Younger Souls escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 18
Capítulo 16 - Asma


Notas iniciais do capítulo

Oi amores, boa tarde! o/ Como prometido, aqui está o capítulo novinho em folha. Esse é continuação daquele em que Sarah e Ryan brigaram. Será que eles vão se resolver? Terá volta? Bom, só lendo para saber.
Não deixem de comentar, e fantasminhas, apareçam, saiam da escuridão, deixem suas opiniões, elas são importantes.
Sem mais, boa leitora e até lá em baixo!
Beijos!
Caah & Bella
*-*



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POV. Ryan:

-Ryan, você está bem?

Minha mãe perguntou, ajeitando meus cabelos para longe dos meus olhos. Levantei o rosto para ela, surpreso. Todos já tinham ido embora, deixando-me sozinho mexendo a comida de um lado para o outro no prato, sem vontade de comê-la. Minha bochecha ardia onde eu havia apoiado-a na mão nela por um longo tempo.

-Hum?

Perguntei, confuso.

-Perguntei se você está bem. – Ela pousou as costas da mão em minha testa para ver se eu tinha febre – Não está quente. Está com dor em algum lugar?

Nenhum lugar que possa ser consertado, pensei apoiando a cabeça nela. Mamãe acariciou minha cabeça, compreensiva.

-Sinto falta de Sarah.

Confessei baixinho. Ela se abaixou e beijou o topo da minha cabeça

-Vocês vão se aceitar, eu sei disso. Não pense demais nisso.

Suspirei.

-Não quero ir para a escola hoje.

Ela me dirigiu um sorriso piedoso, como se eu não soubesse do que estava falando.

-Querido, hoje é domingo.

Suspirei e gemi.

-Tá bem. Nesse caso, vou para o quarto.

-Vá sim. Eu dou uma olhava em você mais tarde.

POV. Peg:

-Estou preocupada com Ryan – Confessei à Mel, jogando os restos intocados de Ryan de volta na panela – Ele está estranho... Porque ele e Sarah brigaram mesmo?

Ela deu de ombros, os olhos castanhos espelhando a minha preocupação.

-Sarah não consegue parar de chorar para me contar. Mas tem algo à ver com Katherine.

Katherine... Suspirei. Não achava que ela tivesse nada a ver com Cassie, mas não podia negar que certamente cheirava como algo que ela faria. Não queria acreditar que haveria duas pessoas tão dissimuladas como Cassity. Aquela informação só deixou minha mente mais nebulosa: Ryan jamais se interessaria por alguém que não Sarah – e sua tristeza mostrava isso enquanto ele se arrastava para fora da sala – e eu não conseguia pensar em nada que afastasse tanto os dois, envolvendo Katherine.

-Também não tive sorte com Ryan. Ele diz que não quer falar sobre isso. Vou pedir a Ian que vá falar com ele.

Ela suspirou. Algo parecia incomodá-la.

-É, acho que é uma boa ideia. – Ela olhou fixamente para a água ainda limpa da bacia e então pegou o primeiro prato sujo, começando a lavá-lo e olhando na minha direção – Será que é grave?

-Eu não sei. – Respondi sinceramente quando ela me entregou o prato para que eu o secasse – Adolescentes brigam, não é?

Ela assentiu.

-É. Claro... – Mel soltou o ar e balançou a cabeça, olhando para mim. – Estou com um mau pressentimento, Peg. Acho que devíamos manter vigilância sob eles.

Suas palavras me arrepiaram e fizeram minhas mãos tremerem.

-O que quer dizer?

-Eu não sei, Peg. Acho que algo ruim vai acontecer.

POV. Ryan:

Não sabia se estava feliz por ser domingo.

Por um lado, eu queria evitá-la. Queria-a longe de mim, e que aproveitasse a escolha errada que tinha feito como dissera que faria. Por outro, eu queria vê-la, queria encará-la, queria ter coragem de pedir desculpas, queria ter menos vergonha da idiotice que tinha feito. Queria que ela me perdoasse e que tudo voltasse ao normal, como devia ser.

