As batidas na porta estavam se tornando frenéticas, não queria abrir os olhos, sei o que aconteceria. Provavelmente veria o banheiro todo cheio de sangue e teria que me limpar tudo com cuidado, inclusive a mim, para não deixar nenhum registro do que eu fiz.

   Abri os olhos lentamente e me deparei com a cena que eu imaginei, estava deitada no banheiro, com os meus pulsos e algumas partes da minha roupa ensangüentadas. Levantei-me um pouco, ficando sentada no chão, minhas costas estavam doendo um pouco, talvez por ter ficado muito tempo deitada em alguma coisa dura. Aos poucos, com muito esforço, fiquei-me de pé por inteira, alias, todo o meu corpo estava doendo. Tirei a minha roupa com cuidado, principalmente na hora de tirar o meu casaco, pois qualquer misero toque nos meus pulsos, já causava uma dorzinha.

   Enfiei – me debaixo do chuveiro, deixando a água quente percorrer por meu corpo, que havia muito sangue seco Quando acabei de tomar banho, alguns minutos depois, me enrolei na toalha e vesti um pijama. Tentei disfarçar ao máximo todas aquelas marcas e saí do banheiro.

- Até que enfim! Pensei que ia ficar a noite inteira no banheiro, se bem que não seria má idéia te ter por longe. – Alyssa falava.

- Garota, se mata! É um favor que você faria ao mundo. – Disse.

- Desculpa, mas quem deveria morrer é você. – Ela disse e entrou no banheiro. A vontade que eu tinha era de socar a cara dela, sorte que ela se trancou. Com tanta raiva que eu estava acabei quebrando um vaso, o jogando na parede, o que não foi boa idéia, porque tive que catar os cacos depois.

   Ao olhar no relógio, vi que já eram 21:45. Nem tinha me dado conta do tempo, pelo fato de estar desacordada, assim perdendo as ultimas aulas.

   Alyssa saiu do banheiro com um pijama depois de alguns minutos e foi dormir. Tentei fazer o mesmo, mas em vão, a dor que estava dentro de mim era muito grande, eu sabia que não agüentaria muito tempo naquele lugar, lá não era meu lugar, na verdade, eu não sabia onde era, pois não dizem que nosso lugar é ao lado de quem nos traz amor? Bom, eu acho que ainda não encontrei uma pessoa que me ame de verdade, e nem sabia se isso algum dia iria acontecer. Eu passei dezessete anos da minha vida convivendo com isso, sempre sendo a segunda, ou terceira opção de todos ao meu lado. E isso não é só o que penso, basta olhar para onde estou agora para saber que eu nunca fui importante para alguém, nem mesmo para as pessoas que me colocaram no mundo, meus pais! Eles nunca estiveram ao meu lado, e isso, no coração de uma filha, dói, muito mesmo. Não saberia descrever o tamanho dessa dor, é inexplicável, talvez quase inacreditável que eles possam fazer isso comigo, e não estou fazendo drama, essa é a historia real das coisas, não posso me iludir achando que eles se importam comigo, pois eles já provaram que não é isso que acontece. Mas talvez, para uma simples adolescente seja ruim encarar isso, eu já consegui lidar com muitas coisas todos esses anos. Eu tenho dezessete anos e já sofro com alguns problemas angustiantes. Será que eu passarei toda a minha vida assim? Sendo...mal amada? É, é isso que eu sou, mas não sinta pena, eu tenho que encarar a realidade, e estou aprendendo.

Pensando nessas coisas, deixei algumas lagrimas caírem sobre o meu travesseiro, mas silenciosamente, para aquele ser não escutar, e ter mais motivos para me humilhar, acho que ela gostou de fazer isso, de fazer eu me sentir inferior a ela, bom, talvez eu fosse isso, afinal, ela é uma garota tão normal, vivendo a sua vida normal, enquanto eu assim, eu não sou boa para ninguém, eu não sou boa nem comigo mesma! Mas mesmo assim, não entendo como as pessoas podem ser tão cruéis, será que elas não percebem que todos têm sentimentos? E que às vezes machuca! Queria que elas se colocassem no lugar das outras pessoas, assim elas pensarão duas vezes (ou mais) antes de fazer qualquer coisa.

  Com esses pensamentos, acabei dormindo, era a única coisa que eu poderia fazer de melhor, ao invés de ficar tentando decifrar a pergunta inexplicável de porque a vida é tão injusta.