Céu escrita por Liminne


Capítulo 75
Capítulo 53 – Alinhamento e encaixe




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Jyuushiro passeava pela sala. Andava de um lado para outro. Os olhos de Rukia o acompanhavam receosos. Ela estava ali, sentada no sofá de sua casa, os joelhos colados e os ombros encolhidos. O que o pai estava querendo fazer? Reunir as palavras certas para uma boa bronca? Pensando se devia condená-la ou não? Ou estava apenas tentando digerir tudo que havia acontecido sem ele saber?

- Rukia! – Ichigo sussurrou, sentado ao lado dela, quase na mesma posição defensiva. – O seu pai está bravo?

- Fica calmo, Ichigo! – ela sussurrou de volta. – Meu pai é uma pessoa muito tranqüila!

- Mas aposto que você nunca fez nenhuma travessura desse tamanho, não é? – ele desafiou pessimista.

Ela abriu a boca para protestar, mas engoliu as palavras que estavam na ponta da língua.

Ichigo tinha razão. Era a primeira grande travessura que ela havia feito na vida.

Roubar um coelhinho quando era criança não podia se comparar com jogar uma festa fora e deixar os convidados – inclusive o próprio futuro noivo – de boca aberta e sem ação.

Finalmente o homem de cabelos brancos parou de andar e focou seu olhar no casal. Os dois estremeceram. Ichigo se arrependeu de ter aberto a boca. Quem sabe se não tivesse cochichado com Rukia, ele esquecia que estavam ali?

- Eu... – Jyuushiro começou parecendo bravo, mas ao mesmo tempo muito confuso. – Eu não acredito que eu não sabia de nada! – meneava a cabeça tentando encontrar o sentido de tudo aquilo.

- Me desculpe, papai. – Rukia encolheu-se ainda mais. – Eu... Cometi um erro na minha decisão... E eu precisei voltar atrás!

Ele ficou encarando o rosto da filha por um tempo. E depois dirigiu o olhar para o jovem ao lado. O pivô.

- Rapaz. – franziu as sobrancelhas para ele. – Eu conheço você, não conheço?

Ichigo gelou. Aquela porcaria de missão! Tinha esquecido dela!

- É-é... E-eu... – ele gaguejou idiotamente.

Rukia estendeu o braço na direção dele, como se quisesse bloqueá-lo.

- Não Ichigo. A obrigação de contar tudo é minha!

O ruivo calou-se, rosto quente. Nem sentia mais o frio da estação. Seus olhos acabaram caindo sobre a mãe de Rukia, que estava parada na porta, de braços cruzados. Ela sorriu para ele. Mas ele ficou em dúvida se podia sorrir de volta. Lembrou-se do que lhe fora dito. Aquela mulher podia ser mais assustadora que a Rukia! Não tinha como saber se estava sendo amigável ou se só queria arrancar sua cabeça.

- Papai, você conhece o Ichigo sim. – a capricorniana afirmou. – Kurosaki Ichigo. O “aspirante a jornalista” que veio alguns meses atrás investigar sobre a minha vida.

O homem olhou novamente para Ichigo. Rukia estava certa! Era ele! O jornalista gago!

- Ele não estuda jornalismo. – Rukia apressou-se em explicar. – Ele estuda medicina comigo. Mas nós não nos conhecemos na faculdade. Nos conhecemos num programa chamado Céu, que tem como objetivo unir supostas almas gêmeas e propor missões para unir o casal. – tomou fôlego. – Inclusive a investigação que ele veio fazer aqui, era uma dessas missões.

O sagitariano girou a cabeça na direção da esposa. Estava abismado. E ficou ainda mais quando percebeu a expressão serena do rosto dela.

- Você sabia disso?! – perguntou indignado.

- Não fique chateado. – ela disse docemente. – A nossa querida luazinha de prata explodiu estávamos reunidas ajudando-a a se arrumar.

Ele voltou-se para a filha. Estava tonto.

- Me desculpe, papai! – Rukia repetiu, com o rosto muito sério. – Eu não quis decepcioná-lo. Eu simplesmente... Eu simplesmente agi com o coração... – comprimiu os lábios. – Eu e o Ichigo nos afastamos depois que o programa acabou. Decidimos que não podíamos ficar juntos... Mas a verdade é que... Eu ainda o amava e não podia me obrigar a amar outra pessoa. Eu tentei, mas eu não podia! E aí... Ele apareceu na festa...

Unohana interveio.

- Querido, não julgue a nossa pudinzinha. – sorria para ele. – Ela sempre fez tudo tão certo... Ela sempre foi muito responsável e obediente... Ela precisava seguir o coração. Fazer uma loucura na vida. – fitou a filha. – Meu amor, estou orgulhosa de você!