Eu não vou estar aqui quando você voltar. Essas palavras passaram a assombrar os meus dias.

Será que seria assim para sempre a partir dali? Nunca mais conseguiríamos ficar na mesma sala? Eu nunca mais ia poder abraçá-la e dizer seu nome baixinho no seu ouvido? Fazer cócegas até que ela perdesse o fôlego, ou persegui-la através das Cavernas apenas pela diversão disso? Aquilo estava errado! Sarah e eu havíamos nascido juntos, no mesmo dia, e quase na mesma hora. Estávamos destinados um ao outro. A ideia de que ela me odiaria para sempre doía fundo no meu peito, como se houvesse uma bigorna pressionando-o, bem no lugar onde Sarah costumava estar.

Tossi distraidamente uma vez, engolindo em seco. Devo ter engasgado com algo, porque a tosse retornou, mais forte. Segurei-me a parede por um segundo, tentando respirar fundo. Minha garganta chiava. Como que cheio de furinhos, meu pulmão não parecia conseguir encher-se de ar. Senti as pernas enfraquecerem e eu caí no chão com estrondo, raspando as roupas nas pedras. O peito continuava a doer.

Tentei gritar por ajuda, mas nada saía da minha garganta além de ruídos e chiados. Fechei os olhos, desesperado.

Eu vou morrer aqui. Eu vou morrer aqui. Tentava respirar fundo, mas tudo o que conseguia fazer era ofegar. Minha cabeça explodia e minha visão começava a escurecer. Deus, não me deixa morrer aqui, não assim... Lutei para me apoiar sobre os braços e me arrastar pateticamente. Não. Não sem dizer adeus à Sarah. Não sem pedir desculpas.

POV. Katherine:

Chase havia me dado um brinquedo que ele levava naquela bolsa dele para todo o lado. Se chamavam cubo mágico. Não era realmente mágico, mas era como se fosse. Estava montado quando Chase me mostrara, mas ele o embaralhou antes de dá-lo para mim. Era um cubo com milhares de articulações e várias cores. Parecia simples unir as cores inicialmente mas isso se mostrava impossível.

Estava levando-a à Sarah, para talvez distrair a sua mente. Ficar o tempo todo calada em seu quarto, pensando em Ryan, não iria ajudar em nada. E como ela não queria conversar com ele, o que me restava era tentar ajudá-la de outro modo. Eu deveria ter chegado ao seu quarto meio hora mais cedo, mas era como se aquele cubo sugasse minha alma, tornando minha única missão de vida resolvê-lo. Humanos... Somos brilhantes. Distraída como estava, tropecei em algo, quase caindo, derrubando o cubo longe de mim, quebrando o encanto.

-Mas o quê... – Olhei para baixo - Ryan?!

Seu estado estava deplorável. Estava estirado no chão, as roupas sujas e gastas, como se ele estivesse se arrastando por algum tempo. As mãos estavam pressionadas com força contra a pedra, rasgando a pele no esforço. Sua respiração era curta e rápida e um chiado vinha do fundo da sua garganta, um som familiar. Asma, pensei, aterrorizada.

Um dia, na praia, encontrei meu pai – o verdadeiro, Jimmy – respirando com dificuldade. Eu devia ter 7 anos, mais ou menos. Na época, eu ainda não desconfiada de quem ele era, mas gostava da sua companhia. Estávamos longe das cabanas, e eu não tinha ideia do que estava acontecendo com ele.

-É asma, pequenininha – Ele dissera, como sempre me chamava – Não se preocupe com isso. Tenho desde pequenininho.

-Eu posso ajudar?

Perguntara, preocupada. Ele assentira e estendera a mão para mim.

-Fale comigo.

Eu pegara sua mão e andara com ele até o acampamento.

-Eu achei tartaruguinhas na praia ontem.

Dissera no caminho.

-É mesmo?

-É. Tinha uns pássaros levando elas embora. Achei que estavam ajudando as pobrezinhas a irem para o mar. Mas eles eram malvados, não estavam fazendo nada. Então eu os mandei embora.

