Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 33
Perdendo a cabeça


Notas iniciais do capítulo

Primeiro eu gostaria de agradecer as 445 pessoas que leram os capítulos de "Meu Bônus Infernal". Muito. Obrigada. Mesmo.
Lindos.
Segunda coisa: atrasei um dia (já que pretendia postar toda semana), mas acho que ainda tá valendo, né? Caprichei no final para compensar esse pequeno atraso.
Vou terminar de responder os reviews do último capítulo e depois vou responder os desse.
Boa leitura!



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– Sua mãe é uma vadia.

– Sua mãe ensinou para a minha como vadiar.

– Sua mãe é tão barata, que faz os produtos da China parecerem caros.

– Sua mãe é tão feia que seu pai tem que dormir com ela de luz apagada para não ter um enfarto e morrer.

– Sua mãe é tão burra que pede cheeseburguer sem queijo.

– Sério? Esse foi o seu melhor? – Perguntei cruzando os braços – Sua mãe é tão vadia que os homens atravessam a rua quando ela passa, com medo de pegarem uma doença venérea.

– Essa foi ridícula, Ally. – Disse Joe fazendo uma careta de nojo. Ambos estávamos sentados no meio da floresta, esperando para ver quem desistiria primeira. E enquanto o tempo não passava, começamos o jogo de implicâncias “sua mãe é...” – Sua mãe é tão gorda que quando vai ao restaurante escolhe o menu todo e diz “isso está bom como entrada”.

– Sua mãe é tão burra que perguntou qual era o número do 911. – Rebati.

– Sua mãe é tão feia que o Governo mudou a data do dias das bruxas para o aniversário dela. – Zombou Joe.

– Sério, Joey? A sua mãe é tão feio que seu pai leva ela para o trabalho com ele só para não ter que dar um beijo de despedida. – Ele trincou os dentes de raiva.

– Sua mãe é que nem um ônibus, os caras sobem e descem nela todo dia. – Sorriu maldoso e eu me irritei.

– Sua mãe é que nem um bolo de aniversário: todo mundo tira um pedaço.

– Sua mãe...! – Ele parou. Algo estalou entre as árvores. Meus olhos correram rapidamente para a lanterna apagada entre mim e Joe. Não gostava de ficar ali no escuro, mas desistir e voltar iluminando o caminho era algo que eu simplesmente não iria fazer.

Depois de alguns minutos de silêncio, Joe respirou fundo.

– Jesus, o que ia dizer? – Murmurou consigo mesmo.

– Que a sua mãe é tão velha que tem o número do pager de Jesus?

– Não. Ia dizer que a sua mãe é tão burra que acha que menoPAUSA é um botão. – Respondeu.

– Por falar em menopausa, sua mãe é tão velha que deve 3 pratas a Jesus.

– Pare de envolver Jesus no jogo, sua retardada! – Reclamou irritado. Eu comecei a rir.

– Por quê? Por que a sua mãe é tão velha que estudou com ele na escola?

– Não. Porque a sua mãe é tão pobre que vocês comem cereal com garfo para economizar leite. – Respondeu com raiva.

– E a sua mãe é...!

Argh... – Ouvimos um gemido. Nós dois olhamos em volta imediatamente. Senti meu sangue gelar, e meu coração parar de bater por alguns instantes até que começasse a acelerar absurdamente.

– Você ouviu isso? – Perguntei olhando em volta. Infelizmente estava escuro demais para enxergar qualquer coisa. Tudo que eu conseguia ver eram contornos de árvores e mais nada.

– Não... Não deve ter sido nada. – Joe queria parecer controlado, mas sua voz falhada revelava seu medo. Permanecemos completamente parados e mudos por longos minutos, na tentativa de ouvir qualquer coisa que pudesse indicar que não estávamos sozinhos.

As mãos de Joe apertavam a grama, enquanto as minhas repousavam sobre meus joelhos. Meu primo suspirou lentamente, e balançou a cabeça.

– Viu? Nada. – Falou encolhendo os ombros, tentando mostrar casualidade – Você tem medo demais, Ally. Mas como eu ia dizendo: a sua mãe é tão...

Gahrrr, Err...! – Era o som mais estranho que eu já tinha ouvido. Eu e Joe demos um pequeno pulo de medo e olhamos em volta. Sentia meus braços duros, minhas pernas tremiam. Joe parecia estar repentinamente com falta de ar, pois respirava em um ritmo acelerado.

– Quem está aí? – Perguntou, mas sua voz não foi mais alta que um sussurro. Suas mãos tocaram a lanterna no chão, mas eu o impedi.

