Snuff - Dramione escrita por Lívia Black


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 1 muito monótono, eu sei. É mais uma introdução, os outros vão ter mais ação, I guess. Se ninguém ler, eu excluo também. A música eu devo totalmente a minha sister Mari Black. A ideia me surgiu na madrugada passada, depois de eu ler umas 123 páginas de Millenium. Sim, meu estilo de escrita dessa fic está absolutamente igual ao de Stieg Larsson. Foi inevitável. Espero que gostem (pelo menos um pouquinho)!



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Bury all your secrets in my skin
Come away with innocence,
And leave me with my sins
The air around me still feels like a cage
And love is just a camouflage for what resembles rage again..
.


–Vamos ter que parar de nos ver.


Hermione Granger havia repassado aquele diálogo na mente, por diversas e diversas vezes, nos dias anteriores ao em questão. Nos minutos antes de adormecer, ficava projetando em pensamentos quais seriam as reações e expressões dele, quais seriam suas próximas palavras após a frase e qual seria o exato momento da noite em que ela lhe daria a notícia.


Mas acabou que, ela mesma, pegou-se desprevenida, quando fugiu do roteiro a que tanto havia se apegado. Depois de terem feito –a terceira vez, aquela noite- e só feito –porque o emprego da palavra “amor” era estritamente desnecessário naquele caso- seu maxilar descansava na curva do ombro dele com o pescoço. Sua respiração ofegante batia contra a pele macia e perfumada como sedum, que de alguma forma, já lhe era familiar. E a suposta ideia de “familiar” fez algo mexer com ela, manipulá-la de tal forma que a frase simplesmente irrompera, na hora errada, na circunstância errada, e lá se ia seu roteiro por água abaixo, trazendo alguns milhões de consequências.


Droga.

x-x


Draco Malfoy inicialmente perguntou-se, mentalmente, que tipo de pessoa era Hermione Granger. De longe, ela parecia ser uma criatura extremamente frágil. Em sua cama, lembrava-o uma fera que precisava ser domada. E, quando respirava em seu pescoço, era alguém capaz de fazer piadas sérias, e até mesmo sádicas, como a que havia acabado de proferir. Concluiu que não a conhecia bem o suficiente para decifrar essa sua suposta personalidade. E tão pouco ela o conhecia bem o suficiente para acertar qual seria sua resposta àquela afirmação. Concluiu também, que nenhum dos dois, até aquele momento, havia feito questão de se conhecerem bem.


–Sim, é claro é. E como bônus de nossa trágica despedida, você quer ter outro orgasmo, aposto. Tudo bem, senhorita Granger. Seu desejo é uma ordem.


Draco Malfoy, com seu sorriso –potencialmente malicioso-, voltou a colocar as duas mãos ao redor da cintura desnuda de Hermione Granger, apoiada de um jeito cômico ao lado de seu corpo, com a cabeça descansando em seu ombro, e preparava-se para debruçar-se sobre ela, beijá-la na boca e penetrá-la, como já fizera um milhão de vezes antes, naquela mesma cama, mas quando viu a expressão no rosto dela, deteve-se imediatamente.


De repente, suas mãos se sentiram intrusas na cintura esguia, e ele, um tanto confuso, foi afastando-as quase discretamente.


–O que foi? –Perguntou à ela, estranhando-a, quando de súbito a garota esquivara o rosto e o corpo, de modo que nenhuma parte de suas peles se tocassem.


x-x


Quando ele perguntou aquilo, com uma nota de desconfiança no tom, Hermione Granger sentiu uma vontade absurda de forjar um sorriso, dar de ombros e deixar que ele prosseguisse com o plano do orgasmo, que parecia ser uma incrível alternativa.


Então lembrou-se de que este não era o tipo de pessoa que ela era. Ou pelo menos que costumava ser. E percebeu que, agora que havia começado, devia ir até o final. Talvez ela temesse um pouco, mas era a escolha certa a fazer.


Suspirou, olhando-o nos olhos.


–Eu estava falando sério. Vai ficar difícil nos vermos por uns tempos. –Quando as sobrancelhas dele juntaram-se lembrando-a infalivelmente um ponto de interrogação, percebeu que teria de ser mais incisiva, e que não poderia omitir mais o que estivera omitindo há semanas. – Ronald me pediu em casamento.


x-x

–E?


