Passei o resto da noite pensando no que tinha acontecido depois que o cara me contou sobre o seu plano de pedir Annabeth em casamento.

Eu não podia permitir que ela se casasse com ele. Se eu não fizesse alguma coisa Annabeth com certeza aceitaria o pedido dele. Por mais que eu odiasse admitir isso, eles pareciam realmente felizes juntos e o cara era um cara legal.

Mas eu recebi uma segunda chance com tudo que eu tinha direito na minha vida. Uma segunda chance para acertar o grande erro que eu cometi no passado. A chance de ter a mulher que eu sempre amei comigo de novo e agora teríamos nossa filha com a gente.

Que louco deixaria uma coisa dessas passar para sofrer mais uma vez?

Eu podia a fazer mais feliz do que o Will poderia porque Annabeth me amava, me ama, eu tenho certeza disso e varias pessoas concordariam comigo nisso. Ela pode ser boa em esconder seus sentimentos, mas havia momentos em que nem ela conseguia disfarçar.

Eram por volta das 10 da manhã quando quase todos nós reunimos para tomar café da manhã na sala de jantar antes de começarmos os preparativos para irmos embora.

O animo de todos na mesa estavam mais pesados que o sol. Parecia que se tocássemos em qualquer assunto envolvendo todos poderia ser perto demais desse “sol” e acabaríamos causando uma catástrofe sem precedentes.

O café foi silencioso demais para a quantidade de pessoas que estavam em volta da mesa, até a empregada que estava trazendo as coisas do café parecia incomodada com o clima entre todos nós que tinha até medo de dar o sorriso costumeiro que ela sempre tinha no rosto quando ficávamos aqui.

Nico encarava Luke com uma certa raiva – parecia que ele queria matar Luke –, este nem ligava para Nico e se concentrava em falar com Thalia que parecia estar bem desconfortável com o aparecimento de Luke aqui, algo me dizia que esse Luke era o cara que o cara tinha comentado quando conversou com Nico a primeira vez que esteve no meu apartamento.

Charles parecia muito inclinado a sair da mesa do café da manhã, mas manteve uma conversa amigável com meu pai e Paul.

Annabeth parecia muito desconfortável com a presença do cara e a minha em um mesmo ambiente, os olhares nada amigáveis que trocávamos e o fato de estarmos sentados de frente um para o outro só piorava ainda mais a situação pelo jeito.

Ela só não saiu da mesa porque Thalia parecia que a tinha impedido, lhe lançando olhares de pedidos de ajuda a cada momento. Eu não sei por que Thalia não dava um passa fora nesse Luke e saia da mesa, livraria varias pessoas do atual desconforto.

Minha mãe, Emma e Silena estavam com as crianças – Nina, Damon e Katherine – e Sebastian na área da piscina tomando o café lá. As crianças queriam se despedir da piscina, vai entender.

Parecia um alivio quando todos terminamos de tomar café e cada um foi preparar suas coisas para irmos embora depois do almoço. Antes de sair vi que Annabeth cochichou alguma coisa no ouvido de Thalia que lançou um olhar significativo para Nico.

Quando estava subindo as escadas para ir ao meu quarto vi minha mãe entrando pela porta da frente. Olhei ressentido em sua direção parando de subir as escadas.

– Obrigado por me avisar sobre as visitas. – saiu mais ríspido do que eu queria.

–Oh meu filho, me desculpe. – disse ela vindo em minha direção. – Eu tinha me esquecido completamente de que eles viriam e também como eles disseram que só chegariam de madrugada não me importei muito em contar na hora. – ela tocou em meu rosto carinhosamente me olhando atentamente. – O que esta lhe aborrecendo, Percy? Não pode ser só pela visita de Will e seu amigo, Luke.

– E não é. – falei por entre os dentes me lembrando do que o cara me disse. Fechei as mãos em punho com força. – Will vai pedir a Annabeth em casamento, mãe.

– Deus! – ela colocou uma mão sobre a boca espantada pela noticia. – O que você vai fazer?

– Eu não quero perder a Annabeth de novo, mãe. – sentei em um degrau da escada e minha mãe logo se postou ao meu lado fazendo carinho em meu cabelo. – Todos esses anos parecem que não modificaram em nada o que eu sinto por ela, pelo contrario, parece que só aumentaram em proporções inimagináveis.

