Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 51
Voltando para o inferno


Notas iniciais do capítulo

E depois de algumas semanas sem postar (dessa vez porque a autora estava na Disney), aqui vamos nós.

Espero que gostem do capítulo novo!
Boa leitura.



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– Ok, como começamos? – Perguntei olhando para os zumbis do topo da escada. Eu estava sentada no chão, escondendo-me para que eles não me vissem. Ares ajoelhou-se do meu lado e falou no meu ouvido.

– Vendo pela altura disso aqui, podemos começar empurrando o Apolo da escada. – Eu revirei os olhos. Apolo ajoelhou-se atrás de mim.

– Eu vou fingir que não ouvi isso. – Falou – A gente começa...

– Não precisa fingir que não ouviu. – Retrucou Ares – Eu quero deixar claro o meu ódio por você.

– Já entendemos. – Falei olhando para Ares – Agora deixa ele terminar.

– Nós...

– Ah! Claro! Deixa ele terminar! – Reclamou – Por que não?! Ele está só passando por cima de mim e usando você como uma boneca de pano, mas tudo bem! Vamos deixar sim ele terminar!

– Eu sou o manipulador? Ah, mas que doce vindo de você. – Rebateu Apolo.

– Tá insinuando o quê? – Rosnou Ares.

– Você sempre abusa dela! Você vive reclamando, e fazendo essas apostas idiotas e criticando tudo que ela faz, mas agora eu sou o manipulador! – Reclamou Apolo.

– Abusivo?! – Repetiu Ares com raiva.

– Gente, os zumbis...!

– Tudo que você quer é achar um motivo para mostrar que eu não devo ficar com ela. E saiba que eu a trato muito melhor do que você pensa! – Replicou Ares.

– Os zumbis...!

– Ah, cala a boca! – Interrompeu Ares – Não está vendo que eu estou no meio de uma briga?!

– Viu?! Está vendo! – Disse Apolo apontando para Ares.

– Isso não te dá razão nenhuma. – Rebateu ele.

– Os dois são abusivos! – Reclamei exaltando a minha voz para que parassem de falar e prestassem atenção. Toda aquela discussão estava se dando só com sussurros – Você é um explorador grosseiro, e você é um metido abusado. É o sujo falando do mal lavado! Uma discussão que nunca vai terminar, por isso deixem para depois e vamos ao que realmente é urgente!

Eles piscaram os olhos analisando a informação.

– Eu me sinto realmente ofendido com isso. – Falou Apolo.

– Daqui a pouco passa. – Respondi. Ele ia responder com algum comentário irritado, mas Ares riu. Apolo o olhou.

– Metido abusado. Boa. – Riu e apontou para mim – É em momentos como esse que eu adoro essa garota.

Apolo bufou.

– Você é o sujo. – Falou Apolo.

– Quê?

– Você é o sujo. Eu prefiro ser o mal lavado. – Respondeu.

– Dá no mesmo.

– Não dá não.

– Dá no mesmo, essa droga. Os dois são sujos.

– O mal lavado pelo menos foi lavado. Mal, mas foi. Você não, é só sujo mesmo. – Respondeu Apolo. Passei a mão pelo rosto, impaciente. Ares parou para pensar.

– Eu sou o mal lavado então. – Respondeu.

– Não, eu disse que sou primeiro. – Replicou.

– Eu sou o que eu quiser ser. E eu estou dizendo que sou o mal lavado. – Afirmou.

– Não, você não é. Você achava que era tudo a mesma coisa faz alguns segundos.

– Mas não acho mais. Sou o mal lavado.

Enquanto eles continuavam aquela discussão imbecil e sem sentido, eu imaginei que talvez meu pai estivesse certo. Talvez a minha melhor opção seria mesmo o Scott. Nós poderíamos morar ali naquela casa mesmo. Podíamos comprar um cachorro, eu ia trabalhar em casa traduzindo textos, enquanto ele ia montar uma oficina ou sei lá o que. Íamos ter dinheiro o suficiente – afinal, você nunca fantasia com um futuro pobre, não é? – para contratar um chef profissional, assim não teríamos que cozinhar, e sempre comeríamos bem.

