(PV. Milly)

A voz desafinada de Danielle ecoava pelo local, enquanto ela cantava Katy Perry. Meus ouvidos já doíam, e eu havia perdido a conta de quantas vezes eu a mandei calar a boca. Eu agradecia ao Quíron por ter me dado o livro de nossas antepassadas, pois só assim para me distrair, e, não agarrar o pescoço da filha de Apolo e matá-la ali mesmo.

“... Éris junto com Hécate, haviam feito um feitiço, para que as três guerreiras conseguissem voltar de volta ao mundo dos vivos, e assim continuar a espalhar a discórdia...” Eu lia o trecho do livro, o que me fez arregalar os olhos. Deuses eu precisava conversar com as meninas.

– Dannyh, eu to saindo. – Falei indo em direção a porta, escutei ela murmurar algo, que eu não liguei muito.

Andei até o vagão que elas estavam, e sim nós estávamos em vagões separados, ai como eu odeio trens! Logo eu estava de frente à porta da cabine delas, e uma Renata descabelada e com a roupa amassada me atendeu.

– Oi, Milly! Que supressa agradável... – Sorriu amarelo, como se me informasse que ela estava ocupada, e não queria eu ali. Escancarei a porta.

– Tinha que ser o Seth! – Ironizei, o mesmo estava tacado na cama da Renata, já sem blusa.

– O que você quer, hein? – A ruiva perguntou, já sem paciência.

– Tem algo ruim acontecendo Renata! – Mostrei para ela o livro. – Olha! Aqui diz que o nosso lado vadio pode voltar, graças a uma magia da Hécate!

– Lado vadio? – Seth me perguntou confuso.

– Nossas antepassadas, ah tanto faz! Se entendeu. – Fiz um gesto com as mãos, e ele deu de ombros.

Voltei minha atenção para Renata que lia e relia o livro.

– Mih, pelo jeito não tem tanto perigo assim, afinal, pelo o que está escrito aqui, para a maldição, ou feitiço valer, é necessário a invocação dos espíritos e isso exige uma filha de Hécate. Bem, isso a gente não tem! – Ela fechou o livro, e jogou ele pra mim. – Então, tchau! – Falou com ironia.

Quando a porta estava prestes a bater, eu coloquei meu pé entre ela e o batente, e, caramba, doeu muito!

– Ok, se você prefere ficar ai se agarrando com esse maldito filho de Hermes, ao em vez de ajudar o mundo... – Renata rolou os olhos algumas vezes enquanto eu fazia um discurso magnífico, e é claro que ela não deu à mínima.

– Já acabou? – Suspirei alto.

– A onde a Ana ta? – Perguntei, quando percebi que ela não estava ali.

– Provavelmente se comendo com o Harry... – Resmungou, era bem claro que Renata não gostava do Harry, afinal só ela podia atrapalhar o Nico e a Ana. – Porque você vai atrapalhar eles também?

Não dei ouvidos para o que ela disse, e sai em direção à cabine do filho de Apolo. Ao longe ouvi Renata bufar e bater a porta.

– Tomara que o Seth tire o atraso dessa criatura, Deuses! – Falei comigo mesma, até meu monologo ser interrompido por um grito alto e estridente, e um calafrio passou por mim... Aninha!

Sai correndo pelo trem, rezando mil vezes para que estivesse tudo bem com ela, e que fosse apenas um ataque histérico por bobeira. Quando cheguei ao quarto do Harry e do Nico, suspirei aliviada.

– O que você fez com ela?! – Perguntei para o loiro.

Ana estava sentada, ou melhor, embolada, toda encolhidinha chorando desesperadamente. Enquanto Harry estava ao seu lado, tentando acalma - lá.

– Eu não fiz nada Mih... – Percebi que ele também estava chorando. – Estávamos deitados conversando, quando ela pegou no sono, e pelo jeito era bem agitado. – Disse secando o rosto. – E então ela acordou gritando, e começou a chorar... Eu não fiz nada! – Repetiu. – E simplesmente não sei o que fazer! Aninha não para de chorar... – Harry a olhou e eu pude perceber que ele estava sofrendo tanto quanto ela. – Eu não sei... Ajuda-me Milly! – Ele não pediu, e sim, implorou.

Eu estava tão perdida quanto ele, céus, o que está acontecendo!

