Younger Souls escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 24
Capítulo 21 - High-School


Notas iniciais do capítulo

Ooi amores, tudo bom? Como vocês estão?
Demoramos um pouquinho dessa vez, peço desculpas. A minha net resolveu dar problema e não deu para postar esses dias.
Mas estamos de volta! E aqui estamos com o penúltimo capítulo! E não, não é o último definitivo, Hehe, apenas o último da primeira fase!
Sem mais, boa leitura! Não deixem de comentar!
Até as notas finais!



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Venha comigo agora,para ver meu mundo

Onde tem beleza além dos seus sonhos
Você pode sentir o que eu sinto
Agora,com você?
Pegue minha mão
Tem um mundo que tenho que conhecer
Strangers Like Me - Tarzan

POV. Jullie

–Jullie... Jullie...

Pisquei, sonolenta. A silhueta de Joy se destacou no escuro a minha frente. Seu hálito era forte, e estava muito próximo.

–Você bem que podia escovar os dentes antes de vir me acordar...

Resmunguei, empurrando-a de cima de mim. Ela riu e revirou os olhos enquanto eu me apoiava nos meus cotovelos, piscando para tentar me despertar. Eu sentia como se tivesse deitado no segundo anterior. Joy estava totalmente vestida e com uma mochila às costas.

–Que horas são?

–Hora da escola.

Respondeu, vagamente. Estreitei os olhos.

–Escola? – Pisquei novamente. Será que eu estava sonhando? – Já não saímos da escola há algum tempo?

–Não hoje. Se veste e me encontra na Praça Central. Vou chamar o Benji.

Joy saiu do quarto, silenciosa como só ela sabia ser. Morta de sono, eu desabei no colchão. O que será que ela ia aprontar agora?

Benji seguia Joy se arrastando, tão sonolento quanto eu. Minha irmã parecia radiante como o sol nascente, que, para minha perdição, não estava à vista do lado de fora.

–Ela te disse para onde a gente vai?

Perguntei a ele, bocejando. Ele me imitou e pousou a cabeça no meu ombro. Pousei a minha sobre a dele, fechando os olhos. Benji ainda estava quentinho da cama.

–Disse, mas acho que cochilei na metade da explicação...

Sussurrou rouco.

–Vocês dois são patéticos. Parem com isso, e prestem atenção. Sabem que dia é hoje?

Abri os olhos. Ela mal parecia conseguir se conter. Era como se a qualquer momento fosse sair voando por aí e soltando fagulhas como um foguete. Eu e Benji trocamos um olhar confuso.

–Não...

Choraminguei, sinceramente. Joy revirou os olhos.

–Dia 30 de setembro. Sabe o que isso significa?

–Que amanhã... É primeiro de outubro?

Arriscou Benji. Joy sorriu e apontou para ele, satisfeita.

–Isso! O que quer dizer que amanhã é o primeiro dia de aula. E como temos mais de 18 anos, nunca mais vamos poder pisar numa sala de aula, mesmo se a Invasão terminar.

–Eu tenho 21.

Sussurrou Benji, quase babando em meu ombro.

–É, nós sabemos disso, Benji. - Eu disse, fazendo carinho no seu cabelo para fazê-lo se calar. –Joy, vá direto ao ponto.

Pedi. Os olhos azuis de Joy brilhavam como duas safiras, animados.

–É nosso último dia na escola antes dos calouros invadirem...

–E então?

–Você vai ver... Vamos.

–Aonde vocês vão?

Perguntou uma vozinha sonolenta. Sarah apareceu, à luz da lua, arrastando os pés e coçando os olhos, sonolenta.

–Lugar nenhum.

Respondeu Joy, dando de ombros e sorrindo, inocente. Sarah estreitou os olhos e cruzou os braços, abrindo a boca e depois a fechando, olhando-nos de cima a baixo.

–Vocês... Estão vestidos.

–E daí?

Joy perguntou, sorrindo novamente. Ás vezes eu tinha vergonha da péssima mentirosa que ela podia ser. Sarah sorriu cinicamente e abriu a boca, gritando. Joy arregalou os olhos e pulou para perto de Sarah, colocando a mão sobre sua boca. Sarah se calou no mesmo instante e piscou inocentemente, como se dissesse para que ela continuasse o que dizia. Joy suspirou.

–Vamos sair. Vamos sair, está bem?

Sarah sorriu, satisfeita. Joy tirou a mão da boca dela.

–Fico pronta em 3 minutos.

–E quem é que disse que você vai?

Sarah tornou a abrir a boca e tomou fôlego. Joy apressou-se em calá-la. Sarah piscou, esperando. Joy esbravejou cruzando os braços.

–Tá, mas vai rápido.

–Ah, não! Quem é que disse que você podia levar o Ryan?!

Joy brigou, quando Sarah finalmente apareceu na garagem escura. Pisquei, acordada de repente. Sarah e Ryan entravam no cômodo de mãos dadas.

–Eu estava seguindo vocês desde que vocês saíram do nosso quarto. Eu tenho sono leve.

Eu ri baixinho.

–Sei, leve como uma orca.

Sussurrei para Benji. Ele riu, ajeitando-se na caçamba da caminhonete.

–Vamos logo crianças, antes que Joy tenha uma síncope!

Chamou Benji, acenando para eles. Animados, eles subiram no carro, ignorando minha irmã completamente. Joy respirou fundo e foi até o portão, empurrando-o para cima.

–Indo à algum lugar?

Joy gritou. Espiei pelo lado da caminhonete. Joy estava no chão e Chase ria dela, estendendo a mão para ajudá-la a levantar. Ela aceitou-a, irritada. Tinha mais alguém atrás dele.

–O que estão fazendo aqui?!

–Ouvi alguém gritar e fui ver se estava bem. E sabia que Matt é sonâmbulo?

–Só durante a lua cheia – Explicou a voz de Matt, simpática – A Jullie está aí?

