Snuff - Dramione escrita por Lívia Black


Capítulo 8
Capítulo 8.


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu amo vocês e estou postando esse capítulo mais rápido do que nunca fiz. *-* Tá, admito que para mim foi fácil escrevê-lo -fluiu lindamente, já que me lembrou uma cena que ia acontecer em uma ex-fanfic minha, mas mesmo assim..Presentito de natal para vocês, certo? :3 A fanfic só vai ter mais 2 capítulos...:/ Estou louca para saber o que vocês vão achar desse (tava com pressa e não revisei, gomenasai, mas fiz com muito amor e dedicação ^^)...Por favor, deixem reviewzitos e façam uma potterhead feliz. Jaa nee õ/



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So break yourself against my stones

And spit your pity in my soul

Então jogue-se contra as minhas pedras

E cuspa sua pena na minha alma


Foi simplesmente inevitável. No momento em que Hermione pensou em tentar impedir, era tarde demais.


estava acontecendo.


Como numa enxurrada de folhas secas de outono, fragmentos de memórias –tudo que mais tentara evitar naquelas últimas semanas- ondularam diante dos orbes arregalados dela, em forma de cartas, timbres, cores e flashbacks.


Cada palavra. Cada toque. Cada sentimento -fosse de ódio ou de cumplicidade. Ela empurrara para longe, afastara de si como se fosse uma moléstia, mas em nome de quê? Tudo fora em vão.


Bastou um olhar. Um único e decidido olhar cinza como um céu de inverno, para tudo aquilo voltar a pertencer a ela. Os pilares de sustentação daquela nova Hermione que ela tanto quisera edificar, afinal, eram tão frágeis que mais pareciam terem sido feitos de pó.


Aquela enchente doentia de pecados –que voltavam a não parecer tão sujos e errados assim- inundava sua consciência e aquecia o sangue por detrás de suas veias.


Hermione estava plenamente ciente de suas mãos agarrando a borda do espelho para se apoiar, mas também sabia que isso não era nem de longe o suficiente para equilibrá-la na borda do abismo o qual estava fadada a cair.


Aquele abismo...Familiarmente...Cinza.


–Granger...


Não, aquilo não era o sobrenome dela. Eram murmúrios doces e gritos desesperados. Eram pedaços do passado, angústias da realidade, tormentos internos, todos contornados pela voz dele, por aquele timbre que tantas vezes conseguira enlouquecê-la.


Ela já estava meio conformada. Estava preparada para nunca mais ter de ouvi-lo. Até resignada.


Mas lá estava aquela voz inebriante, para dar tapas em sua cara.


Não só a voz, como também os olhos.


Ele a encarava como se pudesse entrar em sua pele, e ela estava tão ciente disso quanto do fato de que não queria estar. Mas correspondia a esse olhar, a garganta se fechando, a respiração quase obstruída. Os pensamentos enjaulados nas recordações da última vez que pudera mergulhar naquele mar cinza. De como pareceram oceanos revoltos de ódio e agora pareciam tão...tristes e cheios de mágoas.


Lembrou-se das consequências. De tudo que se sucedera, só para que tivessem de estar frente a frente, mais uma vez.


Ela, em seu vestido de noiva, olhos minguados de lágrimas. Ele, com sua gravata desamarrada, cabelos displicentemente bagunçados.


Hermione Granger não sabia como era possível que estivesse satisfeita em tê-lo perdido e ao mesmo tempo desesperada para recuperá-lo. “Não é a hora certa, nem o lugar certo” uma voz sombria sussurrava em sua mente, mas era abafada por outra, que dizia exatamente o contrário.


De que modo ela podia reagir àquilo?


–x-


–M-Malfoy?


Draco Malfoy sabia que Hermione Granger não queria que a própria voz soasse gaguejada. Sabia também que ela tampouco queria ter ficado pálida como leite e se desiquilibrado daquela maneira.


Com certeza estava a torturando com o seu olhar, mas mesmo ela não conseguia desviar. Sabia, pois se havia algo que conhecia nela -que aprendera, estando com ela durante todos aqueles anos- este algo era o nível de seu orgulho. Tão alto quanto o dele, talvez até superior. Afinal, contra todos os princípios de um Malfoy, ele estava ali, não estava?


