Céu escrita por Liminne


Capítulo 77
Capítulo 54 – O calor do inverno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/20957/chapter/77

- Vamos, Rukia? – Ichigo apareceu no portão da universidade depois da aula. – Deixa que eu carrego isso! – ele se referia aos livros dela.

- Deixa de ser babaca, Ichigo! Eu não virei de repente uma donzela indefesa! – ela tirou os livros do alcance dele e pôs-se a andar na frente. – E então? A sua prima já foi?

- Já... – ele suspirou. – Mas eu não me sinto bem com isso... Você sabe... Ela ter ido embora com aquele cara escroto! – cerrou o punho e os dentes.

- Relaxa! Ele parece ser daquele tipo que não aceita perder por nada. – sorriu para ele. – E depois que viu como você cuidou dela, vai se esforçar para fazer melhor e não perdê-la de novo para você. – piscou.

Ichigo conseguiu sorrir e soltar o corpo.

- É, você tem razão. – disse enfim parecendo bem mais leve. – Ah. A Nell mandou lembranças. E disse que você é linda. – ficou vermelho ao dizer. Mesmo que estivesse apenas transmitindo a mensagem alheia... Ou não.

Rukia riu.

- Obrigada Ichigo. Mas quando quiser me elogiar, não precisa usar o nome dos outros. – implicou.

- Eu não estou fazendo nada disso! – ele já alterava o tom de voz. – A Nell realmente disse! Eu só estou... – percebeu que ela morria de rir do seu chilique. – Grr... Você é insuportável mesmo! – cruzou os braços emburrado.

- Você também é lindo Ichigo! Tirando a sua vesguice e seu cabelo despenteado. – eles finalmente chegaram ao carro.

- Cala a boca! – ele abriu a porta com o sangue fervendo.

Mas não era só de raiva. Com certeza não. Ele estava se sentindo mais vivo do que nunca. E não trocaria aquela sensação por nenhuma outra.

Ela tocou a mão dele assim que se acomodou no banco do carona. E ele instintivamente olhou para o rosto dela. E os olhos castanhos escorregaram para aquele sorriso.

Seu coração disparou. E um gosto doce subitamente invadiu sua boca e espalhou-se por todos os seus sentidos.

Ela era mesmo linda. Muito linda. Como nenhuma outra. Como nada nesse mundo.

Correspondeu o gesto acariciando suavemente aquela mãozinha pequena.

E descobriu que, ao lado dela, cada sensação nova é melhor do que a outra. E que ele não podia escolher.

Mas para que escolher se ele tinha a fonte de toda aquela magia e felicidade ali do seu lado?

Sorriu para ela como nunca sorrira antes e mudou a atenção para a direção. Alguma coisa no fundo do seu peito dizia que o coração dela compartilhava com ele todos aqueles sentimentos. E não havia mais nada o que desejar.

 

****

 

Chegaram à loja suspeita do Celeste-sama. Saíram do carro. Encararam o estabelecimento.

Ichigo então começou a andar na frente.

- Não! – Rukia de repente exclamou.

- O que houve, Rukia? – ele virou-se para ela estranhando.

- Nada, é só que... – encolheu-se em seu casaco comprido. – Eu não sei se estou preparada para isso...

Ichigo revirou os olhos e foi até ela. Agarrou-lhe a mão e puxou-a.

- Pode parando. Você fez aquele discurso no meio de toda aquela gente esnobe e não pode falar com o Infernal-sama?

- Mas... Argh. Ele vai ficar sorrindo daquele jeito presunçoso e eu não vou agüentar! – ela estava quase sendo arrastada pelo ruivo.

- Rukia, para de bobeira! A gente já agüentou coisa pior dele!

Ela bufou e deu-se por vencida. De qualquer forma, era honesta e sabia que precisava fazer isso. Não tinha outro jeito.

- Pelas brilhantes estrelas do céu! – os olhos de Celeste-sama faiscaram por baixo da sombra do chapéu. – Olha quem está aqui! – praticamente ofegou, quem não conhecesse acharia que ele estava passando mal.

Tessai levantou a cabeça do que quer que estivesse fazendo e ajeitou os óculos para ver melhor. Será que estava enxergando direito?

- Oi. – Rukia cumprimentou carrancuda e levantou o queixo. Não queria perder a dignidade.

- Boa tarde! – o guru se derreteu todo. – Ururu, vá buscar o chá! – pediu para ela claramente agitado. – E então, duplinha estrelada? A que devo a honra da volta dos dois aqui?

