Céu escrita por Liminne


Capítulo 78
Capítulo 55 - Céu




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- Uau! – o homem de cabelos claros e sorriso permanente ficou boquiaberto quando a loira chegou. – Rangiku... Você está tão linda! Tudo isso para me visitar?
Ela deu uma voltinha exibindo seu vestido novo, que mesmo sendo modelo de inverno, fazia questão de realçar sua exuberância e em seguida fez uma careta para ele.
- Você não está com esse poder todo, não. – brincou.
Ele não esperou mais. Foi até ela, tomou-a nos braços e beijou-a apaixonadamente.
- Gin! – ela sentiu a mão dele puxando o que prendia seus cabelos, mas era tarde demais. Uma onda de loiro alaranjado agora caía pelos seus ombros.
- Depois eu te ajudo a se arrumar de novo. – o sorriso ficou malicioso. – Eu prometo.
- Mas eu demorei horas pra ficar pronta... – ela argumentou toda manhosa. – E aqui nem tem espelho!
Ele riu.
- Tá certo, você venceu. – soltou o ar derrotado. – Por enquanto. – acrescentou bem baixinho, para que ela não ouvisse. – Mas e então? Para quem você se arrumou assim já que não foi para mim?
Ela piscou os olhos teatralmente.
- É que entrou um carinha na república agora que... – falou toda suspirosa, com pinta de garotinha apaixonada. E quando viu que ele a olhava com uma expressão engraçada, a máscara caiu. – Você não vai acreditar nisso, né? – riu.
- Não mesmo. – ele sorria diretamente para ela. – Eu sei que você sente a mesma coisa que eu.
Ela derreteu-se pelo tom de voz dele.
- Eu só vou para uma festa. – ela resolveu responder direito. – A Rukia-chan e o Kurosaki vão ter uma festa de comemoração... Sabe, do programa do Celeste-sama.
- Sei... – ele assentiu e uma pontada de culpa o atingiu. – Divirta-se lá.
Ela olhou para ele como se ele estivesse pedindo que ela transformasse as paredes em ouro ou algo assim.
- Eu vou, mas... – pôs a mão no peito. – Depois de te ver, vai ser difícil me contentar com ficar sem você.
- Então vamos fazer uma pré-festa só nós dois. – ele entrelaçou os dedos nos dela e a olhou com o sorrisinho malicioso de volta.
- Você não presta, Gin! – ela diminuiu os olhos azuis para ele. Mas também estava sorrindo.
- E você sabe muito bem disso. – ele indicou ao redor. – Se eu prestasse nossos encontros não seriam aqui!
Ela meneou a cabeça rindo. Era bom ver que ele estava tão bem. E que ela continuava amando-o mais que tudo, cada vez mais.
Ele colou os lábios nos dela de novo e começou a desarrumá-la. E ela não reclamou dessa vez. Afinal, ela nunca recusava um convite para uma festa!

****

- Ichigoooo! – o ruivo ouviu o berro do pai e revirou os olhos. Estava no quarto se arrumando para a festa. Já estava nervoso o suficiente para ter que lidar com o escândalo do seu pai doido. – Ichigoooooooooo! – ele continuou berrando.
- Mas que garganta! – ele murmurou para si mesmo com uma careta azeda para o espelho.
- Itsugoooo! Aparece pra eu te ver ou vou invadir seu quarto!
Os olhos castanhos dele arregalaram-se.
Nell?! O que ela estava fazendo lá? Ela era louca?!
Ah. Que pergunta idiota.
Saiu então do quarto e desceu as escadas apressadamente, com a bronca na ponta da língua e nos franzidos da testa.
- Nell! – alterou a voz. – Você não tem juízo? Sua filha não tem nem dez dias e você já viajou com ela?!
Mas a garota de cabelos verdes e olhos brilhantes nunca se abalava com broncas. Em resposta ao tom paternal dele, ela apenas sorriu radiante e estendeu a bebezinha enrolada em uma linda manta estampada de nuvenzinhas.
- Diz oi pro Itsugo, Sora! – a sagitariana pegou a mãozinha minúscula e fofinha da pequenina e balançou-a de leve. – Agora você, Itsugo! – voltou os olhos vivos para o primo. – Diz oi pra Sora!
Ela o tinha congelado e em seguida o quebrado em mil pedaços sem dó. Era golpe baixo rebater uma bronca com uma bebezinha tão encantadora!
Rapidamente qualquer coisa que o tivesse deixado bravo simplesmente evaporara. E a única coisa em que ele conseguia pensar era se aproximar da garotinha de nome tão especial.
- Sora... – os olhos encheram-se de ternura. – Oi! – sorriu feio bobo para os olhinhos cintilantes da criança. – Seja bem-vinda!
- Deixa de ser bobo, Itsugo! – Nell riu. – A parte de dar as boas vindas aconteceu há uma semana!
Ele arqueou uma sobrancelha para ela irritado. De novo.
- Mas eu ainda não a tinha visto, po! – voltou os olhos para ela e sorriu de novo. – Olha isso... Ela é tão bochechudinha! – riu.
- É, não é? – a mamãe suspirou. – E olha, tem os meus olhos!
Ichigo observou. Era verdade! Eram cheios de vida e atrevimento, iguaizinhos!
- Mas acho que os cabelos vão ser mesmo pretos e lisos iguais aos do pai. – ela continuou.
E aquilo acabou lembrando Ichigo da parte desagradável da história. Bebês não são trazidos pela cegonha afinal.
Procurou então em volta. Será que aquele maldito tinha vindo também?
Acabou encontrando-o encostado na porta conversando com seu pai.
- Ichigo! – Isshin sorriu. – A Sora não é uma gracinha?!
- É claro que é. – Nnoitora respondeu de intrometido. – Ela é a minha filha afinal! – levantou o queixo todo cheio de si.
O canceriano revirou os olhos e trincou os dentes enjoado.
- Eu não acredito que você goste mesmo de um cara desse tipo. – ele falou baixinho com Nell. – Ele é tão... – apertou os lábios enquanto procurava uma palavra adequada para descrever aquela pessoa detestável.
- Ah, Itsugo... – Nell não deixou que ele continuasse. – Como você sempre diz, eu sou maluca e não tenho juízo, não é? – riu enquanto balançava a nenenzinha no colo. - Além do que, eu sou meio masoquista, sabe?
- Argh! – Ichigo tampou os ouvidos. – Não me fale sobre isso, não quero saber!
Ele só fez com que ela risse mais ainda.
- Você não cresce mesmo! – meneou a cabeça. – Ahn... Acho que precisa se arrumar né? – direcionou o olhar para a roupa dele.
- Ah, é, claro. – ele lembrou-se. – Eu vou lá. – mas antes de subir as escadas, olhou para a priminha mais uma vez. – A Rukia vai gostar muito de vê-la! – encheu-se de ânimo e foi correndo para o quarto.