É claro que Draco Malfoy não devia ter feito a questão monossilábica que lhe deixava sob um ângulo de idiota, em diversos aspectos, mas foi inevitável. De repente, algo que sentiu na altura do estômago começou a impedir-lhe de raciocinar com sua devida prudência.


–E eu aceitei.


Aquele algo não ficou suficientemente satisfeito apenas com a região do estomago. Agora se estendia para cada partícula de seu corpo, quase o impedia de reagir ou falar. Sentiu uma enorme vontade de xingar Hermione Granger de puta. Afinal, que tipo de mulher ia para cama com um cara estando noiva de outro?


Porém, sabia que o xingamento ia soar demasiadamente inadequado. Pareceria ciúmes, na certa, e Hermione Granger não devia ter motivos para pensar que ele tinha aquele tipo de sensação em relação à ela. Seu estômago estava se contorcendo, e seus nervos agitados, mas não tinha nada haver com ciúmes. Além disso, o título de puta não lhe cabia, pois um dos maiores segredos dela, e que só ele sabia, é que Hermione Granger só havia feito sexo com um homem em toda sua vida. E esse homem era ele mesmo, Draco Malfoy.


Acontecera há mais ou menos cinco anos e dois meses atrás, no Baile de Formatura dos alunos que cursavam o sétimo ano em Hogwarts. Após a guerra, cuja vitória havia pertencido ao lado oposto ao que ele estava – e ela fazia questão de jogar isso em sua cara milhares de vezes consecutivas- a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts precisara ser reconstituída. Durou cerca de meio ano até que o projeto se finalizasse.


A família Malfoy, enfrentara diversas dificuldades sociais devido sua condição de ex-comensais da morte do mundo bruxo, porém sua postura neutra no final da guerra havia lhes concedido uma parcela de crédito. Mais precisamente: não foram enviados todos à Azkaban, porém foram julgados, e seu sobrenome e status social, antes muito cortejados e apreciados, agora eram dignos de desprezo e vergonha. Para tanto, isso deixara Draco Malfoy furioso. Talvez, por motivos que nunca ia contar a ninguém, tivesse gostado de que o lado de Potter tivesse vencido a guerra. Porém, era detestável que os tratassem mal por serem Malfoy’s e ficassem censurando sua conduta. Draco não deixara de achar um máximo ter seu sangue-puro, e de detestar os que assim não fossem, e acima de tudo detestava o “bando de Potter”, como assim gostava de denominar. Durante meses depois da guerra, teve de ler artigos sobre o monopolizado Profeta Diário, sobre como Harry Potter, Ronald Weasley, e Hermione Granger eram heróis, assim como a Ordem da Fênix, e todo aquele blá-blá-blá entediante. Queimava todos os periódicos que faziam a mínima menção ao “Trio Maravilha” e suas grandes proezas. Ato que o Ministério não deveria saber.


Depois de transcorrido cerca de meio ano pós-guerra, Hogwarts anunciou sua reabertura. Novos professores, nova estrutura, novo modelo acadêmico. Narcisa Malfoy, a mãe de Draco, o informara, dois meses antes, de que ele prestaria o seu sétimo ano no colégio, mesmo sob os protestos calorosos do filho. Em 97, ele frequentara a escola, porém metade do ano letivo lhe fora vetado. Ele teria de recomeçar. Narcisa argumentava que a formação de Draco era importante em seu currículo acadêmico, porque dali pra frente, iriam julgá-lo pela pessoa que ele havia sido, por circunstâncias que ele mesmo não pode impedir. E no dia 1º de Setembro de 1998, lá estava ele, sob o esconderijo de uma porção de cabelos louros caindo em seu rosto, com seu malão e olhos vazios, na plataforma 9 ¾ para pegar o Expresso de Hogwarts, às onze horas, e cursar o seu último ano.