- Bem... – Ichigo coçou a cabeça. – Aconteceram muitas coisas e...

Mas Rukia, como sempre, era quem comandava as situações.

- Aqui está. – ela estendeu a mão com aquele envelope conhecido. – O dinheiro. Viemos devolvê-lo.

O homem pegou o envelope da mão dela enquanto a encarava tão fixamente a ponto de constrangê-la. Aquele olhar era um misto de vitória com ironia e mais um pouquinho de vitória. Era por isso que ela não queria pisar lá.

- Isso quer dizer que... – ele sorria de um para o outro. – Isso quer dizer que...

- Sim. – Rukia interveio mais uma vez com a voz seca. – Isso quer dizer que estávamos errados. Eu estava errada. Mas decidi que o destino tinha razão e... Bem. Não posso mais negar que eu e o Ichigo não podemos mais nos separar graças a ele.

O canceriano emocionou-se com aquelas palavras. Mesmo que ela estivesse tentando ser dura e profissional, ele a conhecia. E podia sentir a ondulação que o sentimento fazia sutilmente com a voz dela.

- Eu e a Rukia estamos juntos, Celeste-sama. – Ichigo disse. – E viemos pedir desculpas por termos sido tão teimosos.

O loiro suspirou dramaticamente e foi até eles. Segurou a mão dos dois e depois as uniu.

- Vocês não sabem o quanto eu fico feliz com essa notícia. Eu estava esperando há tanto tempo! Mas eu sabia que o destino não ia falhar! Ele nunca falha! – riu.

- Hun... Aqui está o chá. – Ururu apareceu hesitante com sua bandeja. Olhou para o casal e encolheu-se ligeiramente. Vai ver estava esperando receber mais um dos costumeiros gritos.

- Acho melhor vocês aceitarem dessa vez. – Celeste tratou de dizer antes que acontecesse qualquer coisa. – Afinal, temos uma coisinha sobre a qual conversar. – tentou conter um risinho eufórico.

- Que coisinha? – os olhos de Ichigo arregalaram-se. – Não vai querer fazer uma missão ou algo assim né? Por que eu não me preparei!

Celeste-sama gargalhou.

- Dois meses e vocês não superaram? Que coisa...

Rukia olhou feio para Ichigo.

- Será que dá pra deixar o Infernal-sama [i]mais[/i] cheio de si? – perguntou sarcasticamente com um sussurro agressivo.

- Desculpa! – ele assustou-se.

- Sentem-se! – de repente, Tessai apareceu com cadeiras para os dois. – Temos que organizar os detalhes da festa de comemoração.

O casal entreolhou-se.

- Festa? – perguntaram em uníssono.

- É claro! – o loiro tomou um gole de chá. – Vocês não vão querer comemorar a união? – diante do silêncio confuso dos dois, ele resolveu explicar-se. – Digo... Não é uma festa de casamento! – riu. – É só uma comemoração já que os dois estão juntos e finalmente completaram o plano celeste. A maioria dos casais faz.

Entreolharam-se de novo. Mas agora não estavam perdidos. Estavam sorrindo. Deu para um ver nos olhos do outro que aprovavam juntos essa idéia.

- É uma festa que tenha a cara de vocês. Com o tema que quiserem. Com o cenário que quiserem. Usem a criatividade! Vocês merecem, não é?

- Bom... – os olhos de Ichigo cintilaram lindamente. – Eu acho que eu já até tive uma idéia. – sorriu indecifravelmente.

E Rukia ficou secando sua expressão, para ver se conseguia descobrir alguma coisa...

- Isso é ótimo! – o guru quase gritava. – Conte-nos Kurosaki-san!

Estava tão exaltado que Rukia, por um instante, achou que aquelas estrelinhas das quais ele tanto falava iam sair rodopiando do corpo dele de repente.

- Eu prefiro fazer uma surpresa... – o ruivo explicou-se. – Tem problema?

Os olhos enigmáticos de Celeste-sama dirigiram-se à Rukia.

- Óbvio que não. – respondeu. – Você é uma garota de sorte, não é, Ukitake-san?

Ela sorriu para ele totalmente sem vontade como resposta.

- Continua adorável como sempre. – o loiro murmurou entre os dentes, sustentando o sorriso luminoso para ela. – Então nos falaremos em breve, certo Kurosaki-san?