–Matt! Junte-se a nós em nossa louca jornada que provavelmente vai acabar em castigo para todos nós!

Chamei, estendendo a mão para ele. Ele veio até o carro e subiu na caçamba, sorridente.

–Onde vamos?

–Não fazemos ideia.

Benji respondeu, bocejando e se espreguiçando.

–Uma jornada perigosa sem mim?

Ouvi Chase perguntar a Joy. Espiei novamente. Ele fazia um biquinho, e Joy revirava os olhos e o empurrava, sorrindo.

–Eu sou uma péssima namorada e estamos atrasados. Vamos logo!

Joy entrou na direção e Chase, no banco de carona, perfeitamente satisfeito por estar participando daquilo. A caminhonete só pegou na terceira tentativa. Mas antes que tivéssemos a chance de sair da garagem, um click de arma soou e Joy freou bruscamente. Espiei a frente. Scott apontava a arma do tio Jeb na direção do retrovisor. Joy bateu a cabeça no volante, não acreditando no que via.

–Scott, abaixa isso! São suas primas!

Disse Katherine, se colocando a frente de Scott.

–Me dá isso.

Disse Sally, tirando a arma das mãos do menino.

–Você pegou a arma do tio Jeb? - Perguntou Joy, estupefata. Ele deu de ombros e olhou para os pés, constrangido. Joy esbravejou, socando a buzina e sobressaltando a todos. – Todos calados. Os três na caçamba. AGORA!

Gritou. Trocando olhares assustados e hesitantes, os três subiram na caçamba. Sally ajeitou-se ao lado de Benji, que deitou a cabeça em seu ombro. Deitei a cabeça no colo de Matt e me encolhi, fechando os olhos.

(....)

–Senhoras e senhores, por uma noite, e uma noite apenas, eu apresento a vocês, a Tucson High School, lar dos Panthers, 3 vezes campeões estaduais, 2 vezes nacionais e já concorreram ao anual estudantil. É considerada uma das melhores escolas publicas do país e agora... – Ela empurrou o portão com um chute e puxou uma alavanca. Todas as luzes exteriores se acenderam com um zumbido elétrico. Eu de repente já não tinha mais sono. Tudo o que eu podia fazer era piscar, maravilhada. – É toda nossa...

À esquerda, um campo de futebol americano se iluminava, com arquibancadas de metal e grama verdinha e pintada com faixas brancas. Do lado direito, um complexo de prédios mantinha as luzes apagadas. Postes de luz elétrica iluminavam os caminhos de pedra laranja entre eles, Mesas de madeira ficavam do lado de fora de um dos prédios, prontas para receber piqueniques. Todos saltaram da caçamba, olhando em volta, estarrecidos. A porta do prédio mais próximo se abriu e um vulto se aproximou do nosso grupo. Apertei a mão de Matt, dando um passo atrás, temerosa de que aquilo não fosse uma boa ideia. Mas o temor não durou muito.

–Você trouxe TODO MUNDO?!

–Não foi exatamente minha escolha!

Joy se defendeu da bronca de Allie. Chase apertou os olhos, tentando vê-la.

–Allie?

–A única com confiança dos pais o suficiente para dirigir até aqui e descobrir o lugar. Fui eu quem mostrou a Joy e ela me disse que ia trazer a Jullie e o Benji...

Repreendeu Allie.

–Eles nos viram, ok?! Não sou exatamente uma pessoa discreta.

Troquei um olhar divertido com Benji. Chamar Joy de discreta era como chamar um cágado de lebre e lhe dar uma cenoura. Allie deu de ombros, indiferente.

–Bem, é mais gente para dividir o castigo. – Ela abriu os braços, - A escola é de vocês. Ela abre as seis, então nos encontraremos nos portões às 5 horas. Se precisarem de mim, estou no laboratório de biologia.

Com uma aceno, Allie virou-se e voltou para o prédio de onde viera. Todos nos olhamos, ainda meio atordoados, por estarmos tão próximos da sociedade de que fôramos duramente arrancados.

–Hum... Alguém topa um joguinho?

(...)

–Vermelho 1! Azul 30! Verde 2! Laranja 7!

–Matt! Não temos manobras! Passa logo essa bola!

–Ah, é mesmo, não é?

Disse ele, passando a bola para trás e correndo em frente. Corri na sua direção para derrubá-lo antes que chegasse à endzone. Abaixei-me contra um touro arremetendo contra um toureiro, usando meu ombro para derrubá-lo no chão. Caí por cima dele. Esperei alguns segundos até que o lance terminasse para rolar para o lado e levantar, esticando a mão para ele. Fiquei na ponta dos pés e lhe dei um selinho casto.

–Boa jogada, Panther.

Disse, piscando para ele.

POV. Sarah

–AH MEU DEUS! UM RINQUE DE PATINAÇÃO!

Gritei quando entremos aleatoriamente em um dos prédios. Um gelo lisinho brilhava a minha frente. Uma arquibancada tomava o lado direito da construção e uma máquina de bebidas ficava ao lado de uma janela com uma porta de aço que provavelmente dava para uma cantina.

–Uau...

Sussurrou Kath, olhando ao redor.

–Vamos!

Chamei, puxando-a pela mão. Em ganchos, patins pendurados balançavam fantasmagoricamente. Peguei um que parecia do tamanho certo e Kath pegou outro. Os meninos entraram e foram espiar a máquina de bebidas.

–Está brincando! – Gritou Scott enquanto nos sentávamos nos bancos da arquibancada para calçar os patins. Ele olhou para nós. – É uma máquina de raspadinhas!

–O que é isso?

Perguntei, confusa.

–Eu não faço ideia!

Ele respondeu, virando-se para Ryan que apertava todos os botões aleatoriamente. Revirei os olhos. Meninos... Kath terminou de amarrar os patins e pisou no gelo, meio hesitante, colocando um pé na frente do outro. Meu olhar se desviou para o nada. Meu olhar pousou sobre uma caixa preta grudada no teto, não muito acima dos bancos mais altos.