Rukia sorriu pequenamente. Com o apoio da mãe se sentia mais segura.

Jyuushiro então refletiu sobre as palavras da esposa e a situação. Depois de alguns segundos, acabou sorrindo também.

- Eu também estou orgulhoso, meu anjo. – a voz estava mais mansa. – Você com certeza fez o certo. Seguir o coração é sempre o certo. Mas... – sinalizou para Ichigo. – E agora? Como vai ficar isso?

Rukia soltou um risinho. No fundo, sabia que eles iam entendê-la. Mas agora estava mais aliviada. Agora seus problemas eram minúsculos.

Agarrou então a mão do ruivo, ergueu o queixo e anunciou com firmeza:

- Papai, mamãe... De hoje em diante, o Ichigo é o meu namorado!

O queixo de Ichigo quase foi parar no chão.

- C-C-Como é que é?! – ele conseguiu cuspir a palavra com algum esforço.

A ariana riu. Sua filhinha estava pedindo um garoto em namoro!

- Que reação vergonhosa, Ichigo! – Rukia ralhou com ele. – Estou te pedindo em namoro na frente dos meus pais! – na verdade, estava quase batendo nele.

- Você não está me pedindo em namoro! Você está me ordenando em namoro! – ele se defendeu.
- E você está reclamando? – ela arqueou uma sobrancelha, bastante irritada. – Por acaso está me rejeitando na frente dos meus pais?? – ela fazia questão de enfatizar os pais presentes.

- Eu não... – ele ficou ainda mais vermelho e quente. – É, certo. – apertou a mão dela. – Nós somos namorados agora.

Jyuushiro tampou os olhos com a mão. E a esposa veio correndo na direção dele.

- Não está emocionado, amor? – ela perguntou com os olhos azuis reluzentes.

- Estou muito! – ele respondeu sem mostrar o rosto. – Acho que até demais!

Rukia e Ichigo acabaram rindo. Fácil assim. Estava tudo resolvido.

- Agora vamos dormir que já está bem tarde! – a mulher foi dizendo. – Rukia, a Rangiku-san e a Momo-chan já estão no seu quarto. E Ichigo, pode dormir no quarto de hóspedes. Vou arrumar um colchão, porque o Toushiro-chan também está lá. A Mai-chan e os outros foram dormir em um hotel.

- Certo. – Ichigo levantou-se do sofá e inclinou-se para ela de modo respeitoso. – Muito obrigado.

Ela sorriu.

- Não há de quê!

Ele então passou por Jyuushiro. Esperava receber um olhar severo e cheio de ameaças secretas, mas o que ganhou ao invés disso foi um sorriso acolhedor.

- Você é sempre bem-vindo aqui, sim? – ele disse. – E, ah! Você não pode dormir com essa roupa de garçom! Venha, vou te emprestar um pijama!

Ichigo arregalou os olhos para Rukia.

Ela sorriu de volta, a felicidade estampada em cada pedacinho do seu rosto.

- Eu sempre disse que ele era maravilhoso! – ela balbuciou para ele.

E ele concordou com a cabeça, contagiado pelo sorriso dela.

 

****

 

No outro dia, a mesa do café da manhã da família Ukitake estava lotada. Ichigo, Rangiku, Momo, Toushiro, Mai, Ashido, Chiharu, Renji, Orihime... Menos Rukia.

Ichigo a procurou com os olhos assim que se sentou.

- Ué? Onde está a Rukia?

Rangiku sorriu para ele.

- Ela teve uma coisa importante para resolver e saiu mais cedo. Ela me avisou que ia fazer isso.

- Poxa vida... – Orihime suspirou. – Eu queria tanto vê-la depois do que aconteceu... – seus olhos captaram Ichigo e ela corou violentamente. Tratou de desviar o olhar. Então esse era o dono do coração de sua melhor amiga!

Renji, por sua vez, não parava de encarar o ruivo. Estava quase fuzilando-o com o olhar insistente.

Por conta disso, o canceriano se remexia incomodado o tempo todo na cadeira.

- Então, já que nossa bonequinha não está aqui... – Jyuushiro sorria animado. – Acho que vou contar por ela. – olhou para os rostos fazendo suspense. – Ela e o Ichigo estão namorando!

- Oh! – o coração de Orihime quase parou. – Isso é verdade?! Que lindo!

Mai sorriu satisfeita. Olhou para Chiharu e ela sorriu de volta com a mesma animação. Mesmo que tivesse medo do ruivo, tinha que admitir que já estava mais do que na hora de aqueles dois se acertarem.