****

- Como eu estou, ahn? – Shunsui deu uma voltinha pelo hall de recepção da república e sorriu para a mulher de cabelos escuros.
- A mesma cara de sempre. – ela respondeu mal humorada.
- Que é isso, Nanao-chan?! – a expressão confiante dele transformou-se em decepcionada. – Poxa vida... Nem quando eu estou de roupa nova você me elogia. Eu nunca vou ser o bastante pra você? Que mulher exigente!
Ela revirou os olhos.
- O que adianta comprar roupa nova se nem a barba você faz? – ajeitou os óculos em sua pose inabalável.
Ele passou a mão pelo rosto e fez uma careta.
- E se eu fizer a barba? Você me dá uma chance? – puxou um sorrisinho sedutor. Isso na concepção dele, lógico!
Nanao soltou o ar entediada.
- Acho melhor nos apressarmos e... – mas antes que pudesse completar sua frase, o homem havia se aproximado dela e segurado seu queixo delicadamente.
- Me desculpe, Nanao-chan. – usou uma voz estranhamente mais suave. – Eu não disse antes, mas você está mais linda do que nunca! – puxou o rosto dela para perto do seu, a fim de beijá-la.
E, dessa vez, milagrosamente, ela não protestou.
Uma pena que ele não pôde concluir a ação.
- Jyuushiro! – seus olhos cresceram com a surpresa e ele largou a mulher. – Meu Deus! – o sorriso ficou enorme em seus lábios. – Há quanto tempo, parceiro!
- Não é? – Jyuushiro sorriu todo contente. – Achei que não nos veríamos tão cedo! – abraçaram-se.
- Pois é... – Shunsui riu. – Mas não vou esconder amigo: eu soube de tudo que estava acontecendo antes mesmo de você!
- É claro que soube! – o sagitariano não perdeu o bom humor. – Você é sempre mais esperto que eu, não é?
Os dois ficaram rindo e Ichigo ficou sem graça. É. Ele que tinha levado os pais de Rukia até a república.
- E então? – perguntou coçando a bochecha. – Vocês vão querer carona para a festa?
- Vai dar todo mundo no carro? – Renji se meteu na conversa. – Quer dizer, ainda tem eu, a Orihime, o Jyuushiro-san, a...
- Querido, não seja mal educado. – a mãe de Rukia lançou-lhe um olhar doce e assustador difícil de descrever. – É claro que tem espaço para mais dois.
Renji preferiu calar-se.
- Se o problema é carona, cheguei com a solução! – nesse momento, Rangiku apareceu estalando seus saltos no piso claro e agitando as chaves de seu carro no ar.
- Ah, ótimo! – Ichigo se sentiu mais aliviado. – Então é melhor nos apressarmos antes que a Rukia apareça!
Orihime, que esteve observando distraidamente o lugar onde sua amiga morava, despertou ao som do seu nome.
- Por que a Rukia-chan não vai com a gente?! – sua expressão estava chocada, como se aquela fosse a idéia mais absurda que já tivesse ouvido.
- Por que eu não vou com vocês? – pronto. Ela havia aparecido.
E demorou para que alguém pudesse lhe dar uma resposta. Quer dizer... Ela havia roubado a fala. E até mesmo a respiração de alguns.
Estava linda. Da cabeça aos pés. Seus cabelos estavam soltos, exceto por uma presilha grande e brilhosa em forma de estrela na lateral da cabeça. O vestido que usava era todo branco, com mangas que se estendiam até os cotovelos. Seu tecido leve e esvoaçante, todo salpicado com estrelinhas minúsculas e cintilantes. Mas ainda assim, o que mais brilhava naquela pequena e encantadora mulher eram seus olhos. Não. Seu sorriso. Não... Bem. Era difícil de decidir. De qualquer jeito, o culpado por aquela beleza não era nem o vestido, nem a presilha, nem os olhos nem o sorriso. E sim o amor. Aquela fonte de felicidade que agora residia em paz em seu peito e a fazia mais bela e especial.
- Rukia, você está... – Ichigo murmurou, mas nem ele mesmo estava se ouvindo direito.
- Ai meu Deus! – Rangiku gritou desfazendo o clima como se fosse um castelinho de areia. – Rukia, não era para você ter descido! – ela viu que Momo e Toushiro vinham logo atrás e olhou feio para eles. – Vocês deixaram ela vir! – ralhou com as mãos nos quadris.
- Eu não podia fazer nada, prima! – Momo se defendeu.
- Papai, mamãe! – Rukia ignorou a confusão e foi abraçar a família. – Hime-chan, Renji! Que bom ver vocês!
- Bem, vamos fazer isso dar certo. – Rangiku disse olhando para a cara de desespero de Ichigo. – Rukia, é muito bom te ver, você está linda, seus pais estão morrendo de saudade, mas você precisa ficar bonitinha no apartamento.
- Por quê?! – ela perguntou indignada. – A festa é minha também! Não aguento mais esse mistério! – emburrou.
- Sem pirraça, mocinha! – a libriana balançou o dedo indicador pra ela.
- Rukia, logo eu virei te buscar. Na hora certa. – Ichigo tentou conformá-la.
Ela bufou e despencou os ombros dando-se por vencida.
- Okay! – levantou as sobrancelhas irritada. – Só espero que esse suspense todo valha à pena! – resmungou.
Ichigo sorriu nervoso. [i]Tinha que[i] valer à pena mesmo.
- Certo. Então vamos para a festa! – Ichigo disse a todos. – E mais tarde eu venho te buscar, Rukia.
Ela assentiu cúmplice para ele. Confiava no que ele estava fazendo. Se estava dizendo que ia ficar tudo bem assim, é porque ia. E tinha certeza que a surpresa seria a mais maravilhosa. Ele era mestre nisso. Em surpreendê-la.
- Vou esperar lá em cima. – ela disse e foi andando até o elevador. Ouviu o movimento de todos andando para o carro e conversando animados e olhou por cima do ombro. Ichigo não demorou a captar seu olhar de volta. E então ela sorriu para ele. Só para ele.
Depois de alguns segundos com o coração disparado, ele sorriu de volta. E agora estava mais confiante.