–Scott. – Chamei-o. Ele se desviou da máquina que servia gelo picado em um copo para um Ryan maravilhado. – Pode ver o que é aquilo lá?

Ele fez que sim e subiu as escadas entre as fileiras de bancos azuis. Ele se aproximou da caixa, enquanto Kath ganhava confiança para patinar um pouco mais rápido. Scott apertou um botão. As luzes se apagaram. Ryan se desviou da máquina e olhou para a única luz restante. Kath se virou e teve que se segurar na barra de apoio para não cair enquanto a luz projetada na parede começava a formar imagens e uma voz começava a falar, macia e tranqüilizante, vindo de algum lugar desconhecido.

–Patinação artística. Módulo III, Salto cinco. O Salto Triplo.

A voz começou a explicar a realização do salto, mostrando patinadores e patinadoras de antes e depois da Invasão, mostrando com setas explicativas como realizá-lo. Levantei e me aproximei da barra ao redor do gelo.

–É muito bonito...

Ryan se aproximou de mim, esquecendo sua bebida na máquina por um tempo.

–É como se estivessem voando...

Disse, assombrado. Ouvi patins riscarem o gelo acima da voz da professora. Desviei os olhos maravilhados da tela. Kath imitava os patinadores nos segundos antes dos saltos, acelerando pelo gelo. E então, em um piscar de olhos, ela pulou, girando uma, duas, três vezes... Porém ao descer, ela caiu sentada sobre o gelo.

–Ai...

Gemeu, pondo-se de joelhos para levantar.

–Você tá bem?

Scott perguntou lá de cima das arquibancadas. Ela fez que sim. Entrei no gelo, quase escorregando. Era mais difícil do que parecia... Peguei na barra para me equilibrar. Como Kath conseguia?!

–Kath, isso foi lindo demais! Como foi que você fez isso?

–Não é muito diferente de surfar depois que você pulou. Mas tem pranchinhas demais e água derretida de menos.

Disse acariciando o local onde caíra.

–É incrível! Será que você consegue cair em uma perna só como elas?

–Não sei... É difícil...

–Ah, por favor, Kath, tenta!

Ela suspirou e revirou os olhos.

–Está bem, mas só mais uma vez...

Disse, patinando para o meio do rinque e assistindo por alguns segundos os saltos, ouvindo atentamente às instruções da mulher que falava. Olhei para Scott para ver sua reação. Ele estava sentado em um dos bancos azuis, de braços e pernas cruzados. Ele sorria. Arriscava-me a dizer que estava realmente... Apaixonado. Voltei a olhar para Kath que se preparava para o salto, acelerando pelo gelo e então de repente, alçou vôo e girou apenas duas vezes, então pousando sobre apenas uma perna, inicialmente ameaçando cair, mas então levantando a perna oposta em contrapeso. Olhei para Scott novamente. Seu queixo estava no chão.

Bati palmas, animada.

–Bravo, Kath, Bravo!

POV. Kath

Eu estava desamarrando meus patins enquanto Sarah e Ryan tentavam não cair, assistindo ao módulo de patinação em dupla. Eu poderia ter patinado a vida toda! Eu me sentia viva riscando o gelo e saindo do chão... Mas os patins estavam incomodando, e muito meus pés. Terminei de desamarrar o primeiro e o tirei. Meu calcanhar estava em carne viva. Deixei-o de lado e tirei o outro. Três bolhas haviam se formado e estourado.

–Patinação artística. O esporte mais legal, bonito, e mais suicida do mundo...

Com muito cuidado, tentei colocar a meia para calçar o tênis, mas era impossível. Decidi que iria descalça para casa. Scott sentou-se ao meu lado, soltando o ar. Ele sorriu. Sorri de volta, pousando o pé com cuidado no chão, corando.

–Você estava... Muito bonita lá... Patinando...

Disse baixinho, coçando a nuca, parecendo desconfortável. Corei ainda mais, desviando o olhar.

–Obrigada... Não é muita coisa na verdade...

–Bem, foi divertido de assistir.

–Que bom.

Respondi, sorrindo. Olhei para ele. Ele me encarava com aqueles olhos azuis, brilhando sob a luz do módulo de patinação em dupla. Eu o senti se aproximar e por instinto me aproximei também. O tempo ficou mais lento, o som da projeção diminuiu, e tudo o que eu podia ouvir era o meu batimento pulsando em meus ouvidos. Fechei os olhos e continuei me aproximando. Encaixamos-nos perfeitamente, e de repente, o som dos patins riscando o gelo, se assemelhava ao som de faíscas voando.

POV. Benji

Eu me perdera de todos, explorando os prédios um a um, guardando na memória cada detalhe de cada sala e corredor, vendo finalmente algum sentido nas palavras anteriores de Joy. Ultimo dia da escola e ao mesmo tempo, por algum infeliz acaso do destino, o primeiro. Tempos que jamais iriam voltar. Encontrei uma porta dupla com uma barra de segurança de ferro. Segui as instruções em uma placa para destravá-la e entrei. Uma área extremamente grande era cheia de bancos almofadados que apontavam para um lugar mais alto, um palco. Sally estava nele, fazendo um discurso com um estranho objeto em mão. Era como uma escova de dente gigante e branca, com cerdas ao redor de todo o cabo.

–E embora a competição tenha sido muito acirrada, não estou rrrrealmente surpresa por ter ganhado. “Meu diário” foi uma obrrrra muito fácil de escrever, já que apenas relatei o que vi, mas nem por isso é menos especial. Eu acrrrredito que ele poderá ser usado por gerrrrações, tanto pelas comunidades científicas quanto para o uso pedagógico. Ele retrata, em primeira mão, o dia a dia de um guerrilheiro...

Ela se curvou e mandou beijos para a platéia imaginária. Bati palmas e assobiei longamente. Ela olhou para mim assustada e começou a corar fortemente, cobrindo o rosto com a mão.