- Como o senhor pode permitir uma coisa dessas?! – Renji bateu na mesa irritado, tirando finalmente os olhos de Ichigo e pregando-os cruelmente em Jyuushiro.

- Ela é uma mulher. – Jyuushiro não perdeu a calma. – Por mais que eu queira que ela seja minha garotinha para sempre... Eu sempre confiarei nas escolhas dela! – sorriu.

Renji bufou, quase como uma pirraça e recolheu-se no seu canto. Era demais para que ele aceitasse tão depressa.

O que fez Chiharu ter uma imagem ainda pior do pobre virginiano.

Depois que todos terminaram o café e se aprontavam para voltar para casa, Rukia apareceu.

- Rukia-chan! – Orihime correu para abraçá-la. – Meus parabéns, Rukia-chan! Pelo discurso, pelo namoro! Por tudo! Eu te admiro cada vez mais!

Rukia ficou um pouco surpresa, mas acabou relaxando e correspondendo com ternura o abraço.

- Obrigada Hime-chan. Muito obrigada mesmo!

A ruiva soltou-a e então ela notou o rosto emburrado de Renji. Sorriu para ele.

- Você é um homem forte. Vai superar isso.

Ele cruzou os braços e fez cara feia. Mas no fundo sabia que teria que engolir e pronto. Ia amá-la de qualquer maneira. Sempre.

- E aí, Rukia-chan? – Rangiku foi até ela. – Resolveu com o Kuchiki?

Os olhos dela ficaram ligeiramente tristes e de sua boca saiu um suspiro pesaroso.

- Eu pedi desculpas. Mas ele disse que está decepcionado... Foi mesmo uma crueldade muito grande o que eu fiz...

A loira colocou a mão no ombro da amiga de forma consoladora.

- Não se preocupe, Rukia-chan. Você fez o que deveria ser feito. Se ele não era o homem certo para você, você também não era a mulher certa para ele. Então... Você não deixou de ajudá-lo! – sorriu.

Rukia ficou emocionada. Tinha conquistado mesmo uma amiga sábia e preciosa.

- Obrigada Rangiku. – ela agradeceu do fundo do coração.

- Não agradeça. – a peituda piscou para ela.

- Bem... Acho que já está na hora de partirmos! – Rukia disse. E lançou um olhar brilhante para Ichigo.

- É. – Mai concordou. – Acho que tudo que tinha que ser feito foi feito. – riu. – E muito bem feito, diga-se de passagem!

Rukia riu. Ela sempre tinha as melhores tiradas no momento certo. Mesmo que por vezes aquilo fosse tão irritante.

- Ahh, filhinha! – os olhos de Jyuushiro já estavam marejados. – Dá um abraço no papai!

E, antes de finalmente partirem, gastaram quase uma hora nas melosas despedidas.

 

****

 

Finalmente chegaram a Tóquio. Assim que deixaram a estação, Ichigo e Rukia foram almoçar juntos num restaurante.

Depois da refeição, ele começou a tocar cautelosamente a mão de Rukia sobre a mesa. Não. Não foi só cautelosamente... Foi como se ele tivesse medo que ela quebrasse... Como se ele tivesse medo que desaparecesse de repente, que ela se convertesse em simples desilusão.

Rukia riu ao perceber como Ichigo olhava distraído para sua mão. E como ele queria, mas tinha medo de acariciá-la.

- O que foi Ichigo? – o tom zombeteiro dominou sua voz. – Por acaso estão brotando diamantes da minha mão ou o quê? De repente você ficou tão interessado nela!

- Ah! – ele assustou-se e afastou-se bruscamente. Seu rosto ficou da cor de uma pimenta e ele desviou os olhos sem jeito.

Ela continuava rindo.

- Qual é, Ichigo! A gente não tinha essas frescuragens antes!

Com um esforço visível e duro, ele obrigou-se a olhar para ela. Estava certa. Não devia ficar assim tão sem jeito, os dois eram íntimos. Tinha que se esforçar.

- É só que... – apertou os punhos como se assim ficasse mais fácil manter o olhar. – É só que ainda meio que não caiu minha ficha, sabe? Que estamos [i] juntos [/i] – ele riu tímido. – É um pensamento estranho, mas... Parece que você vai desaparecer a qualquer momento!

- Ah, Ichigo! – ela meneou a cabeça. – Nós estivemos juntos durante todos esses oito meses!

- Não é verdade! – lentamente ele conseguiu olhar para os olhos dela. – Agora é mais... Especial...

