Younger Souls escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 19
Capítulo 17 - Novos Vizinhos


Notas iniciais do capítulo

Hey amores, boa noite! Que saudades! o/ Peço desculpas pela demora, esse capítulo estava pronto a algum tempo e eu havia me esquecido que não havia postado =/ Desculpem mesmo, mas a boa noticia é que ele está imenso, e cheio de novidades!
E ah um agradecimento especial a todas que comentaram no capítulo passado, obrigada! Temos recebidos poucos comentários, onde estão vocês nossas lindas leitoras, ein?
Sem mais, boa leitura! Até as notas das autoras *-*



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POV. Jeb

Era um ótimo dia para um homem velho como eu caminhar pelo deserto. Uma nuvem fina tapava o sol da manhã, e a areia ainda não estava quente o bastante para queimar os pés. Caminhei tranquilamente até as Garagens. De tempos em tempos eu ia até lá e deixava os motores ligados para que não morressem. Isso levava quase meio dia e havia meia dúzia de pessoas mais jovens desesperadas por um ar fresco doidas para fazer isso por mim, mas era bom ficar sozinho as vezes. Com todas aquelas crianças e seus dramas sob meu teto, era bom um momento de sossego só para variar. Eu os amava, sim, mas um homem velho como eu precisava de sossego

Depois que tudo se acalmou e começamos a encontrar as resistências, pensei seriamente em encontrar alguém e quem sabe deixar um herdeiro ou dois para o Rancho Stryder. O tempo passou e eu fui envelhecendo. Eu ainda dava para o gasto, te bato se disser ao contrário, mas a paternidade aos 70 anos era praticamente um suicídio. Pais precisavam da energia que eu ao tinha. De qualquer modo, minha família tivera tantos deles ao longo dos anos que eu já tivera minha cota de bebês vomitando em mim. A doce Megan, de Deus quisesse, seria a ultima. Entrei nas garagens, fechando a porta atrás de mim. O sol passava pelo teto de compensado e iluminava o lugar todo. Tirei de um dos bolsos o bolo de molhos de chaves tilintantes e o joguei em um canto, mantendo apenas uma comigo.

Mas antes que eu pudesse descobrir de que carro era, ouvi um som que ouvira muito nos tempos de jovem. O click quase silencioso de uma arma pequena e compacta. Virei-me assustado, certo de que estava morto. Mas atrás de mim só havia a parede de pedra manchada pelo tempo e o bolo de chaves no chão. Um ruído. Uma garganta engolindo em seco. Segui o som até o fim da garagem, o que não levou mais do que sete passos. Escondido por trás do Jeep, de olhos fechados, estava um garoto. Não devia ter mais de 10 anos e era magro feito um cabo de vassoura. Os cabelos eram escuros e encaracolados, rude e desigualmente cortados, provavelmente por ele mesmo. Os traços do rosto, latinos e a pele morena. Eu estava prestes à perguntar o que eles estava fazendo o porque estava com os olhos fechados, até que vi o que ele tinha em mãos.

Apontava para o próprio queixo com um pequeno revolver prateado.

-Você não quer fazer isso, quer, garoto?

Ele abriu os olhos, assustado e apontou a arma na minha direção. Saquei a espingarda pendurada nas costas e apontei na sua direção.

-A minha é maior – Observei. A diferença chegava a ser risível. Ele engoliu em seco mais uma vez – Abaixo isso, criança.

Ele hesitou por alguns segundos, me examinando de cima a baixo. Lentamente ele deixou a arma no chão, a frente dos joelhos esfolados que estava sentado em cima. Levantou-se em seguida com as mãos levantadas na cabeça como um gesto de paz. Com o pé, puxei o revólver para perto. Deixei minha arma pender e abri o tambor do pequeno revolver a procura de um pente, mas ele estava vazio. Eu ri da criança. Ele estava mais perdido do que um cego em um tiroteio.

-Então garoto, pretendia se matar com uma arma descarregada?

