Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 65
Desonrar


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo!

Boa leitura, pessoal!



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A cozinha já estava toda limpa e Thomas já havia sumido pela casa quando Hermes passou pela porta. Apolo se colocou de pé em um pulo animado, e Ares ergueu a cabeça para prestar atenção no que ele iria dizer.

– Então? – Perguntou Apolo com um sorriso gigante.

– Por que você está me encarando assim? – Perguntou Hermes retribuindo o olhar.

– Quero saber se vocês vão se casar ou não! Vocês vão? Aposto que vão. Vocês vão, não vão? – Vi meu pai abrir a boca e por sua expressão era óbvio que a resposta seria negativa. Ele se deteve, no entanto, quando Apolo prosseguiu – Posso até imaginar os presentes de casamento que vão ganhar! Vou ter que começar a no que vou dar ao mais novo casal olimpiano.

Os olhos do meu pai acenderam em um brilho travesso e um sorriso torto brotou em seu rosto.

– Claro que vamos nos casar! – Respondeu ele assentindo. Ares ergueu as sobrancelhas, surpreso – Não posso deixar aquela mulher escapar. Ela é única. E além do mais, as moças não resistem ao meu charme, não é?

Apolo sorriu torto e deu um soco de brincadeira no ombro dele. Os dois riram um pouco, e Hermes resolveu prosseguir.

– Sabe, esse lance do presente... – Apolo esperou ele continuar. Hermes negou com a cabeça, como se tivesse emocionado – Você é meu irmão favorito. Sempre foi, sabe disso.

– Ei! – Reclamou Ares erguendo as mãos – Eu estou aqui, seu retardado!

– Tá vendo? Com ele é diferente. O cara não sabe como tratar os outros bem, mas você e eu temos história. – Assentiu Hermes encarando Apolo – Se Jenny insistir mesmo nesse lance de casamento mortal, eu queria chamar você para ser padrinho.

– Padrinho? – Repetiu Apolo sem ter certeza do que aquilo seria, mas animado imaginando que era uma coisa boa.

– É, é. Você vai ficar do meu lado e ajudar nas coisas e tal. É uma grande honra no mundo mortal. – Hermes confirmou.

– Irmão, isso é tão... Nossa, eu... – Ele estava perplexo de emoção, o que me deu certa dó. Será que Hermes não tinha limites na hora de enganar os outros?

– Está sem palavras, não é? Deixa isso para lá. – Riu.

– Deixar para lá? É uma honra! – Exclamou animado – Vou fazer uma música sobre esse dia legendário! Vou... Vou organizar tudo! Vai ter uma festa inesquecível no final do dia, com champanhe, fogos de artifício, e..!

– Ok, tá. Isso parece maravilhoso, mas... – Ele limpou a garganta – É só que tem um problema com a mãe da Jenny. Ela está doente, e Jenny queria encontrar com ela uma última vez para contar sobre o casamento.

Ele fez uma expressão triste e comovente, e Apolo se comoveu também. Eu sabia que aquilo tudo era mentira, porque era mais fácil eu ter uma doença grave do que a minha avó por parte de mãe e sua saúde de ferro.

– Santo eu. – Disse Apolo chocado – É melhor ir logo então.

– É, eu só queria te pedir um pequeno favor, se não for demais. – Disse fingindo estar sem jeito – Teria como você me emprestar seu carro por alguns dias? Eu não pediria se não fosse importante, mas nós precisamos chegar lá o mais rápido possível.

– É... – Ele hesitou por alguns instantes, pensando em negar o pedido, mas depois assentiu – É claro.

Apolo tirou as chaves do bolso e entregou nas mãos de Hermes. Meu pai deu um meio sorriso, e assentiu com a cabeça.

– Você é o melhor padrinho, sabia disso? – Falou animado. Eu e Ares observávamos a cena sem intervir. Não tinha certeza se ele também sabia que era tudo uma farsa, mas que estava entretido estava.

Hermes piscou para mim e resolveu continuar com a brincadeira.

– Quer ser a daminha de honra? – Perguntou sorrindo travesso.

– Eu tenho 20 anos, pai. – Respondi balançando a cabeça.

