Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 67
O caçador de vampiros


Notas iniciais do capítulo

Ressurgi das cinzas, senti (muita) falta de vocês, o mesmo de sempre. Acho que vocês já até se acostumaram, não é?

Bem, boa leitura e desculpe a demora!



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POV Ares

Se eu gosto de comida mortal? Sim, bastante.

Eu gosto das massas que Kelly faz nas sextas a noite, gosto da pizza quatro queijos que aquele idiota do Scott sempre pede quando está com preguiça de cozinhar, gosto de bacon, gosto de hambúrgueres que são maiores que a cabeça oca do Apolo.

Eu não gostava tanto assim da comida da tal tia Kat, mas sem os meus poderes eu não tinha muita opção além de aceitar aquele jantar “maravilhoso” de sopa de ervilha com torradinhas secas e salgadas demais. Para quem quisesse, também tinha o espaguete gorduroso e nojento. Nem o porco que ela tinha preparado parecia tão bom assim, e por mais que o tio Edgar quisesse justificar dizendo que na época dele comida de verdade era assim e eles ficavam muito gratos por ter essa refeição, eu sabia que era tudo uma mentira esfarrapada para esconder o fracasso que a esposa dele era como cozinheira.

— Não que eu esteja com pressa para comer a gororoba, mas... – Sussurrei para Alice, sentada do meu lado direito – Por que não estamos comendo?

— Eles só comem quando todos estão à mesa, lembra? – Respondeu em um sussurro. Olhei em volta duvidando que alguém estivesse faltando. Alice apontou para uma cadeira vazia do outro lado – Thomas não desceu ainda.

— Estamos desde aquela hora esperando esse moleque? – Reclamei.

— Você fala como se estivéssemos aqui desde a queda de Roma. – Zombou ela prendendo o riso.

— Há há, piadinhas de Roma, como você é espirituosa. – Disse em sarcasmo – Nós dois poderíamos estar lá em cima nos divertindo. Esse garoto está desperdiçando o meu tempo.

— Poderíamos? Você disse que precisaríamos de 40 minutos. – Murmurou ela de volta, mexendo no garfo para se distrair – Estamos esperando Thomas faz só 15.

— Quinze minutos seria um aquecimento. – Rebati – E também, não é justo esse garoto poder demorar e eu não.

— Para de implicar com ele. Thomas é uma criança. – Alice revirou os olhos.

— Ele me chamou de trouxa. – Disse sentindo raiva novamente – Aquele pivetinho tem sorte de ser seu primo, porque senão eu teria transformado em um inseto e esmagado ele com meu punho.

— Eu não consigo entender vocês. – Murmurou ela franzindo o cenho e olhando para mim. Alice abaixou um pouco a voz para que ninguém a ouvisse – Você é um Deus de mais de três mil anos e se ofende quando uma criança chama você de trouxa?

— Ele devia estar de joelhos me idolatrando como todos os outros mortais, mas vocês agora se acham bons demais para isso, não é? – Resmunguei de volta – Eu não recebo mais nenhuma oferenda de vocês, seus...!

— Estamos em dívida? – Perguntou ela, interrompendo-me.

— Claro que estão!

— Posso pagar em beijos? – Ela prendeu o riso ao me ver erguer as sobrancelhas. Pensei naquilo por alguns curtos segundos e me inclinei para perto dela.

beijos? – Respondi e Alice revirou os olhos de bom humor.

Nesse instante, Thomas chegou. Tio Edgar olhou para o garoto com uma expressão ranzinza e mau humorada e apontou para a sua cadeira vazia com um garfo.

— Estávamos esperando por você, menino! Quanta falta de educação! – Reclamou. Inclinei-me para frente para poder lançar um olhar mal-humorado para ele também, mas a expressão facial do menino dispersou minha irritação.

Thomas parecia extremamente sério e concentrado, como se estivesse solucionando mentalmente uma equação matemática complexa. Eu sei disso, porque já vi esse semblante em Atena, quando ela mesma tentava resolver equações.

Uma otária, na minha opinião. Pedi para Zeus tirar o título de deusa da guerra dela, porque alguém que fica o tempo todo pensando não sabe nada sobre guerra de verdade. Obviamente, ele ignorou meu pedido e ficou do lado da filhinha querida.

— Estou aqui agora. – Os olhos do garoto foram direto para Heather e ganharam um brilho assassino – Estava resolvendo umas coisas.

Ela não notou. Ele caminhou até sua cadeira e sentou-se permitindo que todos nós pudéssemos comer.