–E o melhor de tudo, é modesta.

Eu disse, subindo ao palco com as mãos nos bolsos. Ela tirou as mãos do rosto. Estava vermelha do pescoço à raiz os cabelos vermelhos.

–Não era para você ouvirrr...

–O que é isso aí?

Perguntei extremamente curioso sobre o prêmio.

–É o prêmio de literatura escova de privada. – Ela respondeu, baixando os olhos – Pelo menos é o que diz a etiqueta...

Eu ri.

–Então, como eu não deveria ouvir? Eu acho que minha obra “Todo mundo faz caca”, que escrevi como trabalho escolar quando pequeno tinha sérias chances, além de ser mais condizente com o prêmio – Me aproximei e virei a cabeça de lado – E... Eu devo dizer que eu sou um péssimo perdedor.

–Não importa se é péssimo. Já perrrrdeu.

–Passa para cá, mocinha.

–Ah, você quer? – Ela perguntou, sorrindo. Fiz que sim, me aproximando. – Então venha pegarrr...

Ela correu para dentro dos panos pendurados ao redor do palco. Escondeu-se atrás deles, rindo e flexionando o dedo, me desafiando a segui-la. Corri na sua direção e ela evaporou antes que eu chegasse ao tecido preto. Ela assobiou já do outro lado do palco, o som ecoando pelo local extremamente acústico. Ela riu de mim, mostrou a língua e pulou do palco, correndo para a porta. Perdi-a por apenas um segundo. Abri a porta. Ela já estava no fim do corredor. Ela virou-se para mim, correndo de costas, fazendo os cabelos ruivos se esvoaçarem ao seu redor assim como o vestido. Era a coisa mais linda que eu já tinha visto.

Ela riu, provavelmente da minha cara de bobo e continuou correndo. Saímos do prédio. Sally era muito mais rápido que parecia. Ela jogou seu prêmio fora. Sabia que esse não era meu real objetivo. De vez em quando ela olhava para trás, gargalhando da minha patética tentativa de alcançá-la. Então, tive uma ideia. Escondi-me atrás de um prédio e espiei-a pelo enquanto ela virava para trás e dava pela minha falta. Sally uniu as sobrancelhas quando viu que eu não estava lá e parou de correr, olhando ao redor.

–Benji?

Quando ela virou-se de costas para o meu esconderijo, corri até ela e abracei sua cintura por trás, beijando sua bochecha.

–Ainda quero aquele prêmio...

Sussurrei. Ela riu, virando-se para mim e passando os braços pelo meu pescoço, me puxando para perto.

–Você me assustou!

Ela bronqueou, respirando fundo.

–Desculpe, só estava brincando.

Ela se afastou e sorriu, aproximando-se novamente para me beijar. Inebriados um pelo outro, vagamos cegamente pelo campus até encontrarmos com uma parede para nos apoiarmos – Ou até ela nos encontrar... Minhas mãos passavam pela cintura de Sally e as delas pelo meu cabelo. Por mais que eu quisesse ir além, respeitava-a o bastante para não o fazer. Sabia que por conta do que Mark havia feito, aquilo era uma questão complicada para ela, e por Sally, eu era capaz de esperar.

Ela se movimentou e nós giramos, e foi a minha vez de ser pressionado contra a parede. Ela enroscou os dedos nos passadores dos meus jeans, me puxando para mais perto. Nossos beijos ficaram mais e mais ardentes. Respirar ficava difícil e cada vez que o fazia, me sentia mais e mais inebriado pelo perfume de sua pele. Cada vez que abria os olhos, só via as chamas vermelhas que eram seus cabelos e a imensidão verde que eram seus olhos. Giramos novamente. Eu mal podia me conter...

Um click levou-nos para trás. Uma porta de metal que não tínhamos notado se abrira, e nos vimos dentro de um cômodo recheado com uma luz azul dançante. Separamos-nos por alguns segundos para ver onde estávamos. Uma piscina enorme era rodeada de arquibancadas de azuis. O reflexo que a água fazia no teto de metal era quase mágico. Troquei um olhar maravilhado com Sally, sorri maliciosamente e a empurrei na piscina. Seus cabelos ruivos boiaram e se agitaram sob a água como uma chama. Então ela veio à tona, cuspindo água, estupefata. Eu ri e pulei ao seu lado, juntando as pernas à barriga para fazer uma “bomba” e espirrar água para todo o lado.

Quando vim a tona, Sally gargalhava, negando com a cabeça, como se não acreditasse no que via.

–Você é louco, Panther!

Alcancei-a. Ela enlaçou as pernas ao redor da minha cintura e passou os braços ao redor do meu pescoço. Prendi-a contra mim com as mãos em suas costas. Estávamos encharcados, dos pés à cabeça. Mas nem isso importava.

–Seu louco. Seu Panther.

Sussurrei.

POV. Joy

Eu estava sentada na trave amarela do campo de futebol, olhando as estrelas e a lua cheia, e balançando os pés no vazio. Ouvi algo bater no metal e desviei os olhos ao local. Chase se balançava na trave.

–É incrível, não é? – Ele perguntou, suspirando – Como um lugar que as pessoas tanto tentavam evitar faz tanta falta para nós?

Fiz que sim, voltando a olhar para a luz e então me desviando para minhas mãos jovens, já cansadas do trabalho braçal. Joguei-me para trás e fiquei pendurada de cabeça para baixo, com as pernas me prendendo à trave, balançando suavemente.

–Elas não tinham ideia da sorte que tinham... Esse lugar... É o paraíso... Poder conhecer todas aquelas pessoas incríveis, se divertir quando desse na telha... Sabe Tim-Tim por Tim-Tim como o mundo funciona – Suspirei – Eles eram os reis do mundo. Eram jovens, bonitos, ambiciosos...

