Remus lutava contra a temperatura deitado em sua cama. Uma terrível nevasca caia sobre Londres quando o garoto se enroscou ainda mais no edredom. O pequeno cômodo alugado logo após sua saída de Hogwarts era a prova de que um rapaz de dezoito anos precisava dos cuidados da mãe, cheio de embalagens de comidas prontas dos trouxas e roupas sujas. Ninguém imaginaria que depois de ser considerado um dos mais brilhantes alunos da Grifinória o garoto agora estaria vivendo nesse lugar. Ou em tantos lugares. Não havia lugar fixo, e era um milagre que o rapaz estivesse por tanto tempo num só lugar, e perigoso também.

“Acho que já está bem crescido, não direi novamente que é perigoso que fique por ai. Já faz mais de dois meses, e não me venha com essa conversinha tola de Dorcas... Não precisamos que mais pessoas se machuquem. Não quero que se machuque.

Lily Evans.”

A carta estava embaixo do abajur. Ele a tinha guardado com carinho depois de um pequeno surto quando viu o que acompanhava a carta, um convite. O casamento de Lily e James. Os arrepios tomaram seu corpo, ele sentia uma enorme vontade de gritar e beirava a vontade de se jogar da janela, mas se conteve pela presença da namorada que o acompanhava no dia. Dorcas Meadowes, a loira, seu anjo de cabelos dourados e bochechas roseadas que ocupava o púnico porta-retratos no recinto.

A porta estava sendo espancada quando Mooney acordou assustado, a varinha em punho caminhou na ponta dos pés até a entrada.

-Quem está ai? –Perguntou num tom agressivo.

-Quem diabos estaria aqui? –A voz rouca respondeu. –Abre logo, estou congelando aqui fora...

Lupin abriu a porta e puxou Black com força para dentro. O amigo estava encharcado pela neve.

-O que esta fazendo vestido dessa forma a essa hora, vamos chegar atrasados. Ora essa parece que não sabe! Garoto lerdo... Parece até o Peter...

Remus entrou no banheiro sem responder a nada, ligou o chuveiro e se esgueirou na banheira que borbulhava a água quente pelo feitiço. Pensou em se afogar, talvez morresse sem ver a cena patética. Em um ano não conseguia se conformar, por mais que devesse. Afinal Dorcas era uma ótima namorada além de amiga. Estava sempre a seu lado, não era cheia de receios, topava tudo, aventuras e tudo mais, tinha entrado para a Ordem assim que Dumbledore a convocara, sem hesitações. Mas o trauma de Lily era ainda maior, mal conseguia lhe olhar nos olhos desde o primeiro beijo que vira entre o amigo e ela.

-A mocinha vai demorar muito ai dentro? -Black voltara a espancar a porta.

-Um homem não pode nem tomar banho em paz? –Remus abriu a porta já vestido e pronto para sair.

-E vamos de metrô... Acha que é a noiva... Tsc, tsc.  Esse negócio de se atrasar não é do seu feitio.

O pequeno jardim da casa dos Evans estava completamente adornado com flores por todos os lados, não só as que cresciam por ali, mas, algumas flutuavam em vermelho e dourado. Black que procurava pelo noivo espantava as flutuantes com as mãos impaciente. Lupin por outro lado tinha os olhos grudados na janela onde ele podia ver Lily sorrindo alegremente para seu próprio reflexo no espelho.

O coração de Remus estava apertado, ali ele estaria assinando por excelência a desistência em sua paixão pela garota de cabelos acaju. Os Marotos estavam reunidos perto do altar onde se realizaria a cerimônia. Potter vestido formalmente não tinha abandonado o despenteado. Lupin sorriu verdadeiramente ao ver o amigo feliz, mas aquilo não podia desfazer a tristeza em seu coração.

Lily sorria tanto que qualquer um que ali estava podia esquecer-se de tudo que se passava do lado de fora, da guerra, dos horrores, no momento em que ela aceitou se tornar Lilian Potter todos ao redor aplaudiram.

Já era noite quando os convidados mais apressados e amedrontados começaram a se despedir, então Mooney que conversava com os amigos foi interrompido por um pigarro feminino conhecido, Dorcas Meadows. A garota loira parecia ter acabado de sair de um furacão, os cabelos manchados de lama, e a longa capa preta igualmente suja estava molhada.

-Dorcas?- O garoto não pode deixar de esconder a surpresa no tom. –Pensei que não viria...

-Pensou que eu não viria? Você nem me disse que viria você menti... –Lupin calou a menina com a mão e a empurrou até dentro da casa. –Qual é o seu problema?- Dorcas disse pausadamente cada palavra.

-O que você esta fazendo aqui?

-O que estou fazendo aqui? O QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI?- Dorcas bufava. –Meu namorado desapareceu e quando consegui encontra-lo ele me pergunta, o que esta fazendo aqui? Você mentiu para mim, disse que passaria o dia com seus pais... Disse que não viria até aqui!

-Sirius...

-Sirius não manda em você! Você sabe muito bem o que quer, já é crescido o suficiente para saber o que é ou não bom para você... O que quer que eu pense? Você aqui no casamento dela?

-Dela quem? –Lily estava parada, apoiada no portal. –Dela quem Dorcas? Não entendi seu nojo ao ter que se referir a mim...

-Lily... –Remus tentou minimizar a tenção.

-Cala a boca Lupin! –Lily apontou o dedo na direção do amigo. –Me deixa esclarecer os fatos pro anjinho... Estou farta das suas intrusões, como membro da Ordem, achei educado convidar você, mas, pelo visto meu convite te feriu de alguma forma, não foi Meadows? Pois fique você sabendo que ele só esta aqui porque é meu amigo, amigo de James, e ninguém vai impedi-lo de se aproximar de nós. Ninguém vai nos separar, muito menos uma menina insegura e egoísta. –Meadows abriu a boca, mas logo fechou ao ser interrompida. - Não me importa onde esteve, nem o que lhe aconteceu hoje, você deveria ter aceitado o convite de bom grado, e ter acompanhado aquele que você tanto diz amar ao encontro daqueles que ele tanto ama. Nunca me afeiçoei a você, sínica e dissimulada.

E dizendo isso a noiva deu dois apinhas de consolo no ombro do amigo e se foi.

-Você vai ficar ai parado? Não vai dizer nada?

-Dorcas, você não é sínica nem dissimulada, mas, se você tivesse me contado que foi convidada teria facilitado muito as coisas... Vamos, você precisa de roupas secas, ou vai acabar doente.

Remus saiu sem dar apoio a namorada e a loira podia sentir falta de mais três palavras do garoto: eu te amo, e um abraço.