Wander E Os Colossos escrita por Victor A S S Vaz


Capítulo 3
Capítulo II - Aquela garota




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Wander sentia náuseas. Sentia-se perturbado, extremamente angustiado por um motivo, não sabia qual, a única coisa que sabia era que tinha algo importantíssimo pra fazer, não sabia o que. Seus olhos estavam imersos em uma névoa profunda, não conseguia ver nada, o chão em que pisava parecia estar se movendo. Então ele caiu, segurou-se em algo que parecia grama, e sentiu algo duro bater em sua perna esquerda. Automaticamente olhou para o céu, não se via nada além de um negrume infinito, nunca seus olhos haviam presenciado um céu tão escuro. Ele sentia falta de Agro, mas sabia que este não o poderia acompanhar neste momento. Uma voz chamava por seu nome, nunca ninguém havia chamado seu nome tão desesperadamente assim. Aliás, um número muito limitado de pessoas realmente sabiam seu nome, 2, ou talvez 3.

A névoa desapareceu um pouco, assim Wander conseguiu enxergar pelo menos um pouco do lugar onde se encontrava. O problema, foi que não viu lugar nenhum, viu apenas algo que pareciam sombras se movimentando em sua direção. Outra voz impossivel de se descrever sobrepunha sobre a outra que o chamava, pronunciando palavras indistinguíveis. Wander sabia que não haveria escapatória, até que em um momento, a voz que gritava seu nome pareceu dizer outra coisa, essa voz o confortava, deixava-o calmo diante de sua terrível situação, parecia estar perdida também, e cada vez parecia mais próxima. Mas as sombras chegariam antes... Não havia como escapar...

— Olá! Olá! Acorde!!

Os olhos de Wander se abriram de súbito. Até que se deu conta de onde estava, todo peso em seu coração desapareceu. Estava cercado por uma linda paisagem em frente à vista de sua vila, e não estava mais apoiado em Agro. Seus olhos rapidamente buscaram a voz que o acordara, olhou para a direita e para a esquerda, mas não achou nada.

— Aqui. — Disse a voz.

Wander olhou para traz, ficou surpreso de ver que quem o chamava era uma garota, tão jovem quanto ele. Tinha os cabelos escuros e longos, um rosto bonito, delicado e angelical destacado por um sorriso gentil. Ela sorria olhando para ele, com os olhos apertados, e acariciava Agro, que parecia muito alegre com a nova amiga.

— Você não devia estar nos estábulos? — perguntou a garota, sorrindo.

— Sim... Eu devia! — exclamou Wander, e fez menção em se levantar — Mas... Como você sabe disso?

— Eu não sei. — riu a garota. — Você tem um belo cavalo, como ele se chama?

— Agro.

— Bom garoto, Agro! — disse acariciando sua cabeça.

Ficaram um tempo em silêncio, Wander olhava deslumbrado para a garota.

— Mas... Mas, morei a minha vida inteira por aqui, eu nunca vi você. Quem é você? — perguntou Wander.

— Não consigo explicar quem sou eu, na verdade, acho que não faz muita diferença. Mas me chamo Mono. E você?

— Wander.

— Wander... — a garota soltou uma risada.

— Porque ri?

— Por nada. Seu nome me parece muito familiar, como se eu já o tivesse ouvido à muitos anos atrás.

— De alguma forma o seu nome também. — disse Wander com sinceridade. — Foi mesmo um prazer Mono, mas como você me lembrou, tenho que voltar para os estábulos.

— Então o peso da obrigação finalmente bateu em você... Eu ficarei por aqui mesmo. Foi um prazer. — Disse Mono, levemente. Com um sorriso no rosto.

— Sim. Adeus!

Wander montou em Agro, e os dois desceram juntos o caminho que levava de volta a Harahem. Seu corpo estava relutante, queria continuar com Mono, conhece-la melhor, não deveria tê-la deixado sozinha, mas sua responsabilidade falava mais alto, tinha deixado os estábulos desprotegidos por tempo demais.

Chegando, Wander amarrou Agro, e foi para seu quarto pegar o arco e flechas. Nenhum dos guardas da vila pareciam ter sentido sua falta, realmente apenas Emon se preocupava tanto.