Como era de se esperar, quando colocou seu primeiro pé naquela área proibida – o pé esquerdo, apenas para constar- logo foi recebido por maus-olhares. Sentia as pessoas apontando as suas costas, cochichando aos ouvidos “Olhem, é Draco Malfoy!” “Ele não foi um dos comensais da morte?” “O que esse comensal está fazendo indo para Hogwarts?” “Oh, não fiquem perto dele, crianças.” Mas ele apenas dava de ombros, ignorava. Controlava o ódio. Aquelas pessoas não pagavam suas contas.


Não esperava ver Pansy ou Blaise ali, eles já haviam passado por aquilo. E ele não devia ter de passar novamente. Era um sacrifício.


Pelo menos o “Trio Maravilha” não estava ali para cuspir em sua cara. Apenas um pedaço dele estava. Muito previsível, por sinal. Uma Hermione Granger quase adulta destacava-se ali, sozinha, porque nenhum de seus amigos (e namorado) se dispusera a continuar tendo aulas. Mas ela estava muito provavelmente feliz, por poder estudar novamente. Ugh.


Draco Malfoy sentiu uma espécie estranha de repulsa logo que a viu. Na verdade, ele sempre detestara aquela sangue-sujo com todas as suas forças. Porém, era algo diferente dessa vez. Ela estava diferente. Não era mais uma menininha, ele percebeu. Seu corpo tinha aderido formas, curvas, diferentes daquelas que ela tinha aos treze anos, quando lhe deu um soco no rosto. Um soco que era muito provável que ele jamais fosse esquecer. Ela também era bonita, ele tinha que admitir isso mentalmente, mesmo que lhe fosse penoso. Observando os olhos dela brilhando de longe, os cabelos longos desenrolando-se mansamente em castanho chocolate, e seu sorriso que ia de orelha a orelha, Draco Malfoy encontrou o motivo de Weasley ter se apaixonado por aquela garota. Por detrás de toda aquela cobertura, e aquela inteligência irritante que ela tinha, era difícil acreditar que havia algo de podre em seu sangue.


Mas ele acreditava. E era por isso, e mais alguns motivos de vingança, que se determinou a deixar o ano letivo de Hermione Granger em Hogwarts não tão feliz quanto ela imaginava que iria ser. E assim, talvez, as coisas por ali não fossem ser tão entediantes como ele imaginava que seriam.


Deu um sorriso para o ar, e embarcou no trem, em uma cabine solitária, aonde rumou para Hogwarts, surpreendendo-se ao notar que a Escola tinha mantido o mesmo estilo de construção, porém tinha alguns traços que a tornavam diferente do que fora um dia.


E não fora difícil, naquele ano, cumprir a missão de irritar Hermione Granger, por vingança. A garota passava horas e horas estudando na biblioteca, e odiava ser interrompida. Por isso mesmo, ele adorava interrompê-la. Também ficava na frente dela enquanto ela atravessava o corredor, e ocasionalmente a chamava de “grifinória irritante” ou “sangue-ruim”, enquanto ela lhe revidava com um olhar seco e um amigável “loiro-aguado”. Draco não conseguia se lembrar de quando aconteceu ou de como aconteceu. Ele não havia percebido na época, e talvez, se percebesse, consideraria uma tragédia e logo trataria de censurar-se. Porém, fora inevitável. Os momentos de tensão com Hermione Granger em Hogwarts se tornaram os melhores que ele passara ali, e Draco Malfoy tinha começado a ansiar por eles, e por provoca-los. Passara até a numerá-los! Poderia dizer, sem hesitar, o número de discussões com ofensas pesadas que havia tido ao decorrer do ano letivo com Hermione Granger. Foram cerca de 87. E ele se deliciara com todos eles. De fato, ela virara sua única espécie de distração. Oposto a ela, detestava ficar estudando em quarto fechado. Mas não tinha com quem conversar. Todos o evitavam. Até mesmo os sonserinos o evitavam. Ela, era quem parecia ser a única disposta a enfrenta-lo, a única que não tinha medo de olhar friamente em seus olhos e xingá-lo de crápula. E Draco Malfoy não admitiria isso nem sob risco de morte, porém os efeitos disso foram os mesmos que os de drogas em futuros viciados. Sim, ele tinha ficado obcecado por ela. De alguma forma doentia e inexplicável. Detestava absolutamente tudo nela, desde suas respostas irônicas a seu olhar castanho cáustico. E principalmente, sua preferência por namorados, já que nunca lhe fora segredo o namoro com Weasley Retardado. Porém, a cada item detestado, parecia se sobrepujar a obsessão em decifrá-lo. Sem dúvida, era mesmo uma droga. Ela tinha deixado de ser apenas uma sangue-sujo irrelevante, para se tornar seu enigma favorito de ser desvendado.