– Eu sempre soube disso, filho. Nesses meses você demonstrou como ainda é o bom Percy que ela sempre conheceu e se mostrou um grande pai para Nina. Eu vou te dizer uma coisa. Lute por ela, prove para ela que esta disposto a tudo para tê-la novamente. – minha mãe me aconselhou e por fim deu um beijo em minha testa. – Não perca mais tempo, fale com ela o quanto antes. Sei que Annabeth ainda o ama, intuição de mãe nunca falha.

– Estou contando que ela nunca falhe mesmo. – falei dando um curto sorriso que logo sumiu de meu rosto. – Mas o cara não sai de perto dela, não posso falar na frente dele. Tem que ser somente nós dois. Somente Annabeth e eu.

– Deixa comigo. – disse minha mãe com a voz soando muito divertida. Olhei em sua direção e vi que ela tinha um sorriso maroto no rosto. – Acho que devo isso pelo meu esquecimento sobre eles. Vou dar um jeito de você conversar a sós com sua amada.

– Você é a melhor mãe do mundo. – falei sorrindo dando um estalado beijo em sua bochecha.

– É o que sempre me dizem. – disse ela fingindo estar indiferente e depois sorriu.

Minha mãe sentou dois degraus a cima e me puxou minha cabeça para o seu colo fazendo carinho em minha cabeça. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas o silencio não durou muito tempo.

– PAPAI! – o grito desesperado da minha filha fez eu levantar assustado do caolho da minha mãe que também estava assustada pelo grito de sua neta.

– NINA! – gritei saindo correndo para fora da casa de onde vinha o grito da minha filha com minha mãe logo atrás de mim.

Escutei barulhos vindos da piscina e minha filha gritando algo sobre parar me deixando muito preocupado com ela. Eu estava temendo o que poderia estar acontecendo com minha filha.

Quando cheguei lá por um curto momento suspirei aliviado em ver que minha filha estava bem, mas assim que seus olhinhos verdes olharam para mim vi que ela estava chorando e apontou para a sua frente.

Segui com o olhar em direção ao que ela apontava e vi Nico e Luke trocando socos e chutes perto da piscina. Os dois estavam com os rostos vermelhos e sangrando. Nico tinha um corte no supercilio que sangrava e Luke estava com o nariz sangrando e provavelmente quebrado.

– Separa eles, papai. – pediu Nina correndo para o nosso lado. Minha mãe pegou Nina no colo enquanto eu fui interferir na luta de Nico com Luke.

– Eih, parem vocês dois. – empurrei Nico para o lado e depois empurrei Luke afastando os dois. – Parem, estão assustando minha filha.

– Que se dane, esse cadáver vai me pagar. – urrou Luke antes de avançar para cima de Nico me empurrando para o lado.

– Você não aceita o fato de que a perdeu. Supere isso e continue sua vida longe dela. – disse Nico com um sorriso debochado no rosto. Eu tive que me afastar se não eu ia acabar levando um soco de cada um deles.

Eu precisava de ajuda, sozinho eu não conseguiria separa-los sem que eu levasse uma surra também. A onde esta Sebastian com suas aparições repentinas num momento como esse?

– LUKE, NICO PAREM COM ISSO. – gritou Will vindo em nossa direção, mas nem Nico nem Luke deram ouvidos a ele e continuaram suas trocas de carinhos nada carinhosos.

– Segura o Luke que eu seguro o Nico. – falei e Will assentiu.

Nós dois nos colocamos em frente aos dois separando eles e eu quase levei um soco de Nico, mas eu acabei levando um soco de Luke e Will caiu na piscina.

Luke tinha conseguido se esquivar de Will jogando o cara na piscina e acabou acertando um soco nas minhas costas, perto da nuca. Só levei esse soco porque fui pego desprevenido.

Pressenti o próximo movimento de Luke e me abaixei fazendo Nico se abaixar também ou levaria mais um soco na cara. Para a minha sorte Sebastian chegou e prendeu os braços de Luke de modo que ele não pudesse se mexer.

– Desculpe pela demora. – disse Sebastian com tranquilidade e parecendo estar tranquilo também. Não sei como esse cara consegue ficar tranquilo em uma hora dessas.

– Não Nico. – Nico tentou avançar para cima de Luke, mas intervi empurrando ele para trás. – Qual o problema de vocês? – perguntei exaltado olhando para os dois consecutivamente. Passei a mão em cima de onde Luke tinha me acertado. Canalha, isso estava doendo.

Olhei em direção a minha mãe e minha filha e vi que Nina estava com o rosto escondido na curva do pescoço de minha mãe e pelo movimento de seu tronco dava para ver que Nina estava chorando, o som abafado por estar com o rosto escondido.