Bêbado, sim, mas isso não mudava o fato de que superara aquela barreira. Qualquer orgulho que pudesse nutrir em seu ser estava sendo esmagado com aquela invasão repentina aos aposentos-matrimôniais preparatórios de Hermione e o fato de isso já não significar nada para seu ego, mudava tudo que ele costumava se intitular no passado.


Mudava drasticamente.


Porque era como se não possuísse ego quando não estava junto a ela. Egoísmo, arrogância, prepotência...De nada esses sentimentos lhe valiam quando não podia ter o corpo quente de Granger junto do seu ou a voz doce dela em seus ouvidos.


Tomara providências quanto a isso um pouco tarde demais, sim, mas não tarde o suficiente para que não pudesse tentar impedi-la.


Era um risco, Granger com certeza o odiava agora e sem dúvidas queria ter uma vida feliz com o Weasley.


A probabilidade de que na tentativa de não ser patético, fosse receber o título de patético dos próprios lábios dela, lhe era quase palpável.


Mas de alguma maneira, Draco sabia que não se arrependeria. Encontraria conforto mesmo se fosse rejeitado, porque ao menos ela saberia. Antes de pisar naquela igreja e unir para sempre seu destino com o dono dos cabelos alaranjados, ela saberia da verdade.


E qualquer palavra que ouvisse irrompendo daqueles lábios púrpuros seria um consolo. Ouvir seu nome, então, conseguiu fazer brotar um sorriso tão grande em seu rosto que suspeitava que até mesmo sua alma estivesse rindo.


Granger estava tão... Perfeita.


Não, perfeita era um adjetivo vazio demais para descrever algo tão sublime quanto a mulher envolta naquele suntuoso vestido de noiva repleto de rendas e bordados, com a pele alva e macia como neve se sobressaindo, reluzente à meia luz dos raios de sol que iluminavam o local.


Quando chegara aquele lugar, entrando pela janela -porque não fora capaz de desfazer os feitiços preventivos que não o permitiam aparatar ali dentro- conseguira ter um vislumbre de Hermione se erguendo do chão, com as intrujices manchadas de lágrimas recém-fugidas, os cabelos ondulados sob os ombros lhe conferindo um ar angelical, como se fossem fitas de mel. Até ela levar um susto com o baque que seu corpo produziu ao se chocar contra o solo, virar-se e encará-lo, o avelã dos olhos ficando desconfortável, como se ela quisesse simplesmente desaparecer.


Ainda assim ela continuava impecável, incrível demais para que não quisesse contemplá-la, chegar mais perto, sentir seu cheiro, beijar seus lábios e...


Não.


Tinha que parar de pensar nisso, antes que se tornasse apenas um sonho que nunca seria capaz de se concretizar. Tinha lutar contra esse instinto enlouquecedor até que sua missão estivesse cumprida.


Não devia se esquecer de que havia feridas abertas e pendências demasiado violentas entre eles. Não tinha o mínimo direito de estar ali- quanto menos de tocá-la- e isso não poderia ser consertado a menos que dissesse as palavras – e mais do que isso, conseguisse convencer Granger da veracidade delas.


O pensamento o fez engolir em seco.


–Granger, eu...


–Você não deveria estar aqui, Malfoy. –Todos os vestígios da Hermione assustada e instável que o estivera observando com toda a sua beleza, angústia e sinceridade, subitamente desapareceram como se tivessem sido apenas uma dolorosa ilusão de óptica passageira. – Aqui não é o seu lugar. -O que encarava agora era o semblante austero de uma mulher decidida, rancorosa e definitivamente... Intimidadora.


–Eu...


–Vá embora. - Não que a tivesse visualizado por muito tempo, porque Granger, ao sentenciá-lo tão amargamente, logo largou o espelho que tinha usado para se apoiar e virou-se de costas para o lugar onde Draco estava prostrado, evitando completamente qualquer contato visual com ele. Pedaços de frase já se montavam em sua mente em alguma maneira de rebater aquelas palavras que eram como punhais de gelo atravessados em sua coragem, mas isso foi quando ela o surpreendeu, comprimindo os punhos, somente para retomar a fala. –Por favor.


Os lábios de Draco Malfoy simplesmente se entreabriram, com o choque que o desestabilizou durante alguns segundos, de tanto que sabia que não merecia ouvir aquelas palavras e de como deveria ser torturante para Granger dizê-las, ainda mais naquele tom que parecia mais uma súplica de piedade...


