Acordei suando frio.

Antes de mais nada, me levantei e comecei a examinar a parte de trás de minha cabeça. Ela estava latejando, como se realmente tivessem batido em mim. Quando tive certeza de que estava tudo bem, abaixei a cabeça, bufando. Asaye apareceu de cabeça para baixo, pendurada na cama de cima.

- Ulqui, você tá bem? - Ela perguntou - Você tá pálido...

- Eu sou pálido, Asa-san - Falei, olhando para a janela do lado. Estava escuro - E eu tô bem sim... Que horas são?

Asaye olhou para a janela.

- Quatro da manhã - Ela disse. Asaye era ótima em ver as horas só de olhar para as estrelas. Apenas os monstros que não foram criados em cativeiro sabem fazer isso - Até que está bem cedo...

- Hoje é quinta, né?

- É...

Toda a quinta, éramos obrigados a acordarmos cinco da manhã. Regras do circo. Mas o público costumava aparecer lá para as três horas da tarde. " A Orihime! " lembrei de repente " Ela vem hoje... ".

- Soube que você falou com uma humana - Asaye disse - É sério?

Fiz com a cabeça que sim.

- Ela volta hoje

- Hum... Ah! Cuidado com os chifres!

Isso mesmo. Eu posso não ter dito isso antes mas, eu tenho chifres. Até que eles estavam menores, por que quando eu era pequeno eles eram tão grandes que Sorae os chamava de " galhadas ". Comecei a me lembrar de Sorae. Ela era muito pequena quando nos separamos, deveria ter 5 anos. Mas... Será que ela tinha morrido mesmo? Ou estava viva, sofrendo em outro circo? Estremeci ao pensar nesse assunto.

- E-Eu vou ficar mais um pouco - Falei, me jogando novamente na cama.

- Ok então - Asaye disse, voltando para a cama dela - Boa noite, Ulqui

- Boa... Noite...

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As horas se passaram muito devagar.

Parecia uma eternidade. Quando todos começaram a chegar, fiquei aliviado. " Ótimo " pensei, olhando para todos com atenção " Orihime... Orihime... Onde está a Orihime... ? ".Vi várias outras ruivas, mas nenhuma era Orihime. Nenhuma tinha cabelos lisos e muito mais claros, com duas presilhas de flores cinzentas. Nenhuma delas tinha aquele olhar perdido dela. Nenhuma.

- Ulqui - Asaye disse - Vamos. É a nossa vez...

Entrei, aguentei as chicotadas de sempre e fui para a droga do show. Nada da Orihime. Aguentei mais tomates, xingamentos e chicotadas. Nada da Orihime.

- Eu sinto muito, Ulqui - Asaye disse - Ela não vem

" Ela não vem ". Ouvir isso dói muito. Eu estava tão ansioso para encontrá-la... Mas... " Ela não vem ". Fui para a maldita gaiola novamente. Orihime não vinha mesmo. Já tinham se passado algumas horas. Quando vi, meu turno da noite já tinha acabado e eu já estava no quarto. Quando eu tinha desistido mesmo, ouvi algo caindo a alguns metros do quarto.

- G-Gomenasai! - Aquela voz... Era a... Orihime! Me virei e a vi. A própria. Orihime estava sentada no chão, com uma bolsa enorme jogada ali perto.

- O... Rihime-san? - Perguntei. Ela levantou a cabeça.

- Ah! U-Ulquiorra-san... - Ela se levantou e agarrou a bolsa - E-Eu queria fazer uma surpresa

Corei um pouco. Ela tinha aparecido aquela hora da noite, na porta do quarto só pra me ver? Tentei disfarçar um pouco o meu nervosismo.

- E-Entra, Orihime-san... - Falei, tentando ignorar novamente o nervosismo. Aí, a minha ficha caiu novamente. De repente, percebi o que estava fazendo. Eu estava convidando uma garota para entrar naquele barraco nojento onde vivíamos! " Oh merda " pensei " Ooooh, MERDA! ". Mas, Orihime não estava nem aí. Ela parecia não ligar se eu morava ou deixava de morar em um barraco cheio de feno. Ela só se sentou em um bolinho qualquer e sorriu intensamente para mim.

- Ah, e eu trouxe isso - Orihime disse, mexendo na bolsa. Ela retirou de lá uma embalagem com deliciosos e cheirosos... Pães! Fazia muito tempo que eu não comia um desses! O dono do circo só nos dava lavagem e olhe lá. Depois, ela tirou outra embalagem, mas eu não conseguia ver o que era. Fiquei algum tempo só olhando para aqueles pães e babando. Quando Orihime percebeu que eu tinha parado de piscar, eu voltei ao normal.

- A-Arigato... - Falei, um pouco vermelho - N-Não precisava...

- Eu já sabia que não cuidam bem de monstros no circo - Orihime disse. Era uma das primeiras vezes que tinha escutado ela falar normalmente, sem gaguejar nenhuma vez - Então, eu achei que estivesse com fome...

Quando fui pegar a outra embalagem, sem querer, encostei na mão esquerda de Orihime. Quando levantei a cabeça, nossos olhares se encontraram. Fiquei um tempo olhando fixamente para ela e vice-versa. Aí, a ficha resolveu cair novamente. Nós dois coramos.

- Err... A-Arigato novamente... - Falei, muito nervoso. Ela estava transpirando.

- D-De nad-nada... - Ela voltou a gaguejar. Orihime tirou o queijo da embalagem. Ficamos comendo sem falar nada por um tempo, até que resolvi quebrar o gelo :

- T-Tá frio hoje...

Orihime olhou para mim e deu outro sorriso.

- É... - Ela respondeu, ainda muito nervosa - B-Bem frio...

Então, ficamos quietos novamente.

- O-Orihime... - Falei, meio nervoso - E-Eu...

- AH! Que droga! - Uma voz estranhamente familiar disse - Meu rabo não quer ficar no lugar!

Rabo? Oh oh. Não era boa coisa. A única pessoa que eu sabia, no circo inteiro, que tinha um rabo era a...

- A-Asaye... ?