****

- Canceriano-san! – aquela voz inconfundível. Ichigo virou-se e deu de cara com ele. Nada menos que o famoso e estrelado Celeste-sama. – Que idéia maravilhosa você teve! – ele suspirou olhando em volta.
- Oi Celeste-sama! – o ruivo cumprimentou. E sentiu-se vaidoso pelo elogio. Não era o primeiro e nem o vigésimo que tinha recebido. Estava cada vez mais seguro de sua escolha. Só faltava o sorriso dela. – Que bom que gostou, muito obrigado!
- Você fez um bom trabalho. – o loiro piscou. – Você sabe... Não só com a festa. Está na minha lista dos mais persistentes.
Ichigo sorriu como resposta. Tinha que admitir que ele estava certo.
- Falando nisso... – o homem começou a procurar. – Onde está a Capet... A Capricorniana-san?
Os olhos castanhos do canceriano diminuíram-se para o guru.
- Ela ainda não chegou. – de repente voltou a ficar nervoso. – Faz parte da festa... Da surpresa... O senhor sabe.
- Ah, sei, sei. – assentiu.
- Olá, Kurosaki! – Yoruichi apareceu sorrindo para Ichigo.
E ele sentiu-se corar violentamente.
Aquele diário maldito! Graças a isso ele sabia que ela o tinha visto enquanto... Enquanto...
- E-Er... O-olá. – deu um passo atrás. – B-bem, divirtam-se, sim? Fiquem à vontade, vocês vão ter tratamento especial. – estava suando mesmo naquele frio. – Eu preciso... Hun... Falar com algumas pessoas. Até mais! – acenou e desapareceu.
- Nossa, ele parecia nervoso! – Yoruichi virou-se para o marido com uma expressão de dúvida. – O que ele está aprontando, hein?
- Uma surpresa. – ele sorriu. – E levando em conta todas as outras que ele fez, estou muito curioso...
- Ichigo! – Keigo encontrou o amigo e foi correndo até ele. – Nem acredito nessa festa! Desde quando você é tão criativo assim, ahn?
Ele sentiu a espetada.
- Valeu, Keigo. – levantou uma das sobrancelhas.
- E então? Onde está a Ruky-chan? – os olhos dele brilhavam.
- Pode abaixando o fogo aí. – ficou bravo. – Vou buscá-la daqui a pouco. – de repente, avistou Chiharu chegando com Mai e Ashido. – Ah, olha ali! – apontou discretamente. – A sua garota.
Keigo deu um pulo instantâneo para trás de Ichigo.
- Ei! O que você está fazendo, seu idiota?
- Estou me escondendo! – ele abaixou-se atrás do amigo. – Você acha que eu estou bem? Estou apresentável? Devo ir falar com ela?
- É claro que deve! – ele respondeu rispidamente. – Mas que idéia! Agora desgruda de mim senão você vai perder qualquer chance!
- Ichigooo! – ele choramingou. – Você não disse se eu estou bonito.
O ruivo só olhou para ele com a sua cara mais azeda.
- Pelo amor de Deus! – exclamou revirando os olhos e foi se afastando. – Se vira aí. Boa sorte!
- Ichigooo! – ele berrou em pânico. – Não me deixe sozinho, seu sem coração! Você disse que ia me ajudar!
Mas, como sempre, ele só ficou gritando para as costas do ruivo.
- Acho que chegou todo mundo. – Ichigo falava consigo mesmo, observando a festa de longe. Estava tudo como planejado. Tinha que agir logo. Não podia perder a oportunidade quando estava tudo perfeito.
- Itsugo! Itsugo! – Nell apareceu correndo com a bebê no colo. – Onde está indo?
- Eu vou buscar a...
- Segura a Sora para mim um pouquinho? – ela estendeu a criança para ele. – Eu preciso ir ao banheiro urgentemente.
- Mas e o pai dela? Por que ele não faz isso? – fez uma careta indignada.
- Porque ele e o seu pai estão muito ocupados comendo. – apontou. – Acho que eles se deram bem!
Uma veia começou a pulsar na testa do canceriano.
- Era só o que faltava! – segurou a priminha sem escolha.
- Eu vou e volto rápido! – Nell piscou e sumiu.
- E eu tenho escolha? – ele resmungou. Mas foi só olhar para o rostinho adormecido da criancinha em seus braços que o mau humor passou. – Ai, Sora... Espero que você não tenha os dentes do seu pai... Puxe a sua mamãe, okay? – pensou um pouco. – Mas não tanto...
De repente, ela começou a chorar.
- Ah não! – ele desesperou-se. Lembrou na hora dos bebês infernais. Não. Não. Esse era um bebê de verdade e era adorável. Tinha que superar aquele trauma logo! – Calminha, Sora! Tudo bem... Você não vai ter os dentes do seu pai e vai ser ajuizada... – balançou-a de leve e encostou-a ao seu ombro. – Quietinha, quietinha... – funcionou. Agora ela havia parado de chorar. Foi fácil! Até que o treinamento do Infernal-sama tinha servido para alguma... – Não. – ele sentiu um frio na espinha. – Não! Não! Não! – mas sim. Tinha acontecido. Ela havia golfado na roupa dele. – Isso é um pesadelo! – ele praguejou com o maxilar travado.
- Volteeei! – Nell apareceu sorridente. – Demorei?
A cara de Ichigo já era a resposta.
- Você escolheu o nome certo para ela. – ele falava com os dentes trincados, num tom assustador. – Sora. Assim como o Céu. Só causa confusão!
- Ah, não! – Nell percebeu o que havia acontecido e cobriu a boca com as mãos. – Itsugo... Eu me esqueci de avisar que ela tinha acabado de mamar...
- Muito obrigado, Nell. – entregou-a aos braços da mamãe. – Agora eu preciso dar um jeito nisso! – apontou para a nojeira em questão.
- Hehehe... – ela fazia de tudo para não cair na gargalhada. – Me desculpe mesmo...
- Eu vou trocar essa roupa, certo? E já volto com a Rukia. – saiu andando quase batendo os pés. – Droga. Por que é que ela não fez isso com o pai nojento dela?! – sumiu da festa em direção ao carro.