-Mandou, é? – Ele parara no meio do caminho e se apoiara nos joelhos. Sua garganta chiava como a de Ryan fazia agora e ele empalideceu em menos de um segundo. – O que aconteceu com elas?

-Eu... Eu vou chamar alguém.

Ele segurara meu pulso, os olhos tristes implorando que eu não fosse. Ficara apavorada, segurando a respiração.

-Não. Por favor. O que aconteceu com as tartaruguinhas? Me conte.

Engolira em seco.

-Elas foram para o mar. Algumas se perderam, mas eu as levei até lá. Eu até marquei o casco de uma delas com uma pedra. Se algum dia ela voltar para colocar ovinhos, eu vou saber que é ela.

Ele sorrira e respirara fundo. Quando chegamos ao acampamento, eu o seguira até a sua casa e ele revirara tudo até encontrar sua bombinha. Ele a chacoalhara e olhava na minha direção.

-Você fez uma coisa muito boa hoje.

-O quê?

-Salvou minha vida.

-Mas... Eu só falei das tartaruginhas.

Ele se ajoelhara a minha frente e pousara a mão no meu ombro.

-Asma é perigosa, Katherine. E o que torna ainda pior é o desespero. Você me manteve tranquilo até eu consegui isso aqui. – Ele balançara a bombinha que fizera um som engraçado – Foi a melhor ajuda que você poderia ter me dado. A calma é um dom, Katherine. Não se esqueça disso.

-Não se esqueça disso.

-Não vou.

Dissera, assim como repeti naquele momento. Ajoelhei-me no chão e o ajudei a se sentar. Seus olhos azuis estavam cheios de desespero, o desespero que Jimmy me avisara sobre. Medo de morrer.

-Ei, ei, ei, respira fundo. Se acalma. Vai das tudo certo. – Juntei suas mãos caídas ao lado do corpo e juntei-as, levantando-as até que seus cotovelos apontassem para mim, da forma como Jimmy ensinara. O ideal era uma mesa, mas eu duvidava que haveria alguma dando sopa por ali. – Evite o desespero. É que nem areia movediça, se mover só vai fazer você se afundar mais baixo. – Ele continuou chiando, como se tentasse dizer algo. – Você é asmático? Tem uma bombinha?

Ele balançou a cabeça, em pânico, a respiração se acelerando. Apertei suas mãos uma contra a outra, olhando diretamente em seus olhos.

-Ei, pare. Só vai piorar tudo. – Ele parecia continuar a tentar dizer algo, mas eu o parei com um olhar incisivo. – Não. Você tem que se acalmar.

POV. Ryan

Quis socar Kath para fora do meu caminho. Ela me tirou do chão mas não me ajudou a levantar. Não me ajudou a chegar até Sarah. Apenas segurou meus braços naquela posição estranha e ficou falando maluquices. Asmático?! Eu?! Não! Eu sempre tivera uma saúde de ferro, mesmo com o meu parto difícil.

Será que era? E se fosse? Asma. Até a palavra soava assustadora. Em parte, é claro. Asma para mim era para pessoas fracas e franzinas. Não eu. Seria assim que eu morreria? De uma doença que eu não sabia que tinha, perdido em um corredor com Katherine? O ar continuava a entrar e sair sem fazer efeito. O som ecoava na minha cabeça, repetindo como um alarme ensurdecedor: Vou morrer, vou morrer, vou morrer. Katherine pediu que eu não entrasse em pânico, mas ela dizia isso porque não era ela. Eu era uma criança. Não podia morrer. Não ainda.

Abri a boca e tentei lhe dizer minhas últimas palavras, presas na minha garganta. Eu amo Sarah. Por favor, diga isso a ela. E mais uma vez as palavras não saíam. Só chiado saía, só ar inútil entrava.

-Pense em coisas boas. Pense nas coisas que você gosta. Na sua família. E em Sarah.

