Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 39
Acredite em mim


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um!
Boa leitura!



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POV Ares

– Eu não acredito nisso. – Disse Alice incrédula.

– Pode acreditar, meu bem. – Assenti com um sorriso torto – E eu sei que vai dar muito trabalho para você.

– Mas... Ah, Ares! – Ela olhou para mim como uma criança manhosa – Eu preciso mesmo? Você tem certeza?

– Sim. – Assenti novamente apontando para a pilha interminável de revistas e livros que estavam na frente dela. A tarefa era simples, arrumar a estante. Na verdade, parecia simples para quem não olhava a enorme quantidade de coisas nela. E da poeira, é claro – Você merece cada espirro por aquela traição.

Alice bufou.

– Mas tem poeira! – Tentou batendo o pé no chão. Eu prendi o riso – Você sabe muito bem que eu tenho asma.

– Ah, ontem a noite não era só alergia?

– Tanto faz. – Ela revirou os olhos – Eu não posso limpar isso! Será... Será que...? – Alice tentava pensar em algo que pudesse me fazer mudar de ideia. Ela chegou para mais perto de mim e abraçou minha nuca desajeitadamente. Diferente de Afrodite, ela não sabia seduzir tão bem assim – Será que você não pode deixar isso para lá e me perdoar? Bem que a gente podia se entender melhor e...

– E atchim. – Disse colocando um lenço de papel na frente de seu rosto no exato momento em que ela ia me beijar. Alice franziu o cenho – Não adianta. Já até preparei uma caixa de lenços para você. Que namorado bom eu sou, hein?

– Ares...!

– Sabe, toda a vez que você fala “Ares!” eu imagino você falando “Apolo!” e se pegando com aquele loiro oxigenado irritante. – Cortei-a – Então, acho que o mínimo que você pode fazer é me dar a tarde livre para pensar em outra coisa além das mãos bobas de vocês ontem.

Alice soltou o meu pescoço e eu percebi o que vinha depois. Eu não a chamava de mimada á toa. Ela respirou fundo e cruzou os braços. Ia começar...

E começou. Primeiro os braços cruzados. Depois uma expressão de rancor e mágoa. Depois virar as costas rápido, bater o pé no chão. E por fim o silêncio. O silêncio longo e incomodo feito unicamente para eu (ou qualquer outra pessoa) me sentir culpado.

– Mesmo? – Perguntei, mas não obtive resposta. Ela sentou no chão de madeira do escritório e continuou com os braços cruzados – Você pula a cerca e eu é que sou o vilão malvado? Eu tenho que ser bonzinho de qualquer forma, porque você é você, e está fazendo chilique nesse exato momento? É isso mesmo? Sou obrigado a te perdoar da forma mais simples?

Ela não respondeu.

– Provavelmente você fazia exatamente isso para a sua mãe quando entrava em uma loja de brinquedos e ela se recusava a comprar o que você queria. E ela provavelmente te criou muito mal, mas saiba que eu não vou incentivar essa sua manha toda. – Falei cruzando os braços e virando para o outro lado. Respirei fundo – Você tem cinco segundos, Kelly. Eu vou contar até cinco e você vai começar a limpar e organizar.

Silêncio.

– Um... Dois... Três... – Olhei por cima de meu ombro. Ela nem mesmo se moveu. Virei o corpo olhando suas costas e seu cabelo castanho bagunçado – Quatro... – Nada – Cinco. Ok, esse foi o cinco.

Respirei fundo, peguei a caixa de lenços e marchei até ela. Parei a centímetros da Filhinha de Hermes, que nem mesmo se virou para me olhar. Por fim, acabei me sentando do seu lado e virando-a de frente para mim. Alice continuava sentada de pernas e braços cruzados. Apontei para o seu rosto.

– Nunca. Nunca em um milhão de anos eu sonharia que, um dia, eu ia acabar atendendo as suas pirraças. – Suspirei irritado – Mas aqui estou eu. Eu limpo, e você arruma. Feliz agora?

Alice abriu um sorriso mostrando seus dentes branquinhos. Ela se virou para a estante novamente e encolheu os ombros.

– Não é pirraça. – Rebateu.

– É pirraça sim. – Insisti – Pirralha mimada.

– Não é, não. – Ela negou com a cabeça. Eu ia rebater, mas ela jogou um pano em mim – Começa a limpar e para de reclamar comigo.

