Céu escrita por Liminne


Capítulo 71
Capítulo 51 – Sob o mesmo céu [aprisionados]




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- Ei... Será que posso te perguntar... Para onde exatamente estamos indo? – Ichigo perguntou para um dos outros garçons que viajavam no mesmo carro que ele.

Não estava entendendo. Onde seria essa tal festa? Num país vizinho? Por que estavam demorando tanto naquele furgão idiota?

O jovem de cabelos e olhos muito escuros arqueou uma das grossas sobrancelhas para ele.

- Você não sabe? – chegou mais perto como que para examiná-lo. – Você não está bêbado, né?

- N-Não! – Ichigo afastou-se nervoso. – Eu só... Esqueci! – desviou o rosto.

- Humm... – o homem pulou os olhos para o crachá dele. – Asano Keigo... – voltou a examinar o rosto do ruivo. – Mas você não era... – apertou os olhos como se tentasse investigá-lo mais profundamente.

Ichigo engoliu em seco. Que merda! Sabia que iam descobri-lo! De algum jeito ou de outro! Não tinha como não notarem a enorme diferença! E agora? O que ia fazer?

- Ahh é que eu ahn... Eu... – Pintei o cabelo. Ia dizer isso mesmo? Aquela frase que acabaria com seu orgulho de uma vida inteira?

- Você está usando lente! – o cara assentiu como se tivesse acabado de montar um quebra-cabeça.

- A-ahn?! – Ichigo não conseguiu deixar de parecer surpreso. Seu cabelo era [i] laranja [/i] e ele achava que a mudança estava nas malditas lentes?!

- Você usava óculos, não era? E parecia meio retardado.

Com a parte do retardado tinha que concordar, mas... Óculos? Do que ele estava falando?! Quem estava bêbado afinal?

- Bem. Será que poderia refrescar minha memória e dizer para onde estamos indo? – Ichigo tentou adotar um tom mais agressivo para fazê-lo se afastar e parar com o inquérito.

- Ah, claro. – o rapaz voltou para sua posição inicial, como se nunca tivesse tido nenhuma suspeita do colega ao lado. – Estamos indo para Kofu. Festa de gente rica! É a primeira vez que serve uma festa, Keigo?

O ruivo estava atônito. Seu coração quase movimentava o crachá pregado em sua camisa, de tão forte que estava batendo.

Kofu? Kofu?!

Deus... Ele não podia estar falando sério!

- Kofu você quer dizer... – a voz saiu arranhada, como se a garganta subitamente tivesse ficado áspera. – Aquela cidadezinha do interior?

- É, isso mesmo! É uma festa de noivado! – ele esfregou as mãos animado. – Vai ter muitas garotas bonitas lá!

Ichigo não conseguia fechar a boca.

Kofu? Noivado?!

Não... Não podia ser... A cidade era pequena, mas não tinha só aqueles habitantes não era?

E... Noivado?! Há! Isso seria demais!

Tentou tranqüilizar-se. Inspirou e expirou devagar. Aquilo não tinha nada a ver com ela! Ele só estava um pouco obcecado com tudo o que aconteceu.

Mas mesmo que dissesse essas palavras para si mesmo, não conseguia aquietar-se. Por quê? Por que tinha aquele mau pressentimento apertando sua garganta e embrulhando seu estômago?

O que estava pensando afinal? Lógico que ela não ia noivar! Claro que não! Isso seria o cúmulo!

...

Mas e se... E se...

Será que aquilo tudo não era uma armadilha? Será que Celeste-sama havia contratado Keigo para fazer com que fosse até lá?

Olhou então para a janela em que o outro garçom estava apoiado e teve um vislumbre do céu.

Não. Não tinha nada a ver com Keigo. Não tinha nada a ver com Celeste-sama. Não era uma coincidência

Era o Céu. Era o destino.

- Você está bem, cara? – de repente o moreno percebeu. – Ficou pálido de repente! Está com dor de barriga?

- Estou bem. – ele conseguiu responder. As palmas das mãos suadas.

Será que era uma chance? Sabia desde o começo que uma hora ou outra o destino agiria. Mas... O que ele esperava que fizesse?

Não.

Balançou a cabeça e passou a mão na testa, como que para limpar aqueles pensamentos. Só estava cismado com aquilo. É. Era isso.

O mundo pode parecer pequeno, mas não é [i] tão [/i] pequeno assim.

Isso, certo. Ia esquecer aquele assunto até chegar lá. Com certeza veria um outro casal feliz em seu noivado randômico. Kofu era apenas mais uma cidade do Japão. Não tinha nada a ver com sua vida!

Não tinha nada a ver!

 

****

 

- Rukia-chan! – Momo praticamente ofegou quando viu a amiga.