–Quanto maior a subida maior a queda. Olha para nós agora,,,

Ele ergueu-se na barra até se por sentado ao meu lado e se jogou para trás para ficar pendurado como eu. Olhei para ele, sorri de leve e estendi a mão. Ele a pegou e a apertou, sorrindo de volta.

–Você acha que... Se soubessem... Se percebessem, fossem avisados, ou soubessem dos hábitos das Almas... Será que faria alguma diferença?

–Como assim?

Suspirei, olhando para a grama abaixo de nós.

–Será que teriam medo? Cuidariam do planeta depois disso? Parariam suas guerras? Engoliriam os orgulhos e pediriam desculpas uns aos outros? Seriam mais gentis, menos egoístas? Diriam não às drogas que lhe faziam mal, assim como ao álcool? Deixariam de roubar, matar e torturar? Será que... Se voltássemos no tempo e os avisássemos... Eles mudariam?

–Mas Joy... Se mudassem não seriam diferentes das Almas.

–Seriam eles mesmos. Mais evoluídos. – Ficamos em silêncio por um tempo, perdido em pensamentos. Ri de leve – É engraçado pensar que... Se nada disso tivesse acontecido... Você estaria no Colorado, minha mãe em Seattle... Pelo menos o corpo dela... Papai no Arizona... E só você, Sally, Matt e Allie estariam aqui. O resto de nós jamais nasceria...

Ele sorriu, brincando com meus dedos.

–Então podemos dizer que há males que vêm para bem - Sorri e ele beijou meus lábios rapidamente – Foi muito legal você trazer todo mundo aqui...

–Eles merecem. Todos eles. Eu só queria trazer a Jullie e o Benji inicialmente. Era para ser nossa última aventura juntos. Mas pensando bem... Todos merecem. Cada um deles. – Suspirei – Eu os amo, Chase. Quero o mundo de volta para eles. Porque eu sei que merecem muito mais do que se enfiar a noite às escondidas em uma escola.

–Mas é um começo.

Sorri, concordando. Chase sempre sabia o que dizer.

–É. É um começo. – Lancei um olhar ao prédio onde Allie estava enfiada, assistindo as aulas de Saúde previamente gravadas. Ela parecia certa do que queria da vida dali para frente. – Se a guerra não existisse... Você já pensou no que seria?

–Militar.

Ele disse dando de ombros. Eu ri, empurrando-o. Ele riu, fazendo força para se levantar e ficar sentado na trave. Ele estendeu a mão e me puxou para cima.

–Está bem, essa foi uma pergunta idiota.

–Bem, para mim foi. Mas, o que você seria?

–Eu? – Balancei a cabeça – Eu não posso pensar assim.

–E daqui para frente? Se tudo isso acabar?

Pensei um pouco.

–Eu seria... Professora, eu acho. De nenhuma matéria em especial. Gosto de pessoas, e gosto da escola... Eu ia ensinar meus alunos a gostarem uns dos outros. E eles seriam o futuro do mundo... E passariam minha ideia para os filhos, que passariam para os filhos deles...

–Você seria como uma grande mãe?

–Uma grande mãe – Concordei. – Como a minha.

–Isso é lindo Joy. Você é linda.

Sorri, desviando o olhar, corando de leve. Ele aproximou-se e nos beijamos de forma cândida e doce.

POV. Matt

O corredor estava escuro e a única luz provinha de uma sala no fim deste. Uma voz hipnotizante e acalentadora soava, falando sobre dança. Na sala, rodeada por espelhos e barras de madeira fixadas na parede, Jullie assistia à imagens de meninas pulando graciosamente sobre um palco, esticando as pernas às extremos que eu nunca imaginei serem alcançados, e movendo-se ora com suavidade, ora com violência quase selvagem. Nunca caíam. Nunca nem sequer hesitavam antes de lançarem-se nos braços um dos outros.

–São lindas, não são? – Jullie perguntou-se sem desviar os olhos da projeção na parede – Parecem anjos...

Fiz que sim, sentando ao seu lado.

–É como se nem ao menos tocassem o chão...

Sussurrei. Ela concordou com a cabeça.

–Por outro lado... É um pouco inútil.

–Inútil?

Jullie deu de ombros.

–Só mais uma coisa para se perder com a Invasão.

–Então somos todos, um bando de inúteis.

Brinquei, revirando os olhos. Ela riu de leve e virou a cabeça de lado, olhando-as.

–Desculpe... Acho que só tenho inveja delas... Quero dizer, elas são tão perfeitas...

Olhei para ela, que olhava para a parede como uma criança fazendo um desejo à uma estrela. Alcancei seu rosto e vi-lo-ei para mim, segurando-o entre as mãos.

–Jullie. Você é perfeita. Do jeito que você é.

Ela fez que não, se desvencilhando de mim, e apertando um botão em uma pequena barra de plástico. A imagem desapareceu e ambos ficamos no escuro. Seus olhos azuis brilhavam como safiras quando ela olhou para mim.

–Você não pode estar falando sério...

Ela disse insegura.

–Estou. Muito sério.

Respondi-lhe, tomando suas mãos nas minhas. Ela se aproximou e me beijou, sorrindo.

–Vamos achar alguma coisa divertida par fazer por aqui.

Disse, puxando-me pela mão para o corredor envolto em penumbra. Olhávamos as placas das portas, que indicavam os tipos das aulas gravadas que ali continham. Estanquei a frente de uma porta, sem ao menos ler a placa. Pela janela na porta, via-se uma silhueta de costas para a porta.

–Jullie, corre.

Avisei, soltando sua mão e abrindo a porta, correndo para dentro da sala.

–Matt! Para! Isso é...

Não a ouvi, gritando a pulando sobre a silhueta. O cara desabou na hora, e acabamos nós dois de cara no chão. Seu cabelo cheirava a... Borracha? E o chão cheirava à chulé e PVC antigo. Jullie entrou na sala, gargalhando.

–Matt... Essa é... É a... – Ela mal conseguia falar entre os risos que sacudiam seu corpo – É a sala de luta! Sai logo de cima desse boneco!