****

Finalmente estava de volta à república. Respirou cansado no elevador. Tivera que dar conta de tudo o dia inteiro. Só esperava que, agora com a estrela da festa, as coisas se acalmassem para ele. Para eles. Mereciam paz, não mereciam?
Tocou a campainha do apartamento das mulheres e esperou. Ainda teve tempo de suspirar insatisfeito por ter tido que trocar a roupa. E aí ela atendeu.
- Ichigo! – os olhos dela estavam claramente ansiosos. – Demorou tanto!
- Foi mal... – ele coçou a nuca. – Alguns imprevistos...
- Está tudo bem? – ela preocupou-se.
Ele tratou de mudar o semblante. Agora estava tudo perfeito. Ele estaria com ela. Sorriu e pegou a mãozinha dela.
- Está tudo ótimo. – foi puxando-a até o elevador. – E vai ficar ainda melhor!
- Você está suando, Ichigo! – ela riu. – Eu estou morrendo de frio!
Ele olhou para ela meio atrapalhado. Estava ficando vermelho de novo.
- Eu acho que só estou um pouco nervoso... – riu de um jeito que fazia jus à sua afirmação.
- Não precisa, Ichigo. – ela usou seu tom mais terno e confortador. – É claro que estou curiosa e animada para ver a surpresa. Mas não importa o que aconteça. De bom ou de ruim. O que importa é que estamos juntos, certo?
O coração dele começou a se acalmar lentamente. Ela era tudo que ele precisava mesmo.
- É... – soltou o ar e parou de tremer. – Você tem razão, Rukia.
- Eu te amo, ta? – ela sorriu encantadoramente para ele.
Nunca havia se sentido tão seguro em toda a sua vida.
- Eu também te amo. – respondeu-a com a voz mais doce que já havia usado.
Agora nada mais podia abalá-lo. De verdade.