Estava imaginando a cena do nosso casamento (minha mãe sorrindo, Hermes chorando de emoção enquanto dizia “esse é um bom garoto”, e a mãe de Scott acenando para nós dois), quando Ares me acordou.

– Ei, presta atenção! – Disse cutucando meu braço com um pouco de força demais. Olhei para ele pensando que finalmente estavam focados no que realmente importava – Quem dá o melhor beijo, eu ou ele?

Parei por alguns instantes, não acreditando que ouvira aquilo. Suspirei pesadamente e afundei o rosto nas minhas mãos.

– Eu sempre, sempre achei que Deuses fossem maduros, inteligentes... Mas não. – Murmurei para mim mesma.

– O quê? Não dá para ouvir, você tá murmurando. – Disse Ares reclamando – Apolo, ela tá murmurando. Mas que droga.

– Você quer saber o que é uma droga?! – Respondi olhando para Ares com raiva – Viver na puberdade por milênios, isso é uma droga. Vê se cresce.

Apolo riu dele.

– E você. – Olhei para ele – Você tem 10 segundos para levantar e salvar o dia, antes que eu desista da porcaria daquele acordo.

– Tudo bem! – Respondeu ele – Nós continuamos isso depois.

– Deuses, por favor, não. – Pedi olhando para o teto.

– Agora vamos ao que importa. – Apolo olhou para mim – Primeiro você vai jurar pelo Estige que vai atender as 3 condições.

– Eu juro. – Ele me encarou estreitando os olhos – Pelo Estige! Pronto! Agora o que você vai fazer para...!

– Wow, wow, wow! – Interrompeu-me com um riso nervoso e olhou para o teto – Eu não vou fazer nada, porque seria intervenção direta. Mas nada me impede de dizer exatamente o que você tem que fazer.

Ele cochichou no meu ouvido e eu assenti.

– Tem certeza? – Perguntei franzindo o cenho.

– Vai nessa, garota. – Piscou ele.

xXx

– Onde você estava?! – Exclamou Joe ao me ver abrir o caminho até a sala. Ele segurava um vaso de flores vazio, abraçando-o - Por que demorou tanto?!

– Por que está abraçando um vaso de flores? – Rebati.

– Eles iam quebrar, não é óbvio? E isso aqui... – Ele olhou para o vaso de flores mais feio do mundo – Acho que foi aquele presente que tia Kat ganhou há um tempão.

– Tanto faz. – Suspirei – Larga ele e me ajuda a subir na mesa.

– Quê? – Ele piscou os olhos – O que você vai fazer?

Eu subi sem sua ajuda. Olhei para todos os zumbis de alto. A música continuava tocando, vários dançando, alguns discutindo, outros – bizarramente – flertando.

Aaaaaaaaaaah! – Berrei o mais agudo que pude, até meus pulmões não terem mais ar. Todos pararam e olharam para mim. Um deles desligou a música. Eu respirei fundo – Agora que eu tenho a atenção de vocês...

Respirei mais um pouco.

– Olá. Eu sou... Eu sou Alice Kelly, e esse é o meu primo Joe Hanks. – Tentei agir com confiança no plano de Apolo – Nós somos netos do Edgar.

Todos eles reconheceram.

– E hoje é um dia muito, mas muito especial. Hoje é aniversário do meu pai, William Hanks, sobrinho do Edgar. – Eles bateram palmas, e eu tinha quase certeza que vi algumas mãos caírem – Nesse momento, todos eles estão nos esperando na floresta. Eles estão fazendo um piquenique. E... – Eu sorri forçadamente – Eu tenho certeza que eles vão adorar matar a saudade de vocês. Então...

Eu apontei para a porta.

– Sigam-me os bons. – Disse descendo da mesa. Joe murmurou perto de meu ouvido.