– Uma criança, praticamente. – Replicou rindo.

– Eu ia ficar ridícula em um vestido armado jogando flores para o alto.

– Ridiculamente linda. – Completou e eu respondi com uma careta. Ares prendeu o riso do meu lado. Estava prestes a soltar uma piada maldosa, quando minha mãe entrou na cozinha.

Apolo soltou um grito de comemoração que chamou a atenção de todos nós. Ele jogou os braços em volta da minha mãe e a abraçou.

– Bem-vinda a família, Jennifer! – Exclamou soltando-a com um sorriso no rosto – Vai ser uma honra ser o padrinho de vocês!

– Mas você já escolheu o padrinho? – Perguntou ela olhando confusa para o meu pai. Por um segundo eu achei mesmo que eles fossem se casar.

– Ah, e eu sinto muito pela sua mãe. – Falou ficando sério de repente – Ao menos ela vai poder alegrar seus últimos dias com a notícia do casamento de vocês.

O queixo dela caiu. Hermes já deu um passo para longe, instintivamente.

– Você colocou a minha mãe em uma das suas mentiras?! – Exclamou chocada e com raiva.

– Ninguém gosta de linguarudos, Apolo. – Reclamou como se o errado fosse ele.

Pior, você matou a minha mãe em uma das suas mentiras?! – Ela colocou as mãos na cintura.

– Ela não está doente? – Apolo perguntou perplexo.

– Não! – Exclamou irritada.

– Vocês ao menos vão se casar?! – Perguntou impaciente.

– Daqui a 40 anos! – Falou por fim. Eu e Ares nos entreolhamos sem entender que tipo de acordo meus pais tinham feito.

– Você disse 30! – Exclamou Hermes apontando para minha mãe.

Você disse 30! Eu disse que Will não ia morrer em 30 anos! – Corrigiu.

– Mas que tipo de plano vocês fizeram? – Perguntei confusa.

– Não se meta, querida! Papai está tentando escapar de uma encrenca aqui! – Reclamou erguendo a mão aberta.

– Uma encrenca que você mesmo criou. Tudo isso para roubar o carro do Apolo? – Rebati cruzando os braços.

– Sim! – Exclamou Apolo avançando na direção dele. Hermes tinha agora minha mãe emburrada e um Apolo raivoso contra ele.

– Olha, vamos facilitar as coisas. Já que você já me emprestou o carro, seria um desperdício eu devolver as chaves para você. – Falou com um sorriso malandro – Um desperdício de uma ótima oportunidade de diversão, então será que você poderia deixar tudo isso quieto?

– Não, é claro que eu não poderia! Devolva agora as chaves do meu carro, seu ladrão! – Reclamou Apolo.

– Eu já disse que você é o meu irmão favorito? – Lembrou ele mostrando os dentes brancos em um sorriso perfeito. Apolo xingou em grego – Olha o linguajar! Tem damas no recinto!

– Devolve! – Exclamou e se jogou para cima de Hermes. Meu pai desviou e ainda conseguiu segurar a barra da camisa de Apolo e leva-la até sua cabeça. O Deus do Sol começou a lutar contra sua própria roupa, enquanto Hermes saía correndo pela cozinha.

Ele parou na frente da minha mãe e roubou um beijo rápido.

– Mal posso esperar para esses 30 anos passarem. – Falou sorrindo torto.

– Eu já disse que não são só trinta anos, seu...!

– Nós vamos ser muito felizes, pode acreditar. E quando tiver um tempo livre – Ele sacudiu as chaves do carro na frente do rosto dela – podemos dar um passeio romântico no melhor carro que um ladrão pode roubar.

Você vai pagar por isso! – Bufou Apolo ainda lutando contra a camisa.

Minha mãe prendeu o riso e depois olhou para Hermes novamente. De repente, eles pareciam dois adolescentes apaixonados.

– Seu tempo está acabando. Ele está quase tirando a camisa. – Comentou.

– Parceiros em crime? Gostei. – Ele riu e saiu correndo pela porta, mais rápido do que eu jamais vi alguém correr.