Não sei dizer quanto tempo aquilo durou, porque reuniões de família são coisas que parecem durar uma eternidade. Como eu já vivi uma eternidade, tenho propriedade para falar isso.

Hermes tentava piscar discretamente para Jenny, mas era respondido com carrancas. Apolo dividia a atenção dele entre a sopa e Alice. Cheguei minha cadeira mais para o lado dela e lancei para ele um olhar de ódio. Ele estreitou os olhos para mim, compartilhando do mesmo sentimento.

Alice parecia não ter notado nada, enquanto mergulhava sua colher na sopa de ervilha cremosa até demais e roubava pães do prato Hermes, na sua esquerda.

Nenhum de nós reparou o quão silencioso o pequeno Thomas estava até que ele resolver interromper uma conversa sobre o quanto as ações da Apple na bolsa de valores estavam com um crescimento interessante.

— Sabe o que eu acho interessante? – Perguntou ele alto demais. Todos nós olhamos para ele.

— O quê? – Perguntou Apolo franzindo o cenho.

— Você cheira estranho. – Disse olhando fixamente para Heather. Alice prendeu o riso. Heather ergueu uma sobrancelha para Thomas.

— Isso se chama “banho”. Deveria tomar de vez em quando. – Rebateu, afiada.

Thomas não se deu por vencido.

— É cheiro de poeira. – Corrigiu ele fungando o nariz, embora eu tivesse quase certeza de que ele não conseguia farejar Heather do outro lado da mesa. A loira estreitou os olhos para ele, sem entender o que estava acontecendo.

— Essa casa toda cheira a poeira, idiota. – Falou.

— Qual é o seu problema? – Perguntou Joe, sentado ao lado de Heather. Thomas desviou o olhar para ele.

— Qual é o seu problema? – Rebateu apontando para ele – Hein? Fala logo!

— Eu não tenho problema nenhum! – Respondeu desnorteado.

— Tem sim! Eu sei o seu segredo! – Exclamou, atraindo a atenção de todos novamente. Olhei para Alice que observava a cena toda fingindo estar tão surpresa quanto seus parentes.

— Que segredo?! – Ele parecia confuso.

Foi aí que o caos começou.

Thomas jogou sobre Joe a calcinha vermelha que Alice entregara horas atrás. Desnorteado, o primo idiota da filhinha de Hermes olhou para a peça de tecido sem entender o que estava segurando por alguns segundos. Quando finalmente entendeu que era uma roupa íntima (e que tinha estupidamente erguido na frente de seus olhos e de todos da mesa), arregalou os olhos.

— O que é isso?! – Exclamou para Thomas.

— Eu achei isso no seu quarto! – Exclamou ele.

— Não achou não! – Exclamou desafinando a voz.

— Joe! – Gritou sua mãe.

— Mãe, eu...!

— Joe, o que significa isso?! – Exclamou tia Kat, horrorizada.

— Como eu vou saber?! – Rebateu.

— Você usa calcinha! – Exclamou Thomas.

— Santo deus! – Gritou tia Kat, colocando a mão sobre o peito.

— Isso é ridículo! É claro que não! – Seu rosto se tornou tão vermelho quanto a peça de roupa. Pude ver que Hermes, Alice e eu éramos os únicos nos divertindo com aquela cena. Apolo tentava repreendê-la com o olhar por ter começado uma pegadinha daquelas, mas estava sendo ignorado.

— Admita! – Gritou Thomas.

— Joe, você trouxe uma garota para cá?! – Exclamou a mãe chocada.

— Eu...! – Alice o interrompeu.

— É claro que não! – Exclamou Alice – Joe nunca faria isso.

Hermes e eu gargalhamos entendendo a maldade por trás daquela frase. Joe fuzilou Alice com um olhar de ódio profundo.

— Isso é seu! Você deve ter colocado no meu quarto para causar toda essa cena! – Acusou ele lançando a roupa íntima em sua direção. Heather a pegou no ar e segurou pela ponta dos dedos, como se sentisse nojo.

— Não seja maldoso, Joe! – Heather fingiu repreendê-lo – Você sabe muito bem que não é da Alice. – Ela olhou para a filha de Hermes – Ela nunca caberia nisso.

Heather jogou para Alice.

— Tem razão. Se ao menos eu tivesse um corpo como o seu, não é? – Ela falou.

— Aham. – Ela assentiu e depois se tocou do que tinha feito – Quero dizer, nã-!

— É sua! – Exclamou Alice jogando para Heather, fingindo estar chocada – Heather, fio dental? Eu nunca imaginaria!

— Não é minha! – Repetiu com raiva.

— Aposto que é! – Acusou Joe.