Antes que ele pudesse perceber, ela havia agarrado sua mão. E então ele apertou-a de volta, sem perder mais tempo.

- É... – seus olhos encheram-se de um sentimento terno enquanto ela encarava os dedos dele. – Você tem razão... É mais especial mesmo. – sorriu com uma expressão quase infantil de tão doce. – Agora eu posso admitir... – inclinou a cabeça como se estivesse envergonhada. – Que eu amo quando você segura a minha mão assim. – subiu rapidamente os olhos para o rosto abobado dele e depois os abaixou de novo, com um leve rubor nas bochechas.

Ele quase morreu do coração naquele momento. Ficou alguns segundos paralisado, perdido na expressão e nas palavras dela que ficaram pairando perto de seus olhos e ouvidos. E aquela sensação o fez sorrir espontaneamente. Estava tão, tão feliz!

- Ah é? – ele respondeu a investida dela sorrindo como um idiota. – E o que mais você pode admitir agora, hein?

Ela riu dele. Embora sentisse um calorzinho nas bochechas, estava se divertindo.

Inclinou-se para ele com um sorrisinho travesso a fim de alcançar seu ouvido. E então, soprou o segredo:

- Eu te amo, Ichigo.

O coração dele podia ser ouvido por todos no restaurante, ele tinha certeza disso!

Mas, antes que ele pudesse pensar no que estava fazendo, já se inclinava para também contar seu segredo a ela.

- Eu também te amo, Rukia. – sussurrou no ouvido dela de volta.

Ficaram fitando-se por algum tempo. Entre sorrisos e estrelinhas nos olhos. Uma pequena e grande magia que só os corações apaixonados poderiam compreender.

O garçom passou e Ichigo pediu a conta. Apesar de quererem ficar o dia todo naquele clima, ainda tinham muitas coisas a resolver.

- Então... – já do lado de fora do restaurante, Ichigo começou. – Temos que ver o Celeste o quanto antes, não é?

- Sim. – Rukia confirmou com a cabeça. – Não quero ficar devendo nada para aquele guru infernal! – fez uma careta amarga, mas Ichigo achou graça.

- Certo. Mas antes eu preciso encontrar o Keigo... E explicar que... Bem... Talvez ele não receba o pagamento da festa. – franziu o rosto e coçou a cabeça. Estava mesmo perdido.

- Ai! – Rukia se doeu por ele. – Boa sorte então. Eu vou para a república deixar minhas coisas...

- Humm... – Ichigo examinou o relógio. – Às cinco e meia em ponto eu passo lá na república de carro para irmos ao Infernal-sama, okay?

- Ué... Você não vai para a república comigo? – ela estranhou. – O Keigo mora lá, não mora?

- Mora, mas o bebê ta doente e quis ficar na casa da mamãe! – ele debochou e revirou os olhos.

- Há! – Rukia soltou um riso curto e irônico. - Olha quem fala, Cancerianozinho!

Ele fez uma careta para ela. Daquelas que escondem a frase ‘Como eu queria pular no seu pescoço!’

- Então ta. – Rukia abandonou a ironia. – Às cinco e meia em ponto. Vou ficar esperando.

- Okay. Então... Até lá! – ele acenou e fez menção de sair andando.

Mas ela segurou-o pela jaqueta - que ele havia pegado emprestado do seu pai, diga-se de passagem.

- Não está esquecendo nada, Ichigo? – levantou as sobrancelhas para ele sugestivamente.

O coração dele começou a disparar como uma metralhadora de novo.

- Es-esquecendo de quê? – fez-se de desentendido.

Ela não esperou. Aproximou-se e, na ponta dos pés, fez com que seus lábios encostassem-se aos dele.

Ele correspondeu, mas quase não conseguiu fechar os olhos.

- Rukia! – quando ela desceu da ponta dos pés, ele começou a ralhar com o rosto em brasa. – Estamos no meio da calçada! Todo mundo está olhando! – falava baixinho, como se quisesse amenizar o escândalo.

- Até mais, Ichigo! – ela afastou-se com aquele sorrisinho Rukia e acenou. – Às cinco e meia em ponto, não vai se atrasar!

Ele ficou incrédulo assistindo-a ir embora. Quase em transe. Ela era mesmo impossível!

Quando se lembrou que estava parado no meio da calçada como um imbecil, enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta e apressou o passo para a casa do amigo. Não queria nem ver os rostos das pessoas ao redor! Todos deviam estar apontando e falando dele...

Falando... O que?

E de repente, ele não teve mais pressa para andar. E o rosto ergueu-se com dignidade naturalmente.

