Acordei  e eu estava enrolada á jaqueta de Cato. Sentei-me e me espreguicei, vi Cato e Marvel conversando com outro tributo. Levantei-me rápido e peguei algumas facas, as lancei com facilidade á uma arvore ao lado dos três, apenas para assustá-los. Marvel e Cato olharam diretamente para mim, assustados. O outro garoto já havia se agachado e estava mais parecendo um pequeno tatu, todo encolhido no chão.

- Por favor, não faça isso de novo! – Grita Marvel para que eu possa ouvi-lo.

- Ei mais cuidado! Podia ter me acertado. – Exclama Cato caminhando em minha direção.

- Eu sei! – Disse o puxando para perto. Ele tentou me beijar e o empurrei para trás. – O que você está fazendo? Quem é aquele ai?

- Calminha ok? Ele quer se juntar á nos. – Contesta Cato com um sorriso nos lábios.

- E o que ele vai fazer aqui? – Questionei sussurrando no ouvido de Cato. – Vamos engordar a porca para depois mata-la?

- Pensei nisso também, mas ele tem algo bem interessante a oferecer. – Cato me conduz até Marvel e o outro tributo, eles estão em uma animada conversa sobre a comida ou algo do tipo.

- Clove não é? – Conclui o tributo encarando os meus olhos profundamente.

- É. Por que você acha que devemos te aceitar ao invés de te matar? – Questiono o garoto que ficou muito sem graça.

- Eu posso ajuda-los com os suprimentos. – Explicou o garoto. – E se eu pudesse construir uma armadilha tão eficaz, que qualquer um que tentasse roubar algum de seus suprimentos morreria com uma explosão? Vocês me deixariam fica?

Agora ele nos pegou de surpresa. Nunca em nenhuma edição dos Jogos foi disponibilizado algum tipo de explosivo!

- Seria uma boa. – Concorda Cato. – Se você tiver trazido para dentro do jogo alguns explosivos! Você só pode estar de brincadeira!

- Vocês acham que eu teria o trabalho de vir até aqui sabendo que vocês são mais fortes do que eu para brincar com vocês? – Cortou o garoto, parece que ele não está aqui para brincadeira mesmo.

- E como você iria arranjar algum explosivo aqui? – Questiono o garoto rindo.

- Quando nos colocaram aqui, bem no inicio dos jogos, se alguém pisasse para fora da plataforma durante os primeiros 60 segundos não era explodido?

Nós três fazemos que sim com a cabeça.

- Eu acredito que posso religar as bombas. – Disse o garoto.

- Isso seria contra alguma regra do jogo? – Questiona Marvel.

- Creio que não. – Respondo. – Afinal é permitido usar tudo aquilo que encontrarmos na arena.

- Clove está certa. – Concorda Cato. – Mas isso iria demorar?

- Depende de uma série de fatores, mas se eu começar agora acho que em um ou no máximo dois dias ficará pronto. – Responde o garoto.

Não me dei o trabalho de saber o nome do garoto, pois ele é só mais um que logo irá morrer.

- E o conquistador? Será que realmente morreu? – Questiona Marvel. – Afinal, não vimos o seu rosto no céu noite passada.

- Se não morreu deve estar morrendo – Exclamo entediada. – Não tem como alguém sobreviver depois de perder tanto sangue!

- Não dou nem três dias para ele. – Afirma Cato entrando na conversa. – O garoto do Distrito 3 já começou a trabalhar na armadilha.

- Vocês estão achando que ele consegue mesmo lidar com aqueles explosivos? Lembro-me de uma das edições em que uma garota saiu alguns segundos antes e se explodiu, e se ele explodir além dele mesmo os nossos suprimentos? – Questiono desconfiada.

- Em parte estamos assumindo esse risco. – Afirma Cato.

- Por quê? – Pergunta Marvel. – Dessa vez eu estou com a Clove... Podemos perder tudo!

- Não iremos perder tudo! – Explica Cato sussurrando. – Eu tenho uma mochila em que guardo desde algumas armas menores até alimentos.

- Mas se esse garoto explodir tudo... Aah! Eu mesma mato ele!  - Contesto levantando uma de minhas facas.

- Certo, certo! – Concorda Marvel. – Precisamos de água, Clove e eu já voltamos.

- Ok. – Disse Cato com suspense.

Enquanto eu e Marvel caminhávamos até o riacho percebi que ele havia mudado muito depois que os jogos começaram. Ele já não era mais aquele garoto alegre que fazia brincadeira de tudo. Aqui na arena ele parece ter finalmente entendido onde havia se metido. Matar ou ser Morto. É incrível o que o governo faz para manter a população na linha! Simplesmente mandar adolescentes se matarem por diversão!

Muitas famílias já estão acostumadas com essa dinâmica, pois já perderam alguém para esse sistema. Ultimamente eu tenho pensado no que teria acontecido se eu e Cato nunca tivéssemos entrado para esse reality show idiota! Poderíamos nos casar e constituir família! Mas é pedir demais sonhar com esse futuro que não irá existir. Afinal apenas um sai vitorioso.

Enquanto Marvel enchia as garrafas de água eu ficava dando cobertura, e sonhando com tudo aquilo que Cato e eu poderíamos ter conquistado se não estivéssemos aqui. E a pior parte são as possibilidades. E se isso acontecer, se aquilo tivesse acontecido. Não posso ficar me torturando imaginando todas as possibilidades que a vida me daria se eu não estivesse aqui.

Se eu pudesse escolher algum momento na minha vida toda para mudar seria provavelmente o dia em que escolheram o meu irmão para participar dos jogos. Pois se ele não tivesse morrido na arena, eu não teria essa louca vontade de vingar a sua morte. Afinal ele não estaria morto. Hoje eu apenas desejo de todo o coração que o meu irmão não queira de modo algum entrar nesse ridículo reality show. Que ele não sinta o mesmo que eu senti quando o meu irmão morreu. Eu juro que se eu voltar para o Distrito 2 irei iniciar uma das maiores rebeliões de todas contra a Capital! Quem são eles para tirar as nossas crianças e mandarem elas se matarem por causa de uma coroa estúpida e por uma casa que trará melhores condições para suas famílias? Pode parecer bobagem vindo de alguém como eu mas eu só quero que a Paném seja destruída! E que esse maldito massacre anual tenha o seu fim imediato.