Agora eu estava com vontade de socar esses dois por fazerem minha filha chorar assim. No Luke eu bateria mais, ele me acertou um soco por trás.

– Isso não é da sua conta, Percy. – disse Luke raivoso tentando se soltar de Sebastian, mas o mordomo de Annabeth parecia não ter nem uma dificuldade em manter Luke preso. – Me solta Sebastian, isso não tem nada haver com vocês.

– Tem haver sim. – falei bravo me virando para encarar Luke nós olhos. – Vocês estão na minha casa, vocês assustaram a minha filha. Isso tem tudo haver comigo.

Will saiu da piscina atrás de Sebastian com uma mão na cabeça e parecendo estar com dor. Sangue escorria por sua mão e braço que estava apoiando na cabeça fazendo uma poça de sangue e agua no chão.

– Ah meu Deus. – o grito agudo de Silena denunciou a chegada dela e das outras pessoas.

– Vai para dentro com nossa filha, Silena. – disse Charles passando Katherine para o colo da mãe que logo assentiu pegando a pequena e escondendo o rosto dela o colocando contra o seu peito para que ela não visse a cena.

Emma correu para socorrer Will que acabou deitando no chão ainda pressionando sua cabeça enquanto que Damon correu em direção a minha mãe e Nina. Minha mãe colocou Nina no chão e eu vi que o rosto de minha filha estava vermelho de tanto chorar.

Uma coisa que eu queria nunca mais ver, senti meu coração pesar mais do que uma bola de boliche ao vê-la assim.

Thalia logo puxou Nico em direção a casa gritando com Luke para ficar longe, meu pai seguiu os dois. Depois da ordem de Annabeth Sebastian soltou Luke e correu para dentro de casa.

– Pode leva-los para dentro, Sally? – perguntou Annabeth e minha mãe assentiu saindo da área da piscina falando palavras de consolo para Nina junto com Damon que segurou a mão dela. Paul logo a seguiu e Charles se postou ao meu lado com os braços cruzados sobre o peito.

Charles era um armário, ele sempre foi assim. Todos tinha medo quando ele se aproximava com sua cara de poucos amigos o que torna cômico quando ele brinca com Katherine – eu tenho uma foto dele com o rosto todo maquiado quando Katherine quis brincar de maquiar, ela maquiou Silena também que ficou toda derretida pela filha estar fazendo isso, e ele me ameaçou de morte se eu mostra-se essa foto para alguém – e seu lado romântico com Silena.

– Você esta bem? – perguntou Annabeth preocupada. Percebi que eu ainda fazia massagem abaixo da nuca. Tirei a mão rapidamente de lá.

– Sim. – falei dando um sorriso de canto.

Sebastian voltou segundos depois trazendo com sigo dois kits de primeiro socorros e passou um para Annabeth e outro para Emma.

Emma cuidou do cara que parecia ser o mais grave e ela como sendo medica era a melhor indicada. Annabeth limpou os ferimentos de Luke que além do nariz tinha um corte nos lábios.

– Vai doer. – alertou Annabeth colocando o dedo indicar e o polegar no nariz de Luke. Ambos estavam sentados em uma das espreguiçadeiras na beirada da piscina.

– Pode ir. – a voz de Luke saiu esganiçada.

Ouvi um pequeno crec e Luke soltou um gemido de dor. Eu sei que não deveria rir da desgraça dos outras, mas foi impossível não sorrir com isso. O cara mereceu e merecia mais.

– Não deveria rir. – disse Charles, mas ele também estava com um sorriso no rosto.

– Eu preciso leva-lo para o hospital. – disse Emma terminando de colocar um curativo na testa de Will. Annabeth imediatamente deixou Luke e seus resmungos de lado e foi para o lado do cara. – Will bateu forte com a cabeça na piscina. Ele vai precisar levar pontos e eu quero fazer alguns exames nele para ver se não vai ter nem um problema futuro com isso.

– Não podemos dar nada para dor a ele? – perguntou Annabeth com o rosto triste olhando para o cara que estava fazendo diversas caretas de dor.

– O melhor seria levarmos ele direto para o hospital, lá poderei medica-lo mais corretamente do que aqui. – respondeu Emma e o cara soltou um gemido frustrado.

Ficou decidido que Sebastian, Charles e Emma iriam para a cidade imediatamente levando Luke e Will com eles. Annabeth queria ir junto, mas como o cara argumentou que ela deveria ficar com Nina que estava assustada, ela resolveu ficar.

