Áreas Gustativas. escrita por Darkholme
Notas iniciais do capítulo
A Aislyn Matsumoto. Sem ela, Áreas Gustativas nunca seria publicada.
1. Doce.
O plano fracassou, como o de costume. A rotina básica, Megamind com um plano diabólico para dominar Metro City e Metro Man salvando o dia em plena glória heroica.
Visão lazer pra cá, raio que desidrata compostos orgânicos pra lá e o teto desabou. Se não fosse por Metro Man, o pequeno gênio do mal teria sido esmagado por um pedaço de concreto. Mas o herói se abaixou tanto com o impacto que os rostos ficaram próximos demais. E os lábios se encontraram por um momento silencioso.
Foi um acidente, apenas isso. Após a poeira abaixar, Metro Man esticou os braços e farelos de concreto caíram para o lado. Então, lentamente, encarou Megamind. Os olhos verdes hipnóticos surpresos e terrivelmente brilhantes. O peito mal se mexia e as bochechas arroxeadas em vergonha. Ele estava uma graça todo encolhido com as mãos tapando a boca.
Ficaram assim por um tempo, o olhar fixado no outro. Até Metro Man tomar a iniciativa. E perguntou com a voz suave:
–Eu beijei você?
As mãos ainda cobrindo a boca e sem coragem para deixá-la desprotegida, Megamind apenas concordou com a cabeça.
E foi dos lábios de Megamind que sentiu o gosto doce da maldade.
2. Salgado.
O corpo pequeno de Megamind coube perfeitamente nos braços do herói. Então, não foi difícil leva-lo até a praia. Na verdade, quando o assunto era o vilão, o impossível inexistia para Metro Man. Outro plano, outro erro. Dessa vez foi perigoso demais. Uma arma não testada a 100% e os dois foram jogados ao mar pela explosão de hidrogênio. Metro Man conseguiu conter a força do impulso, parando no ar e Megamind não teve tanta sorte.
O colocou na areia e percebeu que o vilão não respirava. Um medo o tocou no ombro por um breve segundo. Tentando se controlar, ele fechou as narinas azuis e passou todo ar dos pulmões a Megamind. Fez isso três vezes, então escutou um gemido mais parecido com uma tosse. Virou o rosto azul, com cuidado, para o lado e o viu expelir água em grande quantidade.
Sentou-se aliviado, recuperando o fôlego. Megamind, ao vê-lo, se afastou aos poucos, espalhando areia entre eles. Lembrou-se da explosão e de se chocar com a água. Tentou compreender o que aconteceu em seguida. Um “obrigado” tímido saiu pelos lábios azuis após um momento de reflexão.
E Metro Man não sabia se o gosto salgado e delicioso era por causa da água do mar ou então pela boca do supervilão.
3. Azedo.
O gosto azedo foi divertido e levemente incoerente.
Megamind aterrorizou a população de Metro City com um novo invento robótico. E foi encontrado há poucas horas, saindo de uma loja de doces.
A dona do lugar gritava desesperadamente por ajuda. Embora o gênio apenas escolheu algumas doces e Minion tentou, para dizer a verdade, pagar pela compra. Mas a mulher aterrorizada não cooperava com a sutileza.
Estavam saindo quando o herói apareceu com o branco reluzente do uniforme. E tiveram mais um diálogo existencial sobre o Bem, o Mal e a Justiça. No final, sobrou um Megamind de olhos fechados, com um pedaço de goma cítrica pendurada pelos lábios representando uma língua. A típica expressão de criança teimosa e inocente.
Usando a super velocidade, Metro Man agiu em uma fração de segundos. Após desacelerar e voltar ao lugar, Megamind o viu mastigando alguma coisa. Uma expressão curiosa tomou conta do gênio e depois, ouviu um...
“Você tinha razão.”
Demorou algum tempo, quase um minuto, para o vilão brilhante perceber o que era. Gritou assustado e se escondeu atrás de Minion, olhando para o herói com receio e vergonha. O doce sumiu, não havia qualquer traço que estivesse na boca de Megamind.
A bala de goma era gostosa. O herói admitiu que o Mal tivesse bom gosto. Mas incoerentemente, a parte mais azeda era o que estava dentro da boca azul.
4. Amargo.
O beijo passional e excitante era amargo. Pelo simples fato que nunca daria certo aquela relação.
Megamind era um vilão e Metro Man, um herói. Nos livros, o bonzinho sempre fica com a garota, não com o malvado. E também não havia final feliz para o lado obscuro da força. Mas não era hora para a inteligência de Megamind assumir o lugar.
Chegou a um momento em que não havia como resistir. Precisavam trocar sabores, explorar cada canto das bocas, os corpos colados se esfregando na simulação do sexo. E não passariam disso, a curiosidade não ia alem das bocas e sabores extraterrestres. Ao menos, não agora.
Os lábios se descolaram e as línguas votaram aos respectivos donos. Megamind recuperando o fôlego, a caixa torácica subindo e descendo, Metro Man o olhando com um sorriso brincalhão no rosto e o cabelo desgrenhado. O corpo azul foi para trás, encostando-se a parede, ainda sentado nas pernas do herói.
A amargura em sua boca era deliciosamente má.
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