Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 30
Eructação romântica


Notas iniciais do capítulo

E para me atrapalhar na hora de postar, a internet fica fora do ar por alguns dias aqui em casa. O mundo é dos NETs, pessoal. Acreditem.

Mas aqui está o novo capítulo, e não vou enrolar vocês com uma nota inicial inútil, porque devem estar morrendo de vontade de ler. Go go go.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214827/chapter/30

Will estava conversando com Adam. Os dois estavam na varanda e apontavam para os carros estacionados logo a frente. Eu parei alguns segundos perto da porta de entrada, e fiquei só ouvindo a voz do meu padrasto.

Lembrei de quando era menor e esperava ele terminar uma conversa para poder pedir permissão para alguma coisa. Geralmente era para poder brincar no quintal, mas o tempo tinha passado. Agora eu pedia permissão para outras coisas.

– Pai? – Chamei. Will e Adam viraram a cabeça para trás.

– O que, Alice? – Quis saber Will. Desviei o olhar um tanto sem graça e encolhi os ombros.

– Ah, você sabe... Sabe onde estão as chaves do carro? – Falei em um assovio.

– Sua tia Kat já vai servir o jantar. Para onde ia com o carro? – Perguntou virando-se por completo para me ver. Meu rosto corou, e eu comecei a brincar com a manga do meu casaco.

– É que... O Ares... – Impedi-me ao ver o que estava falando. Por sorte, minha voz tinha saído tão baixa e tímida que Will não ouvira. Limpei a garganta – É que o Harry e eu queríamos dar uma volta na cidade.

Will balançou a cabeça avaliando a situação, e Adam riu. Ele virou-se novamente para olhar os carros.

– Ainda bem que os meus filhos ainda são crianças, e eu não tenho que lidar com isso. – Comentou rindo um pouco. Will sorriu olhando para mim.

– Eu esperava que você me pedisse permissão para brincar no quintal. – Disse coçando a cabeça.

– Eu até podia perguntar, mas está de noite e eu sei que você não ia deixar. – Brinquei revirando os olhos, como se aquilo me incomodasse. Ele riu e balançou a cabeça novamente.

– Já está tarde, você sabe disso, não é? – Falou olhando para fora – Alice, eu não sei...

– Ah, vamos! – Pedi interrompendo-o – Eu tenho um namorado. Deixa a gente sair antes que ele se toque do quanto eu sou chata.

William riu e cruzou os braços.

– E ele ainda não sabe? Eu achei que isso fosse evidente demais. – Brincou.

– Eu também te amo. – Retribuí – Agora... Eu posso ou não?

– E o que eu falo para a sua tia? – Perguntou indeciso – Alice, eu não sei...

– Por favor. – Pedi novamente. Will olhou para mim e franziu o cenho tentando pensar. Por fim soltou um suspiro e estendeu a mão mostrando as chaves do carro.

– Não volte tarde, ouviu? – Avisou. Eu peguei as chaves da sua mão no exato momento em que Ares apareceu na porta da frente. Will olhou no relógio de pulso – São oito da noite. Volte antes das 11.

– Tudo bem. – Assenti e ele beijou a minha testa. Depois olhou para Ares – Vou ficar no seu pé. Tome cuidado com ela.

– Isso foi constrangedor. – Falei ao notar Ares em pé perto de nós. Ele riu, se despediu do meu pai e me puxou pela mão até o carro.

– Por que constrangedor? – Perguntou ele – Só porque você é a princesinha adorável do papai?

– Não enche. – Disse sentindo meu rosto corar. Ares pegou as chaves da minha mão e parou contra a porta do carro, impedindo-me de entrar. Achei que ele fosse fazer alguma coisa para me envergonhar ou implicar comigo, só que ao invés disso ele aproximou seu rosto do meu e sorriu.

– Eu adoro quando seu rosto fica vermelhinho. – Falou beijando-me rapidamente. Senti o chão sumir debaixo dos meus pés e a Terra girar rápido demais. Ele se afastou de mim e abriu a porta do carro para eu entrar – Eu dirijo.

Demorei a entender que era para eu me sentar. Assenti um tanto desengonçada e fui até o banco. Ares fechou a porta e foi para o lado do motorista.

– Isso não é justo. – Lembrei-me de me queixar – Eu que peguei as chaves com o meu pai. Eu devia dirigir.

