Céu escrita por Liminne


Capítulo 50
Capítulo 41- Neblina




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- Meu anjo... – assim que a filha desceu do trem, os olhos de Jyuushiro inundaram-se. – Minha pudinzinha! – correu até a mulher com aparência de menina e abraçou-a com uma força que nem sabia que existia. – Bem vinda... Seja muito bem vinda... – acariciou-a com os dedos trêmulos e o coração palpitando no ouvido dela. Ela podia ouvir a música emocionada que o peito dele cantava junto com aquele cheirinho doce, quente e familiar que ele sempre tivera. - Papai... – seus olhos sem querer encheram-se também e ela teve que morder o lábio com força para não emitir um som de choro. – Estou de volta... – murmurou com dificuldade, quase sem fôlego. – Finalmente! Ficaram abraçados ali por dois longos minutos, só sentindo o cheiro e a presença um do outro, percebendo que por mais que o tempo passasse e tantas coisas mudassem, eles sempre seriam os mesmos e aquele sentimento estaria sempre intacto. Afastaram-se. Olharam-se nos olhos e sorriram puramente um para o outro. O homem tocou o rosto de sua filhinha preciosa. E ela tocou sua mão com carinho, com cuidado, como se ele pudesse desaparecer com um movimento brusco. - E então, meu amor? – ele perguntou ainda com aquela voz suave e os cantos dos olhos descaradamente molhados. – Teve uma boa viagem? Não está cansada, está? Ela tirou a mão da mão dele e secou seus próprios olhos. O pai podia se derreter sem problemas, mas ela não. Seria sempre o porto seguro, o forte para ele. Ele fora a vida toda para ela. - Estou ótima papai. – disse, sorrindo e erguendo o queixo. O peito estava repleto de ternura, mas agora também de mais força e ânimo que nunca. – E não estou cansada. Muito pelo contrário! - Isso é ótimo! – ele sorriu com vigor e tirou a mão do rosto dela também. – Porque estão todos te esperando lá em casa. Estamos todos em festa! – riu. - É sério? – os olhões dela cintilaram lindamente. – Não acredito! – ofegou e riu ao mesmo tempo, toda emocionada. - Então veja você mesma. – ele continuava sorridente. Pegou as malas dela e os dois foram andando contentes de volta pra casa. **** - Rukia! Me diz que você não conheceu nenhum garoto! - Filhinha, você ta comendo direitinho, né? - E aí, Luazinha de prata, cadê seu boletim? - Rukia-chan, você não arrumou outra melhor amiga, arrumou? - Rukia-sensei, você trouxe presentes? Depois de tantos abraços calorosos, lágrimas, boas vindas e longos minutos alegres e emocionados, os convidados da festa deixaram a anfitriã acomodar-se. Bem... Mais ou menos. Em pouco tempo começaram a bombardear a pequena com mil perguntas, sem nenhuma piedade, tirando o atraso e tentando loucamente matar as curiosidades. Rukia sorriu antes de começar a responder aquela metralhadora. - Vejo que vocês estão muito bem. – ela puxou um sorrisinho malvado. – Saudáveis e cheios de euforia. Acho que não preciso mais me preocupar. - Ahhh, Rukia-chan, nos responda! – Orihime choramingou. – Estamos loucos para saber tudo! – os olhos brilhavam. - Okay. – a capricorniana piscou olhando para todos aqueles rostos em expectativas. O coração doeu. Mas uma dor gostosa. Como sentiu falta de todos eles. Como sentiu falta daquele clima tão à vontade, tão familiar. Como estava feliz de estar de volta. – Eu conheci muitos garotos. – olhou desafiadora para Renji. – Eu estou sim comendo direitinho. – assentiu para a mãe. – As minhas notas eu vou mostrar daqui a pouco. – passou o olho pelo pai. – Nenhuma amiga no mundo vai substituir minha melhor amiga de sempre. – sorriu para Orihime. – E sim, eu trouxe presente pra você e pra todo mundo! – riu para as crianças que começaram a comemorar animadas. Rukia foi até as malas, distribuiu todos os presentes e por último pegou o maior de todos: as suas notas. - Aqui está papai e mamãe. – sorriu toda orgulhosa para eles. – O resultado de terem sido maravilhosos e me deixado ir para Tóquio. Jyuushiro pegou o papel e estendeu a sua frente