Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 68
Problemas


Notas iniciais do capítulo

Demorou? Demorou. A faculdade está me matando, sinto muito.
Mas espero que vocês gostem desse novo capítulo.

Boa leitura, e obrigada por não desistirem de mim!



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Todos nós estávamos sentados no sofá da sala, ainda sujos dos resquícios da guerra de comida. Trocávamos olhares raivosos uns para os outros, com exceção de Dwayne, que se ocupou em olhar fixamente para seus tênis velhos.

Descendo a escada em pulos, de repente, veio a irmã gêmea de Thomas. Ela parou na frente dele, que estava sentado na poltrona perto de Heather e sorriu.

— Eles disseram que todos nós vamos sair para comer, já que você estragou tudo. – Falou. Thomas fez uma careta para ela.

— Onde vamos? – Perguntou – Eu quero batata frita.

Nós vamos. Você e eles estão de castigo sem almoço. – Contou com um sorriso de satisfação – Mamãe disse que eu posso comer duas sobremesas, já que você não vai.

— Isso não é justo!— Queixou-se com vontade de chorar.

— Se ferrou, se ferrou! – Cantarolou ela saindo saltitante em direção a porta da sala. Thomas a acompanhou com os olhos, com raiva.

— Isso não é justo... – Repetiu ele frustrado.

Isso não é justo. — Imitou Heather em deboche – Ora, cala essa boca. Você merece ficar de castigo. Os injustiçados aqui somos nós! Agora por culpa sua estamos todos presos aqui sem almoço!

— Você nunca come nada mesmo, que diferença ia fazer? – Respondi revirando os olhos. Heather olhou diretamente para mim com ódio profundo.

— A diferença é que eu não estaria sentada em uma sala fedida a mofo olhando para a sua cara horrorosa e cheirando a comida!— Exclamou com raiva.

— Foi você que começou. – Rebati – Legitima defesa é um direito garantido na constituição, caso não saiba.

— Deveria ter uma lei garantindo que eu poderia arrancar seus olhos com as minhas mãos. – Retrucou.

— Ora, calem a boca vocês duas! – Reclamou Joe emburrado – Eu não tinha nada a ver com isso, e ainda sobrou para mim!

— Ah, só você? – Murmurou Dwayne revirando os olhos, e voltando a encarar seus tênis sujos. Joe estreitou os olhos para ele.

— Eu estou com fome. – Disse Thomas com voz de choro.

— Engole esse choro, menininha. – Reclamou Joe.

— Quer deixar ele em paz?! – Rebatei com raiva para Joe. Olhei para Thomas fungando, e tentei acalmá-lo – Ei, calma. Não é tão ruim, ok? Quando eles saírem, a gente come escondido.

— Uau, Sedex tem um plano brilhante! – Zombou Joe.

— É só pegar comida na geladeira. – Disse.

— É, ninguém pensou nisso antes. – Concordou em sarcasmo.

— Nós não vamos dividir com você. – Falei dando um sorriso sem mostrar os dentes. Joe encostou o dedo indicador no canto do olho e desceu ele pela lateral do seu rosto simulando uma lágrima, enquanto fazia uma careta de tristeza.

Vamos!— Chamou a minha mãe do lado de fora da casa. Ela abriu a porta e olhou para a escada, esperando alguém. Voltou seu rosto para o sofá onde eu, Ares e Apolo estávamos.

— Isso é sério mesmo? – Perguntei jogando a cabeça para trás, fingindo sofrimento.

— Alice, não começa. – Disse sem paciência e voltou a olhar para a escada. Will desceu os degraus ajeitando a carteira no bolso de trás. Ele olhou para a minha mãe e depois olhou para mim. Foi nesse instante que seu semblante fechou em uma expressão amargurada.

Quando ele se aproximou da porta, ficando um pouco mais perto do sofá, senti a necessidade de falar alguma coisa.

— Eu... – Não tive essa chance, pois ele ergueu a mão no ar me interrompendo.