Wander ficava naquele lugar contra a própria vontade, achava inútil ficar por um dia inteiro parado. Se preocupava com o sonho que tivera na noite passada, se preocupava com Mono.

Depois de comer, decidiu que não ia mais ficar lá por aquele dia. Montou em Agro e se dirigiu para o Sul, para o lugar onde tinha deixado Mono.

Cavalgando pelos campos verdejantes cheios de flores, de longe avistou a garota, estava sentada no mesmo lugar onde Wander adormeceu, com um sorriso no rosto como sempre.

— Oi. — disse Wander timidamente.

— Você voltou então? Fico feliz... Você sabe que não pode ficar por aqui não é?

— Sim, mas não me importo, guardei aqueles estábulos por 7 anos e nunca saí daquele lugar. — Wander desceu de Agro — Agora sem Lorde Emon por aqui ninguém se preocupa se faço meu trabalho ou não. Na verdade acho que nem sentem minha falta.

— Hum. Eu fico feliz por você deixar seu trabalho para me fazer companhia, e ter consciência de que é errado.

— Em todo esse tempo que entrei para guarda, não me lembro de nenhum espectro tentar invadir os estábulos, então, acho que não tem nenhum problema se eu deixá-lo por algum tempo. Então, você ficou aqui o dia todo?

— Fiquei. — respondeu sorrindo.

— E o que você fez?

— Fiquei sentada, observando o céu e a paisagem. Imaginando o quanto o mundo é bonito.

— Então, você quer descobrir mais da beleza do mundo?

— É o que eu mais desejo. — Disse Mono, suspirando.

— Vamos dar um passeio, nós dois montados no Agro. O que acha?

— E por que não disse isso antes? Vamos! — Mono levantou-se no mesmo momento.

Wander montou em Agro, e esperava que Mono montasse também, mas a garota era muito baixa para isso.

— Venha. — disse Wander, estendendo sua mão esquerda.

Com a ajuda, Mono subiu no cavalo, e agarrou-se nas costas de Wander, quando Agro disparou em direção ao horizonte infinito.

Wander e Mono não pararam de conversar por um instante. Ele se impressionou com o quanto os dois eram parecidos, Mono também não conhecia os pais e seu maior desejo era conhecer o mundo todo. Wander encontrara uma companheira para suas aventuras, finalmente.

Percorrendo os arredores de uma floresta, Wander desceu de Agro, e o puxava pela rédea enquanto Mono ia sozinha montado nele. Era um clima extremamente agradável, o vento fresco fazia seus cabelos esvoaçarem, e as folhas vermelhas e brilhantes das árvores iam de um lado para o outro enquanto os três percorriam seu caminho. Wander olhava para uma Mono, deslumbrada e sorridente.

— O pôr do sol está vindo. Wander, temos que voltar. — Disse Mono, séria.

— Por quê temos que voltar?

— Você não pode esquecer de suas responsabilidades, e eu tenho que voltar.

— Por quê?

— É-é... Não importa. Vamos! — Mono gaguejou.

Assim os dois voltaram para a vila. Entrando nos estábulos, os dois desceram de Agro e o amarraram.

— Tem certeza que não quer que eu a deixe em casa?

— Tenho sim, agradeço sua gentileza. Obrigado Wander, pelo melhor dia que eu já tive.

Mono abraçou Wander de súbito. Mesmo sendo muito inesperado ele retribuiu.

— Adeus. — Disse Mono rindo, e saiu.

— A...Adeus... — Disse Wander, sabendo que ela não ouviria, passando a mão no ombro onde fora abraçado. Ele não tinha dito, mas aquele também fora o melhor dia de sua vida. Ele procurou Mono com os olhos para ver em que direção ela iria, mas não avistou a garota em lugar nenhum. Tinha simplesmente desaparecido.

Na hora de dormir quando foi para o quarto, Wander se deitou, cobriu-se com seu grande cobertor negro, e antes de fechar os olhos, disse para si mesmo:

— Foi bom te conhecer, Mono.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!