Fazia uma semana que Annabeth tinha recebido alta do hospital, o pai, a madrasta e os meios-irmãos de Annabeth já tinham ido embora faziam uns dois dias. E nesse tempo não tivemos sinal nem de Atena, ou de meu pai, Poseidon. Todos precisavam de um tempo depois dos últimos acontecimentos.

Em compensação durante essa semana que passou Thalia veio nós visitar como havia prometido. Ela até trouxe um presente para Josh, uma manta dourada que emitia um poder caloroso, ela se parecia com o velocino de ouro.

– Isso é para te manter aquecido e te proteger. – murmurou Thalia enquanto ela enrolava a manta em Josh e segurava meu filho ninando-o em seus braços, olhando para ele com ternura.

Obvio que eu não estava perto quando ela fez isso, ou se não ela nunca teria feito algo assim. Confesso que fiquei espiando os três, Annabeth estava junto com eles, porque eu estava curioso sobre qual o presente que Thalia ia dar a ele já que ela negou me contar ou me mostrar o que era.

Nem se quer eu podia imaginar que ela lhe daria uma manta e agiria daquela forma com Josh.

Foi nesse dia que Annabeth e eu decidimos que os padrinhos de Josh seriam Thalia e Albert, os dois aceitaram na hora. O meio-irmão de Annabeth ficou extremamente feliz que eu achei que talvez ele precisasse de uma cirurgia para tirar aquele sorriso do rosto.

Ainda íamos decidir que dia ia ser o batizado de Josh.

– Amor, fecha o fecho para mim? – pediu Annabeth virando de costas para mim balançando levemente a barra do vestido verde que estava usando.

Hoje era Sábado, meu penúltimo dia de folga. Infelizmente já tinha passado a semana de folga que eu havia me dado e não poderia me dar ao luxo de tirar mais algumas, pois haviam assuntos que somente eu poderia resolver.

Como o aniversario da Ashley tinha sido no sábado retrasado – com toda aquela confusão que teve em casa, a Annabeth indo para o hospital e tudo mais – a filha de Perséfone quis comemorar seu aniversario nessa semana para que tanto Annabeth quanto Josh pudessem participar avidamente.

Não sei o que ela quis dizer com avidamente, meu filho vai fazer nove dias de vida não sei qual seria a participação “avida” dele, mas Annabeth estava feliz e isso é o que me importava.

– Eu preferiria fazer outra coisa. – falei sorrindo marotamente.

Coloquei Josh no centro da nossa cama de casal e coloquei um travesseiro de cada lado dele, seus olhos curiosos tentavam absorver tudo a sua volta em uma nova perspectiva. Me levantei da cama e fui até minha esposa que riu divertida rolando os olhos.

– Não temos tempo para fazer outra coisa. – Annabeth se arrepiou quando toquei em sua nuca com os nos dos meus dedos descendo até o fecho do vestido. – Sua mão esta fria. – fechei o vestido e dei um beijo em sua nuca. – Vou pegar o presente da Ashley e você pega a mochila de Josh, tudo bem?

– Sim senhora. – falei batendo continência fazendo a rir.

Pisquei para ela e lhe roubei um selinho antes dela sair do quarto. Fui até a nossa cama e pegue i meu filho com cuidado aconchegando-o em meus braços. Ele abriu a boca em um sorriso banguela com os olhos fechados.

Depois de pegarmos tudo que precisávamos estávamos prestes a sair quando a campainha do apartamento tocou. Annabeth e eu trocamos olhares confusos, mas logo minha mulher passou a língua devagar sobre o lábio inferior que atraíram imediatamente meus olhos.

Respirei fundo. Eu sei que ela não fez isso para me provocar, mas mesmo assim isso surte efeito imediato em mim.

– Talvez seja algum Deus. – falou ela olhando para a porta.

– É. Talvez. – concordei indo até a porta deixando a mochila de Josh e o presente de Ashley em cima do sofá enquanto Annabeth se sentou nele começando uma brincadeira com Josh colocando ele em cima de suas pernas.

Sempre que recebíamos a visita de algum Deus, o que era algo raro se não contarmos os nossos pais, eles vinham sem avisar nem ao porteiro do prédio. Ainda me pergunto como eles simplesmente não aprecem no meio da nossa sala.

Assim que olhei pelo olho magico me assustei não esperando ver justo eles aqui.  Abri a porta.

– Pai. Atena. – falei fazendo uma leve reverencia a eles e foi quando eu notei outro Deus com eles, um que eu não conhecia, mas eu sabia que era um Deus porque como todos os Deuses ele emanava uma grande áurea de poder.

– Sou Hefesto. – falou o outro Deus sorrindo levantando uma mão.

Eu não pude evitar de minha boca se abrir em choque. Aquele ali definitivamente não batia nem um pouco com a lembrança que eu tinha do Deus dos ferreiros, ele estava o completo oposto daquele Deus.