- É. – ele assentiu.

- Claro. Eu não sou a outra anfitriã da festa nem nada. – Rukia deu de ombros fazendo seu joguinho de sarcasmo.

- Fiquei muito feliz de ver vocês hoje, crianças! Eu sabia que vocês iam voltar! – ele ignorou a pequena. – O que o destino uniu ninguém pode separar. Espero que tenham aprendido isso de uma vez! - levantou-se tão sorridente que já estava começando a parecer falso. – Quero aproveitar para dar um presentinho a vocês! – abriu a gaveta misteriosa com um floreio.

Rukia até mesmo colocou-se na defensiva. Da última vez, saiu uma corrente encapetada daquela gaveta.

- Aqui está. – ele entregou na mão receosa da capricorniana o presente embrulhado num papel brilhante e, para variar, salpicado de estrelinhas. – Já que não acertaremos os detalhes da festa hoje, tenham uma noite muito estrelada! – despediu-se.

 

****

 

- Eu não acredito que você vai esconder a minha própria festa de mim, Ichigo! – ela ralhou fingindo-se de brava. Mas os olhos azuis não paravam de reluzir. E era ali que brilhavam todos os seus sentimentos.

Ele sorria mais que satisfeito. Andavam para o carro lado a lado. Então ele aproveitou para pegar na mão dela. Estava fria...

Rukia olhou para ele ainda com aquele rubor alegre na pele. E depois o olhar pulou para as mãos dadas dos dois.

- Sua mão... – ele apressou-se em explicar. – Sua mão está fria.

O coração dela deu um salto afetado.

- O que você está aprontando, Ichigo? – parou de andar e encarou-o seriamente. Ou, uma tentativa de seriamente.

Ele desviou o rosto.

- Não sei do que está falando... – fingiu-se de desentendido.

O que fez com que ela batesse os pés e ele começasse a rir.

- Quem está fazendo pirraça agora, hein? – alfinetou-a.

- Ahh! – as bochechas dela rosaram-se e inflaram. – Isso não é justo!

- Confie em mim. – ele concentrou-se em captar os olhos dela. – Vou arrancar um sorriso enorme seu.

- Então isso quer dizer que... Quer dizer que você gosta do meu sorriso? – ela sorriu provocativa.

E ele quase não pôde mais suportar aquele olhar. Mas forçou-se. Afinal, aquela era a Rukia... Ela era sua outra metade... E o seu coração precisava daqueles olhos.

- Eu amo seu sorriso, Rukia. – ele confessou num sussurro.

E a doçura que ela emanou com o olhar, com a voz e até mesmo com a simples respiração, foi indescritível.

- E eu amo você, Ichigo. – o sorriso foi tornando-se malicioso conforme o rosto dele ia corando.

- Por que você insiste em ficar dizendo isso, hein? – voltou a andar para o carro. Mas não soltou a mão dela.

- Porque você faz uma cara muito engraçada. – riu. – Parece uma criança de seis anos!

Ele arqueou uma sobrancelha atingido.

- Você é uma peste, sabia? – ele resmungou enquanto abria a porta do carro.

Mas ela nem se abalava.

- Falando em peste... O que será esse presente que o Infernal-sama nos deu? – ela revirou o embrulho retangular nos dedos.

- Vai saber. Só espero que não seja uma bomba!

- Uma bomba eu até aguento. Eu só espero que não seja nada que grite no meio da madrugada, isso sim! – a baixinha sentiu um leve tremor.

- É, você tem razão! – Ichigo concordou sentindo-se subitamente amedrontado.

Mas logo os dois estavam rindo feito bobos.

 

****

 

- Anoiteceu. – Momo quebrou o silêncio enquanto olhava as estrelas que apareciam lentamente no céu que escurecia sem pressa.

- É. – Toushiro se encolheu no cobertor que eles dividiam. – Posso saber por que você insistiu em ver o anoitecer comigo aqui nesse frio? – ele perguntou ranzinza.

Eles estavam no terraço da república. Ainda não havia nevado, mas o inverno estava cada vez mais frio de qualquer jeito.

- Achei que você gostasse de frio. – ela olhou para ele com a testa franzida.

Ele fechou os olhos e soltou o ar representando o tédio do seu melhor modo.

- Eu gosto do frio. – ele respondeu. – Melhor do que o calor. – deu de ombros.

Ela riu. Ele sempre tinha era que reclamar de alguma coisa.