Soltei o ar com um gemido, encostando a cabeça na pedra. Claro, tanto faz. O que eu tinha a perder? Imaginei o que seria da minha mãe quando soubesse que eu tinha morrido. Provavelmente se culparia por não saber da minha doença, mesmo que eu mesmo não soubesse. Encolher-se-ia a um canto e sofreria em silêncio como os da sua espécie. Meu pai... Era difícil dizer. Provavelmente sofreria em silêncio, tentando manter a família – especialmente a minha mãe – inteira. Apostava que Joy e Jullie nunca mais conseguiriam dormir no quarto que dividíamos.

E Sarah? Será que agora ela me odiava a ponto de não sofrer caso eu morresse? Não. Ela não seria assim, embora nesse caso, seria melhor que fosse. Eu não queria que ela sofresse. Precisava que ela ficasse bem, porque se não ficasse, eu jamais poderia realmente ir embora. Ficaria vagando por ali para sempre.

Em retrospecto, eu tivera uma vida boa. Não longa, claro, mas boa. Com tantos humanos suprimidos lá fora, eu estivera protegido. Fizera a diferença, mesmo que nunca tivesse lutado. Eu estive lá, fui um humano a mais. E certamente não seria esquecido tão cedo. Eu tinha quase certeza de que aquilo era ser eterno, infinito. Aquela certeza me acalmava, como Katherine dissera que eu devia fazer. Se eu precisava morrer, estava tranquilo com isso, embora a asfixia não parecesse ser uma maneira agradável de partir.

Não deveria demorar muito dali para frente. Conseguia ouvir o ar arranhar sofrido pela minha garganta como que através de um corredor atulhado.

-Kath? – Chamou uma voz triste – Ei Kath! É você aí? Chase disse que... Ah meu Deus, Ryan!

Sarah, pensei, deliciado. O semblante triste e abatido dela me examinava, preocupada, provavelmente se perguntando o que havia de errado comigo. Tentei diminuir o chiado para não assustá-la, mas não conseguia.

-O que está acontecendo com ele?

-Asma. Vem cá. Segure ele nessa posição e fale com ele. Você precisa mantê-lo calmo – Katherine disse, acenando com a cabeça para mim. Senti suas mãos serem substituídas pelas de Sarah. A pequena cicatriz embaixo do dedão, pensei atordoado, sentindo a familiaridade daquelas palmas – Eu vou pedir ajuda.

Sarah assentiu e Katherine se afastou correndo. Os olhos castanho-esverdeados de Sarah olharam dentro dos meus.

-Mas Ryan... Você não tem asma.

É mesmo? Diga isso aos meus pulmões. Concentrei-me nela, tentando me manter calmo como Katherine dissera. Ela tinha razão. Melhorava quando eu me acalmava. Ficamos ali, olhando-nos nos olhos. Quando minha visão começava a escurecer, eu ofeguei loucamente, na tentativa de ter apenas mais um segundo. Parei quando vi que me desesperava novamente. Tentei soltar meus braços. Sarah soltou-me como se eu já fosse um cadáver. Lágrimas desciam pelo seu rosto.

Com a força débil que me restava, passei os braços ao redor do seu pescoço e puxei-a delicadamente para perto até que nossas testas se encostassem. Ela levou uma mão até o meu pescoço e a outra envolveu minha nuca. Inspirei fundo seu calor e o cheiro da sua pele. Ao contrário do ar, isso pareceu se fixar dentro de mim.

-Ryan...

Ela gemeu, baixinho.

-Me desculpa.

Consegui dizer, tão baixo quanto possível, entre chiados. Ela levantou o olhar, confusa.

-O quê?

-Pelo que eu... Fiz. Com Katherine.

Ela soluçou uma vez e então duas. Beijou-me, um selinho mais longo e de certa forma nervoso, tenso. Frustrado.

-Só continue respirando, seu estúpido.

Ela disse, revirando os olhos. Controlei a respiração por tempo o bastante para dizer o que eu acreditava serem minhas últimas palavras – e que palavras boas seriam...

-Eu te amo.

Ela ofegou e então soluçou, como se eu a tivesse machucado. Apertou a mão ao redor da minha nuca.