Damon ficou com a gente, o menino não quis sair de perto de Nina e também o carro já estava cheio, só iriam em um carro agora, então era melhor assim já que todos iriam direto para o hospital e só depois iriam para suas respectivas casas, seria ruim para o menino ir junto.

Minha mãe, Paul e meu pai estavam no escritório conversando com Thalia e Nico sobre o recente acontecimento. Seria muito hilário estar lá nesse momento, mas infelizmente fui proibido de entrar.

Silena, Annabeth, eu e as crianças estávamos na sala de vídeo assistindo um filme para distrair um pouco a cabeça das crianças enquanto o almoço não ficava pronto. Estávamos assistindo O Lorax: em Busca da Trúfula Perdida.

Até que a animação era legal e isso estava fazendo bem as crianças e as fez dormir antes do filme chegar ao final, então estava ótimo.

Antes de virmos assistir o filme Annabeth contou um pouco da historia romântica complicada entre Luke e Thalia em Atenas, os dois viviam em um relacionamento ioiô. Até o cara que era amigo de Luke não colocava fé no relacionamento deles.

Então Thalia era o motivo da briga de Nico com Luke. Melhor aquela punk dar valor ao meu primo, ele não merece sofrer por ela mais uma vez e aquele Luke parece ser um idiota.

– Pelo jeito dormiram. – a voz da minha mãe me assustou. Ela estava parada do lado da porta.

– Prendeu com Sebastian a aparecer assim? – perguntei e isso fez nós adultos rirmos, baixinho para não acordar as crianças.

– Ele é um ótimo professor. – disse ela se aproximando do sofá me lançando um olhar significativo. Não levei muito tempo para entender o recado.

– Hurum. Annabeth, posso conversar a sós com você um minuto? É importante. – pedi. Ela me olhou com o cenho franzido.

– Pode ir se quiser. Eu ajudo a Silena a olhar essas crianças dorminhocas lindas. – disse minha mãe gentilmente com um pequeno sorriso no rosto.

– Podemos pintar os rostos deles e tirar fotos. Quando acordarem será um fofura ver as expressões deles. – disse Silena entusiasmada e minha mãe assentiu.

– Acho mais seguro ir com você do ficar com essas duas aqui. – disse Annabeth olhando para mim fazendo eu sentir uma enorme felicidade. – Coitada das crianças.

Saímos da sala de vídeo rindo, mas meu sorriso logo desapareceu quando fui surpreendido por um murro bem forte na barriga. Olhei para o ser que fez isso e me deparai com Thalia e Nico logo atrás dela. Este se segurava para não rir.

Não porque ele não queria rir na minha frente – longe disso, ele adora rir da minha cara – e sim porque ele estava sentindo dor quando tentava rir. Bem feito.

– Mas o que...

– Isso foi por ter deixado Luke vir aqui e não ter me contado. – disse Thalia raivosa e sem mais nem menos, mais uma vez, me deu um soco no ombro.

– Foi minha mãe que recebeu a ligação e para de me bater. – falei por entre os dentes.

– Eu sei, mas na sua mãe eu não posso bater. – disse Thalia dando de ombros me fazendo bufar. Essa mulher era fora de serie.

– Vamos, Thalia, não é para tanto. Percy não sabia que eles viriam. – me defendeu Annabeth.

– Disso eu também sabia. – disse ela sorrindo e piscou pra gente antes de sair com um Nico que ria e gemia de dor ao mesmo tempo.

– Creio que Thalia não faria falta a humanidade se ela eventualmente ficasse a sete palmos de baixo da terra. – falei massageando o meu ombro. A Thalia tem uma ótima direita.

– Talvez não a humanidade, mas ao Nico sim. – disse Annabeth divertida.

– Hum, mas ai ele teria chance de conhecer uma garota menos... Thalia. Tenho certeza que seria muito melhor para ele, pra mim com certeza seria. – falei com ar sonhador e Annabeth abriu um pequeno sorriso.

– Você esta bem? – perguntou ela me olhando atentamente e eu assenti fazendo pouco caso. – Ok, quer conversar em algum lugar em particular? Um em que Thalia não te bata. – fiz careta. Thalia não é uma boa garota, nunca foi e pelo jeito nunca será.

– Vamos à sala de jogos. – falei e ela concordou.

Respirei fundo. Tudo tinha que dar certo pelo amor de Deus.