— Não. – Cortou – Eu não quero ouvir a sua voz.

— Mas...!

— Você pode falar comigo quando você decidir crescer e agir como adulta. – Quase rosnou para mim. Minha mãe trocou o peso do corpo de uma perna para outra, incomodada com a situação.

— Will, não precisa ser tão grosso. – Falou.

— Ah, não preciso? – Rebateu com emburrado – Como eu preciso ser, Jenny?

— Você precisa ser menos. Só. – Respondeu.

— Você sabe de quem é a culpa disso, não sabe? – Falou irritado. O rosto da minha mãe ficou branco de repente e seus olhos pareciam não parar quietos, vagando entre Ares e Apolo e depois Will.

— Aqui não. – Repreendeu.

— Claro. – Disse colocando as mãos na cintura, nada satisfeito. Ela percebeu assim como eu que ele não pretendia acabar a discussão ali, por isso segurou o braço de Will e guiou-o até a cozinha.

Ares pareceu não prestar atenção, mas Apolo virou o rosto para o lado tentando escutar melhor a briga sussurrada. Eu me encolhi um pouco, fingindo que não sabia que meus pais estavam discutindo por minha causa pela milionésima vez em suas vidas.

xXx

POV Apolo

Ser o Deus da música te dá certas vantagens.

Você é sempre campeão nos jogos de “Adivinhe o nome da música” e não precisa usar nenhum apetrecho para afinar instrumentos de corda. Meu ouvido era ótimo, portanto não foi difícil escutar os sussurros de Jenny e de Will na cozinha.

O jeito como o rosto da mãe de Alice empalidecera despertou a minha curiosidade. O que faria aquela mortal tão segura e confiante ficar com tanto medo?

— Pare com isso, entendeu? Eu não quero ouvir. – Falou em sussurros na cozinha. Pelo nível de sua voz, eu tinha certeza que eu era o único que conseguia escutar.

— Você nunca quer ouvir, esse que é o problema. Olha no que isso dá. – Queixou-se.

— Will, não é culpa do pai dela. – Disse em um tom sério. Ergui as sobrancelhas. Então eles estavam falando de Hermes? Oh, céus. Aquele mortal não sabia o perigo que estava correndo. Transformá-lo em um porco foi um castigo bem leve. Como um Deus, meu irmão podia fazer muito pior.

— Pai? Pai?— Repetiu com nojo na voz – Do que você chamou aquele homem?

Pude ouvir Jenny engolindo em seco, sem palavras.

Eu sou o pai de Alice. Aquele homem não merece esse título.

— Ele tentou, Will. – Protegeu Jenny.

— Ele nunca esteve aqui, Jennifer! Ele nunca apareceu em um maldito aniversário. – Reclamou com um nível de raiva crescente. Eu olhei para Alice, que continuava abstraída mexendo nas unhas. Será que ela tinha noção sobre o que seus pais estavam discutindo? – E essa atitude dela? Essa imaturidade e esse jeito irresponsável é culpa dele. Não me olhe desse jeito, porque você sabe que é verdade! Deus, eu nem mesmo conheço esse desgraçado, e mesmo assim eu posso reconhece-lo todas as vezes que ela age assim!

— Ela estava errada, e agora está de castigo. Acabou. – Falou Jenny quase implorando – Por favor, chega! Deixe isso para lá.

— Por que você sempre protege ele?! – Disparou socando a bancada de mármore – Ele te abandonou te abandonou com Alice no colo! O que você espera de um sujeito assim? Ele é um derrotado! Um...! Um filho da puta.

— Will! – O desespero em sua voz era evidente – Não diga isso!

Ergui minhas sobrancelhas. Ofender um Deus dessa forma era pedir para ser punido. Para a grande sorte dele, Hermes não escutaria se seu nome não fosse pronunciado. Eu podia sentir o nervosismo de Jenny tentando controlar seu marido para que ele não tivesse um fim trágico.