– Como é que é?! – Falei com irritação. Alice olhou para mim sorrindo.

– Por favor? – Completou – Eu pedi com jeitinho, não?

Suspirei, só que perto demais dos livros. Parte da poeira voou e Alice cobriu o rosto espirrando. Ela estendeu a mão, tateando o chão, como se procurasse por algo. Estendi a caixa de lenços e ela tirou alguns. Alice espirrou várias vezes, além de ficar pigarreando na tentativa de limpar a garganta.

– Argh! – Fez finalmente conseguindo respirar. Seu nariz estava bem vermelho, o que me fez rir um pouco – O que?

– Nada, Rudolf. Vamos começar. – Alice me deu um tapa no braço e eu baguncei seu cabelo com a ponta dos dedos. Nós rimos e começamos.

Eu tirava limpava tirando a poeira e entregava para Alice, que separava tudo em pilhas organizadas: revistas, livros e filmes. Nós ficamos em silêncio por algum tempo, até que Alice quebrou o silêncio.

Amor nos tempos de tiros. – Leu em voz alta – Quando McCoy volta a sua cidade natal terá que lidar com o sequestro de sua bela amada, Julien, que se encontra refém nas mãos de seus inimigos. Uma jovem, um duelo, dois homens, mas só um sairá vivo. Será que McCoy vencerá?

– Que? – Falei franzindo o cenho.

– Estou lendo para você o resumo do melhor livro do mundo, você não entendeu? – Falou Alice tentando parecer séria, mas estava na cara que era brincadeira – Olha só a capa. Tudo bem, não se julga um livro pela capa, mas esse aqui tem uma ótima história e um ótimo Design. Não toca o seu coração?

Olhei para a montagem mal feita de um homem de bigode e chapéu de cowboy e uma garota com cara de indefesa sobre as estralas. Aquilo era mais podre que novela mexicana.

– Sim, tocou o meu coração. Guarda que dá para usar depois para acender a lareira de noite. – Assenti rindo.

– Você não é digno do McCoy, o cowboy sem regras. – Falou dramaticamente.

– Sem regras, nem gilete. Que bigode ridículo é esse? – Eu ri e Alice riu também. Ela encolheu os ombros e ergueu outro livro.

– Suponho que você se interesse mais por Anna, a amante quente. – Falou mostrando um livro cuja capa era uma mulher com vestido vermelho. Ergui uma sobrancelha, pronto para mexer com Alice.

– Uh, olá Anna. – Sorri torto para o livro e ela negou com a cabeça.

Anna é uma dama da alta classe francesa, mas que foi prometida a um homem que não ama. Ah, pobre Anna. – Alice fingiu tristeza – Com medo e contrariar seus pais, ela se casa com ele, mas ainda mantém esperanças de achar seu amor verdadeiro...

– Ares, o poderoso Deusa guerra. Será que Anna aguentará uma noite com ele? Será que pedirá por mais? – Continuei interrompendo-a.

– Sh, tá estragando a história! – Reclamou revirando os olhos – Que foi nomeado duque, e se mudou para terras no interior do país. Oh, olha só! A Anna é uma interesseira! Que surpresa – Fingiu choque.

– Não tem problema você ser interesseira, Anna. Eu também posso ser no seu caso se você continuar usando esse corpete. – Pisquei para a capa do livro.

Alice ergueu uma sobrancelha para mim. Rapidamente abriu o livro e foliou as páginas até o final. Fechou.

– Ah, que pena! A Anna morre! – Ela fingiu tristeza – Bem, ao menos o final é feliz.

– Não! Anna, porque você morreu?! – Fingi choque roubando o livro das mãos dela – Você era tão jovem e linda! Tantas coisas que poderíamos ter feito juntos!

– A Anna morreu de uma doença venérea. Coitadinha.

– Não tinha isso na época da Anna.

– Doença venérea, pneumonia, varíola, tanto faz. Tá morta mesmo. – Alice deu de ombros, e eu resolvi implicar um pouco mais.

– Uma pena não nos termos conhecido, senhorita Anna. – Beijei a capa do livro e repirou fundo.

– Ah, olha só. Olha esse aqui, que curioso. – Riu fingindo casualidade – Feitos um para o outro. Vamos só dar uma olhada no resumo... Ah, aqui está! Paul, um jovem bonito, forte e muito simpático encontra Alice, uma garota que se muda para o apartamento ao lado do seu. Paul logo se encanta por sua vizinha, e o mesmo acontece com Alice...