- Momo! – o coração de Rukia espremeu-se ao ver a menina. Ela parecia confortável com aquele sorriso no rosto. Não estava forçando. E seus olhos cor de avelã estavam brilhantes de mil sentimentos misturados. – Oh meu Deus! Eu senti tanto a sua falta! – correu até ela e abraçou-a com saudade.

- Eu também, Rukia-chan! – ela estreitou ainda mais o abraço. – Muito mesmo!

- Ahh, que gracinha! – Orihime observava a cena emocionada. – Então essa é a irmãzinha mais nova da Rukia-chan!

Momo soltou-se do abraço e deu uma olhada na ruiva de cabelos longos e seios chamativos. Não tanto quanto os da prima, mas ainda assim bem notáveis.

- E você deve ser a melhor amiga da Rukia-chan! – Momo foi até ela para apresentar-se. – Prazer, Hinamori Momo.

- Inoue Orihime! – ela apresentou-se com um sorriso. – Nossa! É tanta informação que me sinto tonta! – ela sentou-se de volta à cama da mãe de Rukia.

- É verdade, eu entendo como se sente, Hime-chan. – Jyuushiro estava parado na porta. – Eu nunca vi tantas mulheres juntas! – ele arregalou os olhos e todos riram.

- Bem, ainda tem o Shiro-chan... – Momo sinalizou para o amigo totalmente destacado daquela confusão de cabelos compridos, maquiagem e vestidos.

- Ah, verdade! – ele notou o garotinho emburrado. – Que tal nós dois irmos dar uma volta, rapazinho? – sorriu à vontade. Adorava crianças. – Podemos comer uns doces, como se chama?

- Hi-Hitsugaya Toushiro. – ele estranhou o excesso de simpatia. Lançou um olhar para Momo pedindo socorro.

- Olha! Nossos nomes combinam! – o homem soltou um risinho deliciado. – Acho que nós vamos nos dar muito bem!

- Pode ir, Shiro-chan! – Momo disse com um sorriso tranqüilizador. – Os pais da Rukia-chan são anjos!

- Só não sei se dá para dizer o mesmo do Renji! – Rukia completou com um levantar de sobrancelhas assim que a porta se fechou.

- É verdade, coitadinho! – Orihime riu.

- Calma gente, ainda tem o Ashido lá. – Mai deu de ombros. – Nem tudo está perdido.

- Mas então... – a ruiva virginiana levantou-se novamente. – Essa é sua outra amiga modelo, Rukia-chan? – os olhos miravam Rangiku.

- Ah, sim! – Rukia sorriu. – Rangiku, essa é minha melhor amiga Orihime. Orihime, Rangiku.

- Muito prazer! – os olhos castanhos da menina estavam cintilando. – Nossa, conheci tantas pessoas bonitas hoje!

- Ah que isso! – Rangiku riu e depois jogou os cabelos se exibindo. – Você também é muito bonita, Orihime-chan!

- Meninas! – a mãe de Rukia entrou no quarto segurando um lindo vestido azul escuro de meias mangas na frente do corpo. – O que acham?

- Vai ficar linda mamãe! – Rukia sorriu para ela. Aquele dia era para ser tão especial...

- Olha só! – olhou ao redor. – Parece que ainda tem mais pessoas desde a hora que eu saí!

Mai riu.

- E só vai piorando! – a loira observou bem humorada.

- Certo! – Rukia aumentou a voz para ser ouvida por todas. – Vamos começar a nos arrumar de uma vez!

- Eu tenho uma idéia! – Mai interveio. – Porque nós todas não nos arrumamos primeiro e depois te ajudamos a se arrumar? – sorriu adorando a própria sugestão. – Afinal, quem vai ficar noiva vai ser a Rukia, ela tem que ser a mais bonita de todas!

- Eu gostei da idéia! – Orihime levantou o braço e depois riu excitada.

- Eu também! – Momo compartilhava da mesma empolgação.

Logo Unohana, Rangiku e Chiharu também aprovaram.

- Ótimo! – o rosto de Mai brilhava satisfeito. – Então vamos começar.

 

****

 

A quem ele quis enganar durante todo o trajeto? Em que mundo ele estava achando que vivia? Tudo o que acontecia tinha um dedo do destino. Tudo! Como ele era irônico... Como ele era sádico... Como ele era imprevisível!

Os futuros noivos seriam mesmo Ukitake Rukia e Kuchiki Byakuya. O mundo era realmente minúsculo afinal. Ou pelo menos o céu o fazia parecer. Foi como um soco na cara descobrir aquilo. Mesmo que ele soubesse. Mesmo que no fundo ele soubesse e aquela vozinha não tivesse parado de zunir em seu ouvido. Ainda estava se adaptando, depois daquele soco, a ficar de pé. A acreditar que ainda estava consciente e que tudo não passava de um pesadelo louco e absurdo.