Ele levantou os olhos negros assustados do chão. Livres, como eu suspeitei. Ele pareceu surpreso.

-Estava vazia esse tempo todo?

-Assim como a sua cabeça. O que está fazendo aqui sozinho? Onde estão os seus pais?

-Em casa.

Respondeu a contra gosto. Fiz que sim.

-Quer que eu acredite que encontrou esse lugar sozinho?

Ele fechou a cara.

-Acredite no que quiser. Tem um buraco no teto. Qualquer um poderia achar.

Fiz que sim, observando-o. Guardei a arma atrás das costas e joguei sua arma vazia para um canto. O pivete não representava perigo algum, não magro do jeito que estava. Joguei para ele o sanduiche que trazia no bolso para mais tarde. Ele com toda a certeza precisava mais do que eu. Ele pareceu confuso ao tocar o plástico filme, como um homem das cavernas vendo uma roda.

-O que é isso?

Perguntou desconfiado, cheirando o embrulho.

-Chama-se comida. Sanduíche. Você não deve ver muito desses. Você engole e vive mais uns dias. É como mágica. Não tem erro.

-Eu sei o que é comida – Resmungou, me analisando mais uma vez antes de desembalar o sanduíche e dar uma mordida vigorosa – E não é assim que funciona.

Observei-o por alguns segundos enquanto ele comia. Parecia dividido entre duas decisões extremas, guardar o sabor por bastante tempo e comer tudo o que pudesse antes de desmaiar.

-Faz um bom tempo que não come não é?

Ele deu de ombros, respondendo com a boca cheia.

-Três dias. Já fiquei mais.

-A velha mamãe Stryder, que descanse em paz, dizia que é grosseria falar de boca cheia.

Pude jurar que vi uma sugestão fraca de sorriso no rosto do garoto.

-Minha mãe dizia isso também.

Cruzei os braços e me encostei ao jeep.

-Deixe-me adivinhar. Eles foram pegos e você teve que aprender a se virar sozinho?

Ele fez uma careta novamente.

-O que te interessa?

Dei de ombros.

-Posso dizer que sou um colecionador de histórias tristes. Se quiser trocar, eu tenho uma penca guardada na memória.

Foi a vez dele de dar de ombros, desistindo da pose de machão.

-Meus pais biológicos me abandonaram em uma estrada no Novo México no dia em que nasci. O casal de Almas que me encontrou, me criou. Mas então eu fugi.

Assenti, sabendo que aquela não era a história toda. Mas era um começo.

-Bela história. E a moral é que pode tomar conta do próprio focinho?

-É claro!

Ele exclamou ofendido.

-Ótimo, tudo o que eu não preciso é de mais dramas precisando de mediação.


-Então, qual o seu nome?

Perguntei, já a caminho de casa, com o moleque a tiracolo. Dera o que fazer até convencê-lo a sair das garagens depois de consertar o buraco do telhado – que era realmente óbvio – e testar os motores e deixá-los um pouco ligados. O menino ficou desconfiado ao extremo e só a promessa de comida, mais sanduíches e de uma cama macia puderam fazê-lo se mover, o que não era acusável. O garoto estava sozinho havia meses.

-Nicholas. Meu pai me chamava de Nick.

-Sou Jeb.

Me apresentei. Ele assentiu como se guardasse na memória. Apontei a entrada das cavernas e segui para lá, sem esperar que ele estivesse me seguindo. Desconfiado feito um gato vira-lata, ele me seguiu.


-Quem é esse, Jeb?

Perguntou Mel levantando os olhos da massa de pão. Nick parou de olhar ao redor e escondeu-se atrás de mim, como se tivesse medo dela.

-Esse é o Nick. Ele invadiu as garagens.

-Não invadi nada!

Explodiu ficando vermelho, saindo detrás de mim.

-Ele é meio esquentadinho também.

Adicionei.

-Não sou nada!

Lancei a ele um olhar irônico que só o fez ficar mais vermelho e Mel riu.