E essa sede teve seu ápice no Baile de Formatura de Hogwarts, em meados de junho de 1999. Draco Malfoy, com seu black-tie, seus cabelos loiros penteados com gel, para trás, e seus olhos cinzas de poucos amigos, a caçavam em meio a multidão. Ele refletia de que talvez essa fosse a última vez que fosse vê-la e não sabia o que pensar perante a isso, ou ao estranho desconforto que isso causava em algum lugar dentro de si. As pessoas da festa olhavam de soslaio, para sua postura de caçador. E Draco Malfoy sabia que nenhum desses olhares pertencia à ela.


Foi encontra-la em um dos muitos jardins de Hogwarts, por acaso. Ele nunca imaginou que fosse acha-la ali. Apenas seguiu seus instintos.


Hermione Granger estava completamente irresistível aquela noite, e nem mesmo Draco Malfoy conseguia negar esse fato. Ele havia esquecido sua repulsa sobre tudo nela assim que passara a se tornar obsessivo e agora não havia mais motivo para evitar o óbvio, muito menos para si mesmo, por mais inconcebível que fosse: Ela o fascinava.


Sentada em um banco de granito, ela apontava para algumas rosas brancas de um canteiro com a varinha, e as deixavam vermelhas, no mesmo tom do vestido que estava usando. Era um vestido quase indecente. Cortava-lhe ao meio as coxas macias, e exibia um decote tentador, com suas mangas de alcinha e tecido felpudo. Ela não usava a maquiagem, apenas um batom vermelho, mas ainda assim estava linda, com sua pele branca ainda mais branca, ressaltada pela iluminação sutil da lua.


Ele não entendia o que ela fazia ali. Parecia entediada. E foi aí que ele percebeu que Hermione Granger, assim como ele, também não tinha muitos amigos em Hogwarts aquele ano, com quem pudesse compartilhar o resto da noite de formatura. A solidão lhe parecera um consolo mais agradável.


Diante dessa conclusão, Draco Malfoy jamais se esqueceria do momento decisivo em que resolveu se aproximar dela, no jardim. Foi andando discretamente, tentando não ser ouvido.


Estava habituado a agir assim, e concretizou a tarefa com êxito. Não sabia o que pensar de seus atos, ou de seus sentimentos. Mas alguma coisa no corpo de Granger parecia chamar pelo seu. Era como se estivesse sob os efeitos de um ímã.


Quando estava há um passo de alcançar o banco, resolveu enfim se anunciar para ela. Iria surpreendê-la, de qualquer forma.


–Oi.


De todas as incontáveis palavras do Universo, ele percebeu que tinha achado a mais idiota para chamar a atenção ela. Sentiu-se, por um instante, patético. Hermione Granger pulou no banco em que estava sentada, provavelmente muito assustada, e virou seu corpo de lado para encará-lo subitamente. Parecia inconformada por não tê-lo notado antes de ele dizer alguma coisa.


Draco Malfoy percebeu que havia deixado escapar um detalhe em sua descrição de Hermione Granger. Havia algumas lágrimas, quase imperceptíveis na noite, no mar castanho de seus olhos. Lágrimas que nunca prestaram conta de sua existência.


–Malfoy?! – Ela não parecia irritada, como se seria natural que ela estivesse. Estava mais ocupada em passar as costas da mão nos olhos para expulsar as lágrimas. –O que diabos você está fazendo aqui?!


Draco Malfoy não hesitou. Sabia que não responderia a pergunta. Isso seria racional demais. Naquela noite, estava se deixando levar pelos instintos. Pelos impulsos. Estava expulsando a racionalidade de seu corpo. Por isso disse a primeira coisa que lhe veio a mente.


