Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 10
O lado positivo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!
Boa leitura.



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Estava tão escuro do lado de fora do carro, que eu nem mesmo conseguia enxergar a casa que eu tanto odiava. Parei sentada na no banco, com meus pés já tocando a grama do chão.

Passei a mão pelos olhos e esperei que fosse um pesadelo. Que eu ainda não estivesse lá, mas obviamente eu não tinha tanta sorte.

- Vamos, vamos, vamos. – Apressou Ares. Ele continuava parado ali no escuro, esperando para que eu saísse do carro. Suspirei pesadamente.

- Para que tanta pressa? Já não chegou aqui? Não está feliz? – Perguntei um tanto irritada e ele riu.

- Ei, pega leve. Vai poder ficar bem mais irritado do que isso ao longo da semana, queridinha. Vem logo para cá. – Disse ele com um humor ótimo. Eu me espreguicei novamente, e respirei fundo. Estava prestes a levantar, mas ele não teve tanta paciência – Ótimo. Então eu te ajudo.

Sem que eu pudesse reagir, Ares carregou-me no colo, fechou a porta do carro e marchou até um borrão turvo no escuro que devia ser a casa.

- Ah, não. Para. Me coloca no chão. – Disse tentando me soltar dele.

- Faço isso quando chegar na sala. Nossa, que ansiedade! Essa semana vai ser fantástica! – Ele estava tão animado, que eu não conseguia nem mesmo identificá-lo – Podemos fazer tantas coisas juntos como um bom casal. Posso te jogar em um lago, rir de você no jantar de família, e talvez te acordar extremamente cedo. Espera...

Ele parou de andar de repente e olhou para mim, ainda me debatendo.

- Aqui tem um lago? – Perguntou. Dei um tapa em minha própria testa, e ele riu – Acho que deve ter. Vai ser realmente divertido.

- Para! Estou falando sério! – Pedi tentando me soltar – Se eles me verem chegando assim com você, vai ser um inferno explicar tudo.

- Tudo o que? – Perguntou ele sem saber.

- Tudo sobre nós dois. Posso até ver a cena. “Ah, esse projeto de Frankenstein com motoqueiro que está me carregando no colo é o meu namorado. Querem saber como nós nos conhecemos?” Vai ser péssimo! – Exclamei para ele. Ares só riu.

- Inferno é? Bom saber. – Sorriu malicioso, embora eu não pudesse enxergar seu rosto direito.

- Ares! Eu vou bater em você, se não me colocar no chão. – Ameacei, mas ele só riu – 3, 2... 1!

Comecei a distribuir socos e tapas em seu peito, e ele resolveu responder. Ares jogou-me sobre suas costas como se eu fosse um saco de batatas. Ele me deu um tapa, e tentei dar uma joelhada em seu nariz, mas para me incomodar ainda mais, ele começou a girar.

- Santuário! Santuário! – Exclamou enquanto girava. Eu franzi o cenho, confusa e tonta. Ares parou de girar e começou a rir.

- O que foi isso? – Perguntei sem entender nada.

- Um Frankenstein, lesada. – Respondeu como se fosse extremamente óbvio.

- Quem fala “Santuário” é o Corcunda de Notre Dame, idiota. – Rebati. Ele parou para pensar alguns segundos, e depois assentiu.

- Ah, é verdade. Tsc. Tanto faz. Você entendeu. – Resmungou. Ele continuou andando e eu batendo nele.  Parecia que meus ataques não surgiam efeito nenhum, por isso acabei parando – Poxa, estava fazendo uma massagem tão boa. Por que parou?

- Cala a boca. – Respondi e ele riu. Passei a mão pelo rosto pensando na vergonha que passaria.

- Você é muito exagerada, sabia? Estou sendo um cavalheiro e te tratando como uma princesa, e você está brigando comigo? Acho que sua família vai me achar um ótimo partido. – Comentou ele fingindo-se de inocente.

- Essa gente implica comigo desde que eu nasci. Tudo o que eu faço é completamente errado. O que acha que vão falar de mim se eu entrar desse jeito com você?! – Perguntei tentando me soltar novamente.

- Nada pior do que já falam. – Respondeu sem ligar.

- Por favor! Me põem no chão! – Pedi novamente.

- Olha só! Chegamos! – Exclamou ele tocando a maçaneta.

- Ah, não! Não, não, não, não! – Fiquei completamente muda assim que ele abriu a porta. A luz amarela da sala fez com que meus olhos ficassem sensíveis com a mudança de claridade, por isso tive que fechá-los.