****

- Não acredito que fez isso comigo! – depois de tanta doçura, ela já estava reclamando. – Esconder tudo de mim por semanas já foi ruim. Agora me levar vendada para a festa? Não acha que está exagerando não?
Ele riu.
- Não estou exagerando. É uma surpresa ora. Eu tive que me esforçar tanto para esconder tudo durante esse tempo. Não vou entregar de bandeja logo agora!
Ela cruzou os braços e ficou bicuda.
- A propósito... – ela inclinou a cabeça. – Ichigo, quando eu te vi no hall da república mais cedo você não estava com essa roupa, estava?
Ele balançou a mão diante da venda dela. Será que ela estava enxergando? Parecia que não.
- Como eu disse, aconteceu um imprevisto. – ela riria se visse a careta que ele fez.
- Oh meu Deus! Não diga que te sujaram com bebida ou algo assim!
- Pior... – ele sentiu raiva só de lembrar. – A Nell pediu para que eu segurasse a Sora. E ela golfou em mim.
- Hahahahaha! – Rukia caiu na gargalhada. – Está brincando, né?
- Quem me dera. – o bico dele superou o anterior dela.
Ela ficou rindo.
- Quer parar de rir?! Não tem graça nenhuma! – ele se revoltou.
- Não consigo! – ela se abanava com a mão. – Juro que não consigo! Hahahaha! Imagino a sua cara! Como você é azarado, Ichigo! Incrível!
- Hunf. – ele já estava sem graça de tanto que ela ria. – Chegamos.
- Que bom! – só a ansiedade para fazê-la parar com o riso.
Ele estacionou o carro, saiu e abriu a porta do lado dela. Pegou suas mãos com cuidado.
- Vamos devagar. – tirou-a do carro. – Por aqui... – foi guiando-a com toda a calma do mundo.
Os dois andaram pelos fundos do estabelecimento, até chegarem a um lugar onde a música e as vozes das pessoas pareciam um pouco abafadas.
- Pronto, agora sente aí. – ele disse.
- Sentar aonde? – ela estava perdida.
Ele a colocou no lugar certo.
- Okay. – abaixou-se e começou a tirar os sapatos dela.
- Ichigo! – ela berrou. – O que você está fazendo?! Meus sapatos!
- Shhh! – ele pediu silêncio. – Não grita assim, parece que eu estou te batendo! – começou a calçá-la com algum tipo de calçado misterioso. Era pesado e... E... Familiar.
- Mas você está tirando meus sapatos! E eu não faço idéia do motivo! – refletiu por um momento. – Ichigo... Onde raios nós estamos?
Ele sorriu mais satisfeito impossível.
- Okay, acho que está pronta. – fez sinal para um dos funcionários contratados do local. – Segure firme na minha mão enquanto vou levá-la. Tenha muito cuidado! – alertou enfaticamente.
Ela fez o que ele disse. Levantou com toda a cautela e então percebeu. Ela estava calçando... Patins...?!
- Ichigo! – riu com o coração já disparado. – O que é que você está aprontando, seu maluco?
Ele nunca tinha sorrido tanto na vida. Não que se lembrasse
- Preparada? Vou tirar suas vendas. – fez com que ela subisse um ressalto vagarosamente.
- Pode tirar! – agora era ela que tremia, com a adrenalina fazendo voltas e voltas loucas pelo seu corpo.
E ele tirou. Jogou-a longe. Agora só restava esperar pela reação dela. E bem... Como começar a descrevê-la?
Os olhos azuis de céu primaveril pareciam ainda maiores. Brilhantes era pouco para descrever aquela luz maravilhada que ele emitia. O sorriso foi melhor que o esperado. Enorme, lindo, radiante. Não tinha sentimento que não estivesse traduzido naquele rosto.
Ela parecia tão bela e preciosa, que Ichigo sentiu seu coração espremer-se. Aquilo era real? Ele realmente merecia?
Bem... O céu sabia melhor do que ele.
- Ichigo! – ela ofegou. – Isso é... Isso é um sonho! – sua voz ondulava de felicidade.
O lugar em que eles estavam era familiar. Era totalmente conhecido. Mas nunca havia parecido tão especial e incrível. O ringue de patinação de gelo de todos os encontros. Aquele lugar frio que foi esquentando desde o começo aqueles corações. O início de tudo. Dos sorrisos. Dos toques. Dos segredos. De toda a cumplicidade. Naquele dia ele estava parecendo justamente como ela o pintava em seu peito. Como ele merecia. Brilhava tanto, aquele branco embaixo dos seus pés! Havia estrelinhas e luas reluzentes penduradas e espalhadas por toda a extensão do local. Era como se fosse mesmo a réplica do Céu. Do Céu deles. Com todo o brilho, toda a magia e os sentimentos que foram crescendo aos poucos, abençoados pelas estrelas.
E não era só a decoração que estava fazendo o peito da capricorniana esquentar e sua garganta apertar. Eram também aqueles rostos. Estavam todos ali. Todos que, de um jeito ou de outro, fizeram parte daquele caminho, daquela armação perfeitamente elaborada pelo destino.
Seus pais estavam sorrindo para ela de mãos dadas. Seus amigos de infância obviamente emocionados. Os amigos que conquistou naquele pequeno espaço de tempo e também os dele. Os rostos mais lindos do que nunca. A família de Ichigo, incentivando como sempre. Neliel, o namorado e a bebezinha com o nome do Céu. Celeste-sama e toda a sua equipe estrelada, parecendo realmente iluminados, com uma satisfação indescritível no olhar. Até mesmo aquele guru infernal... Até mesmo por ele ela estava sentindo um afeto grandioso naquele momento.