-Por favor, não vá embora – Pediu, chorando – Por favor, por favor, não me deixe, Ryan.

Não chore, queria pedir. Não é como se fosse escolha minha, queria reclamar. É difícil respirar, queria me explicar. Está escuro, queria gemer. Voltei a ofegar. Voltei o chiar. E as últimas coisas que vieram à minha cabeça antes de eu sentir o mundo escurecer foram os olhos claros de Sarah e as estrelas do nosso local especial, do lado de fora, sobre um platô na pedra vermelha.

POV. Sarah

Kath e tio Ian me encontraram segurando o corpo amolecido de Ryan em meus braços, beijando seu rosto, pedindo que ele acordasse. O pânico que aquele chiado me trazia queimava como ferro em brasa contra a minha alma. Eu não achava que jamais o esqueceria. As lágrimas fechavam a minha garganta com um punho de ferro. Levantei os olhos para os dois que me observavam, embasbacados com a cena.

-Por favor, tio Ian, ajude-o.

Não era necessário pedir. Com um movimento rápido, ele levantou o filho no colo e sumiu pelo corredor, carregando-o para longe. Continuei no chão, sentindo o calor do corpo de Ryan se afastar lentamente de mim. Kath se ajoelhou ao meu lado e passou o braço ao redor do meu ombro. Apoiei-me nela, chorando.

-É tudo minha culpa, Kath. Ele não queria pedir ajuda, ele queria me pedir desculpas.

Ela abraçou meus ombros que tremiam ao soluçar. Ajudou-me a levantar.

-Venha querida. Vamos avisar a mãe dele e tomar um banho quente. Vai estar tudo bem quando voltarmos.

Respirei fundo, passando os braços ao redor da sua cintura, caminhando apressadamente até o refeitório, onde eu sabia que minha mãe e tia Peg estavam lavando louça.

-Como você sabia o que fazer?

Ela sorriu e deu de ombros.

-Meu pai me ensinou.

POV. Peg

Eu saí correndo no instante que Sarah terminara a sua primeira frase.

-É Ryan, tia Peg, ele está muito mal!

Não quis saber o que era ou qual a gravidade. Meu bebê precisava de mim. Enquanto corria, a única na minha cabeça era o mal pressentimento de Mel mais cedo. Eu devia ter ido com ele até o quarto. Sabia que ele não estava bem. Ah, Deus, meu menino, meu pobre bebezinho...

Cheguei ao hospital mais rápido do que eu esperava. Era como se eu tivesse voado metade do caminho. Mas eu não devia estar surpresa. Quando se tratava dos meus filhos, não havia nada que eu não era capaz. Fiquei paralisada na porta com o coração na boca.

Ryan estava deitado sobre uma das macas, com a boca entreaberta, como se tivesse apenas pego no sono ali. Seu peito subia e descia tranquilamente. Ian já estava lá, olhando tristemente para ele e acariciando seu cabelo. Doc remexia uma caixa na sua mesa.

-Ian.

Ele levantou os olhos para mim e imediatamente veio em minha direção. Corri até ele.

-O que aconteceu?

-É asma.

-Asma? Ryan não tem asma!

-É uma alergia. – Explicou Doc, olhando para mim mas ainda mexendo na caixa – Quer dizer, foi provocado por uma alergia. A asma é genética. A alergia pode ter sido qualquer coisa: Poeira, ácaros, ou até emocional. Ele e Sarah não tinham discutido ou algo assim?

Soltei o ar, apavorado. Eu devia ter notado, eu devia ter... Ele vinha tossindo desde a briga, uma tosse seca, sim. Mas o tempo estava horrível e muita gente estava assim. Imaginei que era apenas uma irritação de garganta passageira. Eu jamais imaginaria... Oh, meu menininho.