Como diria algumas mulheres e homens também. Um completo Deus Grego.

Atena, meu pai e Hefesto, se era mesmo ele, riram da minha cara.

– Mãe? – a voz duvidosa de Annabeth soou atrás de mim e com um pequeno empurrão dela fui mais para o canto da porta dando a ela visão para o lado de fora. – Poseidon. Hefesto. Que bela surpresa.

Aquele ali é mesmo Hefesto? Isso é serio? E como Annabeth sabe disso?

Senti uma pontada na barriga. Annabeth me olhava reprovadora mente, Josh em seu colo olhava constantemente para mim e sua mãe. Tentei me recompor enquanto que os três Deuses ainda tinha sorrisos no rosto.

– Pegue leve com ele. – falou Hefesto dando de ombros despreocupadamente. – Todos ficaram surpresos ao verem o novo Hefesto.

– Me desculpe. – pedi fazendo uma reverencia a ele também.

– Que nada. Hoje o dia é alegria. – disse Hefesto sorrindo.

Balancei a cabeça para colocar os pensamentos no lugar. Esse Hefesto estava, muito, mais muito, muito mesmo, diferente daquele Hefesto que eu havia conhecido. Um diferente bom, mais legal e extrovertido.

Seja lá o que tenha acontecido para esse Hefesto “surgir” foi algo bom.

– Viemos aqui em paz. – falou meu pai abrindo um sorriso de canto e pegando na mão de Atena que por incrível, e impossível, que pareça ela entrelaçou seus dedos com os dele.

– Totalmente. – disse a Deusa sorrindo levantando as mãos dos dois juntas.

Mais uma vez minha boca se escancarou, agora eu estava completamente em choque.

Eu acho que essa manha eu devo ter acordado em um mundo paralelo em que todos os Deuses estão ao contrario, só pode.

Hefesto esta completamente mudado, corpo, personalidade, tudo. Parece que aquele Deus que andava mancando por ai preferindo maquinas a pessoas, armar armadilhas para flagrar Ares e Afrodite e depois mostrar para quem quisesse ver, se você morasse no Olimpo claro, tinha sido abduzido e colocado um clone melhorado em todos os aspectos.

E ai me vem meu pai e minha sogra sorrindo juntos e dando as mãos sem mais nem menos. Nem uma discussão, xingamentos, ameaças de uma ida para o Tártaro dolorosa. Ao contrario eles estavam SORRINDO E DE MÃOS DADAS.

– Como assim? – me ouvi perguntando incrédulo.

– Que tal deixar isso para depois. –começou meu pai sem tirar o sorriso do rosto.

– E deixar-nos segurar um pouco nosso neto que a gente nem teve o prazer de conhecer direito. – continuou Atena.

Eu ainda estava catatônico com tudo que estava acontecendo, mas Annabeth não.

Senti ser puxando para dentro do apartamento e minha esposa convidou os Deuses para entrar. Os próximos minutos foram silenciosos para mim, apesar deles estarem conversando eu não conseguia ouvir nada e só os acompanhava com o olhar.

Vi Atena pegar Josh no colo e sentou no sofá. Meu pai se sentou de um lado dela e Hefesto do outro. A mãe de Annabeth beijou e brincou um pouco com Josh antes de passa-lo para meu pai que fazia caretas para seu neto. Quando meu filho deu uma gargalha gostosa meu pai o passou para Hefesto.

O Deus dos ferreiros pegou meu filho com maestria, porem ficou pouco tempo com ele no colo e logo devolveu meu filho para os braços da avó que colocou Josh deitado sobre suas pernas dando visibilidade para todos ao seu lado.

Tudo na completa tranquilidade e paz.

Meus olhos se fecharam automaticamente quando algo se projetou na minha frente. Senti a agua em meu rosto e balancei a cabeça fortemente abrindo os olhos.

Annabeth olhava para mim rindo. E ela tinha um copo em mãos.

– Não precisava disso. – Annabeth me olhou cética ainda com o sorriso no rosto. Rolei os olhos. – Que seja. –resmunguei e voltei meus olhos para os Deuses e meu filho no sofá se divertindo. – Isso é muito surreal.

– Concordo. – disse Annabeth me abraçando de lado descansando sua cabeça em meu peito. – Mas é um surreal muito bom e isso graças a você. – Annabeth tocou em meu rosto me fazendo olha-la. Seus olhos cinzas estavam brilhando. – Obrigada.

– Hum. – dei de ombros não sabendo bem o que lhe dizer. Eu ainda me sentia entorpecido por tudo que nem tinha ligado o fato que tudo isso poderia estar acontecendo porque eu “explodi” dias atrás.

– Tomara que isso dure. – falou minha esposa virando o corpo olhando de frente para o sofá. Passei meus braços por sua cintura a abraçando por trás.

– Tomara. – concordei dando um beijo em cima de sua cabeça. – Aproposito Sabidinha. Porque não ficou surpresa com Hefesto?