–Ei, Granger. Alguém já lhe disse hoje o quanto você está gostosa com esse vestido?...


Hermione Granger arregalou os olhos para ele e seu queixo caiu de forma trágica. Sem dúvida, de todas as perguntas possíveis, essa era a que ela menos esperava que seria proferida por Draco Malfoy, naquele momento. Era quase impossível.


–O quê?! – Ela parecia precisar perguntar.


–É, você ouviu bem. Eu perguntei se alguém comentou o quanto você está gostosa. Esta noite, com esse vestido. Um verdadeiro tesão.


Draco Malfoy estava quase arrancando os próprios cabelos por estar sendo tão direto, sem nem se importar, mas era incontrolável agora que ele notava o quanto a expressão de Hermione Granger conseguia ser divertida. Não sentia vergonha alguma.


E ela parecia ter levado um violento tapa na cara.


Ergueu-se do banco onde estivera sentada, de repente, olhando-o fixamente de um modo que ele não sabia interpretar. De fato, não havia sido inteligente expor seus pensamentos daquela maneira para ela, mas não importava. Aquela era para ser a última noite em que se viam.


Quando Hermione Granger avançou para ele, Draco teve quase certeza de que era ele quem ia receber um bom tapa na cara. E por um momento, era exatamente isso que Hermione Granger estava prestes a fazer. Ela até erguera o braço, com os olhos ardendo em luminosas faíscas, mas antes que pudesse concretizar o ato, parou, no meio do caminho. E ao invés de lança-lo contra o rosto dele, ela colocou-o em volta de seu pescoço, fazendo algo que o surpreendeu com certeza mais do que a havia surpreendido ao chama-la de gostosa.


Ela o beijou. Na boca. Com tanto ardor quanto uma faísca depositada num rio de gasolina. Ele correspondeu no mesmo instante. Seu corpo ardia de um desejo incorruptível, e só iria parar de arder depois que terminasse aquilo, do jeito que um Malfoy deveria terminar.


Arrancou-lhe o vestido, e ela lhe arrancara a gravata, e mordeu seu pescoço de forma violenta, enquanto ela esfregava as pernas em torno de seu corpo, e foi ali mesmo, no Jardim de Hogwarts, que eles tatuaram suas iniciais no destino, e fizeram sexo pela primeira vez.


Ela, pela primeira vez mesmo, entregando sua virgindade a quem dizia ser seu pior inimigo sem refletir duas vezes. Ele, pela oitava ou nona vez, mas descobrindo pela primeira vez que o prazer com ela, parecia ser redobrado. Havia uma violência incontida, de anos, sendo descontada ali, e ambos, nem por um segundo, esqueceram-se de quem eram, e de que supostamente se odiavam. Apenas fizeram o que seus instintos lhes disseram para fazer.


Transaram.


E foi bom. Foi ótimo, na verdade.


Draco Malfoy não se arrependia nem um pouco no dia seguinte, e passou a ter uma outra visão das coisas, sobre o enigma que Hermione Granger representava. Agora, tratava-se de decifrar seus sentimentos por ela, que eram quase impenetráveis.


Hermione Granger, obviamente, demorou um pouco mais de tempo para se acostumar com a ideia de que perdera a virgindade com seu pior inimigo, que só para constar, era Draco Malfoy, e também traíra seu namorado, Ron Weasley, com ele.


Mas, depois que repetiram a dose, uma ou duas vezes depois, e perceberam o quanto o contato era viciante, ela logo se adaptou aquela loucura, que parecia se desviar de todas as linhas que Draco Malfoy sabia que ela seguia, ou pelo menos achava que sabia.