Ares colocou-me no chão.

- Chegamos! Já trousse ela! – Anunciou. Eu me virei devagar e abri os olhos aos poucos tentando enxergar.

E lá estava... Ninguém.

- Não tem... Ninguém? – Perguntei confusa.

- Ah, nossa! Esqueci de comentar. Fomos os primeiros a chegar. – Contou ele. Virei-me morrendo de raiva, e ele riu – É só um detalhe. Achei que não seria tão importante para você.

- Eu te odeio. Eu te odeio tanto... – Murmurei com raiva, mas assim que ouvi passos se aproximando diminui o tom de voz – Você me aguarda.

Ele prendeu o riso, e começou a ser gentil.

- Seu pai já tinha pegado sua mala. Ele levou para o seu quarto, certo? – Avisou sorrindo. Will passou pela sala e sorriu ao ver a cena dos dois namorados gentis e doces – Boa noite, Alice. Nós vamos nos divertir amanhã.

- Boa noite para você também, querido. – Sorri para ele de volta de um jeito forçado. Ele fez um gesto militar para mim, e eu revirei os olhos.

A casa tinha três andares, mas não era tão grande quanto devem pensar. Era uma das construções antigas de madeira do início do século XX. Entretanto, eu não ficava em nenhum desses andares.

Sempre que ia para lá, era a mesma coisa. Não me deixavam ficar nos quartos normais, pois sempre arrumavam uma desculpa diferente. Um precisava ficar no quarto que batia o sol da manhã, o outro precisava de um lugar mais arejado, e por aí iam todas as desculpas...

Até que só me sobrasse uma única escolha.

Parei na frente dela. No último andar, no fim do corredor tinha uma pequena cordinha pendida no teto. Eu estiquei a mão e a puxei. Uma escada de madeira velha e acabada abria espaço para o sótão.

Não odiava o sótão mais do que os outros cômodos. Claro que não. Bem, eu detestava aquele cheiro de coisas velhas e guardadas, mas aquele era o quarto mais distante de qualquer outro da casa. Era ótimo, já que não queria nunca ficar perto de ninguém daquela casa.

Eu subi as escadas e olhei para o quarto. Estava do mesmo jeito de antes, é claro, pois ninguém mexia ali. Uma cama perto da única janela, um armário de madeira com uma porta um pouco quebrada, e uma escrivaninha.

Tudo era velho. Tão velho quanto os pais e os tios do Will.

Meu padrasto já devia ter arrumado as roupas no armário, pois minha mala estava vazia e colocada no canto do quarto. Sentei á cama e olhei para a lâmpada no teto do quarto. Aquela luz amarela era terrível, e me dava dor de cabeça, mas era a única fonte para enxergar o quarto.

Já deu para notar porque eu detestava ir para aquela casa, não é? Se bem que a casa era o menor de meus problemas lá.

- Quando seu pai trousse a mala aqui para cima, achei que ele estava brincando. – Comentou Apolo aparecendo sentado á escrivaninha. Olhei para ele, e dei de ombros.

- Por que achou isso? – Perguntei. Ele piscou os olhos como se fosse óbvio, e realmente era.

- Bem, achei que aqui fosse um daqueles sótãos que as pessoas jogam as coisas que estão ocupando espaço para não terem que arrumar, sabe? – Comentou.

- Acertou em cheio. Por que acha que eles escolheram esse quarto para mim? – Perguntei prendendo o riso – Não foi para eu ter uma vista privilegiada.

- Ah, não é verdade. Por que te excluiriam desse jeito? – Perguntou ele rindo.

- Porque ninguém aqui gosta de mim! Eu já contei isso para vocês. – Respondi. Ele respirou fundo e assentiu. Apolo sorriu para mim, e notei logo o que ele faria.

- Ora, mas esse lugar é demais. – Disse ele, e eu revirei os olhos adivinhando – Estou falando sério! Uau. Você tem um sótão só para você!

- Uau! Que divertido! – Fingi estar tão feliz quanto ele. Apolo queria fazer com que eu me sentisse bem, mas não daria tão certo.

- Estou falando sério. Estou sendo muito sincero com você. Olha só... Esse armário por exemplo! Que armário legal. Ele é enorme, e tem tudo para você! Pode guardar o que quiser e ninguém vai pegar seu espaço. – Disse ele abrindo, mas ao fazer isso uma das portas caiu.

