Do you understand who I am do you wanna know,

Can you really see through me,

Now I about to go,

Just Tonight, I won't leave,

And I'll lie and you'll believe,

Just Tonight,

I will see that it's all because of me

Você entende quem eu sou? você quer saber?

Você pode realmente ver através de mim?

Agora eu tenho que ir

(The Pretty Reckless - Just Tonight)

Primeira semana no sanatório. Já estava me acostumando à esse lugar. Era melhor que meu antigo porão empoeirado. Aqui eu podia ver a luz do sol e a copa das árvores. Me parecia estranho que eu estivesse quase feliz por estar nesse lugar. Mas eu gostava das cores e do cheiro. Era um lugar isolado, longe da sociedade. Eu não gostava de contato humano, me dava arrepios. Até mesmo meus pais, que supostamente deveriam me amar incondicionalmente, me olhavam como se eu fosse uma estranha, uma espécie de aberração. Eles não me aguentaram mais, e me trancaram aqui. Mas eu acho que eles tinham razão, eu era louca. Existiam partes sombrias da minha mente que nem eu mesma me arriscava a explorar; era muito perigoso. Então eu decidi me fazer sentir segura neste lugar, não resistir.

Mas eu não podia negar, nem todas pessoas eram más. A pessoa que eu mais confiava era aquele que cuidava de mim, meu enfermeiro. Seu nome era Jack Williams. Ele aparentava ter vinte e cinco anos, tinha cabelo castanho escuro e comprido e seus olhos pareciam ser vermelhos, o que eu achava que era minha mente doentia me enganando. Ninguém tinha olhos vermelhos, era impossível. Ele não me deixava usar camisa de força, o que era um alívio, pois me parecia desconfortável e meu senso de moda interior me dizia que eu nunca tocaria naquilo.

As visões vinham, e eu constantemente previa a morte dos internos. A morte de cada um, um pesadelo diferente. Eu conseguia ver a morte sugando o corpo. O espírito saindo, agonizando, um espectro que me olhava com terror, pedindo por ajuda. Nessa hora acontecia uma explosão em minha mente, meu cérebro se contraindo para fora de minhas têmporas, e eu acordava. E minutos depois eu ouvia a agitação, confirmando meu pesadelo.

Eu estava divagando sobre tudo isso, no meio dos meus pensamentos incoerentes instalados pelas pílulas. Eu tive uma rápida visão, meu enfermeiro estava subindo com comida.

–Com licença, Mary. Trouxe seu jantar. Alguma visão nova? -Ele estava sombrio como usual, mas eu sentia uma aura de segurança.

–Não me chame de Mary. É Alice. E eu previ que meu jantar é sopa. E que a senhora do final do corredor morrerá amanhã. E eu não posso ajudá-la. Eu sou uma inútil. -Eu estava quase chorando. Minha cabeça doía.

–Não é sua culpa Alice. Agora coma, você está muito fraca ultimamente.

Eu comi, e depois comecei a me preparar para dormir. Mas primeiro tinha que perguntar.

–Meus pais, eles tiveram notícias minhas? -Perguntei tristemente.

–Me desculpe, eles não vieram desde o dia de sua internação. -Ele falou e passou a mão na minha cabeça, gentilmente.

–Tudo bem. Vou dormir agora. -Tentei esconder uma lágrima.

–Durma bem. -Ele limpou a lágrima. -Bom sonhos, Mary.

–Duvido muito. -Murmurei quando ele fechou a porta. -E meu nome é Alice.