– Eu já sabia. – respondeu ela simplesmente. – A gente sempre conversa quando eu ia para o Olimpo vistoriar as reformas. Há mais ou menos um ano ele falou que iria fazer essa mudança.

– Porque nunca me contou?

– Ele pediu segredo. Queria que tudo estivesse como ele queria até ele mostrar para todos. – senti uma mudança no tom de voz de Annabeth quando ela falou “todos”.

Parece que esse “todos” queria dizer alguma pessoa, ou mais de uma, em especifico.

Acabei me lembrando de Afrodite e Hera. Eu aposto que Hera deve estar feliz, o imperfeito da família estava mais do que perfeito agora, mas o que será que a Deusa do Amor pensa dessa nova e melhorada mudança do marido?

– Acho melhor irmos. – disse Atena de repente.

Meu pai logo ficou de pé e estendeu os braços para Atena. Minha sogra passou Josh para meu pai que segurou ele no alto, com os braços completamente esticados e fazia diversas caretas para meu filho que ria alegremente.

– Mas vocês acabaram de chegar. – falou Annabeth tirando meus braços de sua cintura.

– Sim, mas vocês não estavam indo para uma festa quando chegamos de surpresa? – perguntou Hefesto sorrindo se levantando do sofá.

Ele estendeu uma mão para Atena que com um sorriso de cato agradeceu e aceitou a ajuda dele para levantar me deixando surpreso. Eu tenho que parar de ficar surpreso com essas novas atitudes desses Deuses.

Depois de pegarmos tudo que precisávamos fomos, os três Deuses também, até o apartamento de Ashley e Anthony, pai da Ashley. Apesar de Nico e Ashley já terem planejado morar juntos no apartamento que Nico tem o pai de Ashley foi contra dizendo que só depois que eles casassem ele permitiria algo assim.

Não julguem mal Anthony Baron, ele é um professor de historia muito legal, mas ele gosta de pegar no pé de Nico sempre que pode de uma maneira bem divertida que deixa o filho de Hades sempre constrangido e mais vermelho que um pimentão.

E também Anthony não se importa se Ashley passa algumas noites no apartamento de Nico, mas mudança definitiva só quando eles se casarem.

Me senti um pouco desconfortável enquanto esperávamos o elevador chegar no andar do apartamento de Ashley. Era estranho ter três Deuses junto com a gente indo para uma festa.

O bipe do elevador soou anunciando a chegada no nosso andar. Annabeth e eu fomos à frente enquanto que Atena que carregava Josh vinha logo atrás com meu pai ao seu lado. Hefesto era o ultimo.

A porta já estava aberta e como Ashley mesmo havia pedido entramos no apartamento de onde vinha o som de uma musica estilo pop-rock em um volume não muito alto para não perturbar os vizinhos, muito.

– Ei, os Jackson estão aqui. – ouvi Connor gritar de algum lugar do apartamento.

Não pensem que Ashley e seu pai morem em um apartamento pequeno. Originalmente ele era, mas o pai de Ashley comprou o apartamento ao lado do deles e destruiu a parede que os separava e depois de uma intensa reforma, orquestrada por Annabeth, o apartamento ganhou muito espaço e no momento estava cheio de amigos da Ashley, meio-sangues e mortais.

Logo vi Ashley vindo em nossa direção sorrindo com Nico em seu encalço.

– Percy, Annabe... – Ashley parou nós olhando confusa percebendo que nem eu nem Annabeth estávamos com Josh no colo.

Eu só estava carregando a mochila de Josh e Annabeth o presente de Ashley.

Os olhos de Ashley foram para a porta quando um dos Deuses bateu três vezes na porta anunciando a presença deles.

Os próximos segundos pareceu aquele momento final de um flash mob.

Sentindo o poder dos Deuses atrás da gente. Todos no apartamento que eram meios-sangues olharam para a porta e ficaram estáticos assim como eu tinha ficado mais cedo olhando para os três Deuses e Josh na porta.

Foi legal ver como os amigos mortais de Ashley ao mesmo tempo que ficaram admirados com a presença dos Deuses na porta ficaram confusos com a reação de todos com a chegada deles.

– Temos que nós acostumarmos com isso não é Ateninha? – falou meu pai sorrindo.

Vi os olhos de Atena faiscarem perigosamente. Eu já estava esperando ela tomar alguma atitude da velha Atena, mas o contrario aconteceu de novo e não chega nem perto do que qualquer um possa imaginar.

– Não só vocês dois. – disse Hefesto colocando um braço sobre os ombros de Atena de forma reconfortante, como um aviso.

A Deusa da sabedoria e estratégia em batalha respirou fundo e sorriu assentindo e eu me juntei aos outros meio-sangues presentes ficando estático, mais uma vez, com esse tipo de relacionamento, completamente novo, entre Atena  e Hefesto.

Definitivamente eu estava em um mundo paralelo em que os Deuses tinham a personalidades completamente contrárias.