Apolo segurou-a rapidamente, e tentou fazer com que eu não notasse aquilo. Prendi o riso, enquanto ele lutava para esconder o problema da porta velha. Quando conseguiu colocar no lugar, sorriu para mim e foi para a minha direção.

- E essa cama? Nossa! É uma cama perto da janela. Camas perto da janela são tão legais. Você pode acordar, olhar pela janela e dizer “Oh! Mas que dia lindo!”. – Disse ele sentando-se do meu lado, só que Apolo jogou-se, e esse foi o problema.

Uma onda de poeira, ácaros e mofo levantou-se atingindo nossos narizes. Eu comecei a espirrar, enquanto Apolo tossiu um pouco descontrolado. Ele tentou parar e fingir que estava tudo bem.

- Isso...! Cof! Cof! Ahm... Tem... Um cheiro tão... Agradavel! – Sorriu ele o melhor que pôde enquanto tossia os pulmões para fora. Cocei meu nariz, e ele deve ter ficado extremamente vermelho.

- Claro! Cheirinho de mofo é o que há. – Confirmei espirrando um pouco mais. Ele riu e assentiu.

- Exatamente! Viu? As coisas têm sempre um lado feliz. Essa é a minha musa. – Apolo me abraçou com força, e eu lutei contra seus braços.

- Ah! Eu preciso respirar! Apolo...! – Exclamei, e ele riu. Apolo me derrubou na cama e nós dois rimos, só que... Os pés da cama não suportaram o nosso peso. Ela quebrou e bateu no chão, dando-nos um susto.

- O que foi isso? – Perguntou Apolo soltando-me. Saí de cima da cama e olhei para os pés de madeira quebrados. Ares subiu as escadas e parou na entrada do quarto.

- Será que dá para fazer mais barulho? – Reclamou – O que vocês estão fazendo?

- Quebramos a cama. – Murmurei olhando para o estrago, e só então notei o duplo sentido. Apolo começou a rir desesperadamente, e Ares trincou os dentes.

- Como é que é? – Perguntou ele um tanto irritado – Posso perguntar o que você veio fazer aqui?!

Ele olhou diretamente para Apolo, e ele tentou parar de rir em vão.

- Acho que ela já respondeu. – Riu ele ainda mais.

- Vocês dois são uns sujos, sabia? – Reclamei revirando os olhos – Saí daí Apolo. Eu tenho que dormir agora.

- Ficou cansada demais? Ok. Eu entendi. – Eu lhe dei um tapa no braço e o empurrei para a porta. Ele continuou rindo.

- Estou só brincando Alice. Calma. – Riu um pouco mais. Apolo ficou normal por alguns minutos e fez um movimento com a mão. A cama voltou ao normal, e até melhor. Seu cheiro de mofo tinha sumido, e os lençóis tinham mudados. Ele ficou amarelo e cheio de passarinhos felizes e fofinhos.

Revirei os olhos.

- Obrigada. – Disse. Ares ameaçou dar um soco em Apolo quando ele desceu as escadas, mas eu o repreendi com um olhar – Vai dormir logo.

- Humpf. Não posso tirar o olho de você nem por um minuto? – Resmungou irritado. Cruzei os braços.

- Ah, é. Nossa! Como nós nos divertimos. – Comentei em sarcasmo. Ares arregalou os olhos com mais raiva.

- Está falando sério?! – Exclamou.

- Não, idiota! – Respondi. Ele fez uma careta para mim, e ajeitei a cama – Vocês só sabem pensar besteira.

- Vocês quebraram a cama, e acha que eu não vou pensar besteira?! – Reclamou.

- Olhe em volta e me aponte uma única coisa que não quebre fácil. – Desafiei – Essa casa só tem madeira podre. Tudo quebra.

Ele olhou para baixo, e desceu um pouco as escadas.

- Aonde vai? – Perguntei.

- Para o meu quarto dormir. Amanhã vai ser ótimo, e preciso de todas as energias possíveis para aproveitar cada segundo. – Sorriu maldoso. Ares mandou um beijo para implicar comigo, e eu lancei a almofada da cama em sua direção.

Fui até lá, fechei a porta puxando a escada para cima, e fui deitar para dormir. Seria um longo dia, pois toda a família do Will ia chegar.

- Mal posso esperar... – Resmunguei colocando meu pijama.


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Notas finais do capítulo

Então? Ficou bom?
Espero por reviews, e por recomendações se quiserem escrever. Agradeço a todos que leem essa fic. Obrigada mesmo!
Beijos, e espero que tenham gostado.