- Vou responder sua pergunta. – ela tirou os olhos do rosto dele e encarou o céu que parecia ainda mais escuro do que segundos antes. – Sabe... Eu achei que a gente precisava conversar...

Ele arqueou uma das sobrancelhas claras.

- Conversar sobre o que?

- Ah... Não sei! – ela sorria meio nervosa, ainda encarando o alto. – Depois do que aconteceu comigo... Sobre o Aizen-sensei... – um pequeno lampejo de dor atravessou seu rosto. – Depois disso, eu só tenho falado de mim. E ninguém tem coragem de pedir que eu pare, não é? Todos ainda estão me tratando com compaixão... – riu, mas não havia nenhuma alegria no seu riso. – Eu só queria... Só queria que conversássemos como os amigos que sempre fomos. Queria parar de falar e ouvir sobre mim e finalmente escutar o que alguém tem a dizer. – olhou finalmente para ele. – Quero que a pessoa que esteve do meu lado o tempo todo, possa voltar a me tratar normalmente. – forçou um grande sorriso. – Vamos, Shiro-chan! Você deve ter alguma coisa pra me contar! – sacudiu-o desajeitadamente pelo braço.

Ela precisava mesmo daquilo. Ele podia sentir nos olhos cor de avelã dela. O problema é que... Ele realmente não se importara de ter se mantido em silêncio durante aquele tempo. E agora não sabia como ajudar.

- Eu não tenho nada pra te contar, garota! – respondeu enquanto era sacudido.

- É claro que tem! – ela soltou-o e apelou para a vozinha manhosa. – Vai, Shiro-chan! – ficou olhando toda melosa para ele. – E sobre aquela garota que você gostava, hein? O que aconteceu? Você nunca me contou!

Ele corou. E de repente ficou mais difícil respirar. Descobriu-se um pouco e respirou fundo. Ela queria ouvir. O que ele ia fazer? Continuar aquela mentira idiota? Ou aproveitar a chance?

Olhou mais uma vez para ela. O rosto e os olhos pidões tão de perto o estavam colocando contra a parede. E o cheirinho doce dos cabelos dela... Não ia conseguir se controlar por muito tempo.

- Tudo bem... – ele desviou os olhos para conseguir pensar. – Eu falo sobre ela.

- Vamos, me conta tudo! – ela parecia animada até demais.

- Primeiro tenho que confessar que eu menti. – ele disse, encarando a lua.

- Mentiu?! – a voz dela fez eco pelo terraço vazio. – Como assim mentiu?!

- Eu menti sobre como ela era. – ele fazia caretas engraçadas para dizer. Eram a prova do quanto estava nervoso. – Na verdade... – ele encolheu os ombros. – Na verdade nem me lembro de como eu disse que ela era... – disse a última frase bem baixinho, com uma parte de si esperando que ela não tivesse ouvido.

- Então... – ela parecia chocada. – Então você [i]inventou[/i]?

Ele conseguiu ficar ainda mais vermelho. E de repente o frio nem parecia mais tão incômodo.

- É. – ele afirmou. – Quero dizer... Não tudo, sabe? – levou uma das mãos à nuca, todo sem jeito. – Digo... Existe uma garota que eu gosto. Mas... Mas ela não era da faculdade, ou seja lá de onde eu inventei que era.

Momo não perguntou nada dessa vez. Só ficou piscando ansiosamente para ele.

- Eu não sei como eu falei que ela era... Mas... A verdade é que ela é uma garota muito tonta. Muito ingênua e vive com a cabeça nas nuvens... – balançou a cabeça. – Ela está sempre sorridente e animada com as coisas mais bobas. Chega a ser irritante. Mas isso é bom... Eu acho que é a força dela...

Os olhos de Momo estavam apertados agora. Assim como seu coração.

Sim... O coração... Ele estava muito disparado, o que estava acontecendo?!

- Essa garota... – ela interveio com a voz trêmula. – Essa garota é forte?

- Ah, é... – ele respondeu ainda sem encará-la. – Ela é muito forte. Apesar de só parecer uma garota boba e histérica, ela tem uma força incrível...

- E... – a geminiana espremia as mãos uma contra a outra. – E é por isso que se apaixonou por ela?

Os olhos cor de gelo foram atraídos para o rosto rosado dela. E agora não tinha mais volta.

- Não. – ele respondeu. O tom de voz bem mais baixo. – Eu me apaixonei pela sua tolice mesmo.