Se estivessem falando dele... Com certeza falariam de como ele era demais, não era? Um sortudo!

Sorriu orgulhoso. Aquele sentimento odiava mesmo o bom senso. A vergonha. As aparências que se constroem por anos a fio...

Mas e daí? Ele estava tão bem... Na verdade, nunca havia se sentido melhor na vida!

 

****

 

- Merda! – Ichigo olhou no relógio assim que saiu da casa de Keigo. – Cinco e quarenta! E eu ainda tenho que ir em casa pegar o carro! – estava quase correndo pela rua. 

Estava se sentindo um pouco culpado pelo que aconteceu com o amigo. Ele havia ficado mesmo decepcionado. Mas Ichigo garantiu que ele ia poder reivindicar o pagamento, afinal, ele esteve na festa, não é?

Só não sabia se o emprego ainda ia ser dele... Depois de fugir com a futura noiva da festa...

Mesmo assim, encorajou-o a tentar. E se fosse realmente demitido, ele mesmo ia arrumar um bom emprego para o amigo. E mais! Ainda ia pedir ajuda a Rukia para fazer propaganda dele para Chiharu.

- Argh! – ele fez uma careta lembrando-se das mil promessas vergonhosas que fizera. – O que a culpa não faz com uma pessoa? – olhou de novo o relógio. – Se eu a tivesse diminuído um pouco pelo menos não ia estar tão atrasado!

Agora estava correndo de verdade. Faltava pouco para chegar em casa. Só esperava que Rukia não ficasse brava com ele no segundo dia de namoro. Já faltavam cinco minutos para as seis.

Ele parou ao dar de cara com a própria casa. Recobrou o fôlego e evitou conferir as horas mais uma vez. Agora era só entrar rapidamente em casa, pegar a chave do carro sem ninguém ver e...

- Kurosaki Ichigo! – ele ouviu uma voz desconhecida.

Olhou para trás assustado e deu de cara com aquela pessoa no mínimo estranha.

- Quem é você?! – ele perguntou sem disfarçar o espanto.

- Então é você mesmo, não é? – o homem sorriu. E parecia ter mais dentes que uma pessoa normal.

Ichigo deu um passo atrás instintivamente.

- Sim... – caprichou naquele olhar que assustava as pessoas que não o conheciam. – Sou eu. – endireitou os ombros para parecer mais ameaçador.

Mas... Francamente! Se aquele cara esquisito estava procurando briga, ia perder feio! Ele era alto, mas em compensação era tão magro, mas tão magro, que até mesmo o vento poderia fazê-lo cambalear. Mesmo que tivesse um sorriso bizarro e olhos pequenos medonhos, ele não podia...

Um soco. No rosto. O punho veio sem que ele notasse. E quem cambaleou foi o ruivinho canceriano.

- Quem é você, porra?! – ele gritou agora indignado. Como ele podia ter aquela força com o braço daquela finura? – De onde você me conhece e por que está me batendo, seu... – rangeu os dentes e tentou partir para cima, mas tudo que conseguiu foram mais alguns socos ágeis e bem fortes no rosto que quase o derrubaram no chão.

- VOCÊ é o desgraçado que achou que ia roubar a Neliel de mim! – ele disse e a voz estava irada de verdade. – Me devolva ela AGORA!

Ichigo nem conseguia mais raciocinar depois de tantos socos. Nem sabia se estava sangrando.

Neliel... Devolver... Do que ele estava...

Não! Não podia ser!

Aquele era... Era o... Era o pai do filho da sua prima!

- Não! – Ichigo conseguiu gritar. – Não vou devolvê-la a alguém como você! – quis dar uma de herói, mas como sempre, acabou se dando mal por isso.

Foi atingido com o dobro da força dos outros socos, mas dessa vez no estômago. Ele não sabia se tinha sido um punho, dois, um chute ou uma joelhada. Logo ele nem sabia mais onde estava. A pancada o fez cair de vez e, nesse momento, tudo ficou negro.

 

****

 

- Quarenta minutos de atraso! – Rukia estava indignada com o celular na mão. – Eu já liguei para ele, mas o celular parece estar desligado!

- Ihh... – Mai mordeu o lábio preocupada. – Será que aconteceu algum problema?

A primeira coisa que passou pela cabeça de Rukia foi Neliel. A prima de Ichigo... Será que o bebê resolvera nascer ou algo assim? Afinal, ela já estava prestes a tê-lo não é?

Mas não importava. Dessa vez era diferente. Como eles haviam dito algumas horas atrás, dessa vez era mais especial.