E, finalmente e especialmente, Ichigo. Segurando a sua mão. Como sempre esteve. Como sempre estaria.
Seus olhos derreteram e transbordaram lágrimas da cor do gelo. Porém quentes. Eram as lágrimas mais doces e quentes que já havia derramado.
- Ah, não! – Ichigo percebeu. – Eu queria te arrancar um sorriso e não lágrimas!
Ela apertou a mão dele de modo a quase esmagá-la. E então o fitou.
- Acho que eu me superei, não é? – sorriu entendendo que não podia pedir uma reação mais sincera e perfeita.
Ela não conseguiu responder com palavras. Apenas balançou a cabeça afirmando.
Celeste-sama então se apressou em começar a aplaudir. E foi rapidamente seguido por todos, transformando a festa em uma chuva de aplausos.
Ichigo ficou tímido. Mas Rukia sorria tanto que incentivava as pessoas a continuarem.
- Vamos, Ichigo! – ela finalmente conseguiu falar. Nem se preocupou em secar as lágrimas que escorreram brilhantes pelas bochechas. – Vamos mostrar para todo mundo o que viemos ensaiando durante esses dias!
Ele sorriu para ela aprovando a idéia. Ainda que tão diferentes, sabiam bem como se entender.
- Só se for agora! – respondeu e saiu puxando-a.
Enquanto os dois faziam seu show de patinação, os outros casais animaram-se a fazer o mesmo. Em pouco tempo a pista estava lotada. E não apenas de casais e de bons patinadores.
Mas nem todos eram assim tão corajosos.
- Er... Oi. – Keigo aproveitou a chance para chegar em Chiharu. Era uma das únicas que não tinha colocado os patins e ido se aventurar no gelo.
- Oi. – ela sorriu rapidamente para ele e em seguida continuou observando o movimento na pista.
- Você... Hun... Não se lembra de mim, né? – ele franziu o rosto receoso.
- Humm... – ela pensou um pouco. – Lembro sim! Você não é o garoto gentil da biblioteca?
Ele sorriu enormemente.
- Ah, sim! Sim! Eu sou esse cara aí!
Ela riu.
- Não sabia que você conhecia a Rukia-chan. – ela ficou olhando para ele.
- Na verdade, eu sou amigo do Ichigo...
Os olhos verdes dela arregalaram-se.
- Oh! É mesmo! – afastou-se consideravelmente no banco. – O Kurosaki!
- Ah, mas sabe... – ele tentou retratar-se. Pelo visto ela não gostava de Ichigo. – Não que a gente seja muuuuito amigo. A gente só... Se conhece há muito tempo e tal... – revirou os olhos. – Ele é tão chato!
- Se é chato eu não sei! – ela encolheu-se. – Mas é medonho! – fez uma careta.
- Muito, muito medonho! – ele concordou com força demais.
Os dois ficaram um tempo em silêncio encarando os patinadores.
Chiharu riu quando o loiro misterioso de chapéu escorregou de bunda no gelo.
- Er... – Keigo engoliu em seco e obrigou-se a ir em frente. – Posso saber por que você não quis ir patinar? Está todo mundo lá e tal...
- Ah, não. Eu tenho medo de cair, sabe? Já pensou que vergonha?! – meneou a cabeça aterrorizada com a idéia.
- Bem... – ele empinou o nariz. – Eu não quero me gabar, mas... Sou um excelente patinador. Se você fosse comigo, não te deixaria cair de jeito nenhum!
Ela olhou desconfiada para ele.
- Tem certeza disso?
- É claro! – ele afirmou. – Quero dizer... Talvez eu não seja excelente! Mas eu sou bom. E não te deixaria cair [i]mesmo[/i]!
Ela achou graça.
- Você promete? – ela apertou os olhos cor de esmeralda para ele. – Se eu cair vou ficar muito chateada!
- Prometo. Você pode pisar no meu pé com seu sapato se eu falhar. – olhou para o salto gigantesco e fino dela.
- Tá bom. – levantou-se. – Então eu vou! – sorriu.
- Ótimo! – ele segurou-se com todas as forças para não gritar e sair pulando. – Então vamos! – foi andando na frente.
- Olha isso! – Mai indicou Chiharu para Ashido. – Ela vai vir patinar! E com um cara!
Ashido surpreendeu-se.
- Uau, que coisa rara! Pensei que ela estava morrendo de medo!
Mai abriu a boca indignada.
- Ei! A Chi é mais corajosa do que parece, ta?
- Okay, okay! – ele levantou uma das mãos como se pedisse paz. – Achei que eu e ela fossemos os advogados, mas tudo bem.
Ela riu e mostrou a língua para ele.
- Er... Com licença... – uma vozinha fininha e hesitante interrompeu os dois. – Você é a Sagatsuki Mai-sama, não é?
Mai virou-se e seu coração deu um pulo. Nossa! Quanto respeito e formalidade com ela! Tratava-se de uma garota com olhos medrosos e cabelos pretos.
- Sim, sou eu. – ela sorriu simpática.
- Você... Você pode me dar um autógrafo? Comprei o seu livro esses dias e foi o melhor que eu já li!
A primeira reação de Mai foi olhar incrédula para Ashido.
Ele sorria tranquilamente como se aquilo fosse óbvio de acontecer. O que a deixou ainda mais emocionada.
- C-claro! – riu e pegou o bloquinho que ela estendia meio sem jeito. – Como se chama?
- Ururu.
- Ah, me desculpe o incômodo, escritora. – Yoruichi apareceu atrás da menina e sorriu. – Desde que eu comprei o seu livro e emprestei para ela, ela não fala de outra coisa! – riu. – Mas devo admitir que ela tem bom gosto. Esperamos que escreva mais livros!