A cada minuto que se passava, Ichigo sentia como se seu coração diminuísse alguns bons centímetros. E quanto mais ele diminuía, mas intensas eram as suas batidas. Já estava do tamanho de um caroço. Logo não haveria mais nada ali.

Ele instintivamente pôs a mão no peito. Estava tão apertado. Tão apertado... Ele não se lembrava de ter estado ansioso daquele jeito alguma outra vez na vida. Não. Nem perto daquilo!

Estava observando a enorme cerejeira no jardim daquela casa suntuosa. Suas flores estavam adormecidas. Mas as memórias a faziam brilhar.

Ele lembrou-se do céu estrelado e da lua cheia pairando no céu daquele dia. Lembrou-se do vestido branco empoeirado dela. Lembrou-se dos sorrisos que guardava com carinho. E de sua voz. E da voz dela. E das confissões naquele momento de travessura. Amava mais do que tudo quando ela deixava o coração falar mais alto. Parecia tão mais viva. Parecia tão mais... Rukia. E ali, a alguns metros de seus olhos, estava a cerejeira da qual ela havia falado. Aquele homem que partira seu coração cheio de sonhos. Aquele homem que a ensinara um tipo de amor pragmático e sem sentimentos. Aquele homem que colocaria um anel em seu dedo naquela noite. Um anel que selaria seu coração. O calaria para sempre.

Riu de si mesmo. Um riso curto e sarcástico. Sentiu o coração diminuir mais alguns centímetros. Tinha a estúpida vontade de chorar. E não sabia se era por causa das lembranças. Não sabia se era porque estava sendo obrigado a estar ali para vê-la naquele momento. Não sabia se era porque aquilo parecia uma nova chance.

Estava numa grande dúvida. O destino o amava ou o odiava?

É... Talvez o odiasse mesmo. Só podia ser, não é? Estava ali apenas para presenciar o fim. E sentir no peito, na alma.

De repente entendeu o motivo da sua vontade de chorar. Era mágoa. Era ressentimento. Seu coração estava amargando de ódio. Do destino, de suas tramóias, do sorriso e do olhar dela. Era por isso que doía como nunca havia doído na vida.

E por que diabos não ia embora? Por que ainda estava ali ajudando a arrumar aquela festa?

Olhou para o céu. Apesar de algumas nuvens, estava estrelado. E a Lua cheia se movimentava ironicamente.

Ele respirou fundo. O céu o estava obrigando a sentir mais ódio a cada minuto.

 

****

 

- Vocês estão tão lindas! – os olhos de Rukia pinicaram por um pequeno momento. – De verdade, muito lindas! – sorriu olhando de rosto em rosto.

Aquilo era tudo de mais precioso que havia conquistado naqueles quase oito meses. Suas amigas de verdade. E naquele momento estavam ali, perto de sua mãe e de sua melhor amiga quase irmã. E todas arrumadas maravilhosamente. Parecia uma pintura encomendada a seu gosto.

- Ahh, Rukia-chan... – Orihime conferia a própria aparência no espelho. De algum modo sentia a concorrência ao redor. – Você acha mesmo que estou bem?

A ruiva vestia um vestido cor de pêssego que caía bem com seus cabelos meio presos. Ele descia até os joelhos e tinha alças leves e cintilantes. O decote valorizava seu busto, e por causa do frio, tinha uma echarpe combinando enrolada em seu pescoço. As sandálias brancas faziam par com o laço que prendia suas mechas.

- Lógico que sim, Hime-chan! – ela afirmou com força. – Está mesmo parecendo uma princesa como seu nome sugere. – seu olhar era doce. – Todas estão maravilhosas, parecendo capas de revista! – riu.

- Obrigada Rukia! – Mai sorriu satisfeita. – Depois vamos tirar várias fotos! – riu. – Mas agora o mais importante é arrumar a estrela da festa, não é?

Todas sorriram para ela.

- É, verdade. – Rukia tentou abrir seu sorriso mais luminoso de volta. Mas... Naquele momento... Não se sentia uma estrela.

Olhou para a mãe. Ela estava tão linda usando o tal vestido azul escuro de meias mangas! Os cabelos estavam presos num lindo coque com presilhas brilhantes que combinavam com sua sandália. Seus olhos azuis reluziam de doçura, como sempre. E seu sorriso parecia acolher qualquer dor que ela estivesse sentindo. Parecia o tempo todo compreendê-la.

E aquilo a estava matando aos pouquinhos.

- Vamos, Rukia-chan! – Momo apressou. – Coloque seu vestido! Estamos ansiosas para te ver nele!

Rukia tirou os olhos dos olhos da mãe e levantou-se da cama. Não tinha tempo para pensar em coisas tão superficiais. Tinha que tratar de colar um sorriso no rosto e ir em frente. Simplesmente... Ir em frente.

