Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 11
37 alemães e muita neve


Notas iniciais do capítulo

Sim, o título é sem sentido, mas vão entender quando lerem.
Sinto muito mesmo pela demora, e vou tentar postar mais rápido. Em compensação... Trago esse capítulo que vai fazer todo mundo chorar de rir.
Aqui vai. Preparem-se e boa leitura...



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Eu passei a noite inteira sentindo o vento frio do Alabama entrando furtivamente me meu quarto pelas frestas da janela. Depois de várias horas acordada pensando em como o dia seguinte seria terrível, acabei caindo no sono.

Minha cama não era tão confortável, mas o cobertor que Apolo deixara ali era perfeito. Parecia feito com um pedaço do Sol, e me manteve aquecida toda a noite.

Mas logo chegaria a manhã, e não teria como continuar ali para sempre.

- Alice. – Chamou uma voz calma em meu ouvido. Eu franzi o cenho, e tentei colocar meu cérebro para funcionar. Eu estava deitada de lado, e por sorte, meu rosto estava para longe da pessoa.

- Finja de morta, Alice. Finja de morta. – Pensei debilmente. Não respondi. Talvez desistissem. Talvez achassem que eu estava morta e me deixariam em paz pelo resto da vida naquela cama cheirando a mofo, e com aquele cobertor de Sol.

Claro que não.

- Alice. Hora de acordar. – Disse a voz novamente. Era falhada, pois a pessoa devia ter acabado de acordar. Eu gemi decepcionada e neguei com a cabeça – Vamos acordar sim.

A voz cantarolou em meu ouvido, e eu imaginei saber quem era.

- Pai, não... – Murmurei. Só podia ser. Minha mãe nunca tinha muita paciência para me acordar. Era direta como “Alice, levanta agora” e depois ia embora e batia a porta do quarto para eu levar um susto.

Meu pai manteve-se mudo por alguns segundos, e eu tentei voltar a dormir.

- Vamos, minha princesinha. Acorda. – Pediu ele em meu ouvido novamente. Eu neguei com a cabeça, e lembrei de minha tia.

- Não... Pai, me deixa dormir mais um pouco! – Protestei com uma voz manhosa de sono. Ele me sacudiu - Quando a tia Katharine chegar, ela não vai mais me deixar dormir.

Meu pai começou a rir, mas era um riso diferente do que eu estava habituada. Ele chegou perto de meu ouvido novamente, e murmurou em um tom de humor.

- Ooown, quer dizer que o papai deixa a princesinha dele dormir mais, e a titia Katharine não? – Perguntou quem eu já sabia que era.

Não respondi.

Virei o rosto para o lado só para conferir.

Peguei o travesseiro debaixo de minha cabeça e acertei em Ares, mas isso só provocou mais risos dele. Olhei para ele com os olhos semicerrados de sono, e revirei-os.

- Tinha que ser você. – Resmunguei.

- Ficou triste agora? – Perguntou rindo. Ele riu ainda mais olhando para minha irritação – É sério? “Minha princesinha”?

- Ainda bem que é você. Porque você eu posso mandar ir para o inferno. – Rebati com o rosto ligeiramente vermelho. Joguei-me na cama novamente, e coloquei meu travesseiro no lugar.

Ele esticou a mão e puxou-o, fazendo com que minha cabeça chocasse-se contra a cama. Eu neguei com a cabeça e virei ainda mais para a parede, evitando-o.

- Eu durmo sem travesseiro. – Murmurei sonolenta. Ares puxou o cobertor de Sol, embora eu tivesse lutado para permanecer com ele. Eu bufei e voltei a deitar-me – Eu durmo sem cobertor também.

- Ah, é? – Perguntou rindo. Ares foi até a janela, praticamente grudada á minha cama, e a abriu. O vento frio entrou com uma força violenta, e eu me encolhi tentando permanecer lá – Quando estiver quase morrendo de hipotermia, me avise. Vou estar aqui esperando.

Ares encostou-se contra uma parede e ficou me obsevando. Tentei permanecer lá, mas não aguentei. Estava frio demais. Sentia meus músculos duros, e congelados. Estiquei meu braço e tentei fechar a janela, mas para me ajudar... Ela estava travada.

