Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 52
Inveja


Notas iniciais do capítulo

Ok, acho que um "desculpa pelo atraso" já está implícito aqui.
Agradeço a gigante paciência que vocês tem comigo. Sério mesmo.

E aqui vai um novo capítulo!
Boa leitura.



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– Você realmente quer que eu fale disso aqui?! – Perguntou Joe ao ver que eu não tinha me movido nem mesmo um passo. Estava boquiaberta encarando-o. Ele revirou os olhos – Fala sério. Vamos logo!

– Você tem inveja de mim? – Perguntei surpresa – Você tem inveja de mim?

Joe bufou e revirou os olhos mais uma vez.

– Tudo bem. Tudo bem, eu falo disso aqui. – Ele parecia inquieta. Começou a andar de um lado para outro enquanto organizava as palavras – Você...Você é...

Joe respirou fundo.

Tudo é sobre você. – Soltou de uma vez – Eu sempre fui um bom aluno, sempre tirei boas notas, sempre fui o melhor no time de basquete, sempre fui melhor do que você. Mas tudo o que as pessoas sempre falam é “Ah, você viu o que a Alice fez? Você viu o que a Alice falou?”. É sempre Alice, Alice, Alice! E quanto a mim?!

Pisquei os olhos.

– A minha mãe só fala de você. Sempre que eu faço alguma coisa é “A Alice faria de outro jeito”. A minha mãe. – Reclamou ele irritado.

Eu arregalei os olhos ainda mais.

– Eu queria que eles prestassem atenção em mim pelo menos metade do que eles prestam em você. – Bufou Joe cerrando os punhos – E você nem é isso tudo! Você passa a vida toda só fazendo besteira e criando problemas! Por que só ligam para você?!

– Joe, eu... – Minha voz estava falhando. Aquilo tinha me pegado tanto de surpresa, que eu não sabia mais o que pensar – Eles sempre falam que eu tinha que ser que nem você.

Ele olhava para mim diretamente. Metade de seu olhar era de raiva, mas o outro era frustração. Como se por mais que estivesse irritado comigo, sabia que a culpa não era minha. Balancei a cabeça.

– Meu pai vive falando de você e de como você é perfeito. – Respondi encolhendo os ombros – E os outros só falam de mim quando é para criticar ou reclamar de alguma coisa.

– Mas eles falam. – Rebateu ele cruzando os braços.

– Por que nunca me contou isso antes? – Perguntei franzindo o cenho – Você preferiu passar todos esses anos só me tratando mal?

Joe desviou o olhar.

– Eu queria descontar em alguém. – Respondeu em um murmuro mal humorado.

– Eu não tenho culpa.

– Eu sei. – Resmungou novamente – Só queria descontar em alguém, e achei que você merecia.

Eu me aproximei dele devagar, e olhei para seu rosto. Joe parecia estar evitando olhar para mim de repente.

– Você não precisa continuar então. – Comentei devagar – Nós podemos nos dar bem.

Joe franziu o cenho para mim, como se a ideia fosse estranha.

– Olha, eu detestava você porque achava que você era um cretino, mas acho que nunca parei para notar o seu lado da história. – Encolhi os ombros – Podemos só, sei lá, enterrar isso, não é?

– Não acha que já enterramos coisa demais hoje? – Rebateu em sarcasmo. Revirei os olhos com vontade de rir, e Joe suspirou – Eu... Me desculpa por ter batido em você.

Fiquei surpresa em ouvir aquilo.

– Eu fiquei nervoso e perdi o controle. Quero dizer... Tinham zumbis na minha casa. – Assenti.

– Eu não ia matar você. – Foi a minha vez de pedir desculpas – Foi um blefe.

– Foi um bom blefe.

– Eu sei.

– Digo, parecia que você estava com sede de sangue.

– É, eu tinha que ser durona.

Muito durona. Se você tivesse um revolver...

– Tá bom, já chega. – Revirei os olhos. Joe assentiu.