 

****

 

- Você está per-fei-ta! – Mai falou bem enfaticamente assim que terminou de passar a última camada de rímel na amiga.

Todas as mulheres no quarto piscavam para ela com os olhos encantados. Mai tinha toda razão. Rukia estava perfeita!

- Obrigada garotas. – Rukia sorriu e virou-se do espelho para elas. Sentiu-se ligeiramente tímida com todos aqueles olhares brilhando sobre ela. Então se voltou para o espelho para checar mais uma vez o resultado final.

Seu rosto estava mais maquiado do que costumava usar, mas mesmo assim não tinha do que reclamar. Mai era mesmo boa nisso. Seus olhos azuis estavam bem valorizados contornados de preto e seus cílios ajudavam a chamar a atenção. Seus lábios estavam pintados de vermelho, ela nunca havia pensado que usaria aquela cor. Em seus cabelos havia duas lindas presilhas prateadas com pedrinhas vermelhas brilhantes, uma de cada lado da cabeça, combinando com os detalhes e a maquiagem. E, finalmente, o vestido cinza. Ele descia até seus joelhos de modo leve e delicado e tinha meias mangas que caíam bem soltinhas nos braços. Seu tecido era todo em detalhes rendados cor de vinho levemente cintilantes e a bainha dava o toque final com rendas de mesma cor descansando sobre seus joelhos. Ainda havia uma fina e acetinada fita adornando sua cintura e formando um laço na lateral, que combinava exatamente com o vermelho de suas sandálias fechadas e adornadas com fita cinzenta.

- Você parece uma boneca antiga! – os olhos de Orihime quase derretiam de tanta admiração.

- Eu nunca usei batom vermelho antes... – ela se queixava examinando os lábios no espelho. – Aliás, eu estou usando muito vermelho hoje! – riu se sentindo um tanto desconfortável.

- Você está lindíssima, Rukia. – Mai foi até ela e segurou-lhe as mãos. – De verdade. O vermelho nos ajuda a ter força. – sorriu indecifravelmente. – E a tomar decisões importantes. – não sabia se estava viajando, mas pensou ter visto um rápido brilho nos olhos negros e opacos da escorpiana por um momento. – Por isso fiz questão que pintasse seus lábios assim. - piscou. - Mas você sabe que não tive nada a ver com a escolha do vestido! – riu.

Rukia ainda diminuiu os olhos estudando aquela expressão maliciosa. Quando ela sorria daquele jeito, sabia que estava escondendo alguma coisa, que estava dando alguma indireta.

- A Mai-chan tem razão, meu amor! – Unohana sorriu gentilmente para a filha. – Hoje você é uma mulher e vai decidir uma coisa muito importante. Eu espero que o vermelho te dê mesmo confiança para fazer o que for melhor!

O que estava acontecendo? Era impressão sua ou aquilo tudo estava parecendo uma conspiração? E por que escolheu aquele vestido cheio de detalhes vermelhos afinal? Foi apenas pelo cinza, não foi?

Balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos. Já estava tudo decidido. Com ou sem vermelho, já estava tudo decidido!

Então... Por que sentia no coração aquela dorzinha? Aquela que a estava acompanhando o tempo todo, desde... E por que ela estava parecendo aumentar toda vez que se olhava no espelho e se dava conta do grande passo que iria dar? E por que, raios, por que, ela parecia incomodada e ao mesmo tempo confortada ao ouvir que ainda tinha escolha?

Ela não queria ter outra escolha. Ela queria mais do que tudo ter outra escolha.

Pelo reflexo do espelho observou os rostos. Mai parecia mais linda do que nunca. Sim. Porque ela estava mais feliz do que nunca. Mesmo que houvesse meses que não falava com os pais. Rangiku parecia radiante, com os belos olhos azuis reluzindo e o rosto corado, mesmo que o amor de sua vida estivesse atrás das grades por Deus sabe quanto tempo. E até Momo estava cheia de vida, distribuindo sorrisos e com o olhar brilhando de animação, mesmo que tivesse passado por um episódio traumático de sua vida, perdido a confiança nas pessoas e vivido o horror de quase ser vítima de um crime terrível!

Por que ainda sorriam daquele jeito? Por que?! Depois de tudo que aconteceu... Depois de tudo...

E por que ela, que tinha a vida toda nos trilhos, amigos maravilhosos, excelentes notas na faculdade, os melhores pais que alguém poderia querer, um futuro noivo perfeito... Por que ela que estava com a vida tão perfeitamente encaixada se sentia totalmente falsa quando tentava sorrir?

De repente desabou e sentou-se na cama. Segurou o rosto com as mãos e ficou pensativa, quase chorosa. Seu peito não estava mais agüentando.