Fui forçado a rir da minha própria idiótica, rolando para cair deitado no tatame. Ainda rindo, Jullie estendeu a mão e me ajudou a levantar.

–Você ‘tá bem?

Ela perguntou, arrumando meu cabeço. Fiz que sim, acariciando o pescoço dolorido.

–O cara era bom, mas não teve chances contra mim e minha super técnica...

Jullie riu mais uma vez o olhou ao redor da sala. O lugar era maior que as outras salas, mas em compensação, extremamente abandonado. Mais bonecos de treino como o que eu derrubara, assim como outros itens se encontrava abandonados na parede e pelo chão, com teias de aranha e cobertos de poeira. Nenhuma das caixas pretas com aulas estava a vista.

–Esse lugar está tão... Vazio...

Jullie sussurrou, como se a sua voz pudesse incitar os ki monos embolorados a vir estrangulá-la.

–Acho que as Almas não apreciam a arte da luta.

Eu disse, dando de ombros.

–Mas isso está errado. Eram violentas algumas, sim, mas são parte da herança humana. Não podem pô-la de lado só porque é desagradável.

Olhei para uma Jullie revoltadíssima.

–Eles descartam Hospedeiros que não se adéquam à raça. Porque manteriam uma atividade assim? - Peguei sua mão, conduzindo-a para fora da sala.- Vem, vamos dar o fora daqui.

–Sala escura... ISSO sim soa excitante!

Disse Jullie, não hesitando ao abrir a porta após ler a placa. Segui-a, cauteloso, com o pescoço ainda dolorido. Sua mão procurou a minha no escuro. Uma luz vermelha se acendeu automaticamente quando entramos, com um “click” mecânico.

–Tem luz... Na sala escura?

Perguntei incrédulo. Estávamos cercados de varais com fotos penduradas na parede. Havia vasilhas com líquidos e pinças.

–O que é esse lugar?

Meu olhar foi atraído para uma prateleira atrás de nós com uma coleção admirável de câmeras fotográficas antigas. Aproximei-me para ver suas marcas. Nikon, Polaroid... Peguei uma delas aleatoriamente e olhei para Jullie através da lente.

–Jullie...

Chamei-a. Quando ela se virou, apertei o botão, fazendo uma lâmpada branca piscar de repente. Ela pulou para trás e eu também, assustado. Algumas fotos começaram a chiar.

–Que merda é essa?!

Jullie perguntou, esfregando os olhos. Eu não entendia... A câmera dos meus pais nunca fizera nada parecido...

–Eu não sei, eu só... - A câmera imprimiu um papel com um plástico sobre este, mas não havia imagem alguma. -Acho que essa câmera está quebrada...

Sussurrei. Jullie, ainda esfregando os olhos e piscando, discordava.

–Ah, eu te garanto, funciona muito bem...

Curioso, virei o papel de todos os modos, procurando a imagem.

–Que ideia é essa? Joga isso fora! Se souberem que estivemos aqui, vai chover Buscadores na estrada! Almas não invadem escolas durante as férias!

–Está bem, está bem, vou jogar...

Joguei o papel no líquido vermelho, esperando que fosse algum tipo de ácido. Porém, ao contrário, a ponta da foto que tocou o líquido começou a revelar a imagem do rosto curioso de Jullie. Usei uma das pinças para afundá-la mais.

–Jullie – Chamei. Ela piscou para mim, meio cega. – Dê uma olhada aqui.

Ela veio para o meu lado e arregalou os olhos.

–O líquido! É mágico!

–É pouco prático... Mas o efeito é bonito.

Levantei a foto com a pinça, fazendo o líquido pingar sobre o recipiente. Era uma foto realmente bonita.

–Posso ficar com ela?

Pedi. Jullie deu de ombros.

–Foi você quem tirou, não foi?

Ela sorriu e voltou a examinar o resto da sala. Pendurei a foto para secar e devolvi a câmera Nikon, espiando às outras. Optei por uma Polaroid dessa vez. Decidi usar a mim mesmo como cobaia dessa vez, tendo em vista que Jullie se aproximava bastante das fotos para vê-las. Virei a câmera para o meu rosto e disparei o flash de luz. Ele me cegou por um segundo e ouvi um novo chiado.

–Matt! Matt para! Está estragando as fotos! É por isso que elas estão aqui! Na sala escura! São sensíveis à luz!

Exclamou ela, olhando as fotos, fascinada.

–Faz sentido... – Eu disse, balançando a cabeça. A câmera em minhas mãos imprimiu um papel completamente negro. – Ih, essa aqui deve estar mesmo estragada. Não tem nem o plástico...

Porém à medida que os segundos se passavam, a imagem se revelava sozinha, lentamente. Balancei-a, na tentativa de acelerar o processo. Funcionou.

–Bem, isso é prático...

Concluí, vendo meu rosto animado na foto em minhas mãos. Era engraçado ver a mim mesmo. Até mesmo no espelho, eu ficava sobressaltado com minha própria imagem. Era um contraste com a imagem que tinha de mim mesmo em minha mente. Talvez eu nunca fosse me acostumar a me ver.

–Jullie, veja! Essa se revela sozinha!

Ela deu uma olhada para a câmera e para a foto.

–Essa é prática... Engraçado as Almas guardarem todas essas câmeras antigas...

Ponderou, olhando a foto.

–Será que vão perceber se eu levar uma? Tem umas seis iguais a esta...

Ela fez uma careta.

–Eu não sei Matt... É errado levar algo que não precisamos...

–Mas eles também não precisam. E têm tantas...

Ela suspirou.

–Se é importante para você...

Disse, dando de ombros e se voltando para as fotos. Sorri, abrindo a mochila dela que eu carregava. Guardei a câmera e as duas fotos. Abri o armário embaixo das câmeras e procurei até achar caixas com o papel de foto idêntico ao da que eu tirara. Sorri e as guardei, fechando a mochila.