– Quem é Paul? – Perguntei franzindo o cenho – Você conhece algum Paul?

– Sh! Deixa eu terminar de ler, estou gostando. – Falou sem tirar os olhos do livro – Paul logo descobre que Alice terminou o namoro, e resolve ser o melhor homem que ela poderia ter. Paul leva flores para ela, faz café para ela, e não rouba seu cobertor durante a noite...

– Eu não...!

– Ei! Eu quero saber mais sobre o Paul. – Reclamou – Olha só! Paul é um moreno alto e musculoso de olhos verdes, muito sedutor e que não arrota em jantares românticos. – Deu um suspiro apaixonado – Alice logo...

– Descobre que Paul é gay quando ele leva o seu novo namorado para casa. Alice chora, chora, chora. Fim. – Cortei.

– Ele não é gay! – Reclamou.

– É sim, porque Alice encontra Paul e o namorado na cama. 100% gay. E passivo. Fim. – Falei.

– Eu ainda não terminei de...! – Eu puxei o livro das suas mãos.

– Que tipo de sinopse é tão longa assim?! O livro deve ser um tédio, vamos ver... Oh! O Paul é gay e morre atropelado! – Fingi choque e joguei o livro longe – Que trágico acidente esse. Agora vamos continuar a limpar.

– Então a Anna é lésbica! – Exclamou irritada – A Anna é lésbica e larga os dois amores para poder morar com a namorada nova em um cabaret.

– Aí o Ares pega as duas. Ménage à trois, como diriam os franceses. – Rebati com um sorriso no rosto.

– São lésbicas. Não ficariam com você, porque não gostam de homens. – Corrigiu. Eu ri.

– Elas não me conhecem ainda. – Sorri.

– E nem vão conhecer, porque estão mortas. – Retrucou.

– Ah, agora você matou a amante lésbica da Anna também?! – Perguntei cruzando os braços.

– Não. O autor matou. Que pena. Estaria chorando se não tivesse trabalho para fazer. – Alice apontou para a pilha de coisas para limpar – Vai logo. E para de sorrir assim.

Eu comecei a rir e neguei com a cabeça. Alice cruzou os braços e olhou para mim sem entender.

– O que? Está rindo do quê? – Perguntou. Eu estendi a mão e dei um soquinho de brincadeira no queixo dela.

– De nada, Lady Anna Alice. – Falei rindo. Alice tentou prender um sorriso, mas não conseguiu e desviou o rosto. Ela balançou a cabeça.

– Não fica todo cheio de si, senhor Paul Harry Ares. – Falou colocando mais um livro em cima da pilha – Continua a limpar.

Nós ainda estávamos rindo quando Apolo entrou no escritório. Ele se agachou atrás de nós e olhou para a estante.

– Vão limpar isso tudo? – Perguntou. Alice virou o rosto e notou a presença do Deus do Sol. Eu mantive meus olhos nela para descobrir qual seria sua reação.

– O que você está fazendo aqui? – Perguntou um tanto rápido e um tanto seca.

– Terminei de arrumar o celeiro, de novo. E como não tem mais nada para fazer eu... – Ela o interrompeu.

– Ah, entendi onde você quer chegar. Mas nós temos um probleminha. – Falou fingindo um sorriso – É que aqui não tem espaço para você.

– Não tem espaço para mim? – Perguntou estranhando – Como assim?

– Não tem espaço. Esse espaço aqui é reservado para as pessoas legais, e você não é legal o suficiente. Essa é uma explicação bem simples, tão simples que falam os adolescentes falam o tempo todo na escola. – Respondeu ainda sorrindo – Mas se você não entendeu, eu tenho certeza que você pode perguntar a Heather que ela vai te responder com o maior prazer. Ela sabe bem como é falar isso para os outros. Então por que você não vai? Hein? Vai dançar balé em algum canto.

Apolo parou alguns instantes, até que por fim entendeu. Percebeu que eu tinha contado do encontro dele com a Heather. Ele riu negando com a cabeça.

– Está com ciúmes? – Falou.

– Não.

– Mentira. Está morrendo de ciúmes, mas não admite porque ele está aqui. – Disse apontando para mim. Olhei para Alice, e vi que Apolo estava enganado. Não eram ciúmes, era raiva. E de raiva eu entendia bem.