- Rukia-chan?! – Orihime alarmou-se. – Rukia-chan, está passando mal?

Todas ficaram em estado de alerta.

- Não, eu... – a voz dela saiu tremida. – Não estou passando mal. – continuou com o rosto entre as mãos encarando algum ponto invisível no ar. – É só que... – de repente, não podia mais se controlar. – Eu não entendo! Eu simplesmente... Não entendo!

As mulheres no quarto entreolharam-se cúmplices. Sabiam do que ela estava falando. Algumas ali, inclusive, previram aquela explosão. Sem contar as que ajudaram a provocá-la.

Continuaram em silêncio esperando.

- Olha só para vocês! – a capricorniana levantou a cabeça e sinalizou em direção a elas. – Vocês estão ótimas! Estão lindas! Não importa de que ângulo se olhe... Vocês conseguem sorrir tão naturalmente... Vocês estão... Felizes! – seu rosto começava a esquentar e os cílios a pinicar. – Os últimos tempos foram tão difíceis para vocês... – olhou para Momo e Rangiku. – Vocês tiveram que ser tão fortes para agüentar tudo... Problemas de verdade... E você. – virou o olhar na direção de Mai. – Você tem batalhado pelo seu espaço. E tem sido difícil fazer as pessoas mais importantes para você aceitarem o que você é, o que você quer ser. Mas mesmo assim... Mesmo assim você está tão bem... – olhou para a mãe. – Você e o papai, além de ter que esperar por anos minha volta de Tóquio, sabem que eu posso me casar a qualquer momento. E mesmo assim... – a essa altura ela já estava de pé e havia lágrimas presas em seu rímel. Mas ela não podia parar. – Eu não entendo porque eu não consigo! Eu não entendo porque eu me olho no espelho e meu sorriso não convence nem a mim mesma! Eu não entendo por que... Por que eu não pareço... Certa. – olhou novamente para sua imagem desabando no espelho. – Eu... Não tenho nada para reclamar da vida... Então por que... Por que... – sua voz se transformou num fiapo e de repente nada mais passava pela sua garganta. Sentiu uma lágrima escorrer e não conseguiu mais encarar suas amigas.

- Você não parece certa. – Rangiku foi quem tomou a palavra. Sua voz parecia dura e fria, como em uma bronca. Mas seus olhos eram calorosos. – Porque você não está certa.

Rukia encarou-a confusa. As sobrancelhas franzindo-se.

- Eu disse desde o começo, Rukia-chan. – a libriana mirou diretamente os olhos azuis dela. – Se você não tiver amor na sua vida... Não há mais sentido para nada.

- Mas o amor... – Rukia disse com a voz doída. – O amor só atrapalhou minha vida até aqui. Só me impediu de ir em frente. Só me iludiu para depois mostrar sua...

- Não! – Rangiku gritou interrompendo-a. – Não, Rukia! Pense bem! Você está dizendo as maiores besteiras! E você sabe disso! – parecia irritada. – Coloque a mão no peito. Sinta! Você sabe que pode sentir... O amor ainda está aí. O amor te ensinou tantas coisas... O amor te ensinou o que é se sentir completa, feliz. – suavizou a expressão e a voz. – E é por isso que você não consegue mais sorrir de verdade agora.

Rukia mordeu o lábio inferior, tentando engolir as lágrimas.

- Olhe ao redor! – Rangiku indicou todas presentes no quarto. – Sabe por que esses sorrisos parecem lindos aos seus olhos? Porque eles são lindos. – em sua voz tinha uma convicção que Rukia nunca tinha visto. Aquelas palavras estavam atingindo-a diretamente. – Porque não importa o que tenha acontecido. Todas nós estamos vivendo pelo nosso coração. Todas nós estamos fazendo o que ele manda! Quando seguimos o coração... Quando somos completadas pelo amor... Não há obstáculo que pareça difícil. Não há túnel em que não se veja luz. Porque o amor transforma, Rukia... – fez a pequena colocar sua própria mão no peito. – Sinta. Feche os olhos. Você sabe disso. Quando você sabe que tem aquela pessoa... Quando você sabe que seu coração está completo... Você não tem o que temer. E tudo parece certo. E tudo de fato é certo. E o sorriso sai naturalmente. Nos lábios e nos olhos... – levou-a até o espelho. – Olhe Rukia... – viu que lágrimas escorriam do rosto dela. – Eu sei que você sabia disso tudo. Só não queria ouvir seu coração. – secou-lhe o rosto delicadamente. – Eu ensinei a você que o amor nos faz atingir os pontos mais altos de nossa vida... E depois, quando eu estava despedaçada e sem esperanças... Foi você que me lembrou dessa lição. – apertou a mãozinha dela. – Agora eu estou aqui para te relembrar dessa lição. E eu sei que você vai levá-la para sempre. Para você e para todos.