Argh, mas ele não podia se deixar comover.


–Eu não posso. Não posso ir embora, Granger.


Então, Draco finalmente pôde ouvir Hermione rindo. Mas não havia humor algum naquele riso. Era algo simplesmente frio e seco.


–Não venha me dizer que não pode. Não hoje. Não no dia do meu casamento. -O tom dela voltou a perder completamente a sensibilidade, enquanto seu estômago se revirava ao ouvir aquelas palavras. Era quase como se seus piores temores estivessem se tornando realidade. -Você precisa ir embora agora.


–Não. Não mais do que você precisa me escutar antes de me expulsar daqui.


O tom de voz que ele usou que não tolerava discussões, mas logo o fez se arrepender, pois era como se estivesse deixando o orgulho falar ao invés de seus sentimentos por ela.


Granger respirou fundo.



Preciso?! - Era nítido, mesmo sem ver seu rosto, o quanto ela estava tendo que se controlar para não perder a própria racionalidade. -Desde quando você acha que tem o direito de exigir algo de mim?!


–Por favor...


–Para o inferno com o seu “por favor”! –Hermione não foi mas capaz de reter o tom de grito. Quase ameaçou voltar a encará-lo, mas deteve-se no último segundo. –Escutar... –Ela repetiu a palavra, cuspindo-a, quase como se fosse uma piada particular para si. Só depois de mais um tempo é que virou-se e somente para lhe lançar um olhar gélido, preenchido por uma fúria que ele não via desde os tempos de Hogwarts, desde aquele incidente, no terceiro ano, que resultara em um soco em sua cara. –Qual parte do “Preste atenção, pois este é o nosso último contato” você não foi capaz de compreender, Malfoy?!


Draco ficou sem fala.


Aquela rispidez que ela estava vestindo era algo agoniante e ele realmente não imaginava que ela seria capaz de repetir aquelas palavras, soprá-las em sua cara como se dissesse que dois mais dois são quatro- e justo aquelas palavras que o fizeram perder a mais completa noção de lógica por dias seguidos, que o fizeram tomar o porre mais desastroso de sua vida, que o fizeram beijar cartas, o fizeram até mesmo... Chorar. Preparara-se para enfrentar resistência e alfinetadas horríveis, sim, mas a preparação não tornava nem um pouco mais fácil aceitar a vivência, o fato de estar ouvindo aquele ódio fluído de uma despedida no timbre dela.


Um sabor amargo inundava sua garganta, sendo cúmplice de gavinhas que subitamente sufocavam o seu coração.


–A parte que não consegui compreender foi a realidade por detrás disso. –Respondeu, mas não porque finalmente chegou em uma resposta, e sim porque já estava lá, no quebrar do seu sorriso, no contorno de sua íris, no amargo entre seus lábios, e tudo que precisava fazer era somente verbalizar.


–Então compreenda logo. –Simplificou Hermione. Ainda não conseguia olhá-lo nos olhos fixamente, mas só sua voz enraivecida conseguia fazê-lo sangrar por dentro, como se as palavras fossem adagas. - Isto é real. Eu não estou disposta a ouvir uma palavra sua seq...