Fui até a maca e sentei-me no canto dela, puxando Ryan para o meu colo e abraçando seu peito, indo para o meio do colchão fino. Os lábios e a pele sob as unhas estavam levemente arroxeadas. Eu não sabia o que queria dizer, mas sabia que não era bom. Beijei o topo da sua cabeça, afogando-me na fartura loira e desgrenhada que era seu cabelo. Eu fizera aquilo, cada pedacinho dele, dentro de mim. Como poderia não sabe? Como podia cuidar tão mal de algo tão precioso que fora confiado a mim? As lágrimas desceram pelo meu rosto silenciosamente. Senti o braço de Ian ao redor do meu ombro e ele pousou a mão protetoramente sobre o braço de Ryan.

-Ei, ei, chega de tristeza. Vamos colocar esse menininho lindo de volta no ar.

Doc se aproximou com um Acordar e uma latinha engraçada em formato de L. Ele borrifou o Acordar à frente do rosto de Ryan que franziu o nariz, piscando quase que instantaneamente. Doc agitou a latinha e levou-a até a boca de Ryan, pressionando o botão.

-Vamos lá, inspire fundo. Pela boca.

Depois de um momento de hesitação, Ryan obedeceu, respirando fundo. Respirei com ele, aliviada. Depois de três respirações, Doc recolheu a latinha e Ryan se sentou, atordoado.

-O que é isso, Doc?

Perguntei, curiosa.

-O novo melhor amigo de Ryan. É um inalador. Faz os brônquios dilatarem e assim, a respiração normaliza e a crise passa.

-Mas... Isso é um remédio humano. – Disse Ian, olhando preocupado para Doc – Como vamos encontrar mais quando acabar? Asma não é para sempre?

-Para sempre?

Perguntei, apertando Ryan contra mim. Ele pousou a mão sobre o meu braço, apertando-o de leve.

-Não é preciso usar todo dia. Só quando precisar. Essa é a primeira crise dele. Não acho que vá ficar mais freqüente. – Ele cutucou Ryan – Mas alguém aqui precisa resolver seus problemas se quiser não quiser continuar dodói.

Ele desviou o olhar, sorrindo de leve como se guardasse algum segredo engraçado. Beijei novamente sua cabeça, acariciando seu peito.

-Tem uma caixa lá, então eu não me preocuparia. Não por enquanto.

-Por enquanto?

-Isto – Ele mostrou o inalador – É um remédio de curto-relevo. Alivia os sintomas, mas não cura a doença. Antigamente, as pessoas asmáticas tomavam remédios todos os dias dependendo da gravidade. Hoje em dia... É difícil dizer.

-Quer dizer que... – Estremeci. A frase assustava-me. - Pode piorar?

Doc deu de ombros.

-Sinceramente, só podemos esperar eu não.

POV. Ryan

-Então, você tem asma?

-Aparentemente.

-E quem você pegou?

- -O que?

-A asma. Não é transmitida por... Você sabe o que?

Revirei os olhos.

-Isso é AIDS, Scott.

Ele deu de ombros e jogou o inalador de volta para mim. Eu precisava ficar no hospital aquela noite para observação, muito embora não haveria muito o que fazer caso eu tivesse outra crise. Só inalar e ver o que acontecia. Scott estava me fazendo companhia enquanto tio Doc tomava um banho e comia alguma coisa para a noite de vigília que passaria do meu lado.

-E você vai morrer logo?

-Não pretendo, não.

Ele assentiu, balançando as pernas no vazio debaixo do catre.

-Porque? Você ia sentir minha falta, seu bebezão?

-Claro que não. Mas quero esse inalador aí. Será que dá pira?

Dei um tapa na sua nuca.

-Também te amo, seu estúpido.

Nós ficamos em silêncio. Scott desistiu de sentar ali e foi mexer nas coisas do tio Doc. Ia mandar que ele parasse, mas como todo bom arruaceiro, ele sabia colocar as coisas no exato mesmo lugar onde estavam antes, como se nunca tivessem sido tocadas. Qualquer coisa, eu não poderia ser culpado.

Fechei os olhos e respirei fundo. Ficara tão apavorado que, agora que tudo passara, eu me sentia velho e cansado, como se não dormisse há 100 anos.