— Não quer que eu ofenda ele? – Rebateu – Do mesmo jeito que você não quis corrigir esse jeito de Alice quando ela ainda era criança? “Não, Will, não podemos bater nela! Não, não podemos deixar ela de castigo!”.

Olhei para Alice de novo, e tentei imaginar como devia ter sido sua infância com o padrasto.

— Antes de você ser pai dela, eu sou a mãe, e você não vai encostar um dedo na minha filha! – Disse Jenny, e pude sentir a raiva crescer junto de seu instinto de mãe – Eu não precisei de violência para criar Alice, e ela é uma boa pessoa. Pode ser impulsiva e irresponsável, mas ainda assim uma boa pessoa.

— Ela é problemática, Jenny. Completamente problemática! – Rebateu – Ela não tem amigos, ela anda rodeada de garotos, ela não se dá bem com ninguém da família...!

— A sua família não das mais receptivas. – Falou Jenny - Ah, não faça você essa cara para mim! A primeira coisa que eles fizeram quando você me apresentou foi perguntar se você estava louco por se casar com uma mãe solteira. Eles tratam Alice como se fosse uma estranha.

— Alice se porta como uma estranha. É como se ela não quisesse fazer parte da família. – Retrucou – Ela nem mesmo tenta! Toda vez que vem para cá é o mesmo drama! Parece que está tendo um braço amputado quando tem que pisar nessa casa!

— Você é muito insensível com ela. – Falou com desgosto – É por isso que ela não quer ficar do seu lado.

— Diga o que quiser, eu sou a única pessoa que dou limites para ela. Diferente daquele inútil, eu sei ser um pai. – Falou – Você devia estar completamente fora de si para dormir com esse imbecil.

— Peça desculpas. – Exigiu – Peças desculpas agora mesmo, William.

— Sinto muito. – Disse por fim – Aposto que você gostava muito dele. Bem mais do que ele merecia, com certeza. – Ele bufou – Vamos para o carro. Já devem estar todos prontos.

Virei o rosto para trás no exato instante em que Jenny apareceu na sala novamente. Nossos olhares se cruzaram e de alguma forma ela entendeu que eu escutara a discussão. Sua boca se abriu, mas ela não conseguiu pronunciar nenhuma palavra de primeira.

Com o queixo trêmulo, provavelmente temendo que eu fizesse Will pagar pelos xingamentos, ela deixou escapar um “me desculpe” sussurrado e correu atrás dele pela porta da frente.

Assim que ela se fechou eu olhei em volta. Joe, Heather, Thomas, Alice, Dwayne e Ares não deram atenção para a saída dos pais da minha musa.

— Ei. – Disse incomodado pelo silêncio. Alice olhou para mim – Como você está?

Ela parou para avaliar a pergunta e encolheu os ombros.

— Gordurosa e suja, mas bem. – Disse olhando para as calças sujas de sopa, o rosto manchado de molho de tomate e o cabelo oleoso e sujo de macarrão – Já estive pior.

— Atenção! – Exclamou tio Edgar descendo as escadas devagar enquanto se amparava no corrimão – Vocês estão todos sem jantar, seus baderneiros. Vão usar o tempo de jejum para pensar no que fizeram. Amanhã vão limpar a sala de jantar inteira, e só vão ser dispensados quando der para comer no chão, entenderam?

— Sim, senhor. – Murmuram todos juntos em um tom de desânimo.

— Senhor? – Disse Ares erguendo a mão. Eu e Alice olhamos para ele sem entender o que estava fazendo – Peço permissão para me retirar para o jantar. Creio que fui injustiçado.

— Injustiçado? – Repetiu rindo – Você?

— Eu não compactuo com baderneiros. – Falou – Muito menos com hippies anarquistas amantes de woodstock.

— Como ousa ofender o Woodstock? – Falei ofendido – Eu me diverti muito lá!

— Permissão concedida. – Falou tio Edgar e Ares sorriu triunfante para mim – Vou considerar que você foi uma vítima das circunstâncias, mas não teste a minha piedade.

— Obrigado, senhor. – Disse se levantando-se do sofá.