POV. Sarah

–Ryan, eu vou acabar caindo...

Avisei, tentando tatear a frente.

–Não vai não. Continue andando.

Soltei o ar, irritada. As mãos de Ryan em meus olhos não me permitiam ver que rumo estávamos tomando.

–Onde é que a gente vai, Ryan? Meus pés estão doendo daqueles malditos patins...

–E provavelmente, seu traseiro também está doendo dos tombos.

–Isso não vem ao caso. É longe?

–Já estamos chegando. Agora fique quietinha.

Disse, continuando a me conduzir a frente. Ele parou de repente e tirou a mãos dos meus olhos.

–Chegamos, mas não abra os olhos ainda. – Pediu. Suspirei, cruzando os braços. Ouvi uma porta se abrir e senti as mãos de Ryan desvencilhando meus braços um do outro e pegando minhas mãos. Ele as acariciou, me puxando a frente. Entramos na sala e ele correu atrás de mim, pousando as mãos sobre meus ombros – Pode abrir.

Eu me vi em uma floresta recheada de luz e encanto. As árvores eram feitas de papel machê pintado de negro, e desenhados com lápis prateados para se demonstrar rostos bondosos que se escondiam nos nós. Na ponta de cada um de seus galhos, folhas pintadas de azul emolduravam pequenas luzinhas brancas. Alguns postes de luz ajudavam na iluminação, fincados sobre a fofa grama artificial. As paredes estavam cobertas de tecido cuidadosamente arrumadas para cair em cascata, como cachoeiras sob a luz do luar. Um globo de espelhos girava acima de nós, iluminado por um holofote azul.

–Ryan! É lindo demais!

–Não é? Acho que tiveram pena de desmontar a decoração depois do último baile.

Ryan correu até a cabine do DJ e apertou alguns botões, fazendo uma música suave iniciar. Com uma mão atrás das costas, ele voltou para perto de mim.

–Sar, preciso te perguntar uma coisa.

–Uma coisa? – Meu coração se acelerou – Qualquer coisa...

Eu disse, dando de ombros. Ele tirou a mão das costas, revelando um crisântemo branco de plástico preso à um elástico.

–Quer ir ao baile comigo?

Eu ri, deliciada, e fiz que sim, sem nem ao menos conseguir dizer uma palavra. Ele colocou o croissàge em meu pulso e eu o abracei, apertando-o contra mim. Passando as mãos pela minha cintura, ele começou a balançar de um lado para o outro, em uma dança gostosa, girando no mesmo ritmo do globo de espelhos.

–Isso é incrível...

Sussurrei.

–Joy sabe mesmo dar uma festa.

Ele concordou.

–Não sei como agradecê-la – Olhei em seus olhos – Alguma ideia?

–Sim. Pensar nisso amanhã.

Sorri, aproximando-me do seu rosto.

–É. Isso se ainda pudermos sair do quarto amanhã.

POV. Allie

As aulas de biologia não pareciam ter fim, mesmo pulando a parte animal. Eu jamais poderia terminá-las a tempo de irmos. E então eu não poderia mais voltar por um ano inteiro. Isto é, se um dia pudesse sair das Cavernas de novo. Desliguei o projetor pelo controle remoto, com os olhos e as mãos doendo. Eu vinha freqüentado aquele prédio 6 vezes nas ultimas 5 semanas, e já tinha completado dois cadernos de 96 páginas. Eram anotações valiosas que eu pretendia dividir com minha mãe, Mandy e Doc, assim que conseguisse inventar alguma desculpa para saber daquilo tudo, é claro. Não desejava ficar de castigo até os 48 anos por fazer uma coisa que poderia salvar vidas.

Olhei para o relógio na parede. Eu ainda tinha uma hora antes de ir me encontrar com todos na caminhonete, e eu não queria, de forma alguma, assistir mais a nenhuma aula. Já não agüentava mais a voz mecânica que narrava às aulas. Se a ouvisse de novo, eu iria socar uma parede. Saí da sala, passeando distraidamente pela noite, por entre os prédios de tijolos à vista alaranjados. E estava solitária novamente... Mais uma vez todos ao meu redor tinham alguém menos eu. Até meus priminhos pequenos já tinham alguém com quem dividir tudo aquilo...

Suspirei. Talvez eu estivesse condenada. Condenada a ser o número ímpar. Sempre de lado. Sempre sobrando. Sempre comendo pelas bordas. Suspirei novamente. Que noite melancólica...

Acabei esbarrando em um prédio em que eu nunca tinha entrado. A biblioteca!

Eureka!

–Todo mundo pronto?

Perguntei, embarcando a ultima caixa de livros no carro em que viera até ali.

–O que é isso aí?

Joy perguntou.

–Uma tentativa de salvar nossas pobres peles juvenis. Ei, cadê Scott e Katherine?

Todos se entreolharam e ao redor, procurando por eles. O silêncio calou sobre nós e todos ficaram tensos. Se Scott e Kath não estavam ali... Estaríamos em encrenca?

–RAWR!

Duas pessoas com cabeças enormes e peludas de pantera chegaram rugindo de trás de um prédio com os dedos flexionados como garras. Todos começamos a rir quando Kath tirou a cabeça da fantasia gritando:

–VÃO PANTHERS!

–Cabeças de pantera no carro porque temos um longo caminho pela frente.

Eu disse, ainda rindo. Todos se ajeitaram na caçamba, muito felizes. Talvez no final, a ideia de Joy não tivesse sido de todo ruim. Senti-me bem em ver todos aqueles sorrisos. Engatei o carro com que tinha vindo à caminhonete e fui para a direção da caminhonete vermelha, batendo a porta e dando a partida.

POV. Joy

Suspirei enquanto fechava o portão da escola e subia de novo na caminhonete. Fora uma noite inesquecível, e essa não parecia ser apenas a minha opinião.

–Então, o que vocês fizeram?