- O amor nos renova a visão do mundo, Rukia-chan. – Momo também quis mostrar suas palavras. – O amor é o único que pode nos salvar.

- Você encontrou grandes amigas, meu anjo. – sua mãe dizia com aquele rosto tranqüilo. – E devia ouvi-las. Eu sei que você é muito inteligente e tem um coração de ouro, por isso vai fazer o que é certo.

Orihime e Chiharu assentiram, os rostos afogados em lágrimas.

Rukia olhou-se no espelho. Olhou-se nos olhos. Ouviu o coração bater. Sentiu-o.

- Eu preciso retocar minha maquiagem. – decidiu depois de um tempo.

O brilho nos olhos tinha voltado. Aquele brilho Rukia. Dos olhos cor de céu de primavera.

Mai sorriu com o estojo de maquiagem na mão. Foi até ela com o coração palpitando.

- Eu sempre soube que você ainda ia surpreender. – disse com confiança, olhando nos olhos dela.

Rukia sorriu enquanto Mai retocava seus olhos. De repente, alguma coisa faiscava dentro dela. Seu coração acelerou como há muito não fazia. E sentia-se viva de novo.

 

****

 

Finalmente chegaram à mansão dos Kuchiki. A festa seria no amplo jardim da casa. Naquele momento os ajustes ainda estavam sendo feitos. As mesas, as flores e os outros detalhes.

Mas Rukia mal notava como estava ficando a festa. Ela queria encontrá-lo. Queria dizer a ele toda a verdade. Mesmo com o coração martelando na garganta. Mesmo sabendo que aquilo era errado, justo naquela hora. Mesmo sabendo que estava sendo egoísta.

Ela precisava dizer. Precisava.

Não era um simples capricho. Era uma necessidade.

- Com licença! – Rukia parou um homem que estava carregando uns arranjos de flores. – Você viu o Kuchiki Byakuya? O dono da casa?

O homem deu uma olhada rápida nela e estranhou. Vestida daquele jeito, seria a anfitriã?

- Senhorita... – ele parecia não estar muito à vontade falando com ela. – Por que não vai ver dentro da casa? Ele mora aqui, não é?

É claro! Como era estúpida! O que estava esperando, afinal? Que ele estivesse magicamente esperando-a embaixo da cerejeira?

- Ah. Obrigada. – sorriu sem jeito e foi andando em direção a casa.

Estava se sentindo ofegante de repente. Mas sabia que era o coração que não conseguia se acalmar.

Ao chegar percebeu o movimento na cozinha. Os garçons estavam ocupando-a instruídos por um dos criados de confiança dos Kuchiki. Antes de qualquer coisa precisava tomar um copo d’água, decidiu.

Esgueirou-se por entre alguns caras e umas garotas uniformizados e conseguiu entrar.

- Ahn... Com licença! – pediu a um dos garçons que estava enchendo alguns copos com água. – Poderia me dar um copo d’água?

- Ah, claro senhorita! – o garçom pareceu um pouco nervoso pela presença dela. Deu em sua mão o copo d’água e desapareceu com os outros para o outro lado da cozinha.

E de repente Rukia não conseguia se mexer. Não conseguia nem agradecer ao garçom e nem tocar em sua água.

Porque saindo dali, o homem tinha revelado... Ele tinha revelado...

- ICHIGO?! – ela gritou numa voz aguda e estranha até mesmo para seus próprios ouvidos. E derramou o copo d’água nos próprios pés.

 

****

 

- Por que a Pudinzinha saiu correndo para a festa daquele jeito? – Jyuushiro se perguntava enquanto beliscava doces na sala de estar acompanhado de Renji, Ashido e Toushiro.

- Vai saber! – Ashido balançou os ombros. – Sabe como são as mulheres, cheias de superstições com esse lance de noivado, casamento!

- Poxa vida... Mas eu queria pelo menos ter visto direito como ela estava... – ele choramingava.

- Não se preocupe, devemos estar indo logo para lá também. – o pisciano tentava tranqüilizá-lo. – Quando o resto das donzelas ficarem prontas. – sorriu pacientemente.

- Você parece bem acostumado com toda essa demora. – Jyuushiro estava achando surpreendente.

- O senhor não faz idéia do que eu passo! – ele levantou as sobrancelhas para as próprias memórias.

- E então, pessoal? Vamos para a festa? – de repente, a voz de Mai fez os três levantarem as cabeças.

E lá estavam elas, parecendo saídas de um filme ou anúncio de revista. A espera sempre valia a pena afinal.

- Amor, você está linda! – Jyuushiro foi até a esposa e pegou sua mão. Seus olhos brilhavam encantados.

Ela riu para ele compartilhando aquele doce momento.