Ela então enfiou o celular na bolsa e levantou o queixo determinada.

- Eu vou até lá. – disse.

- Rukia-chan! – Rangiku assustou-se e quase deixou o esmalte cair da mão. – Não acho que seja uma boa idéia...

- Não, eu vou. – mas ela já havia decidido. – Esse idiota não faz nada sozinho. Aposto que está enrolado e precisando da minha ajuda. – sorriu. E não parecia mesmo magoada ou receosa.

O que fez a libriana suspirar de alívio.

- Okay. Então... Espero que dê tudo certo! – desejou.

- Obrigada. – Rukia conferiu sua imagem no espelho pela última vez e encarou as amigas. – Então, eu volto mais tarde para contar as novidades. Cuidem-se! – e saiu do apartamento.

 

****

 

Finalmente chegou à casa do ruivo. Aproximou-se apreensiva. Afinal, não era a primeira vez que estava ali, e por isso mesmo, era uma sensação estranha. Agora ela não seria Usagi ou Tsuki. Seria Rukia, simplesmente ela mesma.

Balançou a cabeça para afastar a hesitação e foi andando tentando não pensar em mais nada. Até que chegou perto da porta... E viu o celular de Ichigo caído, aberto, com a bateria jogada longe. Franziu as sobrancelhas estranhando. O que será que havia acontecido?

Agora estava tremendo um pouco. E antes fosse por causa do frio! Um pressentimento estranho passava pelo seu corpo. Tocou a campainha. E o tremor ficou um pouco mais forte com a demora para lhe atenderem.

Talvez fosse mesmo o bebê do Ichigo. Só isso.

Isshin abriu a porta. E seus olhos quase saltaram do rosto ao ver quem estava ali.

- T-Tsuki-chan?! – ele berrou para o bairro inteiro.

- Er, bem... – ela ficou sem saber o que dizer.

- Entre, entre, querida! – ele parecia perturbado. – Aconteceu um pequeeeno acidente agora há pouco... O Ichigo apanhou um pouquinho, desmaiou, mas ele é forte e já está melhorando, não se preocupe! – foi guiando-a para dentro da casa.

- A-apanhou?! – ela arregalou os olhos chocada. – Como assim? De quem?

O homem não respondeu. Apenas levou-a até a sala, onde Ichigo estava gemendo com um saco de gelo no rosto, rodeado por Karin, Yuzu, Neliel e... Quem era aquele?!

- Tsuki-chan?! – Yuzu agarrou-se no sofá como se Rukia fosse um fantasma.

Até Karin deixou os olhos crescerem um pouco.

- Ah! – Neliel sorriu para ela. – Oi de novo! Já nós vimos antes, não é?

- Rukia! – Ichigo levantou-se rapidamente e sentiu dor. – Aiii... – ficou um tempo de olhos fechados, mas logo os abriu de novo. – O que você está fazendo aqui?!

- Você estava demorando e... Eu achei que tinha acontecido alguma coisa...

Nell ficou olhando de um para o outro sem entender nada.

- Espera! – ela apertou os olhos. – O Itsugo estava demorando para quê? Por acaso você...

- AHHHHHHHHHH! – Isshin berrou e todos ficaram em silêncio assustados. – UM DE CADA VEZ! Agora que a Tsuki-chan chegou e o Ichigo está conseguindo falar, vamos explicar essa bagunça! – cruzou os braços sério, de um jeito que ninguém nunca tinha visto. Mas, um segundo depois já estava sorrindo e esfregando as mãos. – Isso ta parecendo um barraco de televisão!

- Aff... – Karin deixou a expressão despencar para o tédio como sempre.

- Primeiro de tudo! – Ichigo começou. – O que você estava pensando, seu idiota? Quem é você para chegar me batendo?! – apontou para o magrelo sentado ao lado de Nell. – E pai, por que você o deixou entrar depois de me bater?!

- Ué, filho... – Isshin virou as palmas das mãos para cima e ergueu os ombros levemente. – A Nell-chan disse que o conhecia e que precisava falar urgentemente com ele...

- Pois é. – Nell riu como se a situação não fosse crítica. – Ele é o Nnoitora. O pai do meu filho.

Choque geral. Ninguém se mexia. Será que ainda estavam respirando?

- P-Pai?! Como assim pai?! – Rukia estava estupefata. Estava se sentindo em um sonho louco.

- ICHIGO! – Isshin berrou. – VOCÊ É UM HOMEM TRAÍDO!

- Cala a boca, seu velho babaca! – Ichigo irou-se. – A Nell tem razão. Esse é o verdadeiro pai do bebê dela. Eu só peguei esse papel para ajudá-la... Ela precisava ganhar tempo para a mãe dela não descobrir...