para que a esposa também pudesse ver. Eram notas incríveis. Impossível não deixar cair o queixo. - Filhinha... – os olhos do homem começaram a umedecer de novo. – Que orgulho! - Meu amor... Eu sabia que ia ser assim. E o mérito não é nosso. É todo seu. Você é brilhante! Ganhou um abraço duplo gostoso e apertado. Já tinha se esquecido de como era mimada. E agora estava dando mais valor àquilo. - Não. Eu devo tudo, tudo a vocês! – ela murmurou no abraço. - Que CDF! – Renji tomou da mão de Jyuushiro o papel. – Olha só! Que é isso! Nem no primário eu tirava essas notas! - Rukia-chan é incrível! – Orihime gritou com os olhos arregalados. – Você foi a primeira da classe? Rukia riu. - Não... Acho que fui a segunda ou terceira. – levantou os ombros em sinal de modéstia. - Ela fala como se tivesse sido a penúltima. – Renji zombou e ganhou um pequeno soco no braço. - Cala a boca! – ela brincou. E a festa continuou com conversas, beijos, abraços, perguntas, novidades, mimos, mimos e mais mimos. Tanto que o coração da capricorniana mal pôde sentir as mudanças que aconteciam no Céu. E o Sol de verão continuava a brilhar, sem nenhuma nuvem para atrapalhar. **** Já era quase noite. O céu estava alaranjado e lentamente as cores quentes iam desaparecendo, dando lugar ao frio da noite. Momo largou a revista que estava lendo e correu para a porta do vizinho. Seria naquela hora que iriam viajar juntos. Ela e o amigo de infância. Seria. - Asano-kun... – ela deu de cara com o moreno quando tocou a campainha. – O Shiro-chan já foi? – temeu a resposta. - Bom... – ele coçou a cabeça. – Ele acabou de ir. Não faz nem vinte minutos. A geminiana cerrou os punhos. Sentiu a visão tremer. - Ele... Não disse nada? Não deixou nenhum bilhete, nada? – sentia o gosto das lágrimas. Estava fazendo um esforço enorme para não desabar ali. Keigo ficou desesperado. - C-Calma Momo-chan. Quer um copo d’água? - Não! – ela gritou. – Eu quero saber se ele falou alguma coisa! Qualquer coisa! - Bem... Ele não disse nada não... – o jovem se sentiu mal pela moreninha. – Me desculpa... Só posso dizer que ele saiu daqui bastante emburrado. Mais até do que o normal. Ela olhou para ele e depois suspirou cansada. - Eu vou pra casa... – deu dois passos. – Obrigada Asano-kun... - De nada. – ele disse ainda chateado. Viu a menina bater a porta da frente e encostou-se no batente da porta. – Ai, esses amores mal resolvidos... – tomou um gole do suco de caixinha que segurava. – Eba, vou ter a casa só pra mim! – e fechou a porta cantarolando. **** No sábado seguinte, à noite, o apartamento das meninas estava animado. Não, não era mais uma das festas de Rangiku dessa vez. - Eu posso pentear seu cabelo, Mai-chan? – Momo perguntou assim que a loira voltou do banho enrolada em seu roupão cor de vinho. - Ah, claro. – ela sorriu luminosamente. – Se puder secá-lo também eu ficaria muito feliz. - Vai ser um prazer! – os olhos de Momo brilharam. Sempre quisera “brincar de boneca” com Mai. Enquanto a geminiana se divertia com as madeixas loiras da inglesa, esta tentava se decidir sobre a roupa que ia usar. As opções estavam espalhadas na cama de Rukia que havia se transformado temporariamente em sua cama. - Que tal essa? – mostrou a Momo uma saia curta em azul bem escuro. – Vou usar com essa blusa! – mostrou uma tomara-que-caia pink com estrelinhas num tom mais claro de rosa na lateral. – Eu tenho um sapato nesse mesmo tom de rosa. – sorriu. - Meu Deus! – Momo riu admirada. – Vai ficar igual a Barbie! Mai também riu. - E o que a cabeleireira vai fazer no meu cabelo? – perguntou alisando a saia no colo. - Humm... – a menina ficou pensativa remexendo no acervo infinito de acessórios de Mai. – Ah! Achei! – mostrou a ela um arquinho bem fino e uma fitinha. – Vou fazer um lacinho no seu arco. – riu. – Vou realizar meu sonho de ter uma Barbie que anda, fala e tem encontros! Mai estava se divertindo. - E eu espero que o Ken me peça em namoro hoje. – suspirou. – O que você acha? - Você vai ficar tão linda