– Não! – Disse baixinho – Se acender a luz vai chamar atenção.

Ele engoliu em seco.

– Se não acender a luz, não vamos saber quem está aqui. – Rebateu.

– Quer mesmo saber? – Falei franzindo o cenho. O som se repetiu, agora mais perto. Olhei em volta tentando novamente enxergar, mas era quase impossível. Então parei. Tentei ouvir melhor, apesar da respiração de Joe estar me atrapalhando.

Estava se aproximando.

Por alguns instantes temi que estivesse atrás de mim, mas consegui identificar que o som vinha de trás do Joe. Puxei a lanterna das mãos dele e levei meu dedo indicador aos lábios. “Sh” foi tudo que fiz para meu primo irritante, e ele dessa vez não me contrariou. Tentou prender a respiração por alguns instantes.

Passos.

Não passos comuns, mas passos arrastados. Como se a coisa não conseguisse aguentar o peso de seu próprio corpo e tivesse que arrastá-lo pelo chão. Quando julguei que estava perto o suficiente, acendi a lanterna jogando o feixe de luz por cima do ombro de Joe. Ele se virou e nós dois arregalamos os olhos. Gritamos quase que juntos e nos arrastamos para trás.

– Quem é você?! – Perguntou com a voz esganiçada para o homem que estava em pé a poucos metros de nós. Não dava para ver seus olhos direito – muito menos grande parte do seu rosto – pois seu cabelo seboso os tampava. Suas mãos pálidas e enrugadas seguravam o pescoço.

– Acho que ele não ouviu... – Murmurei quase que em um miado. O homem tirou as mãos do pescoço e o que vi me deu vontade de vomitar. Sua jugular estava cortada e sua cabeça bambear, como se quisesse se acomodar novamente no pescoço.

Só que de repente ela simplesmente caiu. Eu me coloquei de pé em um pulo, mas Joe estava congelado de medo. Segurei a gola da sua camisa e o puxei com violência.

Corre! – Berrei perto de seu ouvido e comecei a me mover em direção a casa novamente. A lanterna não era grande o suficiente para que eu visse o caminho, por isso acabei tropeçando, me arranhando e esbarrando em algumas árvores.

Joe me seguia ainda mais desajeitado e tentava não olhar para trás muitas vezes. Quando passamos pela última árvore e vimos a casa se aproximar cada vez mais, fomos atingidos por um alívio enorme.

Entrei primeiro e fiquei na soleira esperando Joe. Ele subiu os degraus da sacada tropeçando nos próprios pés, mas por fim conseguiu. Fechei a porta com todos os trincos e deixei meu corpo cair no chão.

Por longos minutos tudo que dava para ouvir era nossa respiração pesada. Nossos corações batendo fortemente no meio do silêncio da noite, e o suor escorrendo pelas nossas testas como se tivéssemos participado de um triatlo.

– Cacete... – Foi a primeira coisa que Joe falou. Passei a mão pelo rosto tentando me acalmar – O que foi aquilo? Mataram ele?

– Quer voltar e dar uma olhada? – Rebati balançando a cabeça.

– Não. Quero vomitar. – Disse cobrindo a própria barriga. Fiz uma careta compartilhando do mesmo sentimento de enjoo. Joe colocou-se de pé ainda bambo e olhou para mim – Mas...

– O que? – Perguntei tentando levantar também.

– Você saiu correndo. Você ia me deixar para trás. – Acusou estreitando os olhos. Neguei com a cabeça.

– Ficou louco? Eu te puxei comigo! – Rebati irritada – Você é que não estava conseguindo se mover.

– Eu fiquei. – Respondeu ele – Eu fui o último de nós dois a correr. Eu sou o mais corajoso.

– Você só ficou por último porque estava molhando as calças. Não tem nada a ver com coragem. – Retruquei.

– Mas essa é a regra. O último é o mais corajoso. – Insistiu. Aquilo me irritou.

– Depois daquilo você quer mesmo voltar para esse jogo imbecil?! – Exclamei – Eu só saí primeiro para salvar a sua vida, seu idiota! Se não tivesse corrido e te puxado, você ainda estaria sentado no escuro chorando!

Não adianta dar desculpas, Sedex! – Exclamou de volta – Eu ganhei.

Rangi o dentes. Queria partir para cima de Joe e distribuir socos em todo o seu rosto, mas me detive. Aquilo não mudaria nada, e ele ainda passaria anos falando o quanto eu era má perdedora. Neguei com a cabeça fitando seus olhos.

