Not Insane escrita por AnneLice


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Capítulo refeito, depois de muito tempo. Retomando a história meio ano depois, por motivos pessoais. Espero que gostem. PS: capítulo reescrito a partir da metade.



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Doeu por muito tempo. Era a dor mais insuportável que existia neste mundo. Eu agonizei por um tempo infinito, sem começo nem fim. Eu queria a morte. A ansiava mais do que tudo. E o que era mais confuso é que eu não conseguia entender. Não compreendia o que estava acontecendo, não me lembrava de quem eu era. Não me lembrava de como era este mundo. O tempo não passava, eu era apenas um ser miserável no meio do inacabável universo de sofrimento. Era tudo sem cor e sem vida, e eu não tinha nenhuma esperança.

Até que então mudou. Eu senti o tempo começar a passar, e eu me sentia ficando mais forte. Doía mais do que antes, o dobro, mas agora eu tinha algum controle de meus pensamentos. E então alguns sentidos foram voltando. Eu conseguia sentir meu corpo, mas não conseguia movê-lo. Eu não fazia ideia de onde estava, mas eu conseguia ouvir tudo perfeitamente. E eu ouvia o ritmo frenético do meu coração. Era como se ele estivesse lutando, bravamente, contra o fogo. Eu estava mudando. Meu coração, tão feroz, não queria ceder, mas o fogo estava consumindo tudo, me tornando mais forte e aumentando a dor a um nível além do insuportável. E então meus batimentos foram diminuindo. E então cessaram. Minha respiração também. E a dor se foi.

Algum tempo depois, eu consegui abrir meus olhos. Estava tudo escuro, como antes, mas a escuridão ao meu redor não parecia opressora, e sim palpável. E de repente, fui tirada da minha percepção de espaço e tempo. Eu estava em algum tipo de visão, dentro de minha mente. Com minha visão periférica consegui notar um lugar cheio de pessoas que exalavam bebida alcoólica, sexo, falta de dinheiro e sujeira. Parecia algum tipo de bar empoeirado, algo assim. Mas meu foco estava realmente em um homem. Ele estava de costas, e pelo que eu poderia dizer, apenas observando ele de longe, é que ele era loiro, lindo, alto e com um porte respeitável, algo como o de um soldado. E ele possuía muitas cicatrizes onde eu podia em sua pele visível, que eram suas mãos e pescoço. Usava uma jaqueta de couro marrom, e seus cabelos estavam armados e rebeldes, o que lhe dava uma aparência meio louca. Eu não poderia dizer o que nele me chamou tanto a atenção, mas eu não conseguia desviar o olhar. Eu me sentia atraída a ele, conectada de alguma forma surreal. Mas ele não parecia me notar. Ele se acomodou melhor no pequeno banquinho podre, que parecia muito miserável e sujo para estar carregando alguém tão perfeito. E eu consegui ver seu rosto. Eu me sentia destinada a conhecer aquela pessoa. Era o rosto mais lindo que eu já vira, e isto não tinha nada a ver com o fato de eu nunca ter visto um rosto antes que eu pudesse lembrar, fora aquelas pessoas no bar. Ele seria a pessoa mais linda, mesmo se comparado a um anjo; mesmo com suas cicatrizes e seus olhos perturbadores. Seus olhos... eram de uma cor viva, forte, perturbadora, e mesmo na visão, com cores fracas e desbotadas, seus olhos eram escarlates, cor de sangue...

Acordei da visão com minha garganta em chamas. Pensar em sangue, mesmo sem lembrar muita coisa a respeito, fez meu corpo arder. Eu precisava daquilo. Eu não sabia como o sangue deveria supostamente ajudar, mas eu sabia que era a resposta. Algum tipo de instinto estava me dizendo isso. E eu precisava sair daquele lugar, e me alimentar...

Mas primeiro eu tentei me localizar. Eu parecia estar dentro de um quarto, ou um porão. Estava deitada em cima de uma cama, e ela rangeu quando eu me movimentei. O barulho foi muito alto, ou meu ouvido estava muito sensível. Olhei ao redor. Havia um guarda-roupa de madeira, uma porta e um grande espelho, levemente embaçado. Comecei a me levantar. Olhei para baixo. Em cima de meu corpo, havia um lençol branco de algodão. O deslizei para baixo, descobrindo meu corpo nu. Minha pele era branca e dura como mármore. Andei até o espelho. A figura que eu vi em minha frente era perfeita. Eu não sabia muito bem o significado dessa palavra, mas sabia que se aplicava a mim. Eu era pequena, magra, delicada. Meus cabelos curtos eram lindos. E meus olhos... eram vermelhos. Percebi que não respirava. Eu não precisava de oxigênio. Sentia que isto era anormal, mas se eu fosse me prender ao fato de que tudo parecia anormal para mim, eu ficaria louca. Inspirei pela primeira vez. No ar havia um cheiro de poeira, maresia e madeira.

Meu instinto me dizia que eu estava diferente do que deveria ser, e eu teria que aprender a viver assim. Tentei captar algo mais do lugar ao meu redor, além da óbvia escuridão. Não havia mais nada. Andei em direção a porta.