Os olhos dela encheram-se d’água debilmente.

- Shiro-chan... – ela murmurou. – Você me acha mesmo assim tão tonta e boba? – puxou um meio sorrisinho encantador para ele.

- Momo... – ele soltou o ar devagar, formando uma nuvenzinha por causa do frio. – Você sabe que é a maior tonta de todas.

O meio sorriso transformou-se em um dos sorrisos mais lindos que ela já exibira. O que fez com que o coração do sagitariano quase parasse.

- Então essa garota é mesmo eu. – riu com as lágrimas pinicando seus cílios inferiores.

- A-Ah! – ele assustou-se. Fora pego pela própria armadilha. – É... – ele olhou para o lado. Rezava mentalmente para que ela não percebesse o quanto tremia. – É você, Momo.

Mas, antes que pudesse pensar em qualquer movimento seguinte, sentiu os lábios dela colados aos seus. E não teve tempo nem mesmo de fechar os olhos.

- Momo... – assim que ela se afastou dele, ele balbuciou atordoado e arregalado.

Ela riu e pegou a mão dele embaixo do cobertor.

- Eu te amo, Shiro-chan... – deitou a cabeça no ombro dele. – Você é o melhor.

Ele sorriu. O coração não ia parar com aquela algazarra pelo resto do dia. Talvez da semana. Mas não tinha importância. Não se o cheiro de pêssego dela estivesse ali com ele. Seriam os melhores dias da sua vida.

 

****

 

Alguns dias se passaram. Era um sábado e Ichigo e Rukia estavam patinando no gelo mais uma vez. Desde que começaram a namorar, sempre que Ichigo ficava encarregado de sugerir para onde iam sair, ele escolhia a pista de gelo.

E Rukia já estava ficando muito boa em cima dos patins com toda aquela prática!

- Olha a hora! – os olhos azuis bateram no relógio de Ichigo. – Três e dez!

- O que foi? – Ichigo estranhou. Não segurava mais a mão dela, apenas a seguia de perto pelo caminho. – Você nunca fica vigiando a hora quando estamos aqui. – parou de repente. E ela fez o mesmo. – Por acaso não está enjoando de patinar, né? – ele estava claramente muito preocupado com aquela hipótese.

- Claro que não! – ela riu como se estivesse chamando-o de idiota. – Eu adoro patinar! E agora que eu estou ficando boa! Em breve vai dar até para treinar uns saltos... Se eu não fosse médica, seria patinadora! – os olhos azuis brilharam sonhadores. – Se bem que, devo admitir que você não está sendo muito criativo nos nossos encontros, né? - ela cutucou e voltou a patinar alegremente e sem culpa.

Ele diminuiu os olhos para ele e seguiu-a. Sabia que quem ria por último sempre ria melhor. Então ia engolir essa.

- Qual o motivo de vigiar o relógio então? – de repente ele lembrou-se da dúvida enquanto tentava alcançá-la.

Ela desequilibrou-se.

- Rukia! – ele deu a volta e segurou-a nos braços. – Não abuse, metidinha!

Ela franziu o rosto numa careta para ele.

- Hoje não vamos poder ficar muito. Tenho um compromisso às três e meia. – ela respondeu voltando a equilibrar-se.

- E que compromisso seria esse? – ele ergueu uma sobrancelha intrigado.

- O livro da Mai vai ser lançado na melhor livraria de Tóquio hoje. E ela vai estar lá fazendo a divulgação com a editora. Não posso perder essa. – o rosto lindo dela embelezou-se ainda mais dizendo aquelas palavras.

- Ah. – ele foi atingido em cheio pela notícia. De algum modo, aquilo dizia respeito a ele também. – Uau. Eu... Não sabia disso... – a confusão tomou conta do seu semblante.

Rukia sorriu sugestivamente.

- Não gostaria de vir comigo? – segurou as mãos dele com as luvas fofinhas.

O coração dele descompassou. Lembrou-se de um ano atrás, quando sonhava com esse dia. Mas e seu orgulho? Seu orgulho ia permitir que ele simplesmente esquecesse tudo e fosse até lá?

- Se não responder, vou entender como sim, hein? – Rukia alertou ainda encarando-o com aqueles olhos insistentes.

Mas não era pela autora.

- É um sim. – ele ouviu-se dizendo de repente. – Nós vamos.

O sorriso de Rukia estava mais radiante agora.