– Certo... – Comecei, eu precisava fazer alguma coisa. – Bem, preciso que você pegue um copo... – Olhei bem para o estado do loiro. – Melhor, pegue dois copos de água com açúcar no vagão restaurante, e... Beba um deles, Deuses, você não vai me ajudar se estiver nesse estado! – O filho de Apolo soltou um risinho murcho, e enquanto saia da cabine lhe dei um tapinha em suas costas.

Fui caminhando até minha amiga, que parecia ter entrado em estado de choque.

– Hey Aninha. – A chamei, mas ela pareceu não me escutar. – Ana? Ana Della Fiore! – A Chamei novamente, e dessa vez, ela moveu seus olhos roxos, que agora estavam vermelhos de tanto chorar, para mim. – Oh Aninha, o que aconteceu hein? – Falei puxando ela para meus braços, e ela veio sem discutir, dando ao inicio de um abraço desengonçado.

Fiquei ali por algum momento, passando minha mão em seus cabelos negros.

– Eu vi Mih... – Ela finalmente falou. – Eu vi o Harry morto...

– Aninha sua boba... – Eu ri. – O Harry só foi pegar água...

– Não Mih! – E as lagrimas começaram a cair de novo. – Eu vi Alice, ela me disse que se eu não desse o que eu queria, ela iria matar todos aqueles que eu amo! E começaria pelo Harry! E Deuses, eu não suportaria o perder! – Suas mãos passaram desesperada pelo seu cabelo.

– Como assim viu Alice? – Arregalei meus olhos, e provavelmente estava pálida.

Então Ana começou a me contar sobre o sonho que a mesma tivera. O problema é que os sonhos de semideuses nunca são apenas sonhos. Acabam sendo visões, premonições e todas aquelas coisas místicas que fazem minha cabeça doer.

– Eu trouxe a água. – Harry entrou no quarto, e naquele momento acabei tendo uma visão nada agradável, o filho de Apolo decepado. – O que? – Perguntou assustado, só então percebi que estava fazendo careta.

– Nada. – Balancei a cabeça tentando esquecer aquilo. – Aninha, toma isso aqui. – Dei-lhe o copo de água com açúcar, e ela bebeu sem excitar.

Deixei a ali na cama, e puxei Harry para um canto da suíte.

– O que nós fazemos agora? – Perguntou depois que eu lhe contei sobre o sonho, e tudo mais.

– Precisamos conversar com o resto do pessoal. – Falei olhando para a janela fazendo minha cara de paisagem.

– Será que o Harry pode ficar aqui? – Ana perguntou sem jeito, e eu tinha me esquecido que ela estava ali, ouvindo toda a conversa.

– Claro que eu posso flor. – Harry falou antes de mim.

Ele se sentou na cama, puxou-a para o seu colo, e começou a fazer cafuné nela. Afrodite, que coisa fofa!

– Então... Eu vou lá! – Agora quem estava sem jeito era eu.

Sai do quarto um pouco desnorteada, e isso fez com que eu trombasse com alguém.

– Desculpe... – Disse a voz grossa, que logo reconheci ser Jake, e ele estava com Nico. – Mih?

– Vem comigo, os dois! – Ordenei, e antes que eles pudessem abrir a boca para contestar, eu repeti. – Sem perguntas, apenas venham!

Seguimos pelo vagão refazendo o caminho pelo qual eu tinha vindo. Paramos em frente da cabine conhecida, e sem bater, eu entrei, ou melhor, invadi.

Renata rapidamente se desgrudou de Seth, e se colocou atrás dele para proteger seu dorso nu dos olhares.

– Mas o que? Milly... – Ela com certeza iria ter mais um de seus ataques, mas eu a interrompi.

– Cala a boca. E coloca isso! – Taquei a sua própria blusa que estava no chão da suíte. – Precisamos achar o diário de Alice, o mais rápido possível! – Falei.

Todos me olharam confusos afinal, isso não fazia parte da missão.

– Por quê? – Nico questionou.

– Porque Alice está atrás de Aninha, e se não a ajudarmos, ela terá um lapso, ela ficará louca! – Falei transtornada, e comecei a contar, pela segunda vez, o que tinha acontecido com a minha amiga.

(Ashley Greene as Milly)