Coloquei-me sentada e suspirei pesadamente.

- Você é uma grande idiota, Harry. – Disse trincando os dentes. Ele riu e mandou um beijo para mim. Eu revirei os olhos. Ares pegou uma roupa que estava separada em cima da escrivaninha e jogou em cima de mim – O que é isso?

- Suas roupas. A não ser que queira continuar com o seu pijama de zebrinha. – Respondeu ele apontando para mim. Eu franzi o cenho e olhei para o que estava vestindo. Meu pijama era uma camisa regate amarela, e um short de...

- É uma vaca. – Corrigi – Você tem sérios problemas com animais, não é?

- Ah, desculpe. Pijama de vaquinha. Feliz? – Perguntou ele erguendo as mãos. Eu usei as minhas para me abraçar, pois estava congelando.

- Sim, muito, muito, muito feliz. Principalmente por você estar no meu quarto do Alabama que cheira a mofo comentando sobre o meu pijama. Demais, mesmo. – Confirmei me levantando – Agora faz o favor de fechar a janela que você abriu para me deixar ainda mais feliz?

Ares olhou para mim, e cruzou os braços.

- Já passou pela sua cabeça oca que, se estivesse usando roupas de verdade, você não estaria com frio? – Perguntou. Eu abri a boca para responder, e depois ergueu as mãos – Não que eu esteja reclamando de você usar esses shortinhos sexys, porque você está muito bem de vaquinha.

Meu rosto ficou um pouco vermelho, e eu neguei com a cabeça.

- E eu estaria muito bem se um cretino não tivesse puxado o cobertor de mim, e aberto a janela. Não estaria com frio também, mesmo estando com esse pijama. Agora fecha logo a janela para eu poder trocar de roupa. – Reclamei.

Ares chegou mais perto e segurou minha cintura com firmeza. Tentei me soltar, mas ele me manteve em suas mãos.

- Quer que eu te esquente? – Perguntou ele perto do meu ouvido – Por que ainda temos um tempo antes de começar o dia.

Eu estendi minhas mãos e toquei o rosto dele com delicadeza. Vi um sorriso torto aparecer e vi seus olhos fitarem meu rosto.

- Eu quero... – Murmurei e ele sorriu ainda mais com expectativas, mas cortei todas elas – Que você feche a janela.

Ares soltou minha cintura, e fitou meus olhos com certa irritação.

- Sabe... Shorts como esse só ficam bem em garotas que têm algo para mostrar, mas em pirralhas sem graça... Argh. – Depois de fazer uma careta, ele me largou e foi até a janela. Fechou-a com facilidade, e depois pisou forte até a porta do quarto que ficava no chão – Se for para me seduzir, não deixe esses dois gravetos que você chama de pernas á mostra, ouviu?

- Não escolho pijamas para seduzir ninguém. Sinto muito desapontar você. – Rebatei cruzando os braços.

- Desapontado? Eu? Que isso. Não se sinta mal. TV por assinatura é para isso. Essas atrizes de hoje em dia... Fiu, fiu. – Assoviou ele para implicar comigo, mostrando o quanto eu era sem graça.

- Ah, você fala da TV por assinatura que não temos aqui nessa casa? – Perguntei para incomodar. Ares parou e olhou para mim, pensando que eu estava blefando, mas eu ri – Bem vindo á Edgewater, Alabama! População 730 pessoas!

Ele não pareceu acreditar. Ares riu junto comigo e assentiu concordando.

- Claro que não tem. Claro. – Riu fingindo acreditar – Você tem cinco minutos exatos para se trocar, antes que eu te carregue para fora daqui.

Ele abriu a porta no chão, desceu a escada, e eu a fechei. Peguei a roupa que ele tinha jogado para mim, e vi que não tivera nem mesmo paciência de escolher direito. Pegou um vestido e um boné.

Joguei os dois de volta no armário e peguei uma calça jeans com uma camisa de manga comprida. Peguei também um moletom e vesti por cima da camisa. Sentiria muito frio, se não me agasalhasse bem. O vento do Alabama chegava a ser cortante.