- Ótimo! – ela apertou as mãos dele como se aprovasse aquela escolha.

- Okay... – ele sorriu e correspondeu o aperto. – Vamos saltar juntos e girar?

- O que? – ela riu incrédula e subitamente tensa. – Ichigo! Nós vamos cair!

- Ué? – ele fez cara de quem estranhava a situação. – A grande patinadora Ukitake Rukia está com medo?

Ela comprimiu os lábios e os olhos para ele em tom de desafio.

- Nunca! – respondeu tentando segurar o riso excitado.

- Certo, então lá vamos nós! – aproximou o corpo dela do seu. – Um, dois, três e...

Os dois pularam e Rukia, na hora, só conseguiu agarrar-se a ele. Os dois giraram pela pista e ela não conseguiu mais conter a risada. Se sentia tão livre... Se sentia tão feliz!

- Viu só? – quando pararam, Ichigo acariciou de leve as costas dela. – Nem caímos! Alguém devia ter filmado!

Ela continuava colada ao corpo dele. De um modo tão quentinho e aconchegante. Ele não queria que ela saísse dali por nada. Talvez fosse por isso que estivesse com as mãos em suas costas, afinal de contas.

- Só você pra me fazer cometer essas loucuras! – ela ainda estava rindo. Tão docemente...

Ele também riu. Foi simplesmente contagiante. Estava ouvindo o coração dela naquele momento. Era a melhor trilha sonora do mundo quando estavam juntos.

- Acho que temos que ir, não é? – ela disse com a voz arrastada, como se estivesse sendo obrigada a pensar na realidade.

- Sim... – ele respondeu no mesmo tom. – Mas antes podemos tentar mais uma vez?

- Ichigo! – ela ralhou, mas não conseguia largar o sorriso. – Bem... Acho que só mais uma vez não tem problema... – riu travessa e voltou a segurar firme nas mãos dele.

 

****

 

- Maaai! – Chiharu choramingou. – Você é brilhante! – ela estava sentada na livraria com o livro da amiga aberto no colo.

- Chi! – a loira chiou. – Você devia ler o livro quando chegasse em casa!

- Não dá! – ela defendeu-se. - E a culpa é sua por não ter me mostrado ele antes! – a pisciana fez beicinho.

- Estou do lado da Chiharu. – Ashido fez-se de ofendido também.

- Só queria que fosse uma surpresa! – ela meneou os ombros contrariada. Mas sorria alegremente. No fundo não podia estar mais contente com a reação dos dois.

De repente seus olhos negros cresceram e a imensa alegria foi substituída por uma tontura traiçoeira.

- Falando em surpresas... – balbuciou segurando-se no balcão atrás de si. Mal podia acreditar no que estava vendo. Seu coração que já estava tão agitado, seu corpo que já estava dominado pela adrenalina subitamente pareceram tomar um choque ainda maior e mais energizante. E ela que julgara qualquer alegria maior impossível! Ouviu o risinho de Chiharu e virou-se para ela indignada. – Chiharu! – e então percebeu que Ashido trocava olhares com a morena. – Ei! – dirigiu o rosto a ele agora. - Vocês tramaram isso?!

Os dois apenas espalmaram as mãos e tentaram simular inocência. Há! Como se eles pudessem enganá-la tão facilmente!

- Então esse é o seu romance... – a mulher loira de saltos altos pegou um exemplar e observou-o interessada por algum tempo. – Acho que vou levar dois. – sorriu.

- Mamãe... – os olhos opacos da escorpiana umedeceram. Até mesmo estavam cintilando de leve. – O que você está fazendo aqui? – a voz falhava, mas ela não ia desmoronar.

- É um dia especial para você, meu amor. Estou muito orgulhosa. De verdade. – fitou-a com um misto de carinho e dor. – Você conquistou seu sonho. E, em breve, vai conquistar a confiança do seu pai também! – ela pegou outro livro na pilha e agitou-o na frente do rosto da filha.

- Você acha? – sem querer, entregou sua insegurança.

- Eu nunca duvidei disso, Mai. – a mulher respondeu sinceramente. E Mai percebeu que seus olhos claros também estavam encharcando-se.

Foi questão de segundos para que elas se abraçassem emocionadas.

- Missão cumprida! – Ashido estendeu a mão para Chiharu fingindo um tom profissional.

Ela bateu a mão na dele e imitou-o.

- Melhor dia da vida da Mai completo!

Ashido riu.