–Eu sei que não mereço ter com você, Granger. Eu não mereço a sua atenção e sei muito bem que dia é hoje e o que ele representa para você. –Draco não a havia deixado terminar de falar, porque tinha medo de que se ela dissesse algo humilhante ou angustiante demais, fosse apenas dar de ombros e sair dali, e ele simplesmente não podia fazer isso. Frisou o representa, porque junto com ele veio a recordação dos sonhos que Hermione deixara escapar, uma vez. Ela queria ter um marido perfeito, filhos impecáveis, um emprego invejável e um futuro promissor. Coisas que ela suspostamente não podia ter com ele, já que eles eram só um caso barato... Mas acontece que eles não precisavam ser um caso barato. Draco sabia o que aquele dia era para ela, sim, mas se ela esperara até aquele momento por aquele dia, por que não podia esperar mais alguns e tê-lo com ele? Afinal, como ela poderia não tê-lo amado depois de todos aqueles anos? Depois daquelas cartas, daqueles beijos, daqueles momentos que não eram só pecados, e sim o êxtase em forma de vivências? Como ela poderia mesmo se arrepender do que haviam vivido como havia lhe dito, resultando em tudo aquilo? Eram mentiras, tinham de ser mentiras, ele estava lá apenas para fazê-la enxergar que eram mentiras, enquanto reconhecia as suas próprias, os enganos que tinha feito a si mesmo por causa do orgulho. - Eu sei que não mereço nada, mas eu não posso abdicar. Se me deixar dizer o que preciso, eu juro que farei o que você quer. Irei embora. Sumirei da sua vida e quando você ouvir meu nome, isso se for mesmo ouvi-lo, irá apenas se lembrar de um ex-colega, de um garoto que você conheceu em Hogwarts, ou de qualquer coisa idiota do tipo. Palavras são vento. Eu sei disso, mas não desconfie de mim, dessa vez. Contanto que me deixe dizer o que faltou dizer da última vez que nos vimos, você pode decidir o que quer de mim, Granger. E se quiser que eu desapareça para sempre da sua vida, será exatamente isso o que eu farei. Eu juro.


Um clima tenso se instaurou no ar, pesando um milhão de quilos no silêncio, enquanto Hermione Granger hesitava, com o corpo vacilando de um lado para o outro, como se ela fosse feita de plástico, absorvendo as palavras, soltando o ar e camuflando qualquer emoção através do gelo de sua íris acastanhada. O coração de Draco batia tão forte por trás do peito, que se continuasse assim por muito tempo, sentia que ele era capaz de explodir. Mas não importava.


Hermione Granger, finalmente resolveu se manifestar, dando um passo a frente, não sem antes preencher sua expressão de orgulho:


–O Malfoy que vi pela última vez disse tudo que precisava dizer para mim. Disse até muito mais.


–Mas não disse o essencial. –Ele insistiu e ela cruzou os braços, nitidamente tocada, mas orgulhosa demais para ceder. Draco muniu-se dos argumentos e aflições que consumiam seu espírito e voltou a contra-atacar. -As coisas não podiam ter terminado daquela forma, Granger.


Hermione deixou-se revirar os olhos.


–É claro que podiam ter terminado! Na verdade, as coisas teriam sido lindas se tivessem terminado naquele dia. Mas alguém não se contentou e teve de enviar algo a mais para mim.


Ela o fuzilava. Estava mais perto dele agora -provavelmente com o intuito de pular em seu pescoço e enforcá-lo, caso ele dissesse algo que não deveria- e Draco só pôde se contentar em engolir em seco, entendendo a indireta e odiando ainda mais aquele dia, o quanto se permitira ser patético em querer piorar mais a situação em que se encontravam.


–Eu tinha a esperança de que você não tivesse recebido aquilo.


–Argh. Não seja cínico. Você se deliciou com aquelas merdas de convites, Malfoy.


Sim, me deliciei. Por um ou dois segundos, antes de perceber a merda que havia feito. O tom dela era quase ameaçador, mesmo enquanto ria aquele odioso riso seco.


–Isso não é verdade. –Negou. Afinal, o que eram dois segundos comparados a infinidade de amargura que sentiu logo em seguida? -Mas agora não importa mais. Eu não estou mais com a Greengrass, Granger.


–Eu estou pouco me fodendo para com quem você está ou deixa estar! –Hermione exclamou irritada, forjando uma expressão de nojo, como se simplesmente estivesse enjoada demais com a presença dele, ou como se fosse uma ofensa enorme ele insinuar que ela se importava com aquilo. -Será que você não pode simplesmente desaparecer?!



–Não. Não sem antes cumprir meu objetivo. -Ele suspirou, com resignação.- Preciso dizer aquelas palavras e preciso sentir você ouvindo.


Ele poderia jurar que viu Hermione se arrepiar, somente para vê-la bufar de ódio, três segundos depois.


–Do que adianta?! O que quer que você diga, não vai mudar o que já está escrito, Malfoy. Vá embora. Suma daqui! Vá fazer as pazes com a sua Astoria.