- Ah, claro! – o rosto de Mai estava corado de alegria. – Podem esperar por isso! – sorriu e entregou o bloquinho para a garota. – Foi um prazer conhecê-la, Ururu!
Ela sorriu toda empolgada.
- Haha! – depois que elas saíram, a loira escorpiana ficou rindo desacreditada. – Quem diria, hein? Pediram um autógrafo como se eu fosse uma celebridade!
- E você é. – ele rodou-a em seus patins. – É a escritora mais brilhante e mais linda do mundo! – beijou-a.
- Olhem só, meninas! Olhem só como o papai arrasa nos patins! – Isshin se exibia para as filhas dando piruetas na pista.
- Papai! Cuidado! Você vai acabar acertando alguém! – Yuzu ralhava preocupada.
- Ignora, Yuzu. Ignora. – Karin aconselhou sabiamente.
Mas, como a loirinha continuava implorando para que o pai parasse com o show, ele não ia sossegar tão cedo. Até que, em um dos seus passos ousados demais, acabou derrubando um dos convidados.
- Ai, ai, ai... – o homem estava tão tonto com a pancada que nem fazia menção de levantar.
- Tinha que ser... – Karin revirou os olhos.
- Ah não! – Isshin finalmente caiu em si. – Me desculpe, senhor! Você está bem? – estendeu a mão para o homem de cabelos brancos e olhos castanhos doces.
- Estou bem, estou bem! – ele sorriu sem jeito e aceitou a mão de Isshin para levantar. – Não se preocupe!
- Foi mal mesmo... – coçou a nuca rindo sem jeito. - É que estou muito empolgado, sabe? Não é todo dia que meu filho arruma uma namorada tão linda assim!
- Oh! – já de pé, Jyuushiro ria com a situação. – Então você é o pai do Kurosaki Ichigo?
- É, sou sim! – ele afirmou vigorosamente com a cabeça. – Até que enfim me sinto orgulhoso de dizer isso!
Jyuushiro riu do jeito dele.
- Muito prazer! – estendeu a mão para ele, dessa vez em cumprimento. – Sou Ukitake Jyuushiro. O pai da Rukia. – sorriu.
- Está brincando! – Isshin apertou a mão dele. – Kurosaki Isshin! – apresentou-se. – Putz, eu derrubei o sogro do meu filho, que vacilo!
O sagitariano de cabelos compridos não conseguia parar de rir.
- Não esquente com isso! Foi um bom jeito de quebrar o gelo! – piscou.
- É! Haha! O gelo! – levou a frase como um trocadilho e começou a rir escandalosamente.
- Olha, Ichigo, olha! – Rukia apontou para os sagitarianos rindo e conversando. – Parece que nossos pais ficaram amigos!
Os olhos de Ichigo quase saltaram das órbitas.
- Ai meu Deus. Não. – apertou as pálpebras. – Não quero ver isso. Não quero nem imaginar o que eles estejam falando! – cobriu o rosto com a mão. – Meu pai vai deixar o seu pai traumatizado!
Rukia riu e deu um tapa no ombro dele.
- Não fale assim! Seu pai é um amor! Aposto que eles vão se dar muito bem! – sorriu aprovando a cena. Acenou quando o pai olhou e ele acenou de volta, todo sorridente.
- Meus parabéns! – Isshin ainda conversava com Jyuushiro. – Sua filha é linda e um amor! Ela se dá tão bem com as minhas filhas... E também, pelo visto, ensinou muita coisa pro Ichigo.
- Obrigado! Ela é mesmo o orgulhinho da família! – suspirou envaidecido. – Mas o seu filho também é um ótimo rapaz! Gosto dele! Apesar de que, dá pena, tadinho... Ele tem um problema sério de dicção, né?
- Dicção? – Isshin estranhou. – Nããão! Não tem problema nenhum na fala! O problema é que ele é um frouxo mesmo! Hahahaha. Mas tem um bom coração, né? – olhou para Rukia. – O amor é cego!
- Hahahaha! – Jyuushiro ficou rindo. Ele só podia estar brincando falando do filho assim, né? Vai ver só queria disfarçar o fato de ele ser gago!
- Olá, Capricorniana-san! – Celeste-sama chegou no casal. – E então? Que tal a surpresa?
- Não podia ser melhor! – ela sorria. – Nem a sua presença aqui a abalou, então deve ter idéia de como eu adorei.
O sorriso do loiro desapareceu na hora, dando lugar ao maxilar travado de quem se segura para não dizer... Sabemos bem o que.
- Devo repetir que você é uma mulher de sorte, Ukitake-san. – esforçou-se para sorrir de novo. – Afinal, não é fácil arrumar alguém que suporte tão bem as suas... Hun...
- Maldades? – ela tentou completar. – Ah, não. Você está enganado, é fácil, sim. É só eu ameaçar a pessoa com o meu tridente que eu escondo embaixo da cama... Ou com o poder oculto dos meus olhos! – diminuiu os olhos para ele como se estivesse prestes a lançar um raio por eles ou algo assim.
Ichigo mordeu a boca para não cair na gargalhada.
- Certo. – ele tinha sorte de ser capricorniano. Senão já tinha explodido ou voado em cima dela. – Acho melhor deixar vocês curtirem a festa, não é? Boa sorte aos dois! – e saiu patinando.
- Cuidado com os tombos, hein?! Mais um ou dois e eu posto o vídeo no youtube! – ela estendeu o celular para ele, fingindo que o estava filmando.
- Hahahaha! – Ichigo riu quando o guru sumiu. – Você é muito má, Rukia! Pensei que ia dar uma trégua a ele pelo menos no dia de hoje!
- Eu não resisti. – ela sorriu com o cantinho da boca. – Já estava guardando essa há muito tempo, desde que li aquele diário.
- Me sinto vingado. – ele disse com o mesmo sorriso.