que ele não vai resistir. – Momo disse. As duas sorriram uma pra outra e continuaram a produção. **** Tocou a campainha da casa de Ashido com um riso querendo escapar pelos lábios. Sabia que estava chegando cedo e que devia esperar que ele fosse buscá-la. Mas simplesmente não agüentou de curiosidade. Queria porque queria saber o que ele estava aprontando para aquele encontro. Então, seguindo sua vontade, lá estava a Barbie humana parada em seus saltos diante da casa de seu amado, se mordendo de curiosidade. - Ai droga! – Ashido praguejou. – Será que é algum vizinho? – respirou fundo e foi até a porta um tanto quanto mal humorado. Já estava difícil sua tarefa, imagine com alguém atrapalhando bem no meio dela? – O que é? – perguntou numa voz contida, mas escancaradamente apressada e impaciente. Mas quem ele encontrou na porta não era nenhum inconveniente. Na verdade... Na verdade era demais para seus olhos. Como ela conseguia ficar cada vez mais linda? Não! Errado! Ela era o maior inconveniente possível! Estava ali, toda linda e arrumada enquanto ele... Bem... Estava usando um avental. - Hahahahaha! – ela não agüentou aquela cena e caiu na risada. – Ashido... Você está... – levou a mão a boca tentando se conter, mas a dificuldade estava aparente. - É. – ele temeu ter parecido uma criança envergonhada naquele momento. – Eu estou cozinhando. – desviou os olhos timidamente. – Não era parte do plano você aparecer antes da hora! – acabou sorrindo, também quase rindo por causa do riso dela. - Eu precisava ver isso. – ela parou de rir, só ficou com aquele sorrisinho nos lábios pintados. – E tenho certeza que já foi o ponto alto da noite. O sorriso dele cresceu. - Então você está me subestimando. – ele disse e ela quase se derreteu. O pisciano entrou em casa e deixou a porta aberta para que ela o seguisse. **** - Tentei fazer um prato típico inglês. – pouco tempo depois Ashido começou a servir a mesa minúscula forrada de branco que ele havia arrumado só para os dois. – Muita gente fala mal, mas eu gosto de comida inglesa. Você sabe que eu amo a Inglaterra. – os olhos estavam vívidos para ela. - Eu sei, é? – ela sorriu divertida. - Se não sabe, está sabendo agora. – ele sentou-se de frente para ela. Antes de começar a comer, Mai respirou fundo sutilmente. A casa tinha um cheiro doce de conquista. E a meia luz vinda das várias velas aromáticas espalhadas pela sala aumentava o clima de mistério romance. A envolvia misticamente. Seu coração não desacelerava. Ashido serviu os dois de vinho e eles começaram a comer. - Uau! – Mai surpreendeu-se. – Você conseguiu captar a essência inglesa com esse prato. – fechou os olhos. – Fazia tempo. Só comendo comida japonesa... Por um momento foi como se eu tivesse voltado para minha terra natal. – abriu de novo os olhos negros para ele. - Obrigado. – ele ficou contente consigo mesmo. – Fico feliz de saber que eu consigo agradar essa Mai também. Ela olhou para ele mais profundamente. - Sabe... Quando tudo acabou daquela vez... Eu não imaginei que fosse me sentir tão mal. E também não imaginei que fosse aprender tanto. – tocou a mão livre dela na mesa. – Eu queria pedir desculpas... Pelo sofrimento que te causei. E por não ter sido o bastante para que você me mostrasse quem era. As sobrancelhas dela abaixaram-se ligeiramente. - Não deve pedir desculpas por nada. – disse séria. – Eu também aprendi muito com a solidão e com meus erros. Eu amadureci. E aprendi que devo ser eu mesma, não importa a circunstância, não importa para quem. Foi o maior erro eu não ter sido com você, não tem nada a ver com merecimento. – fez uma pausa e continuou fitando-o sem desvios. – Eu tinha medo de que você não me amasse. – sorriu melancolicamente para si mesma. – Não. A quem eu quero enganar? Na verdade... Na verdade eu [i] tenho [/i] medo de que você não me ame. Muito medo. – o peito subiu com o esforço maior para respirar. – Por mais que eu pareça confiante... Eu tenho medo. – segurou a mão dele com o polegar. – Mas eu