– Eu vou ter que te beijar de novo para você parar de reclamar? – Perguntou prendendo o riso. Eu revirei os olhos e cruzei os braços.

– Só dirige logo. – Murmurei olhando fixamente para a janela do carro.

A cidade não ficava a mais de 15 minutos de casa, por isso não tardou para Ares estacionar o carro do Will na frente de um dos restaurantes que lhe chamou atenção. Aquela parte da cidade se dividia como uma vila antiga de faroeste. Onde antes provavelmente deviam ter cavalos parados bebendo água, ficavam agora os veículos.

Os restaurantes e bares (4 ao todo, já que estamos falando de uma cidade no interior de lugar nenhum) mantinham as fachadas conservadas, e só acrescentavam luzes amarelas para chamar atenção de quem passava.

– Ah, aqui. – Suspirei ao ver o restaurante na nossa frente. Ares olhou para mim enquanto fechava a porta do carro.

– Não gosta daqui? – Quis saber.

– Não, não tenho nada contra esse lugar. – Encolhi os ombros dando alguns passos na direção da porta – Até que é bom.

– Claro que é bom. – Assentiu ele chegando perto de mim – Nenhum lugar que tenha a palavra “picanha” e “casa” juntos pode ser ruim, benzinho.

Revirei os olhos, mas devo admitir que prendi o riso. A fome que Ares tinha por carne era algo que eu nunca tinha visto na vida. Assenti olhando para ele de novo.

– Ok. Damas primeiro. – Falei apontando para o lugar. Sua fome devia ser tanta que ele nem mesmo se deu ao trabalho de entender o que eu disse, e acabou passando realmente na minha frente. Comecei a rir, e ele parou de andar. Franziu o cenho por alguns instantes até que por fim entendeu qual era a graça.

– Seu senso de humor me mata. – Disse prendendo-me de repente em uma chave de braço. Bagunçou meu cabelo com o punho e eu me debati tentando livrar-me dele.

– Corta essa! Ares! – Reclamei e ele me soltou rindo.

– Vamos. Primeiros os machos. – E empurrou-me para frente. Eu poderia até me irritar, mas o momento estava divertido.

Por isso, olhei para Ares forçando uma cara emburrada, dei alguns passos com as pernas abertas, e me virei coçando o meio das pernas como um homem.

– Vamos entrar logo, bro? – Ares riu afundando o rosto nas mãos.

– Nossa, realmente. Você transborda masculinidade. – Ele olhou para mim ainda rindo – Agora arrota para completar a cena.

Eu realmente tentei, mas acabou parecendo mais uma tosse do que um arroto. Ares riu ainda mais e negou com a cabeça.

– Gay. Boiola. Bichona. – E depois soltou um arroto. Meu rosto ficou vermelho, porque aquilo tinha sido mais alto do que eu esperava.

– Isso foi nojento e desnecessário. – Falei desviando o rosto.

– Eu tinha que proteger o meu título de homem da relação. – Respondeu rindo. Ele colocou o braço sobre o meu ombro e começou a se aproximar da porta – Está tudo muito divertido, mas a palavra “Picanha” está iluminando o meu rosto em luzes amarelas. Então é melhor a gente entrar e continuar lá dentro.

– Não arrote lá dentro. – Pedi depois de alguns instantes.

– Nem o alfabeto? – Perguntou com um sorriso maldoso no rosto.

– Principalmente o alfabeto. – Respondi com o rosto vermelho – Na verdade, não arrote em lugar nenhum.

– Em algumas culturas arrotar é sinal de gratidão pela comida. – Murmurou enquanto nos sentávamos a uma das mesas redondas. Escolhemos a mais afastada para que ninguém pudesse ouvir a nossa conversa.

– Com certeza não na nossa cultura. – Disse fazendo uma careta – Eructação é bem nojento.

– O que? – Falou franzindo o cenho.

– Eructação. – Repeti ao notar que usara a palavra – Vulgarmente reconhecido como arroto.

Ares assentiu como se achasse aquilo muito interessante, mas depois fingiu uma tosse e no meio dela disse “Gay”. Ele riu da própria piada e pegou o cardápio. Ignorei-o por alguns instantes e olhei para o lugar com mais atenção.