– Ok. Acho que podemos fazer as pazes. Só... Posso falar uma coisa antes? – Perguntou ele. Eu franzi o cenho e concordei – Sua mãe é tão velha e vadia que dormiu com o Olimpo inteiro na Grécia Antiga.

Bufei e passei a mão pelo rosto incrédula com o que tinha ouvido.

– Agora que eu já ganhei o “Sua mãe é tão”, podemos fazer as pazes. – Ele ainda estava implicando comigo. Eu queria revidar (embora tenha achado aquele “sua mão é tão” bem criativo), mas se fizesse isso, nunca terminaríamos. Estendi a minha mão e forcei um sorriso.

– Pazes, Joey. – Falei.

– Pazes, Ally. – Respondeu apertando minha mão com um pouco de força exagerada. Soltei-a sacudindo-a no ar e apontei com o queixo para a casa.

– Vamos voltar logo. Devem estar esperando faz tempo. – Comentei.

– Os seus tios? – Perguntou Joe.

– Se você começar, eu quebro as pazes e o seu nariz. – Retruquei, e Joe se calou.

xXx

Quando pisamos em casa, Ares e Apolo estavam discutindo. Senti uma súbita vontade de sair de fininho pela porta, mas era tarde demais. Já tinham notado nossa presença.

– Que bom que chegou! – Exclamou Apolo – O que é mais lógico para você: o...!

– Eu não quero saber. – Respondi revirando os olhos – Depois dessa loucura toda, já chega de informações por hoje.

– Resolveu tudo? – Perguntou Ares cruzando os braços – Mandou eles de volta para Hades?

– Mandei. – Assenti – Acabou.

Eles ficaram em silêncio. Silêncio demais.

– O que? – Perguntei.

Não falaram nada. Só olharam para mim como se esperassem que eu me tocasse sozinha.

O que? – Repeti sem entender. Ares bufou e olhou para Joe, depois para mim. Continuei não entendendo.

– Ele sabe. – Apolo falou finalmente. Olhei para Joe e ele olhou para mim de volta.

– É, sabe. – Confirmei – Mas não tem problema. É só jurar que não vai contar para mais ninguém.

– Não acreditariam em mim de qualquer forma. – Comentou impaciente – Para que se preocupar.

– O loirinho falou errado. – Disse Ares negando com a cabeça – Ele quis dizer: ele sabe demais.

– Ele já disse que não vai contar para ninguém. – Repeti estranhando. Ares riu forçadamente.

– Acho que você não entendeu. Sabe quanto problema ele pode causar para nós? Eu vou ter que ouvir um sermão enorme por causa de uma besteira que Hades fez. Além de correr o risco de ser importunado por um monte de mortais curiosos, caso ele abra a boca. – Explicou com pouca paciência – Não vamos correr esse risco.

– O que vai fazer então? Apagar a memória dele que nem em Homens de Preto? – Perguntei debochando, mas nenhum dos dois riu. Notei que era exatamente isso – Não. Não, não, não. Não façam isso. Não agora.

– Alice... – Eu interrompi Apolo.

– Agora que nós começamos a nos dar bem?! É sério?! – Reclamei.

– Não vão apagar a minha memória. Não podem, não tem esse direito. – Reclamou Joe chocado.

– Eu sou um Deus, garoto. Eu tenho muitos direitos. – Disse Apolo sério.

– Mas...! – Apolo o interrompeu.

– Não vai doer, infelizmente.

– Na verdade... – Ares se aproximou de Joe e acertou um soco em seu queixo. Ele caiu no chão fazendo um barulho alto contra a madeira do piso – Só um pouquinho.

– Ares! – Exclamei com irritação e choque – O que você fez?!

– Agora manipula a névoa, e ele não vai lembrar de nada. – Falou normalmente.

– Eu falei para você não...! – Ele me interrompeu segurando meus braços e olhando diretamente para mim.