- Hehehe! – Nell riu sem graça. – Foi mal, pessoal! Desculpem a mentirinha!

Rukia não estava acreditando. Sentia-se tonta. Podia ouvir a própria respiração ofegante e a sala girando. Aquilo não podia ser verdade... Aquilo era confuso, irreal, bom demais para ser verdade!

- E VOCÊ achou que ia roubar a Nell e o bebê de mim, seu moleque frouxo? – Nnoitora inclinou-se para Ichigo, ameaçando-o novamente.

- Ei, ei, calma! – Nell segurou-o. – O Itsugo é só meu primo. E estava me ajudando. Não queria roubar nada, fui eu que praticamente o obriguei a fingir que era o responsável!

- Então... – Isshin conseguiu fazer a palavra sair tremida. – Então... Eu não vou ser avô?!

- Não agora, pai. – Ichigo respondeu.

- E... Eu não vou ser tia? – os olhos de Yuzu encheram-se d’água.

- É óbvio que não, né? – o ruivo estava perdendo a paciência.

- Mas vocês vão ter uma priminha e uma sobrinha! – Nell cantarolou alegre.

- Então... – Isshin ignorou-a, ainda com aquela cara de botox. – Então você e a Tsuki-chan ainda estão namorando? – dirigiu o olhar para Rukia.

- Tsuki-chan! – Yuzu berrou do nada. – Mas você não era loira?

- Bem, er... – Rukia corou. – Sabe... A Neliel não foi a única que contou uma mentirinha!

- Ah não! – Isshin tampou os ouvidos e os olhos em pânico. – NÃO! Não vai me dizer que você é um travesti! – lágrimas escaparam sem querer pelos cantos de seus olhos.

- PAI! – Ichigo gritou a plenos pulmões. – Pelo amor de Deus!
- Eu não sou um travesti! – Rukia tentava de tudo para não cair na gargalhada. – Eu só... Nunca fui loira e meu nome não é Tsuki. Eu me chamo Rukia e estava disfarçada. Só isso.

- E eu achando que ela fosse coleguinha da Yuzu ou da Karin... – Nell meneou a cabeça reprovando-se.

- Graças a Deus! – Isshin segurou a mão de Rukia aos prantos. – Você é ainda mais bonita morena, Rukia-chan!

- Ahn... Obrigada... – ela ainda espremia o riso nos lábios.

- E por que é que você estava disfarçada? – Yuzu quis saber.

- Vocês se lembram da história de como papai e mamãe ficaram juntos? – Ichigo perguntou às irmãs. Elas balançaram a cabeça afirmando. – Então. Eu e a Rukia fizemos a mesma coisa. E agora... Bem... – corou. – Agora estamos realmente juntos.

- Aiii, que emoção! Acho que vou enfartar! – Isshin pôs a mão no peito dramaticamente.

- Papai! Agüente firme! – Yuzu caiu na pilha dele.

- O único que não está em bom estado aqui sou eu. – Ichigo olhou feio para os dois.

- Ótimo! – Isshin parou o teatro e sorriu radiante. – Então se apresse, Yuzu-chan! Hoje vamos ter um jantar para sete! 

- Jantar para sete?! – Ichigo não podia estar mais revoltado. – Você vai convidar para jantar o cara que engravidou sua sobrinha e se mandou e depois apareceu para espancar seu filho?!

- Ah, Ichigo! – ele balançou a mão como se não quisesse dar importância. – Ele não fez o filho sozinho, não é mesmo? E você também ta muito fracote. Tava precisando levar uma surra para ficar esperto!

- Como é que é?! – os olhos de Ichigo chamejavam de raiva.

- Okay, eu vou para a cozinha! – Yuzu colocou seu avental.

- Eu vou ajudar, Yuzu-chan! – Rukia foi atrás dela. – Eu mudei de nome, mas ainda sou a mesma... Ou quase! – riu.

Yuzu riu de volta.

- Eu senti sua falta, Tsu... Rukia-chan!

- Eu também! – Rukia disse sinceramente. Estava se sentindo em casa de novo.

- É... – Ichigo foi até Rukia. – Acho que ver o Celeste-sama vai ficar para outro dia...

A pequena riu com o alívio estampado na pele.

- Eu não acredito que tudo não passou de um mal entendido!

Ele sorriu para ela, com aquela cara irritante de vitória.

- Se você tivesse simplesmente confiado desde o começo... – ele deu de ombros.