Acabei sorrindo distraidamente e só fui acordar quando Ares mexeu a mão na frente dos meus olhos. Pisquei-os e notei que o Deus da guerra agora estava do meu lado. Como a mesa era redonda, e os bancos eram como os das lanchonetes dos anos 50 isso era possível.

– Perguntei o que vai comer. – Disse.

– Sopa de galinha com tomate. – Respondi prontamente.

– Nem vai olhar isso aqui? – Perguntou mostrando o cardápio.

– Eu venho aqui toda vez que apareço nessa cidade. Já decorei o cardápio. – Respondi negando com a cabeça. Ares assentiu e chamou o garçom (um garoto magrelo e alto, com o cabelo raspado e o rosto marcado por algumas espinhas).

– Tá certo, homem. Vou trazer pra cês comerem logo. – Ele rabiscou em um bloco de papel. Ele ergueu os olhos e me viu, mesmo que eu estivesse tentando manter meu olhar longe do dele – Ora, Ally! É você aqui!

– Oi, Lance. – Sorri sem jeito.

– Que que cê tá fazendo aqui, garota? Cadê seu pai? – Perguntou animando e colocando o pé em cima do banco.

– É, eu estou aqui, Lance. O meu pai ficou em casa. – Respondi tentando ser breve para que ele fosse embora.

– Mas ele não tava a fim de comer a nossa picanha? – Encolhi os ombros.

– Acontece que a tia Kat já fez comida. – Respondi.

– Ora, mas que que tá acontecendo com cê? – Franziu o cenho – Tá recusando a comida da Kat?

Abri a boca para responder, mas fiquei muda. Olhei para Ares que já me observava prendendo o riso. Neguei com a cabeça.

– É que ele é novo por aqui, e quis conhecer o lugar, Lance. Agora vai lá e capriche na picanha, sim? – Respondi forçando um sorriso.

– Ora, mas era só falar! – Sorriu Lance animado e esticando a mão para Ares. Ele a apertou, e Tom a sacudiu com vontade – Bem vindo a Edgewater, Alabama! A cidade mais bonita de bom desse país. Eu sou Lance Roth Lee, e vou te servir e melhor picanha que cê já teve a sorte de provar!

– Bom saber. – Disse Ares rindo.

– Qual seu nome, homem? – Perguntou abrindo um sorriso e mostrando seus dentes tortos.

– Harry. – Respondeu depois de alguns instantes.

– Cê é amigo da Ally? – Quis saber.

– Eu sou seu amigo, Ally? – Perguntou olhando para mim e prendendo o riso. Meu rosto corou ao ver que Ares queria que eu o apresentasse para Lance. Suspirei pesadamente.

– Harry é meu namorado. – Respondi e Lance deu um tapa no próprio joelho enquanto soltava uma gargalhada – E estamos morrendo de fome, Lance.

– Cê tem idade pra ter namorado, Ally? – Perguntou rindo – Cê tem quantos anos mesmo, menina?

– Quase 20. – Respondi para mostrar o quanto era mais velha do que ele pensava, e Lance assentiu erguendo as sobrancelhas.

– Achava que era menos que isso. Deve ser porque eu te vi assim. – Disse medindo uma altura menor do que a mesa com a mão – Mas deixa com o Lance aqui que vou trazê a carne de pro cês. E a sopa. – Antes de ir e ele olhou para nós dois e prendeu o riso – Nada de mão boba por aqui, seus dois pombinhos. Nem vale dar umas beijocas também.

Meu rosto estava muito vermelho, e Ares notou isso. Ele riu e olhou de perto para mim.

– Cê ouviu o cara, Ally. – Imitou – Nada de mão boba nem de beijocas.

Dei um tapa na sua mão quando ele tentou apertar a minha bochecha.

– Quem fala “mais bonita de bom” não tem moral para me dizer o que fazer. – Reclamei ainda com vergonha. Ares riu e apontou para mim.

– E quem diz “eructação” ao invés de arroto não pode julgar a fala das outras pessoas. – Rebateu.

– Eu posso sim. – Reclamei, mas isso soou uma frase de criança mimada. Ares riu ao ouvir isso, e eu assenti – Ok. Tem razão, não posso. Então ele está certo.

Cheguei para o lado me distanciando dele.

– O que você está fazendo? – Perguntou confuso, mas ainda rindo.

– Essa aqui – Apontei para o vazio que tinha entre nós dois – é a distância segura para que não hajam mãos bobas e muito menos beijocas. Permaneça aí e espere pela sua picanha mais gostosa de boa.