Hermes! – Rugiu Apolo jogando a camisa no chão e correndo atrás extremamente desajeitado.

xXx

POV Ares

Desliguei o chuveiro e peguei a toalha para me enxugar.

Agir como um mortal já estava me cansando. Eu tinha que lidar com aquele chuveiro horrível que esfriava sem nenhum motivo nas horas mais inesperadas, usar aquelas roupas ridículas que o padrasto de Alice emprestara, e ainda ter que comer a comida sem sal da tia Kat.

Parei por um instante e desocupei minha mente de todas essas coisas desagradáveis. Foquei meu pensamento na imagem de Alice em pé na minha frente, de braços cruzados com uma expressão emburrada usando uma camisa com a frase “garota da guerra mais sexy – Ares manda”.

Será que tudo isso caberia em uma camisa?

Nha, eu daria um jeito.

Saí do banheiro passando as mãos pelo meu cabelo molhado.

– Deuses! Será que dá para se cobrir? – Perguntou Apolo entrando no quarto. Peguei a toalha e enrolei na cintura. Pelo suor escorrendo pela testa e a cara de emburrado dava para notar que ele passara muito tempo perseguindo Hermes – De preferência antes que Alice entre e nos encontre em uma situação embaraçosa.

– Você pretendia estar em uma situação embaraçosa comigo? – Perguntei erguendo uma sobrancelha – É para eu esmagar a sua cara agora ou mais tarde?

– Argh! Você entendeu o que eu quis dizer! – Bufou irritado e se jogou na cama fitando o teto.

– Alguém está de mau humor. – Ri achando graça de sua carranca – Ninguém te avisou que não é sábio confiar em um ladrão?

– Como é que eu ia saber?! – Exclamou em uma explosão – Eu achei que eles fossem mesmo se casar! Que tipo de homem pede uma mulher em casamento para daqui a 40 anos?!

– O tipo de homem que rouba metade do rebanho de vacas sagradas do meio-irmão. – Respondi gargalhando.

– Covarde. Maia devia ter dado uma bela surra naquele miserável... – Resmungou mais para si mesmo do que para mim. De repente, ele teve um estalo. Seus olhos azuis ganharam um brilho ofuscante – Já sei! Ele tem o meu carro, mas eu tenho...

– Você tem...? – Quis saber o resto, curioso.

– Alice! – Exclamou abrindo um sorriso bobo – Eu posso chantagear ele com a Alice! Eu vou dizer “Meu carro ou...!”

– Eu não estou gostando nada do rumo disso. – Resmunguei incomodado.

– Meu carro ou – ele repetiu mostrando irritação por ser interrompido – a sua filha! Não. Não, isso não soa dramático o suficiente. Que tal... Ah! Já sei!

Ele se colocou de pé em um pulo e apontou para mim, fingindo que eu era Hermes.

– Meu carro ou a honra da sua filha! – Falou do modo mais ameaçador que ele conseguia. Meu rosto ficou vermelho de raiva.

– Como é que é?! – Dei um passo em sua direção com os punhos serrados.

– Viu? Deu certo. Se você está com raiva, aposto que ele também vai ficar. – Assentiu contente com o resultado.

– Você não vai encostar nenhum desses seus dedinhos de moça na Kelly, fui claro?! – Ameacei apontando para ele – Não me interessa se Hermes vai dirigir o Sol para o Polo Norte e matar todos os pinguins.

– Isso é absurdo. – Ele revirou os olhos impaciente – Não existem pinguins no Polo Norte.

– Quer dar uma de sabe-tudo no meio da minha ameaça? – Rosnei erguendo meu punho. Apolo abriu a boca pronto para falar, mas deteve-se ao ver a porta de abrir. Alice entrou no quarto e olhou para nós dois.

– Nossa, olha só vocês. Discutindo e não sendo nem um pouco românticos e sedutores um com o outro. – Disse suspirando – Que alívio.

– Quantas vezes eu vou ter que te dizer que nós dois não...?! – Apolo me interrompeu.

– Minha vítima chegou! – Sorriu mostrando os dentes. Alice franziu o cenho, e hesitou em recuar um passo à medida que ele se aproximava – Você vai me ajudar a pegar meu carro de volta.