aprendi. E mesmo que você nunca me ame, não há como eu ser outra pessoa. E essa sou eu. E eu vou esperar até que você decida que ama essa Mai assim como eu sempre te amei. Ele segurou a mão dela com mais força e carinho. - Eu nunca quis que ficasse com medo. – ele foi dizendo com o olhar preocupado. – Eu descobri que não importa quantas versões você tenha. Porque há algumas coisas que todas as Mais tem e terão. O olhar misterioso, o sorriso venenoso, a voz firme e melosa ao mesmo tempo... – acariciou a mão dela. – A pele macia, o sotaque único, as frases sempre espirituosas e bem escolhidas e... – sorriu com um pequeno e amável suspense. - E o coração mais apaixonado que eu já conheci. – o azul de seus olhos brilharam mais intensamente do que ela já havia lembrado de ver. – Eu te amo, Mai. Eu te amo. E quero ser seu namorado sempre. Ela achou que fosse chorar ali mesmo. Mas segurou-se com todas as suas forças. - É claro que você sempre será. – o sorriso venenoso citado era agora puro doce. – Eu te amo. Ashido inclinou-se sobre a mesa e Mai ergueu o corpo para encontrá-lo e os dois saborearam um beijo de reconciliação com gosto de vinho, amor e expectativas mais do que alcançadas. **** Ainda naquele sábado à noite, em Kofu, Rukia passeava com a melhor amiga pela cidade. Era muita conversa para colocar em dia. E a baixinha também estava com a maior saudade de cada pedacinho do lugar onde nasceu e cresceu. Na falta de uma missão estrelada para cumprir no sábado, resolveu dar uma volta sem compromisso. - E então, Rukia-chan... – o tom de Orihime ficou mais curioso. – Eu sei que você tentou evitar esse assunto de qualquer maneira. Mas agora que estamos sozinhas, me diga: você está apaixonada por alguém? Rukia quase parou no meio do caminho. O coração deu um salto duplo. Mas usou de toda sua frieza capricorniana para dissimular aquele sentimento. Continuou andando sentindo a brisa fria que envolvia a cidade mesmo no verão. - Eu... Eu estou estudando muito, Hime-chan. – ela disse não encarando o rosto da amiga. – Eu disse que não estava indo para Tóquio por isso. A ruivinha suspirou decepcionada. - Ah, Rukia-chan... Você deveria deixar seu coração mais aberto. Aberto ou fechado, o destino por acaso se importa? Resolveu mudar de assunto. - Um dia você tem que conhecer a república! – foi dizendo animada. – Tem cada figura lá! O amigo do meu pai, o Shunsui-san, é muito engraçado, está o mais longe possível de ser um homem sério! Ele fica dando em cima da recepcionista o tempo todo e ela bate nele com livro enorme de grosso. – riu. - Tem a Momo, aquela menina que eu disse que virou minha irmã mais nova, a prima louca e baladeira dela, a Rangiku e agora a Mai, a mulher mais complexa que eu já conheci. Ela é linda, é modelo. Mas quer ser escritora. Você ficaria boba de ver como ela anda em saltos gigantes como se estivesse de pantufa! - Uau! É sério? – o rosto dela voltou a brilhar. – Puxa... Eu queria muito conhecer suas amigas, Rukia-chan... Muito mesmo... Continuaram andando. Era impossível o clima daquela noite estar mais agradável. Os olhos azuis dirigiram-se para o céu. Uma enorme Lua cheia se destacava no meio das estrelas. Branca, encantadora e fingindo inocência. Mas seu brilho só encheu o peito da capricorniana de uma nostalgia perturbadora. E seus lábios de um sorriso inconsciente, de alma. - ... E então ele falou que você falava muito num tal de Kenji. Rukia-chan, você gosta do Kenji-kun da padaria? Será que lá de Tóquio ele estaria vendo aquela mesma Lua? - Rukia-chan! – Orihime chamou a atenção da amiga. – Ei! Estou te fazendo uma pergunta. - Ah! Ahn? – O que estava acontecendo? Desde quando era uma pessoa distraída? – Kenji-kun? Está louca? Ele é o maior mulherengo! - Humm... – a ruiva de seios fartos ficou pensativa. Mas espera! Quem tinha dito isso? - Hime-chan... – ela sorriu meio sem graça. – Me desculpe, mas... Quem você estava falando que disse isso mesmo? A ruiva sentiu-se confusa e perdida. Em que planeta Rukia