— O quê?! Ah! Como se eu fosse deixar a minha roupa intima no quarto de um pervertido que nem você! – Retrucou jogando a peça de volta para Joe – Sabe-se lá o que você fez com essa coisa! Argh!

— Eu não fiz nada, porque não é minha!— Exclamou irritado.

— De quem é essa roupa íntima tão indecente?! – Exclamou tio Edgar, com o rosto vermelho de raiva. Jenny olhava a cena sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Will parecia chocado demais para falar alguma coisa, enquanto Hermes esboçava um sorriso de divertimento. Dwayne, o primo esquisito e mudo de Alice, observava tudo de cenho franzido. Se deu ainda o trabalho de tirar os fones para poder escutar a discussão bizarra.

— Thomas é que deveria dizer! Foi ele que surgiu com isso! – Exclamou Joe.

— É sua! – Respondeu, insistentemente.

— Thomas, você não devia inventar histórias sobre os outros. – Heather o repreendeu de mau humor – Você sabe que isso não é certo!

— Pode brigar comigo se quiser, mas eu sei quem você é de verdade! – Rebateu estreitando os olhos para ela.

— Do que você está falando?

— Disso! – Thomas lançou contra Heather, algo que não foi possível identificar de primeira. Aquilo atingiu o rosto de Heather, que soltou um grito agudo e estridente, levando rapidamente as suas mãos ao local.

— Isso é alho? – Senti respirando fundo.

— Aaaah! – Gritou Heather tentando limpar o rosto.

Vampira!— Gritou Thomas apontando para ela – Ela é uma vampira, vocês estão vendo?!

— O que deu em você?! – Disse Tia Kat chocada. Os pais de Thomas estavam ocupados demais mexendo nos celulares para perceber o que tinha acontecido. Sua mãe levou um cutucão no braço, e só então ergueu os olhos para a cena.

Heather estava xingando enquanto limpava o rosto cheio de alho, Thomas gritava enquanto apontava para ela, e o resto da mesa estava tomado por um misto de choque e divertimento.

— Thomas! Você quer me matar de vergonha?! – Exclamou ela esticando-se para frente – Olha o que você fez!

— Mamãe, ela é uma vampira de verdade! – Exclamou ele.

— Não existem vampiros, garoto! – Exclamou de volta – Por deus, Thomas! Peça desculpas agora mesmo!

— Alho queima vampiros! Olha como ela está gritando! – Tentou argumentar.

— Você jogou alho no meu olho, seu idiota! – Gritou Heather com raiva, limpando o olho esquerdo com um guardanapo – É lógico que eu ia gritar! – Ela afastou o guardanapo e piscou hesitante, testando a visão. Quando percebeu a mancha preta no guardanapo, quase começou a chorar – Meu rímel! Ah, não!

Alice não aguentou e começou a rir.

— Meu rímel! Meu rímel! – Imitou dando gargalhadas. Por incrível que pareça, Dwayne, eu, Hermes, Apolo, Jenny (mesmo tentando disfarçar) e Joe rimos junto. Heather bufando de raiva, virou-se para Alice.

Com um movimento rápido, virou o prato de sopa quente no colo dela. Alice gritou dando um pulo da cadeira. Passou as mãos rapidamente sobre o colo, tentando evitar queimaduras. Foi a vez de Heather rir.

— Tem razão. Você talvez dance melhor do que eu. – Zombou. Alice, em um espasmo de raiva, afundou a mão na travessa de espaguete gorduroso e lançou em Heather.

Acho que depois de tudo que você já viu Alice passar, você pode imaginar muito bem o rumo que isso tomou não é?

Joe riu de Heather, que jogou seu suco no rosto dele. Ele lançou uma colherada de sopa de ervilha contra Thomas, que começou com a história toda. Thomas ficou irritado com todo mundo – e ao mesmo tempo muito empolgado com a oportunidade de uma guerra de comida – e jogou comida em todo mundo perto dele.

Aproveitei a oportunidade para jogar almondegas em Apolo, como se fossem granadas. Enfurecido por ter seu rosto sujo de comida, lançou de volta a jarra de suco inteira, espalhando suco de uva por cima de metade da mesa.

— Chega! – Gritou tio Edgar, tentando parar a confusão. Ele precisou de mais três tentativas – Eu disse que já chega!

Todos pararam e olharam para ele. O senhor de idade começou a tossir, resultado do esforço excessivo. Kat se colocou em prontidão, repousando suas mãos em cima dos ombros dele.