– Se tem uma coisa que eu me arrependo é de ter tirado você de lá e não ter te deixado morrer. – Falei andando para perto dele – Porque, infelizmente, no momento em que aquela loucura aconteceu, achei que seria válido salvar a sua vida. Pena que eu esqueci que covardes como você são desperdícios de oxigênio. Você não vale a pena, Joe.

Ele não se moveu. Só ficou parado me encarando, não só com raiva, mas com algo mais que eu não conseguia identificar. Mas estava cansada demais para perder mais tempo da minha madrugada com Joe, por isso simplesmente lhe dei as costas.

Eu fui em direção a escada, e ouvi sua voz ecoar na sala.

– Sabe o que te espera amanhã! – Falou atrás de mim.

Atravessar o corredor escuro foi mais difícil do que eu imaginei que seria. Cada tábua que rangia debaixo dos meus pés era uma facada no meu coração. Achava que a qualquer momento aquilo aconteceria de novo. Um estranho apareceria com a garganta cortada tentando avançar em minha direção.

Quando finalmente cheguei ao meu quarto, fechei a porta no chão e suspirei pesadamente. Achei que minha noite de sustos já tinha acabado quando as luzes se acenderam de repente. Fiquei cega pela mudança de claridade. Soltei um grito e me joguei para trás. Hermes levou um susto com o meu grito e gritou também.

– Você ficou louca?! – Falou colocando a mão sobre o peito – Onde você estava?!

– Eu... – Respirei fundo – Para que acender a luz tão de repente?!

Onde você estava no meio da madrugada?! – Perguntou novamente e um tanto irritado. Abri a boca, mas não consegui fazer com que minha voz saísse – Alice, se você estava no quarto daquele...!

– Não! Eu... Eu estava... – Não sabia se contava ou não a verdade para ele. Hermes colocou-se de pé e andou até mim.

– Eu esperava muita coisa de você, mas sair no meio da madrugada para isso?! Nunca fiquei tão decepcionado antes, e eu juro que... – Ele se interrompeu ao olhar meu rosto. Hermes se ajoelhou na minha frente e passou o dedão pela minha bochecha – Alice, onde você esteve? Você está toda arranhada.

Engoli em seco. Não estava com medo dele, mas fiquei com medo da lembrança do que tinha acontecido. Olhei para Hermes um tanto amedrontada, e ele ficou preocupado.

– Alice, quem fez isso com você? – Perguntou franzindo o cenho – Sãos hematomas na sua perna? – Ele passou a mão e prendi um gemido de dor. Nem mesmo sabia que eles estavam ali. A preocupação do meu pai aumentou, e sua voz se tornou séria – Alice, quem fez isso com você?

– Ninguém. – Respondi em um miado. Hermes negou com a cabeça.

– Você não tem que proteger ele. – Negou.

– Não... Não foi o Ares. Não foi ninguém. – Respondi novamente – Eu... Eu caí.

– Você caiu? Como assim você caiu, Alice? – Repetiu sem acreditar em mim. Hermes se movimento em direção a porta, provavelmente pronto para brigar com Ares, mas eu segurei o seu braço.

– É que tem esse jogo! – Contei e ele parou para me ouvir – Que eu e Joe sempre fazemos. Quem consegue ficar mais tempo no escuro.

– Ele fez isso com você? – Quis saber – Ele te machucou? Que espécie de jogo imbecil é esse?!

– Não. Ele não fez nada. Nós estávamos na floresta e... – Ele passou a mão pelo rosto mostrando preocupação – E nós ouvimos alguma coisa e eu saí correndo com ele. Só que estava escuro e... Eu tropecei e os galhos me arranharam. Eu nem sabia que estava tão feio assim.

– Para que isso? – Quis saber sem entender. Abri a boca para responder, mas me detive. Encolhi os ombros.

– Bem... Anos atrás era para eu poder brincar com ele. Mas agora... – Balancei a cabeça – Acho que é uma questão de orgulho nossa.

Hermes suspirou, mas de certa forma aliviado.

– Por alguns minutos, achei que Ares tinha batido em você. Ou esse garoto aí. Ainda bem que esses machucados são só frutos de uma brincadeira idiota para aumentar o seu orgulho já inflado. – Comentou.

– Meu orgulho não é inflado. – Reclamei.

– É sim. Você é orgulhosa que nem a sua mãe. Ou mais. – Respondeu assentindo.

– Não sou orgulhosa...! – Hermes riu e negou com a cabeça.