– Escuta. – Disse com firmeza – Quando ele acordar você vai dizer que ele escorregou no tapete. Depois vai achar a porcaria do presente e voltar para o restaurante. Ele não vai lembrar de nada desde que parou o carro lá fora.

Abri a boca, mas demorei para conseguir falar alguma coisa.

– Ele conversou comigo. A gente estava se dando bem, quero dizer, a gente ia começar a se dar bem. Ele... Ele não vai lembrar disso, não é? – Falei frustrada.

– Não. – Ares pareceu um pouco surpreso – Vocês iam se dar bem?

Íamos. – Repeti em um suspiro pesado.

– Vocês podem tentar conversar de novo. – Sugeriu Apolo.

– É. Como se isso realmente pudesse funcionar. – Revirei os olhos e saí de perto do dois – Vão embora logo.

– Para de agir que nem uma garotinha mimada! Isso tinha que ser feito e pronto. – Reclamou Ares – E tanto faz se esse idiota gosta ou não de você. Você pode arrumar amigos melhores.

– Isso não é sobre arrumar amigos! – Reclamei – É sobre não ter uma pessoa infernizando a minha vida! Agora ele vai voltar a ser um cretino e eu vou ter que lidar com isso.

– É. Como uma adulta. – Assentiu Ares – Eu sei. É difícil para você, não é? Cresce logo.

– Só vai embora. – Rangi os dentes. Apolo tossiu um pouco chamando minha atenção.

– Bem, já que você já lidou com os zumbis... – Ele sorriu torto. Lancei um olhar mortal.

– Acredite, essa é a pior hora para você pedir um beijo. – Ameacei, e ele assentiu erguendo as mãos em rendição.

– Percebi. – Falou.

Apolo desapareceu tranquilamente, mas Ares permaneceu ali. Cruzei os braços e olhei para ele irritada. Ele não se mexeu.

– Você não vai embora? – Apressei-o.

– Na verdade, vou. – Assentiu – Com você e com o imbecil ali.

– Eu não preciso de escolta.

– Não. Precisa de uma babá. – Rebateu.

– Estou muito bem, titio. – Retruquei.

– Se você está tentando me tirar do sério, vai precisar de muito mais do que isso, Filhinha de Hermes. – Respondeu encostando-se na parede.

– Qual é o seu problema? – Perguntei com irritação.

– Meu problema é você! – Exclamou finalmente perdendo a cabeça – Você tinha que ter chamado o seu pai. Por que não fez isso?!

– Por que você não me ajudou?! – Rebati incrédula – Eu precisava de ajuda, mas você não fez nada! Você nunca me ajuda.

– Ah, para com isso! Eu tenho sempre que te ajudar, porque você não consegue dar três passos sem causar uma guerra civil! – Exclamou para mim – Mas eu aposto que era exatamente isso que você queria que acontecesse!

– O que?

– Você queria ficar com ele, não é?! Aceitou tão fácil a porcaria da proposta, que nem deu para disfarçar! – Exclamou com raiva.

– Você é inseguro a esse ponto? Eu não...!

Mentira! – Cortou-me – Você não está nem incomodada em ter que dormir com ele! Sempre tenta disfarçar, mas eu sei que você ainda tem uma queda por ele!

– Eu não...!

– Você rastejaria se ele pedisse. – Virou o rosto não querendo olhar para mim. Fiquei parada esperando para ver o que ele falaria – E depois ainda vem com essa historinha de “você nunca me ajuda”, “você é tão grosso”. Você só vem para mim quando é agradável para você. Egocêntrica.

– Você é um orgulhoso idiota. – Comentei e ele olhou para mim com raiva – Eu pedi a sua ajuda, mas você queria mais me ver vestindo o que você quisesse por uma semana do que me ajudar de verdade. Não me chame de egocêntrica.

– Você tinha que ver a sua cara quando ele mostrou os termos. – Riu ele sem humor – Parecia que você estava tirando férias.

