Estavamos na casa de Victoria há aproximadamente uma semana. Ela ainda era um mistério para mim. Quando eu perguntava a ela perguntas básicas de sua vida, como "quantos anos você tem?" ou "de onde você veio?", ela não parecia se lembrar de nada de seu passado. Nem seu próprio sobrenome ela lembrava. Isto era uma coisa muito esquisita.

Mas mais esquisito ainda era Jack. Ele parecia estar mais nervoso a cada dia, com seu humor sempre piorando. No nosso terceiro dia morando nessa casinha, ele já havia quebrado a porta da frente, quando eu perguntei a ele até quando fugiríamos. Ele me disse que "estava fazendo o melhor que podia", bateu a porta com força e ela se partiu.

Minha vida estava se tornando um inferno. Jack não saia mais de perto de mim, me vigiando bem de perto. Seus olhos pareciam pretos agora, e suas olheiras estavam tão profundas, como se ele não descansasse há meses.

No sexto dia, eu não aguentei mais. A coisa que eu mais queria ultimamente era enterrar meus pais. Eu não suportava mais a ideia de seus corpos se decompondo lá no bosque, esquecidos. Como se eles nunca tivessem existido. Eles mereciam um enterro digno.

Quando eu disse meu plano a Jack, ele negou veementemente. Eu estava proibida de sair daquela casa, e ele não iria a lugar algum sem mim. Então Victoria, sempre disposta a ajudar como uma marionete, se ofereceu. Não era de jeito nenhum uma boa ideia. Mesmo eu não entendendo nada sobre aquela garota, eu não a queria morta. Mas Jack a deixou ir. Na verdade, ele a deu instruções bem claras. Envolver os corpos com lençois. Arrastá-los até o porta malas do carro, não deixando que nenhuma parte deles aparecesse. Voltar a casa dentro de três horas.

Victoria obedeceu. Dentro de instantes ela já estava dentro do carro, com lençois no banco traseiro e direções bem claras na mente. Seguir na estrada até o sanarório. Chegando lá, se encaminhar para uma trilha escondida grande o suficiente para o carro passar e plana, marcada por um carvalho branco. Seguir por cinco minutos, virar a direita, e a cem metros encontrará a árvore com os corpos. Arrastar os corpos ao porta-malas, embrulhá-los com o lençol, e com tudo concluido, voltar a casa.

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Mas Victoria nunca voltou. Eu e Jack ficamos esperando por mais que três horas. Um dia se passou. Começamos a perder as esperanças. O vampiro devia tê-la pego. Depois de quatro dias, uma grande surpresa antes do amanhecer. Ouvimos um barulho do lado de fora, durante a madrugada. Jack e eu fomos lá ver o que era.

Chegando lá, estava o nosso carro roubado. Dentro dele estavam os corpos de meus pais, enrolados nos lençóis conforme as instruções. Mas Victoria não estava dentro do carro. E então eu vi uma mensagem no vidro, escrita com cor de sangue.

"Não me ofenda me trazendo uma humana, Jack. Agora sei onde vocês estão. Hora de fugir..."

E embaixo estava assinado como "James". Então este devia ser o nome do vampiro. Mas eu não tive tempo para raciocinar isto direito, porque quando eu me virei fui atingida por uma chama de fogo. Quer dizer, este foi meu primeiro pensamento. Porque depois que a dor do seu empurrão na minha barriga passou, eu consegui enxergar um rosto.

Ao invés de olhos verdes cor de esmeralda, olhos vermelhos cor de sangue estavam me encarando, combinando com a cor de seu cabelo. Victoria estava mais linda do que nunca, mas infinitas vezes mais poderosa.

-Olá Alice. Jack, que prazer revê-lo, ladrão de memórias. James está aguardando vocês. E Jack, não tente me deter, pois eu posso quebrar o pescocinho de Alice em menos de dois segundos. Sim, eu sou rápida. Já testei isso ontem, matando uma pequena vila. Vamos, entrem na minha casa, não sejam mal educados. Temos visita. Meu parceiro está nos esperando.