estava viajando? Mas como era bobinha e ingênua, preferiu acreditar que a amiga ainda estava cansada. Afinal, para tirar aquelas notas tão altas, com certeza havia se matado de estudar. - Estou falando do garoto que veio de Tóquio fazer uma entrevista com seus parentes e amigos. – explicou pacientemente. – Um garoto ruivo com umas caretas um pouco assustadoras... Ela tentou, mas não conseguiu evitar um sorriso enorme seguido imediatamente de uma gargalhada. - Ah! Esse garoto! – o sorriso ainda não tinha desaparecido dos lábios. – Como que ele sabe do Kenji-kun? – era realmente uma pergunta que ela queria a resposta. - Não sei. Vai ver você contou pra ele. Vocês são amigos? Amigos... - Ahn... – voltou a olhar em frente. – Não exatamente. – ficou muda por alguns segundos. – Hime-chan gostou dele, é? – provocou. - G-Gostar? O que quer dizer com gostar? – ficou vermelhinha. – N-Não! Eu tive um pouco de medo dele... Mas até que ele é bonitinho. – riu sem jeito. Bonitinho, hein? Com aquele cabelo incomum, com os olhos vesgos e a mania de enrugar o rosto o tempo todo. Rukia parou de andar. Olhou para trás. - Rukia-chan? – Orihime parou um pouco mais a frente e viu a amiga com uma expressão desconfiada. – O que aconteceu? – foi até ela. - Ah... Nada, acho... – continuou examinando ao seu redor. – Não é a primeira vez que acontece... Estou me sentindo observada... - Eu hein! – a virginiana arregalou os olhos. – Relaxa, amiga! Ainda está tensa por causa da faculdade! Rukia concordou com um aceno de cabeça e um sorriso. Era melhor que fosse só isso mesmo. **** Já era a última segunda-feira de agosto. O sol ensaiava para se por. Muita coisa havia acontecido tanto em Tóquio quanto em Kofu. Rukia não podia negar a saudade que sentia do seu novo lar. Mesmo que não quisesse abandonar o seu de sempre por nada. Nesse meio tempo, recebera e fizera ligações para seus amigos de Tóquio. Descobriu que Mai e Ashido estavam em namoro firme de novo e que a loira estava muito feliz. Por outro lado estava cada vez há mais tempo sem conseguir falar com a mãe. Descobriu que Rangiku estava comportada - ou pelo menos dando o seu melhor. Ia para algumas festas e de vez em quando chegava de madrugada, mas não deixava de cuidar da prima por nada. Até estava conseguindo cozinhar algumas receitas! Informou-se também de que Momo aproveitou as férias para fazer companhia para a prima e visitar amigas da escola... E que Ichigo estava fazendo alguns bicos para juntar dinheiro enquanto tinha tempo e se distraía algumas vezes com os amigos de infância. E o mais importante: que ele também via o mesmo céu pontilhado de estrelas e a mesma Lua cheia magnífica. Os dois observavam o céu toda noite. Estavam ligados. Nenhum deles precisou mencionar a falta que um fazia para o outro. Talvez porque fosse óbvio. Ou talvez porque não fosse tanta assim. Afinal, ainda usavam o bracelete, ainda viam o mesmo céu, as mesmas estrelas e a mesma Lua... Era como se ainda estivessem um com o outro, ligados por um laço não mais invisível. Naquela tarde então, Rukia começou a sentir um vazio indeciso. Não sabia se queria ou não voltar. O coração pulsava pelos dois lados. Estava assistindo a um filme na TV com o pai. Mas percebeu que ele acabou dormindo no sofá e riu bem baixinho. Ele sempre dormia quando assistia filmes de suspense. Desligou então a televisão e saiu de casa devagar. Foi andando... A mãe estava trabalhando no hospital. Orihime estava fazendo um curso de culinária avançada naquela hora da tarde. Renji disse que estaria ocupado com um trabalho enorme da faculdade para a próxima segunda-feira... Avistou a colina e sorriu. Continuou andando sem cansar. Sentia calor, mas ela um calor gostoso. A brisa fresca ainda soprava em seus braços nus por causa da blusa de alcinhas. Sua saia lilás com lacinhos azuis balançava levemente. Chegou num piscar de olhos ao topo da colina e sentou-se ali. Adorava aquele lugar. Sempre tinha aquele ventinho suave... E não tinha lugar melhor para olhar