-Ele me lembra alguém. Não lembra Jeb?

Perguntou ela sorrindo. Com um timing perfeito, Jamie entrou no refeitório, distraído com Meg nos braços.

-Falando nele...

Eu disse virando-me para ele. Ele brincava com a mãozinha de Megan na sua, fazendo-a gargalhar gostosamente.

-Jamie. – Chamou Mel. Ele desviou o olhar de Meg e olhou ao redor, como se não reconhecesse onde estava. – Se perdeu de novo?

Ele fez que sim, parecendo irritado.

-Eu não consigo me concentrar em mais de uma coisa de cada vez!

Disse, levando uma confusa Megan para o lado oposto de onde viera. Eu e Mel trocamos um olhar divertido e não pudemos deixar de rir.

-20 anos...

-E o mesmo garoto – Conclui sorrindo. – O Nick aqui é mais esperto que ele.

Mel o observou e ele a saudou com um movimento rígido da cabeça.

-Meu nome é Melanie. Pode me chamar de Mel. Não deixe esse homem velho te assustar. Ele tem bom coração.

Revirei os olhos.

-Também te amo, Mel.

Ela soprou um beijo cheio de farinha para mim e voltou a se concentrar na massa antes que desandasse.

-Já sabe onde ele vai dormir?

-Estava pensando em colocá-lo com Sarah e Benji. O que acha?

-Está brincando? Sarah mal aguenta o próprio irmão. Se colocar outro garoto naquele quarto, vai ser assassinado enquanto dorme.

Fiz que sim. Eu não tinha contado com o gênio da menina. Bem, então a solução era...

-Ele fica comigo então. Alguns roncos não matam ninguém.

Pov. Chase

A plantação estava toda madura e nós devíamos colhê-la. Fomos os homens, na nossa grande maioria e nos dividimos em fileiras. Assim que um grupo terminava a sua fileira, podia ir. Eu, Matt e Benji fomos os últimos a terminar, apenas pelo fato de ficarmos discutindo quase durante todo o trabalho, distraindo-nos o tempo todo por cada motivo idiota que cruzava nossas cabeças. Apesar do cansaço, era bom estar com esses caras.

-Cara... –Disse Matt – Eu nunca mais vou comer nenhum vegetal.

Ele disse deixando a ultima cenoura no balde, depois de uma tarde toda de trabalho. Benji riu, espreguiçando-se enquanto eu me sentava no chão e pendurava um pedaço de palha no meio dos dentes.

-Você não come vegetais. - Ele disse, provocando-o.

-Agora é que não mesmo.

Deixei um sorriso cansado atravessar meu rosto. Estava tão cansado que eu até pularia um banho para dormir durante o dia inteiro. Já podia até imaginar a textura dos lençóis contra minha pele. A única coisa melhor do que isso seria Joy pairando acima de mim, acariciando meus cabelos, com os olhos perfeitos olhando-me profundos, enquanto me ninava. Mas isso seria pedir de mais com certeza. Eu sonharia com ela de qualquer jeito, depois de dormir. O que ela devia estar fazendo agora? Sendo incrível, como sempre.

-O que é isso? - Perguntou Matt. Ouvi um segundo depois. Gritos e aos montes. Nós três nos levantamos de um salto só. Três meninas corriam na nossa direção. Jullie estava com o cabelo emaranhado, e o rosto inchado de sono. Sally segurava a toalha contra o corpo enquanto corria, e Joy, apesar de linda como sempre, gritava a plenos pulmões, talvez mais do que todos os outros. Mais gritos vinham atrás delas, mas ninguém mais apareceu. Sally jogou-se no colo de Benji, Jullie escondeu-se atrás de Matt e quando abri os braços para receber Joy ela desviou-se de mim e subiu nas minhas costas, prendendo as pernas ao redor da minha cintura e os braços ao redor do meu pescoço.

-Qual o problema? - Perguntou Benji beijando a testa de Sally.