–Eu não quero fazer as pazes com ela! –Draco se irritou. Era ele quem estava ficando impaciente, daquela vez. Sabia que não podia permitir, mas era simplesmente impossível se refrear quando ouvia Hermione tratando-o como se ele fosse simplesmente um carrapato que insistia em ficar grudado em suas vestes. Sem mais se preocupar se seria uma boa ideia ou não, passou a caminhar através do suntuoso aposento, na exata direção dela. Óbvio que Granger notou seus movimentos, mas não a tempo de fugir deles. Ou talvez ela tivesse tido vontade de permanecer ali, observando-o agir, curiosa para ver o que ele iria falar. Conforme chegava mais perto dela, mas lhe parecia difícil continuarem naquela batalha de olhares, mas ela não se permitia desistir, por mais que isso destruísse seu lábio inferior- vermelho de todas as mordidas que ela dera em seu percurso. Quando finalmente ficaram um diante do outro a apenas alguns centímetros de se encostarem, pôde vê-la se retesar, desconfortável. Esse foi o momento em que sorriu de canto de lábio e disse: - Pare de ser irredutível, Hermione Granger.


–Eu não sou. –Ela negou quase na mesma fração de segundo, mas Draco reparou o quanto ela ficou perturbada por ele ter dito o seu nome e ficou mais do que satisfeito por ver que dizê-lo ainda tinha capacidade de provocar aquele tipo de reação. Foi quando Granger franziu o nariz, começando a cheirar alguma coisa e a cultivar uma expressão fechada e raivosa. -O que diabos é isso?! Argh! Eu estou mesmo sentindo o cheiro de...cigarros? –Ela murmurou a palavra como se fosse quase um crime, algo imperdoável e nojento, como se estivesse pronunciando o nome de Voldemort ou alguma coisa triplamente pior. -Por acaso você andou fumando, Malfoy? – O olhar dela era extremamente repreensivo, e por um segundo fez Draco se lembrar de Narcisa, todas as vezes em que ela lhe dissera para ele ficar longe da companhia de sangues-ruins. Draco decidiu não responder, mas isso foi um estímulo para ela investigar mais a fundo, e como seus lábios estavam entreabertos, Hermione logo foi capaz de sentir o aroma de seu hálito, e consequentemente o teor alcoólico dele. - Andou bebendo também. –Decretou, com aquele mesmo olhar fatal e intimidador. Queria perguntar o que aquilo importava agora que estavam ali, mas o desprezo que via no rosto dela fazia-o se sentir demasiado impotente. - Tsc, não tem nem a coragem para negar. É por isso que eu tenho pena de você, Draco Malfoy. –Ele não podia ignorar o fato de que ela também estava enunciando seu nome, só que nem de longe de uma forma tão profunda ou num tom de voz tão gentil quanto o seu fora, minutos atrás. Ela movia os lábios com asco, como se estivesse com nojo. -Sempre recorrendo a vícios para suprimir o vazio que você tem onde deveria estar o seu coração...


Malfoy’s não podem se afetar com palavras. Muito menos quando essas palavras vêm dos lábios imundos de um sangue-ruim.” Draco não soube o motivo, mas de repente as palavras que seu pai dissera para ele, em alguma ocasião, quando era criança -o que no momento provavelmente o haviam feito sorrir idiotamente- pareciam dançar, virar cambalhotas, despir-se e começar a rir diante dele, numa piada infinita. “Não sou um legítimo Malfoy” ele pensou, refreando um meio-sorriso praticamente masoquista. Era irônico o quanto aquilo lhe parecia um fato agora, o quanto era fácil aceita-lo, simplesmente. “Malfoy’s não choram.” O decreto também dizia, mas se dependesse da dor que aquelas palavras de Hermione lhe infligiram, ele já estaria preso num abismo de lágrimas interminável.


Draco também não soube como arranjou forças para continuar lutando, como arranjou argumentos suficientes para conseguir contra-atacar, como conseguiu continuar olhando-a nos olhos, aqueles olhos tão repletos de repulsa.


Ele realmente a amava, a amava mais do que todas as coisas de todo o Universo, para querer continuar de cabeça erguida, para seu orgulho não o consumir e simplesmente não virar as costas e deixar de tentar.


–Você está enganada, Hermione. –Draco insistiu, a melhor expressão de decisão estampada em seu semblante, fazendo Granger repentinamente arregalar os olhos, inconformada com a ousadia dele de querer discutir. –Existe um vazio sim, mas ele não provém da ausência de um coração. –Sorriu. Quase mordazmente... -Bem, é claro que em breve ele pode deixar de existir, de tanto que está sendo dilacerado. Justamente por alguém que o habita há muito tempo...E que só agora se deixou notar.