a cidade... A cidade que era agora muito mais preciosa para ela do que já fora por causa da saudade. Faltavam poucos dias para voltar para a república e queria ter sempre aquela imagem viva em sua mente. Os olhos correram de um lado para o outro registrando para o coração cada pedacinho da paisagem. Até que, como numa armadilha, caíram naquela cerejeira. O coração deu sinal de que não podia ser totalmente indiferente àquilo. Mesmo assim, que vitória! Não havia se lembrado dele até aquele momento. Mas agora... Agora aquele rosto estava voltando à sua mente. Onde será que ele estava? Será que ainda fazia parte daquele cenário? Será que tinha sido soprado para longe com aquela última e decisiva brisa da primavera? Será que ele também a tinha soprado para longe de todas as memórias? - O pôr-do-sol na colina... Sabia que um dia ia aparecer para vê-lo. Paralisou. Não... Claro que não! Não era real! Estava pensando nele e... E de repente sua imaginação... Droga! O coração martelava tanto, tão forte, tão alto, que mal podia ouvir seus próprios pensamentos. Tinha que virar-se para ver se não era só o vento. Tinha que virar-se. Mas parecia que a tinham plantado no chão. - Rukia... – a voz firme disse e então ela teve certeza. Pôde sentir seu cheiro. Pôde sentir aquele sentimento que a atormentara. Sem se dar conta levantou-se e encarou seu fantasma. - Byakuya...-sensei... – a voz saiu quase inaudível, um murmúrio reticente, incrédulo e assustado ao mesmo tempo. Ficaram fitando um o outro por alguns minutos. Os olhos azuis dela tentavam acostumar-se com aquela imagem novamente diante de si. O coração reconhecia a figura e revirava-se em sentimentos que ela achou que já haviam sido apagados. Só estavam enterrados lá no fundo, na verdade. E bastou a presença dele para que viessem à tona, se misturando com os novos sentimentos e pensamentos, transformando aquele momento na maior confusão que já havia sentido na vida. Os olhos cinzentos dele continuavam frios lembrando-lhe o gelo do inverno. Os cabelos negros compridos se moviam levemente e o nariz e o queixo estavam levantados de forma sutil e imponente. Continuava o mesmo. Lindo, orgulhoso e impecável. Era tão difícil imaginar aquele homem fazendo qualquer coisa de errado... E era por isso que o tivera que apagar do coração. Então... O que ele estava querendo? O que ele poderia querer ali? O perfume clássico e sofisticado que ele usava estava começando a deixá-la tonta. Queria tanto acreditar que ele era só uma miragem... - Byakuya-sensei estava... Me esperando? – ela perguntou num jorro. Não sabia direito o que estava fazendo, pensando ou sentindo. Os olhos dele se mexeram. Aquilo poderia ter sido um pequeno lampejo? - Tem quase meio ano que não nos vemos. – ele disse como se aquilo fosse a resposta da pergunta dela. - É. – ela respondeu debilmente. Sabia que estava com uma cara patética, mas não podia evitar. - Rukia... Você pretende mesmo ficar em Tóquio? Não estava entendendo. Ele estava conversando com ela normalmente? Ele havia sentido a sua falta? Ele estava querendo que ela fosse ou que ela ficasse? Tentou manter a calma mesmo que as pernas estivessem tremendo teimosamente. - Eu... Eu vou terminar a faculdade lá. - Por que você foi embora? – ele perguntou. E ela praguejou por dentro. Por que ele não demonstrava nada no tom de voz? Por quê? - Em Tóquio eu vou ter mais oportunidades. – ela respondeu tentando parecer o mais digna possível. Levantou o queixo também. – Você... – recriminou-se pelo tratamento mais informal. – O senhor... Sabe do meu maior sonho. - Eu também tive vontade de ir embora, Rukia. – ele disse como se ela não tivesse falado nada. – Mas você o fez primeiro. O quê?! Como?! Seus olhos azuis estavam do tamanho de frigideiras, tinha certeza. Ele fez o inesperado: caminhou até ela e sentou-se do seu lado. Depois de quase um minuto de choque, ela só pôde sentar-se também. Não podia negar a si mesma que estava precisando isso. - Você tem mágoas, não é? – ele disse