-Buscadores? Uma bomba? Veneno? Buscadores com uma bomba de veneno? Peraí, veneno eu já disse né? - Disse Matt parecendo confuso. Jullie deu um riso sem humor e deu um tapinha de leve em seu ombro, indicando que não era nada daquilo.

-Rrratos. -Ela disse, parecendo aterrorizada, apertando mais os braços ao redor do pescoço de Benji.

-Estão por toda a parte. - Disse Joy tremendo. Jullie esfregava freneticamente as mãos nos braços e pernas como se estivesse tentando se livrar de algo.

-Estavam na minha cama... Aiiiii que nojo! Um deles estava mordendo meus dedos!

Olhei para o chão e vi que seus pés estavam cheias de pequenas feridinhas vermelhas, mordidinhas minúsculas.

-Estavam na sala de Banhos. Entraram na minha roupa toda! - Disse Sally explicando sua toalha e a ausência de roupas. Joy agarrou-se ainda mais a mim, prendendo suas curvas contra mim. Segurei suas pernas para lhe dar apoio.

-Estão no refeitório... – Choramingou Joy – Estão por TODA a parte! - Disse, beirando o desespero. Passei o polegar pela sua perna, acariciando-a para acalmá-la, o que pareceu funcionar, mas minimamente.

-São só ratos Joy. Eles entravam nas casas da praia o tempo todo. As vezes eu os colocava em gaiolas e os fazia de bichinhos de estimação.

-Ugh... - Ela gemeu, parecendo horrorizada com a idéia.

-Você não entende Chase. Joy tem um grande trauma com ratos. Ela não pode vê-los de jeito algum, muito menos perto de comida. - Explicou Jullie, enquanto Matt a sentava com cuidado para examinar a profundidade das mordidas.

-Verdade Joy? Ratos? - Ela fez que sim, escondendo seu rosto na minha nuca. Senti o molhado de suas lágrimas escorrerem para dentro da minha camisa, juntando-se ao suor do dia de trabalho exaustivo.

-Não quero falar sobre isso. - Ela disse baixinho.

-Benji, vai comigo até a sala de Banhos buscarrr minhas coisas?

Ele fez que sim.

-Se algum rato ousar se aproximar, vou abatê-lo em nome de minha bela donzela. - Ele disse, fazendo-a rir timidamente e corar fortemente. Enquanto ele a carregava de volta ao lugar de onde as meninas haviam vindo, ela acenou com a mão um singelo sinal de adeus.

-Acho que não é nada sério – Constatou Matt depois de algum tempo – Mas acho que devíamos limpar. Para o caso de alguma infecção ou algo assim.

-Mas vamos até o Hospital. De jeito algum vou até o lugar onde Benji vai promover a matança.

Matt sorriu e a ajudou a levantar.

-Até mais tarde. – Ela disse enquanto partia na direção contrária do outro casal – E Joy, não se esqueça de respirar!

Em resposta à lembrança da irmã, ela puxou um longo fôlego. Após algum tempo de silêncio, Joy moveu-se para pendurar-se de frente para mim, colando seu corpo no meu, abraçando-me fortemente.

-São só ratinhos, Joy.

Eu disse.

-Esse é o problema. - Ela gemeu baixinho.


Jeb convocou, uma hora mais tarde, uma reunião de emergência. Era quase engraçado o modo como bichinhos tão pequenos podiam causar tal pandemônio em uma civilização. Todos pareciam nervosos, com asco, assustados, ou perturbados de algum jeito. Allie, sentada ao lado da mãe, parecia ser a única que não exibia a menor reação quanto aos companheiros peludos. A mãe de Allie, abraçada ao namorado Aaron, com menos experiência no quesito Sobrevivência, por ter vivido a maior parte da Invasão entre as Almas, parecia horrorizada com o que quer que tivesse visto os ratos fazerem. Sally já estava vestida e Jullie tinha feito pequenos curativos nos pés “roídos”, e ambas tinham o mesmo semblante aterrorizado. Katherine e Sarah pareciam desesperadas olhando por todo o lado no chão, com medo da aparição de algum roedor indesejado.