– Claro que não. Não é mesmo. – Fingiu concordar e depois riu. Ele bagunçou meu cabelo que já estava um caos – Quer cuidar desses machucados ainda agora?

– Acho que não. – Respondi bocejando. Ele assentiu.

– Então vai dormir, filha. Sua cama de pirata te espera. – Falou beijando a minha testa. Eu fui até lá e me deitei. Estava começando a ajeitar o cobertor, quando Hermes fez isso para mim. O Deus dos mensageiros me cobriu e parou do meu lado – Eu... Sinto muito por duvidar de você. Eu só... Não confio neles.

– Nem em mim, pelo visto. – Murmurei de volta.

– Não é isso. – Negou com a cabeça – Só não quero que eles te machuquem. Ou que no final você acabe magoada.

–... Tudo bem. – Murmurei assentindo – Acho que eu meio que entendo.

– Você acha que você meio que entende. – Repetiu Hermes prendendo o riso – Eu é que não entendo essas expressões de jovens. Mas tudo bem. Boa noite, Alice.

– Boa noite, pai. – Respondi quase já dormindo.

E ele apagou a luz.

– Eu só quero brincar com vocês. Não precisa ser mau só por causa disso. – Disse olhando para os olhos de Joe. Ele negou com a cabeça e me empurrou para trás.

– Eu quero ser mau. – Respondeu.

– Por quê? – Perguntei em um tom magoado.

– Porque eu não gosto de você. Ninguém aqui gosta de você, Ally. – Respondeu ele avançando ainda mais em minha direção e me dando outro empurrão – A gente quer que você suma!

– Sumir? – Repeti franzindo o cenho – Eu não vou sumir. E... E porque vocês não gostam de mim? O que eu fiz?

– Você nasceu errado. – Respondeu Joe e a Heather riu com suas amigas – Sabe o que a minha mãe disse? Que você não é da nossa família de verdade! Admita, você veio trocada!

– Sua mãe é uma mentirosa! – Exclamei irritada, mas com vontade de chorar – Isso é mentira!

– Minha mãe não mentiu! Minha mãe diz que os bebês são presentes que os pais ganham. – Continuou ele – Sabe o que eu acho? Que seus pais de verdade odiavam tanto você que te mandaram pelo correio para os seus pais de agora. Você veio do correio, porque ninguém gosta de você!

– Não é verdade! Meus pais gostam de mim! – Exclamei com lágrimas nos olhos.

– Eles ainda devem ter a caixa do SEDEX. – Comentou Heather rindo.

– Sim! Esse devia ser seu nome! – Disse Joe rindo para mim – Você não é Alice. Você é Sedex! Sedex Kelly!

– Não sou! – Exclamei – Você só está dizendo isso porque é um idiota! Ninguém gosta é de você, Joe!

– Cala a boca, sua idiota! Já falamos para você sumir! Não queremos ficar perto de você! – Exclamou Joe me empurrando – Você é feia, veio pelo correio e ainda é uma garotinha medrosa!

– Eu sou mais corajosa que você! – Falei empurrando ele de volta (finalmente) – E eu não. Vim. Do. Correio!

Empurrei Joe de novo, e ele tropeçou caindo sentado. Trincou os dentes.

– Ah é?! Prove! Eu duvido que você seja corajosa, Sedex! – Rebateu para mim – Eu duvido que você aguente... Que você... – Ele parou para pensar – Eu duvido que você aguente ficar no escuro mais tempo que eu!

– Eu aguento sim! – Rebati cerrando os punhos.

– Ela deve aguentar mesmo. – Comentou Heather – As caixas do SEDEX não são escuras por dentro?

E todos eles começaram a rir de novo. Eu parti para cima de Joe e mordi seu braço com tanta força que a marca dos meus dentes ficou por dias no braço dele. Logo depois, levei uma bronca enorme por causa disso. Ouvi que era feio morder os outros, e que eu devia desculpas a eles.

Mas isso não foi o mais importante. O mais importante veio de noite, no primeiro dia do Teste de Coragem quando eu e Joe fomos para perto das árvores e ficamos sentados no escuro. Duas crianças de 6 anos.

E foi quando Joe levantou correndo e chorando de medo que eu acordei.


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Notas finais do capítulo

Quem acha que o Joe merece umas porradas? Pois é.
Bem, obrigada por lerem, por comentarem, favoritarem, acompanharem, recomendarem, basicamente por tudo! Mesmo mesmo mesmo.
Eu espero ansiosamente o review de vocês, e quinta que vem tem mais um capítulo novo!
Beijos e até os comentários.