– Eu parecia chocada e irritada. – Corrigi negando com a cabeça.

– É. Estou vendo como você está irritada. – Resmungou olhando para mim, e eu acabei rindo. Ares não entendeu. Ele ergueu uma sobrancelha, com raiva e confuso – Qual é a graça?

– Eu tenho um plano. – Falei tentando prender o riso. Ares estreitou os olhos para mim, tentando ver se aquilo era verdade ou não. Eu andei até ele devagar – Seu grande, grande, grande idiota.

Fiquei na ponta dos pés e beijei-o rapidamente nos lábios. Ares continuava olhando para mim confuso.

– Eu não acredito. – Respondeu depois de alguns instantes.

– Você nunca acredita. E é por isso que eu ganho a maioria das nossas apostas. – Respondi rindo. Ares tentou ficar sério, mas acabou rindo um pouco.

– Ganha nada. – Retrucou.

– Ganho sim. – Falei assentindo.

– Eu deixo você ganhar. – Retrucou e eu ri mais ainda – Sou um cavalheiro.

– E um péssimo perdedor. – Respondi. Ele me deu uma chave de braço e esfregou o punho na minha cabeça. Eu me debati lutando contra ele – Para!

– Trapaceira. – Falou soltando-me – E o que você vai fazer. Vamos, eu quero saber desse plano.

– Eu não vou dormir com ele, esse é o plano. – Respondi encolhendo os ombros.

– Você jurou pelo Estige, lesada. Não tem escolha. – Eu ia explicar, mas ele não teve paciência – Quer saber? Isso não vai dar certo. Eu não sei porque ainda deixo você sequer pensar em um plano. Eu tenho um plano.

Ele apontou para mim.

– Eu vou dormir com vocês. – Meu rosto ficou vermelho.

– Não vai não. – Neguei um tanto chocada.

– Você pensou besteira?! – Ele começou a rir – Por Zeus! Você pensou besteira mesmo!

– Pensei nada. – Menti.

– Seu rosto está todo vermelho! – Riu ainda mais – Então esse é o seu fetiche?

– Eu não tenho fetiche nenhum! – Exclamei com vergonha.

– Deuses, você realmente quer me ver pegando o Apolo! – Falou chocado – Mas, desculpe, isso não vai acontecer. Eu vou dormir no quarto com vocês, e vou chutar o Apolo para longe de você. Você pode ficar parada lá, e eu mantenho ele longe. Aí ninguém vai estar quebrando regra nenhuma.

– É. Genial. – Falei em sarcasmo.

– É o melhor plano que temos. Vê se colabora. – Resmungou. Joe se remexeu no chão, finalmente acordando. Eu olhei para ele, ainda com uma leve esperança de que se lembraria de tudo.

Seus olhos encontraram os meus e ele franziu o cenho.

– O que houve? – Perguntou confuso. Ele notou Ares – O que você está fazendo aqui.

– Você escorregou no tapete e bateu de cabeça. Aí ela me chamou. – Respondeu ele, já pronto.

– Você está bem? – Perguntei. Cruzei os dedos discretamente, mas foi em vão.

– Melhor do que você, retardada. – Resmungou se levantando devagar – Pega logo os presentes vamos embora.

– Foi você que esqueceu. – Lembrei-o.

– Foi você. – Mentiu ele – Mas eu corrijo o seu erro. Para variar um pouco, é claro.

E passou por mim subindo as escadas. Suspirei pesadamente, e percebi que Ares me encarava. Revirei os olhos.

– Obrigada, Ares. Muito obrigada mesmo.

– Pense em um jeito de me agradecer depois. – Piscou para mim.

– Vou pensar enquanto estiver beijando o Apolo. – E ele fez uma careta.


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Notas finais do capítulo

Aguardo os reviews de vocês. Vou tentar ir respondendo amanhã os antigos.
E um feliz dia das crianças adiantado para quem ainda é criança, nem que seja mentalmente



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