sem olhar para ela. – Foi o que te impulsionou a sair daqui, não foi? – apesar de aquelas perguntas serem tão diretas e duras para ela, a voz dele continuava macia como um veludo escuro e o olhar dele era plácido como o cinza. Ele dirigiu os olhos para ela. E então ela sentiu-se presa, sem escapatória. Não conseguiu mentir. - Sim... – disse e abaixou os olhos. O coração a sufocava. Ele suspirou inaudivelmente. - Você tem todo o direito de não acreditar. – ele ainda olhava para ela. – Mas eu nunca quis te machucar. Eu... - Mas machucou. – ela murmurou, mas com força. Cerrava os punhos com muita força e não o encarava de jeito nenhum. – O seu orgulho... O seu orgulho me machucou. Ele ficou observando-a. Ela tremia. Estava tão frágil, tão ferida e magoada... E não podia tirar a razão dela. Uma pena que ela não pôde ver naquele momento, refletida nos olhos dele, a vontade verdadeira que ele sentiu de abraçá-la. - Eu senti a sua falta, Rukia. – ele continuou dizendo ao invés de fazer o que queria. – Eu pensei em deixar a faculdade por você. Ela olhou para ele surpresa. Será que... Será que devia acreditar naquelas palavras? - Eu realmente sinto por você o que eu disse que sentia. – continuava. – Mas você foi embora. E eu esperei que voltasse. Esperei para dizer que eu estava te esperando. – tocou a mão dela e olhou-a fundo nos olhos. Ela estremeceu. – Me perdoe. Eu estou me desfazendo do meu orgulho pelo seu perdão. Ela sentia que ia morrer sufocada. Os pulmões só conseguiam captar aquele perfume tóxico. E ele vinha não só com aquele aroma enfeitiçador. Dúvida, certeza, medo, alívio, segurança, ternura, lembranças, nostalgia, rancor, orgulho e amor... Todos esses sentimentos estavam bloqueando sua respiração. - Eu preciso ir. – ela levantou-se de súbito. É. Seria covarde. Fugiria. Não tinha como. Era uma questão de sobrevivência. – Adeus! E saiu correndo para casa, para um refúgio. Queria voltar para Tóquio naquele momento. Queria se enfiar na cama e encolher-se até desaparecer. Não queria enfrentar aquela onda estonteante. Queria apagar. Queria esquecer. Queria paz. E lá estava o Céu em revolução. **** Poucas horas depois, a família Ukitake jantava. Superficialmente estavam todos felizes e tranqüilos. Mas Rukia ainda estava assustada como uma criança. Concentrava-se demais nos hashis, como se eles pudessem fazê-la esquecer de tudo que aconteceu. - Mamãe, papai... – disse de repente e eles olharam afáveis para ela. – Eu acho que vou embora mais cedo que o esperado. Os sorrisos desapareceram dando lugar a rugas de preocupação e um entreolhar intrigado. - Meu bem... – Ukitake segurou a mão da filhinha. – O que aconteceu? Algum problema na faculdade? Na república? - Ou será que nossa mocinha já cansou de ficar na casa dos pais, hein? – a mãe sorriu triste, porém, compreensiva. O coração doeu. Não queria mentir para eles. Tampouco queria ir embora mais cedo na verdade. Mas estava com tanto medo que... Que só conseguia pensar em uma coisa para fazer-lhe apagar da cabeça toda aquela confusão. - Eu quero me preparar para o volta às aulas. Sei que se chegar lá no fim de semana não vou conseguir ir para a aula na segunda-feira. Vou ter mil coisas para arrumar em casa e nas minhas coisas... O chefe da família sorriu gentilmente. - Se você acha que é o melhor, minha bonequinha, você tem toda a razão. - Nós confiamos na sua responsabilidade, você sabe. – a mãe arrematou. - Mas tem que prometer que vai voltar qualquer dia para nos ver. Um fim de semana, quem sabe? Não vamos conseguir esperar até o Natal para te ver de novo. – fez uma carinha de abandonado que quase a convenceu de ficar até o último momento. último momento. - Eu vou fazer o possível. – ela disse sinceramente. - Então você vai quando, linda? - Depois de amanhã. – disse. Daria tempo suficiente para as despedidas, pensou. - Então vamos organizar um grande jantar amanhã para todos, certo? – Unohana disse. - Claro. – Rukia sorriu do melhor modo que pôde. **** - Alô. Posso falar