Ares estava em pé nas últimas escadas. Quando me viu, abriu um sorriso. Notei que tinha trocado de roupa, e notei também que as roupas não lhe pertenciam.

- Camisa quadriculada? Você não disse que odeia isso? – Perguntei confusa.

- É do marido da sua mãe. – Respondeu ele em um resmungo – Mas como eu não trouxe roupa... Não tenho escolha.

- Bem, você pode fazer uma surgir. – Comentei como quem não quer nada, e ele riu em alto som.

- Bela tentativa, lesada. Passa logo na minha frente. – Disse ele parando de rir de repente. Eu encolhi os ombros e desci as escadas. Podia ouvir conversas vindas da cozinha, por isso quis ir para o lado oposto.

Entretanto, o braço de Ares já estava me arrastando até lá antes mesmo que eu me desse conta. Ao passar por uma porta estilo faroeste, revelou-se na nossa frente uma enorme mesa de madeira velha, cheia de comida.

Sorte que não estava cheia de gente também. As únicas pessoas que estavam lá eram minha mãe, Will, e... Os tios dele.

- Olha quem chegou. – Disse Will olhando para nós dois. Ele parou os olhos em mim, e depois em seus tios – Alice, porque não os apresenta?

Assenti sem ter muita escolha e acenei para meus dois “parentes” mais antigos.

- Harry, aquele é o tio do meu pai. O dono da casa. Edgar Hanks. – Apresentei apontando de leve com a cabeça – E a senhora ao seu lado é Katharine, a esposa dele.

Ares sorriu para o casal de velhinhos. Eles tinham 88 anos, mas tirando as rugas e o cabelo branco, não dava para notar. Eles andavam e falavam como qualquer adulto de 40 anos.

Entretanto, se vestiam de um jeito engraçado. Katharine usava aqueles vestidos dos anos 40, que ainda iam até o tornozelo, e não tinha decote nenhum. Estava usando um azul escuro, e seu cabelo branco estava preso em um coque.

Tio Edgar usava suspensórios. Ele sempre vestia uma camisa polo, mas que parecia ter saído de um filme bem antigo. E calças caqui até um pouco acima do umbigo. Tinha um chapéu engraçado também, e não costumava ser lá muito simpático.

- E quem é você? – Perguntou ele.

- Não deixou a garota falar! – Reclamou Katharine.

- Fique quieta, Kat! Como a garota vai falar com você se queixando?! – Reclamou ele. Eu prendi o riso, pois achava aquilo extremamente hilário. Briga de velhinhos.

- Esse é Harry. Meu namorado. – Apresentei.

- Hira?! – Exclamou Edgar franzindo o cenho – Mas que diacho de nome é Hira, Katharine?!

- É Harry, seu velho surdo! – Exclamou tia Katharine, revirando os olhos. Ela deu um meio sorriso para Ares, e depois olhou para mim bem mais severa – E de onde o rapaz é, Ally?

Ares prendeu o riso ao ouvir “Ally”, mas não riu. Aquele apelido era caipira demais para mim, e com o jeito de falar deles piorava cada vez mais.

- Ele é militar, Tia Katharine. Feliz? – Respondi um tanto irritada. Ela abriu um enorme sorriso.

- Edgar, ele é militar! – Exclamou ela sacudindo o braço dele, enquanto o homem tentava tomar sopa – Um militar! Essa garota tomou juízo!

Minha mãe prendeu o riso olhando para mim, e fingiu que estava limpando a boca com um guardanapo. Ares olhou para mim erguendo as sobrancelhas algumas vezes, e eu revirei os olhos. Tio Edgar ficou animado. Ele deu um pulo e colocou-se de pé fazendo uma continência militar.

- Um militar! – Exclamou feliz – Finalmente alguém para me trazer orgulho. Então, garoto? Onde você lutou? Estava frente á frente com os nazistas? Chutou a buzanfa deles de volta para os seus países?

- Edgar, não fale “buzanfa” na mesa! – Exclamou tia Katharine dando-lhe uma cotovelada – E é claro que o garoto não foi para lá!

- Tem algo de errado em perguntar?! – Reclamou ele.

