Os dias se arrastavam devagar para Katniss. Fato que talvez se devesse à rotina monótona, entediante e sedentária que havia formado.

Acordava cedo todos os dias, vestia-se, saia do quarto, descia as escadas, entrava na cozinha e fazia café preto – o qual havia aprendido a gostar depois de algum tempo – tomava-o correndo, com medo de encontrar alguém durante aquela hora em que estava tão frágil.

As manhãs sempre eram ruins. Todos os dias, depois de acordar de um pesadelo horrível – pois estes à perseguiam em todos os momentos em que a inconsciência a espreitava –, sentia-se fragilizada, machucada. Toda a máscara de força e indiferença que havia construído se dissipava pela manhã. Só havia o medo, a tristeza e a imensidão sem fim do nada.

Pois ela não possuía mais nada. Tudo o que um dia fora dela, deixara de existir. Nem mesmo ela própria sabia se existia.

Seus passos eram silenciosos, indo de encontro à relva úmida enquanto caminhava pela floresta. Carregava em um dos ombros um esquilo morto. Não fora a melhor caçada de sua vida nem de longe, porém os murmúrios da floresta apenas intensificavam a sensação que tinha desde que acordara naquela manhã após um pesadelo vivenciado na primeira arena, onde ela corria procurando por algo que parecia nunca encontrar.

Para a maior parte das pessoas aquele sonho estaria longe de ser um pesadelo, porém, para ela era terrível, a maior parte das pessoas não vira o que ela vira. A sensação de estar sendo perseguida, de ter de fugir. A sensação que precedia algo ruim. A sensação de estar sendo vigiada por milhares de pessoas que sorriam toda vez que alguém morria.

Katniss não percebeu, mas quando deu por si, estava correndo. Passou pela cerca que dividia o distrito da floresta, e andou rapidamente pelas ruas, desviando de pessoas, seus olhos ardendo com lágrimas de uma tristeza tão profunda que parecia rasgá-la por dentro.

Quando finalmente chegou em casa, fechou a porta e encostou as costas na parede, escorregando por ela até estar sentada no chão, a cabeça entre as pernas e as lágrimas escapando por seus olhos.

Porque ela parecia ter perdido o ultimo lugar em que se sentia segura. A floresta que antes era seu refúgio, para onde ia toda vez que sentia-se prestes a desmoronar agora também fazia parte de seus piores pesadelos.

Para onde mais poderia ir sem enlouquecer?

– Katniss? – ela ouviu a voz dele entre os soluços, mas não ergueu a cabeça. O sentimento de perda somente intensificaria se o encarasse, sabendo que também o perdera.

As lágrimas e os soluços aumentaram, tornando a dor em seu peito insuportável.

E então Peeta estava lá, ao seu lado, e ela sem pensar atirou os braços em torno de seu pescoço, apertando-o contra si e aproveitando o momento de ilusão.

Porque, naquele momento, Peeta era ilusoriamente seu porto seguro.

Ela sabia que depois que isso passasse, ele se distanciaria de novo. E isso doeria tanto quanto da primeira vez.