com o Shiro-chan? - Sou eu. – a resposta do outro lado veio dura e amarga. – Como conseguiu meu telefone? - Eu achei na minha agenda antiga... E pensei que poderia ser o mesmo... – respondeu encolhendo-se. – Você não atendia o celular... - Ele não está funcionando aqui. – continuava seco. - Humm... Ficaram um tempinho em silêncio. - Shiro-chan... - Hitsugaya! - Okay... – suspirou. – Hitsugaya-kun... Estou com saudades, sabe? – agarrou o telefone com mais força. – Queria saber como você está. Está se divertindo? - Estou... – ele respondeu sem prolongamentos. – Tanto que acho que vou me mudar para cá de vez. O coração dela quase parou de terror. - NÃO! – gritou numa voz estrangulada. - Eu devo voltar para Tóquio para arrumar tudo e tal... Acho que não tenho mesmo mais motivos para ficar aí. Ela mordeu o lábio. Sentia as lágrimas crescendo nos olhos. Tinha que dizer alguma coisa. Tinha que fazer alguma coisa. - Shiro-chan, você não pode me deixar! Ele não sabia o que responder. Quando ela falava daquele jeito... Quando ela falava daquele jeito, seu coração criava esperanças irritantes. - Não está nada certo ainda. – ele disse, suavizando quando imperceptivelmente o tom. – Eu estou pensando muito sobre meu futuro. Talvez volte para a faculdade. Ou talvez volte para casa. Eu ainda não sei. - Humm... – a respiração dela denunciou seu choro. – Faça a escolha que achar melhor... – ficou muda. – Quero que... Quero que saiba que estou com muita saudade e que estou doida pra saber as novidades. – embora as palavras fossem alegres, seu tom era desconsolado. - Certo. Nos vemos. Tchau. – e desligou antes que ela fizesse sua cabeça. - Shiro-chan... – percebeu que ele já tinha desligado o telefone. Desanimada, colocou o fone no gancho e sentou-se no chão, abraçando os joelhos. - Eu sou a pior melhor amiga do mundo... **** No outro dia, de manhã, o canceriano estava sozinho em casa. As irmãs tinham saído para um parque aquático e o pai estava no trabalho. Sentia um calor infernal. Daria tudo por um ar condicionado naquele momento. Tentava se distrair com o livro novo que lia. Totalmente alheio ao Céu que não era mais o mesmo. E estava cada vez mais diferente. Quando a estória estava ficando realmente interessante, a campainha tocou. - Saco. – ele xingou e deixou o livro de lado. Soltou o ar com força, passou a mão pelos cabelos e foi andando preguiçosamente até a porta. A campainha insistiu mais uma vez e ele berrou impaciente: - Já vai, droga! Chegou até a porta e abriu-a. E então seus olhos escancararam-se. - Oi Itsugo! Tudo bem? Não podia acreditar. Em sua frente estava sua prima, a única que o chamava daquele jeito patético. Fazia uns sete meses que não a via e agora ela aparecia do nada. Não... O que estava acontecendo? Estava ficando cada vez mais espantado. A luz do sol refletia nos cabelos compridos e verdes dela e aqueles olhos castanhos bem clarinhos continuavam alegres como sempre. Ela usava um shortinho cinza e tênis brancos. A blusa que vestia era verde estampada com folhinhas, no estilo bata, bem larguinha na barriga. E então... Quando a mão dela tocou o tecido esvoaçante e este se colou ao seu corpo, a protuberância ficou evidente. Como... Não. Por que... Não podia ser. Ela só havia engordado, não era? Olhou para as mãos dela. Carregavam malas. Malas! - N-N-Nell... – ele gaguejou sentindo que nunca tremera tanto na vida. – O q-que... O que é isso?! – apontou para a barriga proeminente dela. - Hehe... – ela coçou a cabeça com aquela risadinha típica, tão infantil para aquela figura que estava vendo. – Itsugo... Nós precisamos conversar... Como o Sol podia continuar brilhando de dia? Como a Lua podia continuar encantando à noite? Como as estrelas e nuvens podiam mentir, esconder tudo naquele silêncio? Como podiam dissimular a neblina que estava atravessando aquele Céu com todo o brilho e calor do verão? O Céu é cúmplice do destino. Do travesso e certeiro destino. Continua...

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