- Ah, sua cabeça vive em 1939 para sempre! – Exclamou ele em reclamação, mas depois sorriu para Ares – O que Ed quer perguntar é onde exatamente você lutou.

Ele teve que respirar fundo e se concentrar. Imagino que estivesse certo, pois Ares lutar por mais de três mil anos em guerras. Mas ele conseguiu pensar.

- Afeganistão. – Respondeu.

- Tsc. Fichinha! – Esnobou ele voltando a tomar sua sopa – Pensei que fosse algo realmente importante. Mas está em um bom caminho, Ally. Embora ele ainda tenha que nadar muito para me alcançar.

Ares assentiu, e sentou-se á mesa.

- E onde você lutou? – Perguntou com um brilho nos olhos. Tio Edgar riu alto, e olhou para Ares com o mesmo brilho nos olhos. Ele apontou a colher de sopa.

- Acha que fui velho a minha vida toda? – Perguntou ele rindo – Eu ainda estou muito bem, obrigado, mas era bem mais ativo quando eu era jovem. Da idade da Ally ali. Desperdício ter 16 anos e não...!

- 20. – Corrigi.

- 20 anos e não fazer nada que preste. – Concluiu ele – Quando eu tinha vinte anos? Há! Eu lutei contra o mundo. O mundo todo, só com as minhas mãos e as armas que me davam! Matei 37 alemãos. 37. Todos em uma cidadezinha russa, tão quebrada que nem água tinha. Você precisava andar quilômetros na neve para...

- Por que gente velha sempre fala que no tempo deles tinham que andar quilômetros na neve? Tudo que vocês queriam estavam á quilômetros, e tinha neve no caminho? – Interrompi revirando os olhos.

- Posso terminar a história, sua nortista democrata? – Perguntou rabugento – Ótimo. Do que eu estava falando mesmo? Kat?

- 37 alemães, Edgar. – Respondeu entediada.

- 37 alemães! – Exclamou ele tomado de felicidade novamente – E logo depois vieram os comunistas! Ah, o que foi a Guerra fria? Como descrever? Eu andava armado esperando o momento em que algum comunista aparecesse. Cubanos, russos, chineses, coreanos, estavam em toda parte, acredite em mim! E...! E tem o...!

Os olhos deles se abaixaram para a sopa, e ouvimos mais alguns resmungos.

- Ora, macacos me mordam... A sopa já ficou fria?! Viu o que eu falo sobre a neve? Neve! Neve em todo lugar! – Disse ele pegando a tigela de sopa e indo para a cozinha acompanhado de tia Kat. Ares olhou para mim e depois para mim mãe, e assentiu devagar. Ele apontou para tio Ed, que já estava longe dali, e disse...

- Esse cara é dos meus. – Comentou.

- Esse cara é maluco. – Corrigi.

- Bem, você ouve certas coisas quando se é democrata. – Implicou Will. Eu revirei os olhos, e minha mãe riu.

- Não, nada de política. Nortista Democrata, silêncio. E você também Sulista Republicano. – Avisou ela prendendo o riso. Meu pai deu um riso e pegou o jornal para ler. Foi nesse momento que Apolo apareceu na porta.

- Ninguém me acordou. – Murmurou ele desapontado, e depois olhou para mim – Nem você, Alice. Fui completamente esquecido.

- Dramático. – Resmungou Ares – Você perdeu uma bela história.

- Qual história? – Perguntou bocejando.

- 37 alemães. – Respondeu Ares como se isso explicasse tudo – Foi ótimo.

- Ah, claro, claro. – Concordou Apolo sem ligar. Ele ia sentar-se á mesa, quando notou que tio Ed e tia Kat pararam na porta da cozinha e o encararam com os olhos arregalados de medo. Apolo franziu o cenho, e deu um sorriso simpático acenando – Bom dia...

Foi interrompido por gritos, e eu tinha me tocado do por que.


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Notas finais do capítulo

E então?
Certo, acabou de um jeito cheio de suspense, né? Esperem para ver que cena vai ser o próximo capítulo! Vão rir ainda mais que nesse.
Espero que tenham gostado. Espero também por reviews, e quem achar que a fic merece... Recomendações.
Obrigada por lerem!



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