– Você sabe o que está fazendo, não é? – Perguntou.

– Eu espero que sim. – Falei em resposta – Agora larga esse vaso e vamos.

Nós atravessamos todo o quintal da frente e entramos na floresta. Joe me seguia de perto, e os zumbis um pouco mais distantes. Eles andavam com dificuldade, tropeçando em seus próprios pés, arrastando seus corpos pesados, lutando contra seus músculos desoxigenados. Demoramos cerca de 20 minutos para conseguir chegar ao lugar marcado por Apolo.

Um campo cercado de árvores retorcidas. No meio do campo tinha um buraco enorme, assim como ele disse que teria. Hades tirou todos aqueles mortos dali. Uma passagem para o mundo inferior.

Eu me virei e olhei para o grupo confuso de zumbis.

– O tempo de vocês andaram sob a luz do Sol já acabou. Que todos voltem ao Mundo Inferior, seu devido lugar. – E eu esperei.

Nada aconteceu.

– Tenta dizer uma palavra mágica. – Sugeriu Joe nervoso.

– O quê? – Perguntei confusa.

– Tipo Shazam. Abracadabra. Avada Kedavra.

– Você está realmente levando isso a sério? – Respondi irritada.

– Eu acho que você não está. – Reclamou ele – Não tem que dizer que o tempo deles acabou. Tem que dizer voltem para o inferno!

E de repente um vento começou a soprar. De começo era só uma brisa leve, mas depois foi se intensificando. Um rastro de luz amarela começou a se formar, desde de trás do último zumbi, até o buraco no chão.

De repente, parecia que o vento e a luz eram um só, e puxavam tudo de volta para o Mundo Inferior. Eu e Joe demos alguns passos para trás e abraçamos uma árvore. Os zumbis começaram a ser sugados, uma a um. Ossos voavam pelo céu, pernas soltas, e até cabeças. Tudo estava sendo sugado com uma força absurda.

– Segure firme! – Gritei para Joe.

– Você não precisa falar! – Gritou de volta, por cima do barulho do vento.

Quando tudo finalmente parou, o buraco se fechou sozinho. O vento acabou e não tinha mais nenhum morto-vivo perto de nós. Joe suspirou aliviado.

– Finalmente. – Falou soltando a árvore – Vamos dar o fora daqui.

Ele saiu andando na frente, mas então parou e olhou para mim.

– Espera, acabou, não é? Não sobrou nenhum deles e eles não vão mais voltar, certo? – Perguntou franzindo o cenho.

– Acho que sim. Acabou. – Assenti.

– Você acha?! – Repetiu ele.

– Eu não sei de tudo, mas sim, eu acho. – Respondi e vi que ele ainda estava com raiva – O que foi?! A culpa disso não foi minha!

– Foi a sua família que fez isso! – Exclamou Joe – Então, sim, a culpa foi sua! Devia pensar antes de trazer eles para cá!

– Eu não trouxe ninguém, eles vieram! – Exclamei de volta – E eles são Deuses, Joe. Eles fazem o que quiserem!

– É! Uma beleza isso, não é? – Respondeu irritado – Eles fazem o que quiserem! Acordam os mortos, bagunçam a vida de gente normal... É eles, são adoráveis!

– Mais do que você, com certeza! Uma pena que você não foi embora junto com os zumbis! – Exclamei de volta e saí andando na frente dele.

– Você não pode estar falando sério! – Exclamou de volta.

– Sim, eu estou! Eu nunca conheci alguém tão ruim quanto você, nem mesmo o Ares! – Respondi virando-me para olhá-lo – Eu não sei que prazer você sente em fazer todo mundo parecer um lixo, mas saiba que é doentio e deprimente! Eu não suporto ficar do lado de alguém assim!

Eu me virei e não dei mais de três passos antes de prender meu pé na raiz de uma árvore. Eu acabei tropeçando e rolando uma pequena declinação de terra. Meu rosto afundou no chão e eu senti meus braços arderem. Coloquei-me sentada e notei duas coisas terríveis.