Era noite quando acordei. Scott já tinha ido embora e tio Doc lia distraídamente, olhando na minha direção de vez em quando. Acenei para ele, bocejando e ele ergueu as sobrancelhas em saudação antes de voltar a ler. Fechei os olhos por apenas mais um segundo.

Quando acordei, tio Doc dormia, sua lamparina apagada pelo vento. Ouvi uma praga baixinha e um vulto se projetar para longe da cama. Olhei na direção dele, semicerrando os olhos para poder ver melhor no escuro quase absoluto.

-Sar?

Ela baixou o rosto, parando.

-Eu não queria te acordar. Eu... Eu já estou indo.

-Não. - Pedi. - Não vai.

Estou assustado. Quase morri hoje. Quase perdi você. Quase... Queria dizer tudo isso, mas nada atravessava minha garganta. Era a primeira conversa que tínhamos em semanas. Tudo o que eu queria era estendê-la para que eu pudesse vê-la, apenas por mais um segundo. Hesitante, ela voltou para a perto, unindo as mãos sobre o colchão. Alcancei uma delas, envolvendo-a na minha. Era tão fácil quando sempre fora.

-Eu precisava ver você.

Ela disse, baixinho. Sua voz estava assustada demais para sair.

-Porque não veio antes?

-Eu vim, mas... Não passei da porta.

-Porque?

Ela olhou ao redor. Qualquer lugar, menos eu. Suas lágrimas brilharam na escuridão. Ela engoliu em seco e fechou os olhos com força. Ela soltou minha mão e se escondeu embaixo d maca.

-Sarah. Porque você não passou da porta?

Ela suspirou, de debaixo do catre.

-Porque eu fiz isso com você.

Uni as sobrancelhas.

-Do que você está falando? Asma tem predisposição genética. Achamos que é do lado da família de Pet.

-É, mas você estava bem até hoje cedo. Essa história toda começou porque eu fui cruel com você.

Rolei na cama, espiando debaixo do catre. Ela estava encolhida, abraçando seus joelhos.

-Não sou nenhuma criança para não aguentar uma bronca Sarah, ainda mais quando ela está certa. Isso aconteceu porque eu sabia que tinha sido um idiota, que tinha magoado você e que tinha sido injusto e não sabia o que fazer para me desculpar. Não sabia como consertar as coisas - Ela levantou os olhos, olhando-me de forma intensa. Ela virou a cabeça de lado, como se me analisasse - Foi porque eu achei que tinha perdido você.

Estendi a mão para ela. Ela pensou por um segundo e a aceitou, saindo debaixo do catre e levantando-se. Sem aviso, puxei seu braço com força, fazendo-a cair sobre a cama bem ao meu lado.

-Ai! Ryan!

Ela repreendeu, olhando-me intensamente. Abafei o riso.

-Sou asmático, mas ainda sou eu.

Ela se ajeitou sobre a cama, revirando os olhos e eu a cobri com o lençol. Ela aninhou a cabeça perto da minha no travesseiro. Olhei dentro dos seus olhos.

-Sarah, você me perdoa?

Ela soltou o ar, exasperada e revirou os olhos de novo.

-É claro que sim. Ryan! Você quase morreu por causa disso e mesmo que não tivesse, eu não iria querer que se estendesse por muito tempo.

Suspirei, aliviado e apoiei a cabeça em seu ombro.

-Vou pedir desculpas à Katherine de manhã, está bem?

Sarah assentiu e começou a acariciar meu cabelo, devagar e firme, os dedos finos e preguiçosos demorando-se em cada mecha dourada.

-Ryan?

-Hum?

Respondi, meio adormecido.

-Eu também amo você.


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Notas finais do capítulo

Ryan deu mesmo um susto, essa foi por pouco! E sim, Kath o salvou, quem diria ein? Agora parece que ele aprendeu a importante lição.
Esse capítulo ficou lindo demais *O* E amores, um aviso, o Nyah tá deixando algumas partes sem formatação, vou tentar arrumar isso, está bem?
Comentem e se sentirem vontade, recomendem e deixem duas autoras saltitantes *-*
Beijos e até o próximo capítulo!