Nada havia mudado, daquele dia na Formatura, até os atuais. As incertezas que um tinha em relação ao outro ainda existiam, mesmo que já tivesse se transcorrido cinco anos e dois meses depois daquilo. E o sexo, sem dúvida, ainda permanecia o mesmo, delicioso, irresistível, viciante e quase constante. Draco Malfoy frequentava o apartamento de Hermione Granger na Bakerstreet pelo menos duas ou três vezes por semana. Bastava ela lhe enviar uma coruja. Eles também não conversam sobre assuntos muito íntimos, não se abriam um para o outro, desde sempre. Baseava-se em adivinhações, percepções, ou suposições que um tinha a fazer sobre o outro. Sempre houvera aquele clima de mistério, de suposto ódio, e de sacanagem. Muita sacanagem. Ele não imaginava que ela gostava tanto de sacanagem quanto ele. Talvez fosse isso que a mantivesse presa a ele, ainda que houvesse Weasley também. É isso, também não mudara. Ela continuava sendo a namorada daquele babaca de cabelos alaranjados, e a melhor amiga de Potter Cicatriz. E o caso que havia entre eles ainda era de extremo sigilo.


Na verdade, as únicas coisas que haviam mudado naqueles cinco anos, era que Hermione Granger, de estudante sabe-tudo, passara a ser uma escritora renomada do Profeta Diário, assumira um alto cargo em Execução das Leis da Magia e abrira uma organização que ia contra ao abuso dos elfos domésticos. Além disso, claro, Draco achava que a cada dia transcorrido ela parecia estar mais gostosa, se é que isso era possível. Pelo lado dele, havia o fato de ter se especializado em medicina bruxa. Decidira de última hora, e hoje, por mais improvável que pudesse parecer, era o Diretor do Hospital St.Mungus. Ele não sabia, mas Hermione Granger rezava todos os dias para não ficar doente, e ter de vê-lo em uma ocasião que não fosse a cama de casal de seu apartamento. Ele também passara a ter uma firme relação com Astoria Greengrass, uma bruxa de sangue-puro. Mas ele não sabia se Hermione Granger sabia disso e não estava disposto a contar a ela.


Fora isso, tudo era absolutamente a mesma coisa de antes.


E ao que parecia, agora, Hermione Granger queria mudar essa confortável monotonia. Ela queria romper ao casar-se com Weasley.


Ele imediatamente olhou para o dedo anelar da mulher, e percebeu algo que estupidamente tinha lhe sido imperceptível nos dias anteriores. Um anel de diamantes, modesto, mas bonito, o qual ela exibia, com certeza, com orgulho. Era como se defesas exteriores tivessem impedido Draco de vê-lo antes.


Hermione Granger estreitava os olhos castanhos para ele, como se não soubesse o que dizer para cortar o silêncio, que parecia pesar um bilhão de quilos, e pairava no ar, entre eles. Em pensar que há apenas alguns minutos, os dois estavam fazendo amor – não, ambos sabiam que “amor” era um termo proibido naquela relação- como se não tivessem se visto dois dias antes. Agora, só de olhar para os seios dela, descobertos pelo lençol, e ver as marcas de seus dentes ali, sentia algo que nunca sentira anteriormente. Um sentimento de intrusão. Como se fosse um viajante percorrendo o território inimigo.


–Preciso pensar sobre o que está me dizendo, Granger. –Ele cortou, por fim, o silêncio monstruoso.

x-x


Ela assentiu duas vezes, com a cabeça apoiada no travesseiro. Estava prestes a dizer que não, que não havia sobre o que pensar. Os pecados deles eram destrutivos demais para continuarem tão sucessiva e doentiamente, não haveria como aquilo se sustentar, agora que ela decidira de uma vez.


O que havia entre eles era uma raiva que gostava de ser saciada. Ela sabia que nunca fora amor. Mas também não havia se acostumado com a ideia. Era um vício do qual ela não conseguia enxergar se desprendendo.


Por isso apenas disse:


–Tudo bem.


x-x


Antes que caísse na tentação de discutir aquilo com ela, naquela hora, naquele local, pulou da cama, completamente nu. De costas para ela, no mais profundo silêncio, começou a abotoar a camisa e colocar as calças que ela havia lhe arrancado desesperadamente algumas horas atrás. Evitou a ideia de que podia ter sido uma das últimas vezes.


Pensou em lhe dar um beijo de despedida, talvez, mas seus pensamentos estavam confusos e perturbados demais para que fizesse qualquer coisa que não fosse desaparatar.


E foi inevitável descobrir que aquela noite terminara de forma bem diferente da que ele imaginava que seria.



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Notas finais do capítulo

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