A primeira, eu tinha torcido meu pé e ralado os braços.

A segunda, e pior de todas: por eu ter rolado aquela pequena descida, uma camada de poeira da terra acabou subindo e ficou suspensa no ar.

Era tarde demais. Eu já tinha respirado o suficiente para a minha asma se manifestar. De repente, o ar parecia pouco. Comecei a suar frio. Eu ia ter uma crise.

Tentei me levantar, e acabei caindo levantando mais poeira ainda. Arfei tentando buscar ar, mas foi novamente em vão. Continuei arfando, tentando respirar como uma desesperada. O pânico tomou conta de mim.

Estava tão nervosa que não vi Joe se aproximando. Ele parou na minha frente, e começou a tatear seus bolsos. Meus olhos lacrimejavam, por isso não consegui enxergar de primeira quando ele tirou de lá um objeto branco de plástico.

Minha bombinha.

Ele estendeu para perto de mim, e minhas mãos trêmulas pegaram-na e a usaram com rapidez. Apertei-a e respirei fundo. Depois mais uma vez, e o ar voltou a entrar nos meus pulmões.

Joguei minha cabeça para trás, recostando-a em uma árvore. Fechei os olhos e tentei me acalmar. Estava respirando de novo. Ar. Oxigênio.

– Essa foi por pouco. – Murmurou Joe se levantando. Eu abri os olhos e o vi se afastar. Olhei para a bombinha na minha mão e percebi que era a mesma que eu usava quando era criança. Tinha até o mesmo adesivo do Bob Esponja do lado.

Segurei-a com força e olhei para Joe.

– Ei...! – Minha voz estava falhada, não tinha como ele me ouvir.

Juntei toda a minha força e lancei a bombinha nele. Ela acertou suas costas, fazendo-o se virar e olhar para mim. Fiquei de pé e o encarei.

– O que é isso? – Perguntei franzindo o cenho. Joe abaixou-se e pegou-a no chão.

– Seu remédio de asma. – Respondeu como se fosse óbvio.

– Eu não tenho uma crise faz quase 10 anos. – Falei – Como você sabia que eu ia precisar?

– Você é asmática. Gente asmática precisa. – Respondeu encolhendo os ombros – Mas na verdade, eu não sabia com certeza.

– Então você está dizendo que anda por aí com uma bombinha de asma no bolso caso eu precise? – Franzi o cenho.

– Não o tempo todo, é claro. – Revirou os olhos – Só quando você está por perto.

– Ah, não. Não me vem com essa. – Neguei com a cabeça – Quando eu cheguei aqui, você quase me atropelou. E agora está dando uma de herói me salvando da minha alergia...?

Asma. – Corrigiu ele.

– Tanto faz. – Disse impaciente.

– Não é como se eu fosse te atropelar de verdade. – Resmungou ele – Era só para te assustar.

– Você é idiota? – Perguntei confusa e com raiva – Para que você leva essa bombinha por aí? Você não preferiria se eu morresse?

– Eu não quero você morta, sua louca. – Disse chocado. Eu avancei na direção dele.

– Por que você me odeia? – Perguntei diretamente.

– Eu não...

– Por que você me odeia?! – Perguntei de novo.

– Eu não odeio você! – Exclamou ele irritado.

– Odeia sim! Por que, Joe?! O que eu fiz para você me odiar tanto assim?! – Eu lhe dei um empurrão e ele finalmente respondeu. Não a resposta que eu esperava, mas a verdade.

– Eu não odeio você, eu tenho inveja de você! – Exclamou.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo vocês vão entender porque o Joe sempre foi um nojentinho. Eu vou caprichar, prometo.
UMA PERGUNTA RÁPIDA: Alguém já leu Fangirl ou Eleanor e Park? Se sim, responde para mim o que achou nos reviews ou em uma MP?
Beijos, e obrigada pela paciência!



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