- Ela está brilhando, não está? – ficou olhando enquanto ela separava-se do abraço da mãe e sorria de modo a iluminar toda a livraria.

- Na verdade... Devo dizer que nunca a vi tão linda em toda a minha vida. – Chiharu concordou suspirando de felicidade. – E olha que eu a conheço há muitos anos mesmo! – sua voz embargou e logo ela estava soluçando.

- Chiharu! – Ashido preocupou-se. – Agüente firme, por favor!

Mas as surpresas estavam longe de acabar. Minutos depois da aparição de sua mãe, a loira escritora deu de cara com Rukia... Acompanhada de Ichigo!

- Rukia! – Mai foi até ela levando sua luz. – Que bom que veio! – segurou as mãos dela genuinamente feliz. – E... Kurosaki! – sorriu para ele de um modo bem diferente do de costume.

Rukia observou cautelosamente o rosto da amiga. Estava sem dúvidas, magnífico. Nenhum rosto é mais bonito do que o de uma pessoa realizada. E era só o que ela conseguia transmitir naquele momento. Apesar dos olhos molhados... Não. Os olhos molhados eram só mais um dos detalhes que a faziam tão bela naquele momento.

Ichigo, por sua vez, apenas cumprimentou-a com a cabeça e dirigiu-se aos livros.

- Sua felicidade está invadindo as pessoas, Mai! Controle isso! – Rukia brincou.

Mai riu.

- É uma pena, mas eu não to nem aí pras outras pessoas. Não tenho nenhuma intenção de controlar minha felicidade hoje. – levantou o queixo com aquele sorrisinho de sempre.

- É assim que a Mai fala! – Rukia aprovou devolvendo o sorriso.

Os olhos pequenos e intensos de Mai captaram Ichigo. Ele estava lendo a sinopse do romance.

A loira não ia perder a chance de ir até lá. Riu significativamente para Rukia e com o consentimento da mesma, foi atrás dele.

- E então, Kurosaki... – tentou. – Está interessado no enredo?

Ele subiu os olhos do livro para ela.

- Na verdade, muito interessado. – ele respondeu sério. – Já tem tanto tempo que eu estava esperando por isso, afinal...

Ela sentiu algo dentro de seu peito esmagando seu coração.

- Isso não quer dizer que me perdoa, não é? – sua voz soou culpada e ferida.

Ele encarou-a mais profundamente do que se lembrava de já ter feito.

- Eu sempre amei o que você escreve, Mai. – ele respondeu. – É isso o que quer dizer.

Ela sorriu para ele. Não sabia como aquele sorriso tinha sido interpretado por ele. Mas não queria saber também. O que ela queria ouvir havia sido ouvido. E ela não poderia querer resposta mais sincera daquele jovenzinho rancoroso. Ele a admirava de verdade e aquilo a inundava de orgulho. Era o bastante.

- Maaai! – Momo apareceu acenando energicamente. E ao seu lado, Rangiku tinha um sorriso de orelha a orelha.

Mai acenou e sorriu de volta com a mesma empolgação.

Seu grande dia não podia estar sendo mais perfeito.

- Ichigo! – Rukia chamou a atenção dele. – Seu celular está tocando!

Ele arregalou os olhos.

- Ah, é. – puxou-o do bolso do casaco. – Eu nem tinha reparado... – estava mesmo distraído com o livro. – Alô.

- Itsugo! Itsugo! – a única pessoa que o chamava daquele jeito. – A Sora nasceu, Itsugo! Nasceu ontem à noite! Não está emocionado?!

Ele congelou com os olhos esbugalhados e o rosto travado.

- Itsugo? – ela insistiu. E ele escutou o chorinho do bebê do outro lado.

Como ela ainda podia perguntar? Era óbvio que estava emocionado! Tanto que mal podia se mexer!

- N-Nell... – ele conseguiu gaguejar. A mão segurando o celular tremulamente.

- A Nell? – Rukia entendeu logo. – O bebê nasceu! – sorriu emocionada. – Dê os parabéns a ela, Ichigo! Deixa de ser lerdo, pelo amor de Deus!

- Hahaha! – era a voz da sagitariana do outro lado da linha. – Itsugo já está tomando bronca da namorada, eu ouvi! – suspirou. – Obrigada, primo. Eu sei que você deve estar querendo muito me dar os parabéns. Mas seu probleminha não está deixando, né?