– Como exatamente? – Perguntou olhando nervosamente para mim.

– Sendo abusada por esse pervertido. – Fiz uma careta.

– O quê? – Ela olhou para Apolo sem entender.

– Eu preciso que você finja ter sido sequestrada por mim, e finja que está muito assustada com isso e... – Ele parou de falar quando ela não conseguiu controlar uma gargalhada – Quer parar de rir?! Estou falando sério! Esse plano precisa funcionar, ou eu nunca vou pegar meu carro de volta!

– Você quer que eu finja estar assustada por ter sido sequestrada por você? – Repetiu ainda rindo.

– Algum problema com isso? – Perguntou ele amargamente. Alice percebeu que era mais sábio parar de rir antes que ofendesse Apolo – Francamente, você é minha musa. Deveria obedecer minhas ordens oficiais.

– Tá bom, desculpe, lorde Apolo. – Ela assentiu com a cabeça fingindo solenidade, mas eu podia ver que estava lutando para não rir novamente – Isso é uma ordem oficial?

– Sim, é uma ordem oficial. – Confirmou ele, gostando da “obediência” de Alice – Finja estar absurdamente assustada.

Alice ficou esperando por mais, e um segundo de silêncio se formou no quarto.

– Você diz, agora? – Ela perguntou, confusa.

– Sim, agora. – Confirmou com seriedade. Ela franziu o cenho – Não! Espera. Eu falo primeiro a minha fala e depois você entra. Sua deixa é na palavra “filha”.

– Ah, isso vai ser interessante. – Prendi o riso e cruzei os braços. Apolo limpou a garganta.

– Hermes, seu patife! – Essa era nova. E a entonação dramática dele também – Meu carro de volta, ou a honra de sua filha!

Apolo esperou para a atuação de Alice, mas eu esperei por sua impagável reação. Seu rosto tomou uma expressão de paisagem, como se ela ainda estivesse processando o que ouvira. Suas sobrancelhas castanhas se aproximaram fazendo transparecer sua confusão.

– Quando você diz honra, você quer dizer...? – Ela passou seus olhos dele para mim. Eu assenti com a cabeça, mostrando maldade. Uma careta começou a se formar – Tipo, honra no sentido de...? Ei!

Ela olhou chocada para Apolo.

– Não pode dizer isso! Que horror! – Exclamou.

– Se você puder usar essa energia para passar medo, eu tenho certeza que vai dar certo! – Insistiu ele animado.

– É claro que não vai dar certo, Apolo. Começando pelo fato de que meu pai nunca vai acreditar que eu fui sequestrada por você. – Revirou os olhos.

– Por que não? – Quis saber.

– Porque eu te chamei para sair colocando um cartaz no Olimpo? Porque, talvez, eu tenha sido temporariamente sua noiva? Porque você me chamou para ser sua musa? – Alice contou os motivos na mão.

– Você...! Você é uma pessimista! – Reclamou fazendo careta – Será que não dá para me ajudar a pegar meu carro de volta?

– Quer ajuda? Tente a minha mãe. – Eu ri alto ao ouvi-la dizer isso.

– Isso! – Assenti – “Meu carro ou a honra da sua amante”!

– Perfeito! – Exclamou Apolo feliz.

– Não! – Exclamou Alice com raiva – Esquece esse negócio de desonrar, tá bom? Eu quis dizer que a minha mãe consegue fazer qualquer pessoa fazer qualquer coisa. Ela pode pegar as chaves de volta com o meu pai.

– Sua mãe? Você acha que aquela mortal tem tanto poder assim para roubar um item de poder de um Deus? – Perguntei rindo da ideia.

– Ela tem poder o suficiente para te deixar com medo, então sim. – Assentiu ela com um sorriso implicante. Eu trinquei os dentes.

– Eu não tenho medo da sua mãe! – Rosnei.

– Tem sim. – Assentiu Apolo pensativo – Bendito dia em que eu te tornei minha musa, Alice. Sua ideia é perfeita. Jenny, a mortal, vai me salvar!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Já podem deixar aquele comentário lindo.

O próximo saí semana que vem!



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