A Sra. O’Shea e a Sra. Howe exibiam rostos de desconforto quase idênticos, como a maioria das coisas que faziam. De todo o Clã O’Shea/Stryder, os únicos que pareciam ter algo além do nojo, ódio e da irritação, eram Ryan e Scott, que, com sua pouca idade, deviam estar entusiasmados com alguma idéia de brincadeira de Caça aos Ratos.

-Muito bem – Disse Jeb chegando à Sala de Jogos, chamando a atenção para si. Eu abrigava Joy entre minhas pernas, com os braços cruzados sobre seu peio. Ela parecia mais calma agora do que antes, apesar de ainda parecer muito mais aflita do que qualquer um ali, provavelmente temendo encontrar um dos nossos amigos dentuços. – Acho que todos notaram que estamos sofrendo uma pequena invasão roedora.

Houveram protestos por toda a arquibancada.

-Pequena?!

-Entraram em minhas roupas!

-Morderam minha pele!

-Urinaram na minha comida!

Jeb calou a todos com um aceno de mão.

-Não importa a dimensão da Invasão. A questão é que temos um monte de suprimentos frescos da colheita e esses colegas podem acabar com o nosso esforço todo. Sem nossa colheita, nem que Peg e Sunny revirem Tucson e Phoenix de cima abaixo, não vamos conseguir nos alimentar sem chamar a atenção de até a mais ingênua das Almas.

Mais protestos. Dessa vez Jeb deixou que fossem um pouco mais longe antes de pedir novamente a atenção com a mão. O silêncio foi absoluto.

-Mas é claro, que tio Jeb tem um plano.

-Que tipo de plano? - Perguntou Ryan levantando a mão como se estivesse em uma escola. Provavelmente, achava que sua Caça aos Ratos seria declarada.

-Dos bons, garoto. Vamos limpar a Sala de Jogos. Não vamos deixar pedra sobre pedra para que se escondam e nenhum túnel minúsculo para que possam entrar. Vamos matá-los, abatê-los e jogá-los para fora se reclamarem. Então traremos os suprimentos para cá. Quem quiser dormir aqui até pode vir, mas que estejam avisados. – Com um timing perfeito, um rato cinzento entrou na sala. Joy pulou direto para o meu colo, querendo o máximo de distância do bicho possível. Jeb, ouvindo suas patinhas, virou-se para ele e disparou a velha arma que trazia pendurada nas costas. O bichinho nem teve tempo de ver o que o atingiu. A nova priminha de Joy, Megan, abriu a boca, armando um berreiro dos grandes. A mãe se apressou para acalmá-la. – Isso vai acontecer a noite toda, se algum deles tentar entrar.


POV. Joy

Patas pequenas que caminham sobre a minha pele, arranhando-a por onde quer que passem. Corpos pequenos, mas que quando se juntam parecem gigantes, cheios de pêlos cinzentos e castanhos espetados, que roçavam nos cortes, e como arame enferrujado, os faziam arder. Pequenas caudas peludas sacudindo-se como chicotes sobre a carne castigada. Eu gemia e gania,empurrando-os de cima de mim, implorando para que fossem embora, mas eles sempre voltavam, de novo, de novo e de novo, querendo mais de mim, mais um pedaço de mim, comendo-me viva, como fizeram com os pés de Jullie. Entravam em minha boca, ouvidos, narinas e roíam meus olhos, tentando abrir passagem para dentro de mim. Estavam por toda a parte. Um deles ficou preso em minha garganta e toda vez que eu tentava respirar só engolia mais e mais pelos e por mais que eu tentasse o ar não chegava aos meus pulmões.