- Vai deitar, Ichigo! – ela empurrou-o de leve. – Você está todo quebrado! Nem ta mais falando coisa com coisa! – mas sorria. Sabia que tinha perdido dessa vez.

Ele lançou mais um sorriso significativo para ela e obedeceu-a. Voltou a deitar-se no sofá com seu saco de gelo. O rosto doía todo.

 - Eu disse que ia dar tudo certo, Itsugo! – Nell sorriu para ele, toda contente.

Ele estalou a língua mal humorado.

- Quem apanhou do começo ao fim não foi você, né? – resmungou.

- O que? – será que ela [i]realmente[/i] não tinha ouvido?

- Nada não. – ele emburrou. – Esquece! Ai, ai, ai! – concentrou-se na sua dor.

 

****

 

No outro dia de manhã, Ichigo não foi à faculdade. Ficou para ajudar Nell a arrumar suas coisas para voltar para casa.

- Obrigada por tudo, Itsugo! Você tem um lugar garantido no paraíso, sabe disso! – sorriu para ele.

E ele não teve raiva. De novo. Como ela conseguia essa proeza? Não sabia se era a sua espontaneidade... Ou se era seu sorriso inabalável... Ou quem sabe não era porque ela parecia ainda mais bonita e especial agora? Quer dizer... Ela ficara tão bem grávida... E mostrou ser capaz de tudo para proteger o seu bebê... Era admirável!

Essa era mesmo a Nell que ele sempre gostara tanto.

- Tudo bem... – ele suspirou. – Um dia essas manchas roxas vão sair! – apontou para o próprio rosto.

Ela riu, mas penalizada.

- Desculpa... E desculpa por atrapalhar seu namoro também... Eu não fazia idéia!

- Eu sei, Nell. Eu sei. – ele tranqüilizou-a. – Nada acontece por acaso. O destino tem tudo sob controle.

Ela concordou com a cabeça. Mas não tinha noção da dimensão do significado que as palavras do ruivo tinham para ele mesmo.

- Bem... Em homenagem ao destino e a linda história que você, a Rukia-chan e o tsio Isshin contaram no jantar ontem, já sei qual nome vou colocar na minha filhinha! – riu empolgada.

- Ah, é? – Ichigo ficou curioso. – Que nome?

- Sora! – ela respondeu satisfeita.

E Ichigo sorriu. A amava ainda mais.

- Estou ansioso para vê-la, Nell... Minha priminha...

- Você vai vê-la logo! Quando ela nascer vai ser o primeiro para quem vou ligar! – segurou as mãos dele.

- Tem certeza de que não quer ficar aqui até ela nascer? – perguntou pela terceira vez no dia.

- Tenho. Eu realmente tenho que ir. Ainda quero que minha mãe chegue a ver minha barriga! – riu.

- Certo... – e Ichigo quase caiu em cima da prima. Sim, porque Nnoitora fez questão de passar por ele esbarrando com força.

- Ah! Foi mal! – ele fingiu se desculpar e mandou um olhar furioso para o canceriano.

Ichigo ficou olhando de volta morrendo de vontade de enfiar a mão na cara dele.

- Vamos embora logo, Neliel! – o homem esquisito carregava as malas dela.

Nell sorriu para ele e depois se voltou para Ichigo.

- Itsugooo! – agarrou-o cheia de lágrimas e catarro repentinamente. – Eu vou sentir sua faltaaaa!

- Nell! – Ichigo nem sabia se abraçava de volta. Tinha consciência de que podia apanhar de novo a qualquer momento. E além do mais... Ela não percebia que a barriga estava enorme, não? E que ele estava todo machucado?

- Neliel! – Nnoitora chamou com os dentes trincados.

Então ela soltou o primo e voltou-se para ele.

- Desculpe... – secou os olhos e fungou com força. – Estamos indo, Itsugo! – acenou. – Mande lembranças a sua namorada! Ela é linda!

Ichigo sorriu feliz com o comentário.

- Mande lembranças à tia também. E boa sorte com o parto!

Então Nnoitora puxou a sagitariana pelo braço, para tirá-la logo dali. E Ichigo fechou a porta, subitamente cansado.

Agora estava tudo certo... Finalmente, tudo certo!

Como o destino era travesso e bagunceiro! Precisou colocar tudo de pernas para o ar para chegar onde estavam agora...

Mas ele sabia... Ele sabia que as coisas não poderiam ter acontecido de forma melhor. As coisas não poderiam estar melhores.

Realmente, não importa o quanto desconfiem dele ou o quanto o julguem equivocado. O destino sempre sabe aonde quer chegar. E é sempre no lugar certo.

 

 

Continua...


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