– Qualquer outra. Podia ter arrumado qualquer outra garota, menos ela, mas não. Você é idiota?! – Falou fitando-o com raiva – Não tá vendo que ela só está com você porque você é bonito e porque você é meu amigo? Seu traidor!

– Alice, não é como você está pensando. – Falou bem calmo. Ela ia falar alguma coisa, mas ele a interrompeu – Você tinha amigos, Alice? – Ela piscou os olhos como se a pergunta a pegasse desprevenida.

– O quê? Eu... Não. Um ou outro, eu quase não tinha amigos. Mas por quê?

– Ela não é ruim como você diz. – Falou negando com a cabeça – Ela disse que sempre tentou te ajudar, mas você nunca confiou nela direito. Disse que você afastava todo mundo de você, que se isolava.

– Isso... – Alice negou com a cabeça – Isso foi a maior mentira que eu já ouvi. Ela realmente caprichou dessa vez.

– Alice, já parou para pensar que talvez você exagere as coisas? – Perguntou devagar – As pessoas daqui não são tão ruins como você diz que elas são. Elas não te odeiam, são a sua família.

Não são a minha família! – Exclamou de repente – E, Deuses, você está falando que nem ela! Ela está fazendo a sua cabeça e...!

– Chega de teorias da conspiração! – Exclamou Apolo de volta – Ela só quer te ajudar, o que há de errado nisso? Você devia fazer mais amigos, você devia se dar melhor com as pessoas. Era só isso que ela queria. Mas não. Você trata todo mundo como seu tio trata os terroristas invisíveis.

Alice estava chocada e com muita raiva.

– Apolo... Apolo eu estou te dizendo, ela está mentindo. Por que não acredita em mim? – Perguntou.

– Eu acredito que talvez você devesse olhar melhor para ela. Dar uma chance. – Falou sinceramente – Nós não estamos certos o tempo todo.

– Eu conheço ela há 20 anos. E você? Conheceu ela há 20 minutos?! Eu sei como ela age. Ela usa as pessoas, mente e manipula os outros. Está te fazendo de idiota. – Falou rangendo os dentes – Você tem que me ouvir.

– Eu ouvi. – Assentiu devagar – Porque eu sempre ouço. Todo mundo sempre te ouve, mas será que você ouve os outros?

– Ah. Ótimo. – Assentiu irritada – Heather já tomou o seu cérebro inteiro. – Apolo tentou falar, mas Alice o impediu – Eu não quero ouvir mais essa baboseira da Heather tentar me ajudar, tá bom?! Já chega! Eu não sou idiota para cair nisso! É só uma pena você ser.

– Eu estou bem, caso queira saber. – Falou irritado – Ela é interessante. É inteligente, divertida e é uma ótima artista. Vaidosa, bonita, e...

Alice pegou um dos livros que tinha empilhado (A Odisseia de Homero, para ser mais preciso) e bateu contra os dedos do Deus do Sol. Apolo recuou a mão com dor e irritação.

– Se ela é tão boa assim, você deveria chamá-la para ser sua musa! – Exclamou com raiva colocando-se de pé.

– Deveria mesmo! Seria bom ter alguém que consiga desenhar uma casa sem que pareça um elefante! – Exclamou com raiva.

Ótimo! – Exclamou e eu percebi que se demorasse mais alguns minutos ela ia chorar de raiva – Então que ela seja a sua musa, porque eu não quero mais!

E saiu correndo para fora do escritório.

Apolo cerrava os punhos com raiva, e eu o observava pensando no que seria melhor falar. Ele olhou para mim e bufou.

– Eu estava tentando ajudar. – Murmurou irritado. Suspirei pesadamente.

– Senta aí e me ajuda, enquanto eu penso que conclusão tirar disso tudo. – E apontei o queixo para o lugar vazio ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

Oook, não odeiem tanto o Apolo. Por enquanto, pode parecer que ele está sendo um idiota (e em parte está mesmo), mas depois as coisas vão ficar mais claras e vocês vão entender melhor.
Só isso que posso dizer por enquanto. E, é claro, MUUUUITO obrigada pelas mensagens de Feliz aniversário! Seus lindos!
(Por problemas técnicos com a internet, a autora está respondendo os reviews só agora. O mundo é dos NETs)
Beijos e até o próximo capítulo!



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