****

Depois de um tempo, de muitos tombos e risadas, os convidados começaram a, misteriosamente, deixar a pista de gelo e sentar nas arquibancadas.
- Nossa... – Rukia notou. – Parece que todo mundo se cansou ao mesmo tempo. – achou super estranho.
- É, né? – Ichigo evitava olhar no rosto dela.
Foi o bastante para que ela entendesse.
- Isso é mais uma armação, Ichigo? – sorria para incentivá-lo. – Você quer fazer o meu coração parar, é?
Ele foi contagiado pelo sorriso dela.
- É o que eu menos quero, Rukia. – ele respondeu rindo.
Em seguida, foi patinando para o centro do ringue que agora estava completamente vazio com exceção dos dois.
Rukia foi seguindo-o devagar enquanto olhava os convidados apreensivos na arquibancada. O silêncio era geral, excluindo um chorinho fraquinho de Sora. As estrelinhas e luas penduradas pareciam soprar brilho pelo ar e entre os rostos. Seu coração não conseguia se acalmar.
- Antes de começar eu... – o rosto de Ichigo ficou vermelho quando ele levantou a voz para todos. – Eu quero dizer que não sou muito bom falando em público... Então... Eu vou ser breve.
- Deixa de frescura, Ichigo! – Isshin berrou fazendo o ruivo cerrar os dentes.
- Quando eu era mais novo... – ele começou inseguro. – Eu perguntei ao meu pai como ele e a mamãe tinham se conhecido. E então ele me disse que foi o Céu. – soltou o ar tentando tranqüilizar o peito. – O Céu... O destino... Estão interligados. E há sempre uma pessoa especial para cada um, em algum lugar embaixo desse Céu enorme. Isso era o que eu precisava saber. E foi o bastante para me fazer acreditar no destino. Eu sabia que, se meus pais haviam se encontrado, eu também encontraria a minha alma gêmea. – Rukia percebeu que ele estava tremendo e segurou sua mão. – Eu esperei. Eu me entreguei ao destino e esperei que ele decidisse a hora e a pessoa certa para mim. E ele não me decepcionou. Me mostrou a pessoa que completaria a minha alma, meu coração e minha vida. – apertou a mão de Rukia. – No começo não foi fácil. Nós parecíamos ser de mundos totalmente diferentes. Mas eu sabia que não... Eu sabia porque... Porque estávamos embaixo do mesmo Céu. E que não importava o que acontecesse... Se estávamos destinados a ficarmos juntos, era uma sina. – fez uma pausa. – Eu confesso que falhei muitas vezes, fui fraco, impaciente e até mesmo cético uma vez ou outra. Mas a fé... Eu lutei muito para não perder a fé. Eu lutei porque eu sabia que valia à pena. Muitas pessoas se esqueceram disso, mas... O amor é o sentimento mais importante do mundo. É o que todos procuram e o que nos move. E devemos fazer de tudo por esse sentimento. Tudo. Atravessar os obstáculos e superar as dificuldades. Porque o amor não é um jogo e nem uma brincadeira. O amor é a esperança e tem cara de sonho... Mas acreditem... Se vocês derem o melhor de vocês, ele pode ser realidade. – tirou do bolso, com os dedos trêmulos, uma caixinha branca aveludada e abriu-a. Tirou de lá de dentro um famoso cordão que nunca saíra da cabeça da capricorniana de olhos azuis. – Rukia... Você é o meu amor e a minha realidade. – estendeu a corrente com o coração e o K incrustado dentro. – E hoje eu quero te pedir... – ficou de frente para ela, o sangue parecendo ter se concentrado todo em suas bochechas. – Você aceita que eu marque o meu K no seu coração?
Os olhos dela faiscaram e o sorriso brotou em seus lábios grandioso e espontâneo. Como uma flor se abrindo na primavera. Como o sol que sai por trás das nuvens e derrete o gelo. Como a Lua branca que ilumina a noite.
Sua resposta foi um singelo menear de cabeça.
Os convidados emocionaram-se e começaram a aplaudir e incentivar. Gritavam, riam e derramavam lágrimas.
Mas naquele momento... Naquele momento eram somente os dois que existiam. Um para o outro. Num mundo só deles. No seu próprio Céu.
Ichigo também sentiu os olhos úmidos e rodeou-a. Levantou seus cabelos e colocou o cordão em seu pescoço. Agora seu coração estava ali. Inteiro, reluzente e mais feliz do que nunca. Junto com o dela.
- Agora eu marquei, não adianta se arrepender! – ele brincou com a voz vacilante.
- Seu bobo! – assim que ele voltou a fitar seu rosto, ela agarrou suas mãos e continuou exibindo seu sorriso. – Ele já estava marcado... – olhou mais uma vez para as estrelinhas e luas em cima de suas cabeças. – Pelo Céu. Pelo destino.
E seus lábios se uniram, inevitavelmente.


FIM

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