- Mai... – as palavras faltaram ao pobre pisciano. – Eu juro que nunca mais reclamo da sua demora... – conseguiu balbuciar. Os olhos azuis quase transparentes vidrados nela.

Ela sorriu animada e deu uma voltinha. Era sempre linda, mas naquela noite ainda parecia ter algo mais especial no profundo dos seus olhos e no luzir dos seus cabelos.

Ela usava um vestido branco tomara-que-caia marcado nos quadris e estampado com bolinhas pretas. A saia armada terminava acima dos joelhos com acabamento de tecido negro. A meia-calça preta e os sapatos brancos com a mesma estampa que o vestido davam um toque diferencial à produção. Os cabelos dourados estavam enfeitados com uma linda tiara preta aveludada e em seus ombros nus caía um muito delicado xale de mesma cor para que ela não sentisse tanto frio.

- Não saia de perto de mim. – Ashido cochichou com Mai segurando-lhe a mão. – Quero que todos saibam que a mulher mais linda da festa é minha namorada! – beijou sua bochecha carinhosamente.

- Que exibido! – ela riu acariciando a mão dele.

- Desculpe a demora, Shiro-chan! – Momo foi até o garoto com um sorriso nos lábios e as mãos entrelaçadas na frente do vestido.

Suas bochechas estavam levemente coradas e seus olhos tão alegres... Isso já seria o suficiente para conquistar os olhos cor de gelo do sagitariano. Mas ela estava tão bonita que ele estava mais do que conquistado. Estava olhando-a com o rosto vermelho e a boca aberta.

Ela usava um vestido lilás de mangas compridas transpassado no peito. Como era a criança protegida do grupo, não podia correr o risco de pegar um resfriado no sereno. Mas ainda assim seu visual estava cativante. Os cabelos estavam soltos, do jeito que ele mais gostava, e havia um adorno em forma de coração acima de sua orelha, combinando com os detalhes roxos do vestido e com as sapatilhas decoradas.

- Shiro-chan? – ela inclinou a cabeça para examiná-lo melhor. – Você está bem?

- Ah! – aquilo só conseguiu fazer com que ele ficasse mais vermelho e sem jeito. – E-eu estou bem. – desviou os olhos do rosto dela, com muito esforço. – Você está... Hun... Muito bem com essa roupa.

Ela sorriu contente.

- Verdade? – ela balançou o vestido. – Quer dizer que estou bonita?

Ele olhou-a de esguelha e tentou manter a voz firme.

- É. Está bonita. – disse baixinho, como se não quisesse ouvir a própria voz.

- Ahh, obrigada! – ela parecia ter ganhado o dia. – Você também está lindo, Shiro-chan!

E subitamente ela agarrou seu braço. Ele não reclamaria de nada. Só estava com medo de não conseguir respirar.

- O-obrigado. – murmurou sem olhá-la nos olhos.

- Que bonitinho! – Rangiku riu olhando para a prima. – Parece que temos vários casaizinhos aqui, né?

- É verdade. – Chiharu concordou, mas do nada ficou desanimada. – Pena que não tem ninguém para me dizer que eu estou bonita...

- Olha, tem aquele cara ali! – Rangiku apontou disfarçadamente para Renji. – Ele é bonitinho.

- Não! – Chiharu quase se escondeu atrás da peituda. – Ele tem uma cara de mau... – encolheu-se.

- O Abarai-kun é um cara legal, Chiharu-chan! – Orihime garantiu.

Mas mesmo assim a pisciana ainda parecia querer se esconder.

- Chiharu, como você é medrosa! – Rangiku riu. – Bem, já que não temos namorados para nos dizer como estamos bonitas, eu posso dizer.  – olhou para as duas demoradamente. – Nossa, meninas! Vocês estão deslumbrantes com essas roupas!

Orihime achou graça.

- Obrigada! – abaixou a cabeça em agradecimento. - Você também está, Rangiku-san! – ela observou a libriana.

Ela estava mesmo deslumbrante em seu vestido rosa chá. Ele era acinturado e tinha a saia plissada, terminando antes dos joelhos. Por cima dele ela usava um casaquinho de tecido leve da mesma cor, amarrado abaixo dos seios volumosos. Suas sandálias cor-de-rosa fechadas na frente e de saltos altos a deixavam ainda mais alta e, por conseqüência, mais destacada.

- Para de frescura, Chi! – Mai de repente interveio levantando a mão dela. – Olha só para você! Está uma diva! Sabe que se eu fosse homem casava com você! – piscou.

Chiharu caiu na gargalhada.

Estava vestida com um lindo vestido verde escuro que combinava com seus olhos. Tinha estampa quadriculada e meias mangas fofinhas amarradas com delicados lacinhos. Seus cabelos castanhos enormes estavam presos com laços iguais aos do vestido e seus pés calçados com elegantes scarpins verdes.