— Troque de camisa e nos encontre lá fora. – Disse saindo de casa. Ares subiu as escadas correndo, trocou de camisa e desceu ainda usando o mesmo sorriso de vitória. Alice cruzou os braços.

— Você é mesmo um traidor, não é?

— Ah, benzinho, não fica assim. – Disse. Ele se aproximou do sofá roubou um beijo dela e piscou. Ainda próximo de seu rosto, sussurrou para que ninguém ouvisse – Garotas más têm que ser punidas. E você se comportou muito mal.

Uma de suas mãos acariciou a perna dela, discretamente. Alice corou olhando-o nos olhos.

— Por favor, se engasgue com o molho de carne. – Pediu e ele riu.

— Quer que eu te traga batata frita? Eu posso te entregar de noite. – Falou.

— Você pode enfiar pegar a batata frita e enfiar você sabe onde, seu idiota. – Respondeu.

— Eu também te amo.

Thomas levantou ao perceber que Ares tinha deixado seu lugar ao lado de Alice vazio, e sentou-se lá. O Deus da guerra encarou o menino com irritação e apontou para ele.

— Estou de olho em você, moleque. – Resmungou e saiu de casa. Assim que os carros foram embora, Alice pulou do sofá e segurou a mão de Thomas.

— Vamos ver o que tem na geladeira? – Disse sorrindo para a criança. Os dois saíram correndo para a cozinha.

Joe revirou os olhos de mau humor, mas Heather esticou o pescoço mostrando uma leve esperança de que Alice de fato fosse pegar comida. No entanto, tudo o que veio da cozinha foi um grunido de frustração.

Ele trancou a geladeira!

— O quê? – Perguntou Heather sem entender.

— Não tem comida? Nossa! Que surpresa! Acho que ninguém aqui esperava ficar sem jantar! – Disse Joe me sarcasmo.

Tem comida, idiota, mas a geladeira está trancada!

Como assim, Sedex?! Não tem como trancar uma geladeira! – Exclamou Heather.

Tem uma corrente com cadeado na geladeira! — Explicou Thomas e nós ouvimos um som de choro. Foi ficando mais alto a medida em que Alice voltava para a sala com o primo pequeno – Eu estou com fome!

— Para de chorar! – Exclamou Heather – Como você é insuportável!

— Thomas, tudo bem. Eles não vão demorar tanto. – Alice tentou acalmá-lo.

— Talvez seu namorado traga comida. – Murmurou Dwayne.

— Ele é um poço sem fundo, vai comer tudo antes de chegar aqui. – Respondi ao garoto quieto. Foi aí que Thomas correu para a minha frente com os punhos cerrados e o rosto ainda molhado das lágrimas que escorreram.

— Eu já te disse que eu sou o namorado da Alice! – Exclamou irritado. Eu estava pronto para responde-lo, quando Heather fez isso.

— Ah meu deus, cala a boca! – Exclamou com raiva – Por que você não para de ser idiota?! Alice não é a sua namorada e nem nunca vai ser a sua namorada, porque ela tem o dobro da sua idade, sua criancinha chata! E sendo chorão desse jeito, ninguém vai nunca querer ficar com você!

Seu tom de voz passou tanta agressividade que suas palavras pareciam ter acertado Thomas com um tapa na cara. Alice e Joe olharam chocados para Heather, enquanto Dwayne olhou para o primo com pena. O menino, agora atordoado, tentou prender o choro.

— Eu...! Eu não sou chorão! – Disse magoado.

— É chorão e insuportável!— Exclamou para ele – Vê se cresce antes que você acabe sozinho! Nem seus pais vão aguentar ficar perto de você sem ter enxaqueca!

— Não! – Exclamou chorando – Você vai ficar sozinha, porque você é má! Você é má e horrível, Heather! Eu te odeio!

Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, Thomas saiu correndo pela porta da frente, e bateu-a atrás de si.


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Notas finais do capítulo

Quem quer bater na Heather levanta a mão!



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