Ares riu jogando a cabeça para trás. Ele esticou as mãos e com facilidade puxou-me contra ele. Sua mão desceu um pouco pela minha cintura, até parar no meu quadril. Sua outra mão puxou meu rosto contra o dele, roubando-me um beijo. Ele levou os lábios para perto do meu ouvido e sussurrou.

– Então seremos foras da lei. Isso não é excitante? – Disse. Meu rosto corou como sempre acontecia quando ele sussurrava no meu ouvido. Ergui uma sobrancelha.

– Vai se controlando. A comida nem chegou ainda. – Falei rindo. Ares soltou-me também rindo e apoiou os cotovelos na mesa.

– Posso arrotar quando terminar de comer?

– Não, não pode.

– Por favor, mamãe.

– Não enche o saco.

– Eles vão achar que eu estou grato pela comida.

– Nada de arrotos, Ares.

– Mas eructação pode?

– O que eu faço com você? - Suspirei pesadamente. Ele sorriu torto.

– Você pode abrir a minha calça e... –

– Não continue. – Interrompi-o.

– Você pode dizer que eu sou bonito. Um elogio sempre caí bem. – Respondeu encolhendo os ombros e quebrando palitinhos de madeira.

– Ares, você tem o arroto mais romântico de todo mundo. – Zombei. Ele arrotou.

– Obrigado. – Sorriu para mim. Passei a mão pelo rosto com certa vergonha, mas não pude deixar de rir.

Assim que a comida chegou, ele praticamente pulou em cima dela. Serviu-se de uma travessa enorme de picanha enquanto eu tomava a minha sopa calmamente. Aquela era definitivamente a sopa de frango com tomate mais gostosa de todo o mundo. Talvez a única coisa que fazia com que a viagem ao Alabama quase valesse a pena. Quase.

– Por que tava sorrindo antes? – Quis saber ele enquanto mastigava mais carne.

– Pinkie. – Esse era nosso código para “assuntos cor de rosa extremamente gays”. Parece ridículo, mas Ares criou isso para saber se alguma coisa era ou não interessante a ele.

O Deus da guerra fez uma leve careta, mas depois ponderou em silêncio se queria ou não ouvir aquilo. Encolheu os ombros.

– Como eu estou comendo essa picanha mais gostosa de boa, acho que não me importo de ouvir. – Respondeu – E também, acho que encontros são para ficar ouvindo coisas pinkies vindo das mulheres.

– Eu adoro essa decoração. – Apontei para os pisca-piscas que iluminavam o teto do lugar – Eu sempre quis fazer isso no meu quarto, porque... Bem, porque em condições normais nós quase não vemos estrelas mesmo, sabe? O céu fica todo encoberto por causa da poluição e tudo mais. Queria simular o céu dentro do meu quarto. Achava que era uma ideia inteligente.

– É, isso não foi lá tão pinkie assim. – Respondeu encolhendo os ombros – O céu era mais bonito antes.

– Imagino. – Falei olhando para ele.

– Mas eu não prestava tanta atenção assim. – Revirou os olhos e cortou mais um pedaço de carne. Só que antes de colocá-lo na boca, completou – Não que eu não me arrependa disso. Porque eu realmente me arrependo.

Ele continuou comendo, mas eu não desviei o olhar dele. Sorri de leve quando Ares percebeu que eu o observava.

– O que foi? – Perguntou engolindo a picanha.

– Digamos que... Bem. – Encolhi os ombros – Digamos que os pisca-piscas sejam estrelas.

– Sim. – Assentiu.

– E o teto é o céu. – Continuei.

– É.

– Então se nós nos beijássemos estaríamos nos beijando embaixo de um céu estrelado? – Mordi o lábio ao dizer isso. Ares sorriu torto para mim, não com maldade, mas se divertindo com o que eu dissera.

– Creio que sim. – Confirmou e segurou meu queixo dando-me um beijo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, esse capítulo foi bonitinho, e vocês (Team Ares) devem ter adorado. O próximo continua sendo sobre o encontro deles, mas voltando com aquele humor de dar dores de tanto rir.
Espero que tenham gostado. Obrigada pela paciência de vocês, desculpem a demora, e espero por reviews para saber o que acharam.
Beijos para todos e até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu Bônus Infernal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.