Acordei sentando-me em um pulo, olhando em volta assustada, esfregando minha pele, chorando, tremendo e suando, tudo ao mesmo tempo, para me certificar de que havia tudo sido um pesadelo. Apenas um horrível pesadelo. Olhei em volta na escuridão com medo de encontrar algum deles cujo “quink” tivesse desencadeado algo no meu subconsciente, mas não havia nenhuma a visto. Deviam estar escondidos, onde eu não podia ver, esperando que eu dormisse novamente para me atacarem. Irritei-me com aquele pensamento. Bicho de 15 cm no máximo não deviam me assustar... Mas assustavam.

Eu não conseguiria mais dormir, não com todos aqueles bichos ao meu redor, conspirando contra mim, me pressionando e me prendendo contra a parede como se fossem algo mais do que nojentas bolas de pelo. Levantei-me e usei a lanterna que tio Jeb usava para vigiar a noite atrás dos meus inimigos jurados para me levar para longe dali. Ele não disse nada quando passei por ele.


POV. Chase

Acordei com o som suave de passos descalços na pedra, suaves como gostas d’agua, mas para um Solitário, qualquer passo era um prato sendo quebrado. Abri os olhos e pisquei-os, assustado com a luz forte da lanterna à querosene de Jeb. Um corpo esguio passou a minha frente tapando a luz por um segundo e depois desapareceu na escuridão do corredor, fora da sala. Devia ser alguém precisando se aliviar. Aproveitando que eu acordara, virei-me para verificar se Joy estava conseguindo dormir bem apesar de toda aquela confusão com os ratos e tudo o mais. Os lençóis entre Jullie e Ryan estavam revirados e vazios. Suspirei, levantando-me. Eu devia saber que ela jamais conseguiria dormir com toda a fobia que parecia ter com nossos companheiros bigodudos.

-Ela foi para lá – Disse Jeb apontando uma direção na escuridão noturna da pedra, quando me aproximei da luz de sua lanterna – Acho que vai sair. Estava demorando até. Não a deixe fazer nenhuma besteira lá fora, certo rapaz?

Fiz que sim, seguindo a direção que ele apontava.


Encontrei Joy perto de um pico, em uma chapa grande o bastante para que nos deitássemos juntos para olhar as estrelas. Sentei-me atrás dela e passei os braços pela sua cintura, pousando a cabeça em seu ombro.

-Você faz ligação direta em um caminhão e o rouba. Enfrenta Buscadores. Corre uma maratona em uma noite sem pausas. Surfa em dupla e tem coragem de subir aqui em cima. Porque ter medo de ratos?

Ela suspirou, cobrindo minhas mãos com as suas.

-Ok, descobriu. Aquiles tinha o calcanhar e eu tenho os ratos. É justo.

Joy disse dando de ombros como se não fosse grande coisa. Beijei sua nuca levemente.

-E é justo que eu pergunte por quê? Espero que sua mãe não tenha te segurado pelo calcanhar, mergulhando você em um rio de ratos. *

(*Todo mundo conhece a lenda de Aquiles? Não? Bem, basicamente ele foi mergulhado em um rio que lhe dava imunidade e força, mas a mãe dele o segurou pelo calcanhar, o único lugar vulnerável do corpo. Por isso que quando dizemos calcanhar de Aquiles quer dizer a fraqueza de alguém).

Ela riu baixinho e ficou quieta por um tempo, olhando o horizonte a nossa frente. O desejo de tomar seus lábios nos meus e fazê-la minha, tornando-me dela, bem ali sob as estrelas, só não foi maior do que o desejo de ajudá-la a superar seu medo mais profundo. Parte de namorar uma adolescente, era saber controlar os desejos.

-Só para constar, ela não faria isso. – Disse primeiramente, sorrindo levemente. O sorriso logo se desfez. – E em segundo lugar, não é um medo. Doc diz que se chama fobia. É tipo... Pior que um medo. Eu... Não é frescura é que... Ai... – Ela respirou fundo – Eu nunca contei isso para ninguém fora do meu circulo familiar, e metade da minha família também não sabe... E eu não sei se isso vai parecer bobo... Só... Não ria, ok?

-Eu nunca riria.

Eu disse ofendido. Ela deu de ombros com uma expressão divertida.