- Obrigada Mai. – ela sorriu. – Acho que estamos todos prontos, não é? Essa festa promete!

- Promete mesmo! – Unohana riu. – Vamos logo, pessoal!

E então todos finalmente saíram de casa.

 

****

 

- Ah meu Deus! – Rukia olhou para os sapatos encharcados e o vestido respingado por um instante. Sabia que não tinha a mínima importância, mas num momento como aquele, sua cabeça parecia ter se esvaziado totalmente.

Primeiro fazia planos. E então seu coração resolvia destruí-los de uma hora para outra. Depois tentava montar novos planos, de acordo com o que seu peito sentia. Mas novamente, o destino bagunçava tudo de novo, levando-a de volta à estaca zero. O que queriam dela, afinal?!

- Deixa eu te ajudar! – mesmo com tudo que vinha pensando, com todos aqueles sentimentos e palavras entalados na garganta, ele só conseguia tomar a atitude idiota de pegar um pano e ajudá-la a se secar.

- Seus sapatos... – ele tentava secá-los, abaixado no chão. – Parecem ser bem caros.

- Nem tanto, mas... Mas agora eles estão ensopados! – ela passava o outro pano no próprio vestido.

Ficaram em silêncio por alguns segundos. E de repente entreolharam-se. Como se um ímã os tivesse impelido a fazê-lo.

E então ele percebeu os lábios dela se retorcendo. Parecia querer explodir numa gargalhada! Ele sentiu as bochechas esquentarem, mas não conseguia tirar os olhos do rosto dela. E, por mais incrível que parecesse, o quase riso dela o estava contagiando. E ele já sentia os músculos do rosto se rebelando contra sua própria vontade.

Era a cena mais patética de suas vidas! Os dois compartilhavam esse pensamento.

Ele então se levantou e largou o pano em cima da pia. Pigarreou se livrando do riso, fazendo-o se calar. Concentrou-se por algum tempo nos próprios pés enquanto esperava que ela fizesse o mesmo.

E era exatamente o que ela estava fazendo. Deixou o pano junto ao dele e endireitou os ombros. Respirou fundo e ergueu levemente o queixo. Não era hora para rirem como crianças.

Definitivamente, não era hora!

Mas é que era tudo tão irônico... Era tudo tão... Tão a cara daquele Céu imprevisível!

- Então, Ichigo... – ela tentou disfarçar mantendo o tom de voz baixo e profissional. – O que está fazendo aqui?

- Vim servir a sua festa de noivado. – ele respondeu secamente, agora concentrado em encher mais um copo de água para ela.

Ela sentiu uma pontada dolorosa com as palavras dele. Podia saborear a amargura daquela voz. Podia tocar a dor. E o desprezo dele... Era o que lhe atingia mais. E tudo era culpa sua.

- Por quê? – ela perguntou quase inaudivelmente.

Os olhos melancólicos e agora duros dele se encontraram com os azuis derretidos dela.

Ele conteve um suspiro.

- Porque o Keigo passou mal. – sinalizou para o crachá com o nome do amigo. – Ele pediu para que eu viesse no lugar dele. Precisava muito da grana.

Rukia engoliu em seco. Então não tinha sido mesmo Celeste-sama que o mandara até lá.

Tinha sido mesmo o próprio destino.

- Ichigo... – sua voz saiu ligeiramente trêmula. Trêmula porque vinha direto de seu coração abalado. – Ichigo... – ela repetiu o nome dele até que ele voltasse a fitá-la. – Você me odeia?

O coração dele reduziu-se a quase nada naquele momento. Doía mais do que tinha doído o dia todo. A primavera dos olhos azuis dela... Aquele azul parecia estar engolindo-o. E a mão dela que subitamente tocou o seu braço. E aquelas palavras...

Ódio.

Ele a odiava? Aquele sombrio que tomara conta de seu coração... Aquele frio que reinava em seu peito... Aquilo se chamava ódio?

Ele olhou para a mão dela tocando-o. Depois para seu rosto. E em seguida, voltou-se para o copo d’água. Estendeu-o para ela.

- Nós não temos mais nada a ver um com o outro. – respondeu enfim, sem encará-la. A voz não parecia pertencê-lo. Era gelada demais.

Ela então deu um tapa no copo fazendo com que ele caísse novamente e molhasse o chão. Mas dessa vez os cacos espalharam-se junto com a água.

Ele não teve outra escolha que não encará-la como se ela fosse louca.

- Ichigo. Me responda. – ela se retesava toda, parecendo subitamente agressiva. – Todos os copos que eu quebrar para chamar sua atenção vão parar na conta do seu amigo.

Ele olhou fundo nos olhos dela. Não era agressividade que a movia naquele momento. Aquilo era... Aquilo era...

 

 

Continua...

 


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