Chase perguntou, esticando o braço por cima do meu ombro, exausto.

–Nós demos uma olhada pelas salas. Sabia que revelam foto em uma sala escura, porque caso contrário elas queimam?

Jullie perguntou, animada pela curiosidade.

–Mas eu peguei uma câmera de revelação automática, muito mais prática.

Matt completou.

–Tira uma foto nossa?

Pediu Sarah, encostada ao ombro de Ryan. Matt fez que sim, tirando a câmera da mochila e colocando o olho no visor.

–Só não se assustem com a luz.

Ele disparou e uma luz forte piscou. A foto foi impressa pela frente, totalmente escura. Matt tirou-a e a balançou. A imagem começou a se revelar e Matt entregou-a a Sarah.

–Algo em especial para imortalizar?

Perguntou. Sarah mostrou uma flor de plástico branca que trazia no pulso.

–Nosso primeiro baile.

Disse, com um sorriso tímido.

–Kath, algo a declarar?

Perguntei. Ela deu de ombros e Scott desviou os olhos para a estrada, como se de repente, as formigas na areia tivessem ficado muito mais interessantes.

–Seu primo tem coração.

Disse, simplesmente.

–Agora vamos parar de fingir que não estamos super curiosos e perguntar o que diabos aconteceu com vocês dois?

Perguntou Matt a Benji e Sally. Os dois, completamente encharcados, só trocaram sorrisos cúmplices, sem dividir conosco a razão do aguaceiro. Sorri. A vida estava bem. E mesmo que eu soubesse que iria ficar de castigo por toda a eternidade se descobrissem - O que a julgar pelo sol nascente, iria acontecer logo – havia valido a pena levá-los até ali. Os tinha feito felizes, e isso me faia muito feliz.

–E vocês dois, onde estiveram?

Perguntou Jullie, enquanto Matt guardava sua câmera na mochila. Chase deu de ombros.

–Tivemos uma linda e emotiva conversa sobre o futuro pendurados de cabeça para baixo em uma trave de futebol – Todos riram. Colocada desse jeito, a cena era realmente cômica – Então invadimos a cozinha, fizemos um jantar, e então assistimos a um filme.

–Primeiro encontro, serviço completo. Agora ele vai me levar para casa e meu pai vai ficar furioso e me botar de castigo. Confere.

Eu disse, bocejando e fechando os olhos, exausta. E o pior é que ainda havia uma longa noite pela frente.

POV. Allie

O primeiro sinal de que estávamos encrencados eram as lues vindas da garagem, e as portas de metal escancaradas. Diminuí a velocidade e bati na janela para chamar a atenção de Chase. Ele abriu a janelinha.

–Chase. Acorda todo mundo. Não quero me encrencar sozinha.

Pedi, entrando na garagem. Um exército de pais e mais insones e zangados nos esperava lá dentro, de braços cruzados e carrancas armadas. Tio Jeb tinha descoberto a falta da sua arma também, aparentemente.

–Todo mundo fora da caminhonete – Ordenou, de braços cruzados. – AGORA!

Todo mundo pulou da caçamba, formando uma fila semelhante à de uma parede de fuzilamento. Parei ao lado de Chase, decidida. Tio Jeb deu a volta em nós e pegou sua arma de volta.

–E é por isso que não fica carregada durante a noite. Para o caso de algum moleque bancar o esperto – Ele pendurou a arma nas costas, e veio para a nossa frente, voltando a cruzar os braços, ameaçador – Quem foi o engraçadinho?

Katherine e Sarah apontaram para Scott imediatamente.

–Eu falei para ele não fazer isso.

Disse Kath, tentando salvar a própria pele. Pela expressão do tio Jeb, não fez a menor diferença.

–Obrigada Katherine. Foi de muita ajuda. Agora, quem foi o mentor do crime?

Joy e eu trocamos um olhar e demos um passo a frente.

–Fomos nós – Eu disse cruzando os braços – Fomos até uma escola e passamos a noite lá. Só queríamos no divertir. Eu tive a ideia e Joy trouxe os outros. Se for nos castigar, castigue a nós duas.

Joy fez que sim, endossando o que eu dizia. Tio Jeb fez que sim e surpreendentemente sorriu.

–Ah, eu não tenho problemas com vocês meninas. Vejam, vocês trouxeram os carros intactos, minha arma não está carrega, e ninguém se machucou... Eu até vi uns souvenires interessantes na caçamba. De quem são as cabeças de leopardo?

–São de pantera.

Corrigiu Scott.

–Ótimo. Muito divertido. Mas, olhe só, o problema não sou eu. São eles.

Ele disse, apontando para a multidão de pais.

POV. Chase

Eu, Sally, Matt e Kath levávamos as caixas cheias de livros que Allie usara para tentar convencer a mão de que saíra para uma boa causa. Sophia fora bem compreensiva até. Melanie e Jared também. Joy, Jullie, e Ryan não tiveram a mesma sorte. Ian foi bem mais incisivo. Claro que não tão incisivo quanto Kyle. Até a pequena Jenna se mostrou furiosa.

–Tô braba! I’mão barulhento! Acoida Jenna no meio da noite! I’mão mal!

Dizia ela, batendo com a mãozinha gorducha na perna do irmão.

–Sinto falta dos meus pais – Admiti para todos. Eles olharam para mim. – Só Deus sabe o quanto. Mas hoje, estou feliz por não ter ninguém para me castigar.

Nós rimos todos juntos, quatro órfãos saindo impunes.


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Notas finais do capítulo

E ai, curtiram? :)
Eu sou suspeita, mas amei esse capítulo. Foi cheio de descobertas e aventuras! Sorte do Chase que não levou bronca rsrs
Enfim estamos chegando a reta final da primeira fase. Todos eles fizeram as suas descobertas e agora, hora de seguir em frente, certo?
Não deixem de comentar, ok? Seus comentários nos inspiram a escrever mais, acreditem.
Beijos!
Caah e Bella :)



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