Antes mesmo que Katniss abrisse os olhos, ela sabia que havia algo errado. Errado não, mas aquela sensação de felicidade repentina não era comum, nem normal. Ela já não lembrava mais como era ter aquilo.

Mas aparentemente, tudo naquele dia estava diferente.

Muito lentamente Katniss dispôs-se a abrir os olhos, temendo que se o fizesse a sensação iria embora.

Qual não foi sua surpresa ao abri-los e encontrar com os muito azuis de Peeta que a encarava serenamente, como se o fizesse por um longo tempo.

Franziu a testa, tentando lembrar-se do motivo para estar naquela situação. Olhou para os lados, percebendo-se deitada em uma cama que não era sua. Era de Peeta. Voltou a olhar para o garoto.

- Olá – disse e logo se repreendeu por dizer algo tão estúpido. – Hum... Bom dia? – falou novamente, em duvida sobre que hora deveria ser.

- Boa noite – Peeta corrigiu-a com um pequeno sorriso, o que fez a cena toda ficar ainda mais estranha.

Não que ela não estivesse gostando, muito pelo contrário, aquele poderia entrar para a lista de melhores momentos. O problema era que tudo estava... perfeito demais. Era quase como se Katniss esperasse que alguma coisa acontecesse a qualquer segundo.

O que era verdade.

Havia se desacostumado com coisas boas.

Somente então percebeu algo que a fez arregalar os olhos.

- Katniss? – Peeta perguntou ao vê-la sentar-se na cama e olhar pela janela que permanecia aberta.

- Nós dormimos – ela comentou estranhamente, fazendo-o franzir a testa em confusão. – Faz mais de seis horas – ela voltou a falar, lembrando-se da manhã, quando encontrara Peeta aos nervos na sala de sua casa.

- Você dormiu mais de seis horas – Peeta corrigiu-a, sentando-se na cama e observando a garota que agora o encarava com um brilho estranho nos olhos, quase receoso – eu estive acordado por algum tempo.

- Eu não os tive... – Katniss sussurrou, passando a mão pelo rosto para ter certeza de que estava acordada.

- Não teve o que? – Peeta perguntou, um pouco alarmado pela reação da garota.

- Os pesadelos – Katniss lhe disse, caminhando até a cama novamente, sentando-se e encarando a luz fraca que entrava pela janela. – Nenhum.

Fechou os olhos tentando aproveitar a maravilha de acordar depois de tanto tempo sem a sensação terrível depois de um pesadelo, sem a sensação de estar sendo perseguida até mesmo em sua mente.

- Eu não os tive também – Peeta falou, também voltando os olhos para a janela, soltando um alto suspiro e fazendo-a encará-lo.

- Obrigado – Katniss murmurou, um calafrio a atingindo no momento em que ele a encarou surpreso. – Você me salvou dos pesadelos – ela continuou. – Isso é... – mas não conseguiu terminar de dizer, pois Peeta a beijou fazendo qualquer pensamento de agradecimentos ser excluído de sua mente.

- Não desisti de você – ele disse assim que se separaram. Katniss estendeu a mão até o rosto do garoto tentando guardar aquele momento, tentando não deixá-lo ir embora.

- Eu também não desisti de você – ela disse e ele sorriu.

Katniss imaginou o quão boba estaria suas feições naquele momento, e o quanto os habitantes de Panem deveria estar suspirando por vê-los dividir um momento assim. Mas então se lembrou, eles não os viam mais. Não havia câmeras ali, eles não eram mais tributos, aquilo não era um jogo.

Era real. As palavras, o beijo, o momento, o sentimento.

- É tudo real – murmurou ela.

­- Assim eu espero – disse Peeta soltando uma risada, que aos ouvidos de Katniss soava como uma sinfonia composta pelo canto de anjos.

- Não quero que isso passe – admitiu Katniss perguntando se seria bobo dizer isso em voz alta.

- Então vamos fazer prolongar – sugeriu Peeta, se aproximando mais de Katniss, dividindo o mesmo ar que a morena, até que seus lábios mais uma vez se pousaram sobre os dela, e de forma suave o beijo fora correspondido e varias vezes retribuído.

Dessa vez foram os raios de sol que penetravam a fresta da janela que acordaram Katniss. A garota sorria antes mesmo de abrir de os olhos, repassando o maravilhoso sonho que tivera noite passada por sua mente. Havia tempo em que não sabia o que era sonhar e acordar assustada, havia tempo em que não clamava por seu sonhos se prolongar. Katniss não se importaria de adormecer novamente e prolongar seu sonho.

Mas a garota se obrigou a abrir os olhos quando o cheiro de pães recém saídos do forno penetraram sua narinas. Assustada Katniss deu um salto da cama.

Não fora um sonho o que acontecera noite passada. Fora real.

Katniss corou instantaneamente ao se lembrar o que aconteceu noite passada. Suas bochechas queimavam devido à lembrança quando um Peeta bastante animado e sorridente entrara no quarto com um avental branco amarrado a cintura e resquícios de farinha lhe cobriam os braços e a face.

- Dormiu bem? – indagou Peeta – Eu não durmo bem assim há... Bom, tem muito tempo – admitiu o garoto.

­- Peeta... Nós... Ontem... – Katniss se enrolou em meio à frese – Digo... Verdadeiro ou falso?

- Verdadeiro – respondeu Peeta rindo – Vem, vamos tomar café.

Peeta estendeu a mão e Katniss aceitou, descendo lado a lado até a cozinha ainda destruída de Peeta, tanto pela falha tentativa de ele a ensiná-la fazer pães, quanto pelo surto de Peeta, mas ainda assim a cozinha parecia aconchegante e segura. Tinha cheiro de lar.

Katniss deixou o choque e a vergonha inicial passar logo que Peeta começou a falar.

Peeta começou a falar das ideias que teve enquanto preparava pães.

Dizia em reconstruir a padaria de seus pais e continuar o negocio, dizia em viajar e conhecer e pintar novas paisagens, dizia em ajudar as pessoas que perderam tudo na rebelião. Peeta dizia em prosseguir em frente. E pela primeira vez, Katniss viu que havia motivos para continuar, para não desistir, parar lutar, e viu que o motivo, estava sorrindo de frente a ela enquanto queimava a boca com um gole de café preto preparado por Katniss.