Olhei para eles novamente. Alice estava com uma expressão de surpresa e uma mancha de sopa do tamanho da Austrália no suéter. O cabelo de Joe ainda pingava bebida, e Heather tentava controlar o queixo trêmulo. Parecia que ia começar a dar um chilique por causa do espaguete que agora compunha seu cabelo.

— Viu o que você fez? – Perguntou Will emburrado para Alice.

— Eu?! – Ela exclamou de volta – Quem começou foi a Heather!

— Alice, chega! – Cortou Jenny com um olhar sério.

— Você está encrencada, sua delinquente! – Exclamou apontando o dedo ossudo para ela. Alice olhou chocada para Hermes, que ergueu uma mão.

— Vou te ajudar nessa, querida. – Falou, divertindo-se com a confusão. Ele estalou os dedos e apontou para Heather. A bailarina levantou imediatamente.

— Eu quebrei seu troféu de guerra e escondi debaixo do sofá. – Contou rápida como um relâmpago. Eu soltei uma gargalhada, ao ver a expressão de choque não só de Tio Edgar, mas como da própria Heather.

— O quê?! – Disse chocado.

— O quê...? – O queixo de Heather caiu no chão – Eu falei isso em voz alta...?!

— Você e sua prima estão encrencadas para o resto da vida! – Bufou furioso. Joe prendeu uma risada e os olhos de Heather se voltaram para ele.

— Ah, é?! Bem, o seu neto prodígio me ajudou! – Dedurou apontando para ele.

— Cala a boca! – Exclamou ele com raiva.

— E não é só isso que ele esconde debaixo do sofá! – Exclamou com raiva.

— Eu disse para calar a boca, Heather! – Repetiu com raiva.

— Quer saber?! Eu aposto que aquela calcinha que Thomas achou é realmente sua. Esse pervertido esconde revistas pornográficas debaixo do colchão! – Acusou apontando.

Joe saltou da mesa com o rosto ardendo em vermelho.

— Não! – Negou.

— Você quer que eu prove?! – Rebateu colocando as mãos na cintura. Um nó se formou na garganta dele, e ela riu em desdém – Que tipo de esquisitão ainda compra essas coisas?

Hermes estalou o dedo de novo, e apontou para Joe.

— Eu não comprei, eu roubei as antigas do tio Edgar. – Contou. Seus olhos se arregalaram ao perceber o que acabara de dizer.

— O quê?! – Exclamou Kat dando um tapa no marido – Você guarda essas coisas na minha casa?!

— Não! – Exclamou chocado e envergonhado – Não invente histórias, pirralho!

Joe, espantado po ter acabado de se incriminar, apontou para Dwayne.

— Ele sabia! – Exclamou – E mais! Dwayne é que atropelou as flores premiadas do jardim com o carro!

Dwayne pareceu ter levado um soco de tão desnorteado que ficara.

— Eu estava quieto. – Falou sem entender porque virara um alvo.

— Segunda geração! – Exclamou Tio Egdar. Heather, Joe, Alice e Dwayne olharam para ele esperando – Todos de castigo! Retirem-se da mesa e me esperem na sala!

— O quê?! – Joe exclamou chocado – Você só pode estar brincando!

— A culpa foi daquele garoto! – Exclamou Heather apontando para Thomas com ódio – Ele é que deveria estar encrencado!

— Eu não...! – Thomas foi interrompido.

— Você também! – Exclamou Tio Edgar. Thomas enrugou seu rosto, tentando controlar a vontade repentina de chorar – E não chore! Homens não choram!

— Não seja cruel com ele! – Defendeu Alice.

— Estão todos sem comida! – Declarou em retaliação. Seus olhos se voltaram para mim e para Apolo – E vocês dois também! São cúmplices!

Bufei pesadamente. Apolo grunhiu revirando os olhos, como se não tivesse paciência para isso. Hermes prendeu o riso e olhou para ele. Apolo retribuiu com uma careta.

— Marchem! – Ordenou apontando para a sala de estar, e nós fomos.

— Eu odeio você. – Ouvi Apolo dizer ao chegar do meu lado e passarmos pela porta.


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Notas finais do capítulo

Ok! Apertem os cintos porque estamos chegando ao final da fic. Não sei dizer mais quantos capítulos faltam, mas está chegando perto do desfecho. É claro que antes vai ter aquelas tretas, porque né? Sou dessas.
Só para já contar de uma vez: quando a história acabar, eu vou postar vários capítulos bônus aqui mesmo, para que vocês não fiquem sem Alice Kelly e a galera toda de uma vez só. Espero de coração que vocês gostem e deem gargalhada!
Beijos, e vejo vocês nos comentários!



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