sabiamente o que faria: se eu tentava falar ou se me mexia.

Resolvi pela segunda. Ergui minha mão trêmula e dura até tocar a dele. Senti vontade de chorar ao ver que eu não conseguia sentir o calor da pele dele. Meu corpo inteiro estava dormente.

O choque na expressão de Apolo era tão dolorido quanto a minha dor física, por isso fechei os olhos não querendo vê-lo sofrer daquela forma sem poder fazer nada.

Alice! — Chamou.

Eu estou aqui, pensei, fraca demais para falar.

Alice! — Chamou novamente.

Eu estou aqui.

Eu estou…

Eu.

...

 

 


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Notas finais do capítulo

É.
Depois desse capítulo eu vou ter que escrever o próximo correndo, senão vocês vão entrar na minha casa e me matar enquanto eu durmo.
Espero para ver os reviews de vocês!
Beijos, gente linda! Até o próximo.



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