- Q-Que probleminha?! – ele revoltou-se. – Eu não tenho probleminha nenhum!
- Ela é linda, Itsugo... – ela ignorou o chilique dele. – É gordinha e tem cabelos pretos, mas os olhos são iguaizinhos aos meus!

Ele amansou a expressão e sorriu feito bobo. Quase podia visualizar a prima com a pequena e frágil Sora nos braços. Com aqueles olhos castanhos grandes e atrevidos.

- Eu estou louco para vê-la... – ele finalmente disse algo que prestasse.

- Em breve você vai! – ela assegurou. – Bom, preciso desligar agora. Mas vê se espalha a notícia, hein? Depois eu ligo de novo para dar os parabéns ao tsio Isshin. Ele faz aniversário pertinho da Sora agora!

- É verdade! Está tudo bem por aí, né? Digo... Com o pai da Sora e tudo...

- Não se preocupe! – ela riu despreocupada. – Por incrível que pareça, ele está todo bobo com a nossa menininha! – o choro ficou mais alto. – Desculpa Itsugo... Mas preciso mesmo desligar, ela está chorando muito.

- Dá um beijo nela por mim.

- É claro que sim. Até mais! – e desligou.

- Uau, que dia! – Rukia soltou o ar como se estivesse cansada. – Giros ousados na pista de gelo, livro da Mai, bebê da Nell... – sorriu para o namorado.

- Uma maratona! – ele guardou o celular. – Espero que possamos vê-la logo... Essa pequena encrenqueira!

- Eu também! – ela concordou com um risinho. – Eu também...

 

****

 

- Sabe que ainda temos mais coisas para fazer nesse dia tumultuado, né? – Ichigo ia dizendo a Rukia enquanto os dois andavam pela rua, saindo da livraria.

- Sei, claro! – ela afirmou. – É o aniversário do meu sogrinho querido!

Ichigo coçou a bochecha sem jeito.

- É...

- Eu até já comprei um presentinho para ele! – riu.

Ichigo alarmou-se.

- O que você comprou? – estava curioso.

- Não é da sua conta! – ela mostrou a língua para ele.

- O Celeste-sama tem razão. – uma veia saltou na testa dele. – Você é uma Capetinha!

- Ahh, é? – ela estampou a indignação no rosto. – Então se eu sou a Capetinha, você é meu Capacho, não é? – sorriu vitoriosa. Não importava como ou quando fosse. Ela sempre levava a melhor sobre o canceriano.

- Droga! – ele praguejou. – Perdi de novo!

Ela riu alto.

E depois os dois só ficaram andando em silêncio. Os braços dados. Aquilo já estava ficando bem natural para eles.

- Sabe... – a voz de Ichigo quebrou o silêncio gentilmente. – Eu acho que posso dizer que esse é o inverno mais quente de todos. – os olhos estavam perdidos no ar frio.

Rukia apertou as sobrancelhas curiosa com a frase dele.

- Por causa do aquecimento global? – deu uma de anti-poética.

Ele olhou feio para ela.

- Não. – respondeu insatisfeito.

- Porque eu sou uma Capetinha que esquenta sua bunda com o meu tridente? – mordeu o lábio com força para não cair na gargalhada.

Ele ficou irado.

- Não! – fez uma careta.

E ficou ainda mais difícil para ela conter o riso.

- Por causa de tudo... – ele resolveu explicar-se. – Todo o movimento... Todas as realizações... Todo o sentimento e todos os sorrisos... Parece que, paradoxalmente, o gelo derreteu e os corações se amornaram no inverno. 

Ela ponderou.

- É... Você tem razão. – chegou mais perto dele. – Acho que se inspirou só de ler um trechinho do romance da Mai, ahn?

Ele olhou para o rosto zombeteiro dela e franziu o nariz.

- Você é muito engraçadinha! – ironizou. – Mas de qualquer jeito, se não sinto frio é tudo por sua causa.

Ela sorriu feito boba. Só torceu para que ele não tivesse visto seu rosto.

Ele tinha toda a razão. Seu coração nunca estivera tão quente e confortável em toda a vida. Mesmo que, toda vez que falasse, aquelas nuvenzinhas se formassem perto de sua boca.

- Ele é sempre tão irônico, não é? – Ichigo fez a última observação.

- E poderia ser melhor? – ela lançou um olhar cheio de significados para ele.

Ele então interpretou o que mais lhe convinha e beijou-a calorosamente.

 

 

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Céu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.