Ela definitivamente não esperava ter recebido uma resposta como aquela. Mesmo que seus olhos não perdessem o rancor, o que ele dissera estava fazendo o canto do lábio de Hermione tremer, em sincronia com as suas mãos. Ela também pensou em se afastar um passo, mas simplesmente não conseguiu. Por alguns momentos, palavras e frases pareciam ser formuladas na boca dela, só para depois serem descartadas, como se fossem só alguma inutilidade qualquer.


Então, ela finalmente foi capaz de dar de ombros, no que parecia ser também uma tortura interna... Fechou os olhos, respirou fundo, e voltou a abri-los.


–Você irá embora se disser suas palavras, não é, Malfoy? –Inquiriu, e Draco percebeu que ela estava sendo séria naquele momento -qualquer resquício de escárnio sumira com a intensidade de suas palavras anteriores. Simplesmente assentiu, e assistiu-a suspirar, reunindo toda a resignação que uma mulher poderia encontrar. -Pois então os dados estão lançados. Diga-as. Só não se esqueça de me fazer acreditar que elas não são uma farsa.


–Elas não são uma farsa. –Draco repetiu, retirando uma inspiração de algum lugar que não julgava conhecer, em seguida fazendo Hermione ficar boquiaberta, ao tomar a liberdade de tocar sua pele. Mais precisamente, de envolver os dedos no entorno quente de seu pulso, pressionando-os com força e trazendo-a para mais perto de si, provocando arrepios que valiam muito mais do que qualquer coisa que o dinheiro conseguisse comprar, qualquer coisa que ele teve durante todo aquele tempo. Fisgou o olhar dela com o seu. Aquele era o instante. A tempestade cinza simplesmente se fundia no mogno aveludado de seus olhos. -Nada disso foi uma farsa para mim, Hermione. Tudo foi tão... Real. Verdadeiro. E ouvi-la dizendo que essa realidade, tudo que moveu meu mundo e trouxe sorrisos ao meu rosto durante esses anos todos, não significava nada para você além de algo sujo, era uma coisa que você preferia ignorar e de que se arrependia até o último fio de cabelo, simplesmente me levou a cometer loucuras! Loucuras imperdoáveis, que eu sempre vou me odiar por ter feito. Como chamar a mulher mais incrível que já conheci de vadia de sangue-ruim. Como mandar aqueles convites estúpidos de casamento para o seu endereço. Como me embebedar e destruir os móveis da minha casa como se fossem apenas brinquedos. Eu simplesmente perdi o controle naquela noite. Não... Na verdade, eu perdi o controle quando senti a perspectiva de te perder tão perto de mim quanto nós estamos agora, fisicamente, um do outro. Eu não sou nada sem você, Granger. Eu sinto muito se só decidi fazer algo a respeito disso horas antes do seu precioso casamento. Eu sei que você ama o Weasley, mas também sinto que não é da forma que uma noiva deveria amar. Caso contrário, porque você estaria chorando quando eu cheguei? Com certeza, não por amá-lo demais. Isso com certeza não pode ser. Só sei que eu cheguei a conclusão de que eu não poderia deixar você desaparecer para mim. Não sem que você soubesse disso tudo. Não sem que você soubesse o quanto eu errei, o quanto eu fui patético e o quanto eu me arrependo do que fiz. Se eu pudesse voltar ao tempo, voltaria naquele momento em que ditamos as nossas regras e eu assinei embaixo delas, crente de que nada poderia ser melhor que sexo sem compromisso. Eu estava errado. Eu nunca poderia imaginar que eu viria a depender tanto disso. Do toque macio da sua pele contra minha. Do seu olhar brilhante, do seu jeito único de ver as coisas. Do seu sorriso, e de quando ele sai naturalmente, com espontaneidade, sem você nem ao menos notar. Eu nunca poderia imaginar que passaria a depender de você, inteiramente, do exato jeito que você é. Eu te amo, Hermione Granger. E isso é basicamente tudo que eu precisava dizer da última vez que nos vimos.



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Notas finais do capítulo

Reviews. Sim ou com certeza? ;D haha