Saí em um corredor. A claridade, depois de tanto tempo imersa na escuridão, foi uma surpresa. Cada lugar era fantástico. Eu conseguia enxergar com muita clareza. Eu estava maravilhada com meus sentidos. Eu não sabia quem eu era, mas eu sabia que aquilo era maravilhoso. Escutei algo vindo em minha direção. Identifiquei como sendo passos. Chegou à minha vista um casal. O homem era um senhor que aparentava ser um pescador, vestido com uma calça enrolada na barra, chapéu e um agasalho. A mulher era uma senhora de meia idade, vestida com um vestido simples de tecido grosso. Ela me disse:

–Olá. Que bom que acordou. Você estava dormindo há quase dois dias. Pensei que estivesse morta, mas a ouvi sussurrar. Meu marido te encontrou flutuando no mar. Sorte sua que ele estava por perto. É um homem admirável. Grande pescador. Te cobriu com cobertas quentes e te trouxe para casa. Mas você deve estar morrendo de fome, e frio. Vou preparar um chá. Vá colocar uma roupa, minha querida. Ralph, a ajude.

E dizendo isso, ela se virou e foi para a cozinha. Ralph estava desconcertado. Evitava olhar para mim, e estava levemente ruborizado. Acho que é porque eu estava sem roupas. Ele era um homem de aproximadamente quarenta anos, com cabelos levemente grisalhos. Sua barba era mal aparada. Tinha ombros largos e definidos, cobertos por uma camisa desgastada. Ficava torcendo um chapéu nas mãos, e olhando para o teto.

-Essa minha mulher, despeja as palavras e não dá tempo de responder. Há roupas limpas no guarda-roupa. Precisa de ajuda?

Eu não respondi. Não conseguia encontrar minha voz. Fiquei parada, e ele disse:

-Bem, talvez você queira se lavar primeiro. Vá para o final do corredor, naquela porta ali. Está vendo? –ele me apontou. –Ou eu posso te levar. Você fala? Acho que não. Enfim, venha. –começou a andar. Vendo que eu continuava parada, ele me estendeu a mão. –Vamos lá garota.

Olhei para sua mão. Era grande, com unhas curtas. Uma mão bronzeada, com alguns calos. Fiquei com vontade de sentir seu calor. Acima de sua mão, havia um leve pulsar.

Estendi minha mão e encostei na sua. Um choque percorreu seu corpo, mas ele não me largou. Então começou a me puxar para aquela porta. Havia um lampião na sua outra mão. Abriu a porta e iluminou o aposento. Havia uma bacia com água num canto, e no outro um armário com toalhas. Ele me apontou a bacia. Depois me encarou por um momento.

-Engraçado, com a luz da vela seus olhos parecem vermelhos. Enfim, a água deve estar gelada, mas se lave. Há um pouco de sabão aqui. –e se abaixou para pegar. Estendeu-me o sabão. Eu estava olhando para seu pescoço. Quando estava abaixado, consegui ver onde pulsava. Senti um desejo imenso. Seria delicioso...

Estendi minha mão e toquei a sua. Com a outra mão, toquei em seu abdome. O empurrei para a parede e comecei a desabotoar sua camisa. Seria mais fácil visualizar sua veia, tocá-la. Mordê-la... Cheguei ao último botão. Sua camisa agora estava aberta, revelando seus músculos definidos por anos manejando redes de pesca. Deslizei sua camisa por seus ombros, sentindo sua pele. Ele parecia enfeitiçado. Não conseguia reagir, apenas ficava me encarando e parecia maravilhado. Havia se esquecido de que sua mulher estava na mesma casa, preparando chá para nós. Ele me olhava com desejo, mas eu estava focada em seu pescoço. Sem a camisa, as veias estavam ali, pulsando para mim. Me permiti respirar. Minha garganta começou a queimar. Eu precisava daquilo, precisava beber o sangue que sairia se eu simplesmente mordesse aquele pescoço. Seria tão delicioso... Isso acalmaria minha garganta, acabaria com a dor. Não reparei que ele havia começado a tocar meu corpo, a delinear minhas curvas com seus dedos.

Encostei meus lábios em seu pescoço, quase como um beijo. Ele estava com as mãos na minha cintura. Eu sentia a veia pulsar nos meus lábios. Abri um pouco minha boca, encostando meus dentes em sua pele. Sua barba roçava minha bochecha. E então eu mordi, e minha boca se encheu de um líquido delicioso e quente. Ralph apertou minhas nádegas uma última vez, e seu corpo se tornou inerte. Eu continuava bebendo, drenando todo seu sangue. Um pouco escorria da minha boca, gotejava meu corpo. Quando não havia mais nada que eu pudesse extrair daquele corpo, me separei dele. Olhei para mim mesma. Estava banhada em sangue. Lambi meus lábios, e depois fui para a bacia. Passei água em meu corpo, e me esfreguei com a toalha. Estava limpa outra vez.

Depois fui ao quarto escuro onde havia acordado. Abri o guarda-roupa. Ali havia algumas peças, a maioria grande demais para mim. Deviam ser roupas da senhora que me acolheu em sua casa. Comecei a me sentir culpada. Eu havia acabado de matar um homem. O que isso significava para mim? Eu não tinha noções de certo ou errado, mas aquela mulher nunca mais veria seu marido. Será que eu era um monstro? Eu precisava sair daquela casa. O mais rápido possível. Precisava encontrar o homem loiro da minha visão, precisava ficar longe daquele corpo inerte que eu havia largado no banheiro. Coloquei um vestido branco, rodado e com mangas longas. Era o menor que tinha, provavelmente de alguém quando era criança. Olhei ao redor do quarto, mais uma vez. E saí correndo da casa.


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