-Nunca se sabe. – Ela respirou fundo. – Desde pequena eu fui uma criança... Qual a expressão que o tio Jeb usa? “Danadinha”... Aprendi a jogar pôquer aos 5 anos e ganhava de todos na mesa... Brincava nos andaimes de limpar os espelhos aos 8 anos, e como você fez questão de lembrar fiz alguns outros atos memoráveis aos 18 e 19 anos; Enfim, a questão é que eu sempre tive ideias malucas na cabeça – Ela respirou fundo mais uma vez. – Quando eu tinha 4 anos, eu achei um rato dormindo no quarto dos meus pais. Eu mal sabia meia-dúzia de coisas sobre o mundo e a existência de ratos não era uma delas. Então eu fiz o que uma criança geralmente faz para conhecer o mundo...

-O que uma criança faz para... Ah não Joy... - Eu disse percebendo do que ela falava, horrorizado.

-Ah sim...

-Não... - Gemi, implorando para que aquela cena não se montasse na minha mente. Tarde demais.

-Eu coloquei o rato na boca.

-UGH!

-Eu sei, eu sei. Ele estava dormindo, todo imóvel, pequeno, macio... Devo ter achado que era algum brinquedo novo que minha mãe havia trazido da cidade para mim.

Ela disse dando de ombros.

-E o que aconteceu depois?!

-Ele mordeu e arranhou minha língua e meu rosto, eu quase me engasguei com o seu pelo e ele me perseguiu até que eu encontrasse o meu pai e ele o matasse para mim. Não sei se isso é realmente um trauma mas sei lá! Só sei que toda a vez que vejo um rato entro em completo pânico, mesmo que eu sabia que posso pisar nele e esmagá-lo. – Ela parou um pouco e respirou fundo – Quando eu tinha 14 anos, um rato voltou a entrar aqui e ele subiu em mim enquanto eu dormia, e eu fiquei tão desesperada que eu tive uma crise de tetania. Doc diz que indica alguma alteração bioquímica e com todo o pavor que eu senti, a adrenalina devia ter quase me matado... Enfim, eram espasmos e contrações, era muito estranho porque não doía nem nada. Eu tinha na minha mão enquanto tentava afastá-los e nos pés quando tentava correr. No fim, Ryan, com 10 anos, que acabou afastando ele de mim. Doc diz que eu tive sorte, porque se as tetanias continuassem, elas iam ser extremamente dolorosas e podiam até causar lesões e tudo o mais. Em todo o caso eu venho tentando me controlar com medo de que aconteça de novo, mas... Com todos eles ao nosso redor o tempo todo eu... Sei lá... O que você acha?

Suspirei.

-Eu não sei o que pensar. Você tem uma fobia. Isso não é realmente algo curável, não nas nossas condições... A menos que matemos os ratos juntos assim você...

-Mas eu não quero matar os ratos – Ela me interrompeu, miando como uma criança mimada, virando-se para mim. – Eu só quero que eles vão embora...

Ela choramingou passando os braços ao redor do meu pescoço, trazendo-me para perto para um abraço. Passei os braços novamente por sua cintura e deitamo-nos na chapa.

-Espero que não haja deles aqui em cima.

Ela disse depois de algum tempo que ficamos em silêncio, trocando olhares. Beijei-a levemente.

-Não há.

-Como sabe?

-Essa noite, não há.

Respondi com segurança. Ela sorriu, aconchegou-se nos meus braços e fechou os olhos, exausta. Não haveriam mais ratos em seus pensamentos. Não naquela noite.



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Notas finais do capítulo

Uma invasão de ratos é realmente horripilante, mas com o Chase lindo desses, quem é que não gostaria né? Hahaha. Esse casal é lindo demais!
E o Nick gente, que figura mais fofa! Me parece que ele e o tio Jeb vão se dar bem ;D
Por hoje é só amores, tenham uma boa noite, e não deixem de comentar, precisamos de vocês para que a fic prossiga.
Beijos!
Caah & Bella