Céu escrita por Liminne


Capítulo 42
Capítulo 37 – Reconquistas [esforço]




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A dupla havia sido guiada ao final do labirinto, de graça, por Celeste-sama. Era o mínimo que ele poderia fazer depois do pânico que causou.
- Eu... Eu achei que você estava morrendo! – Rukia foi dizendo assim que acabara de se instalar no carro com Ichigo. Só agora eles estavam conseguindo dizer algo que não fossem gritos, grunhidos e insultos furiosos.
- Eu também! – ele ofegou. Seu coração ainda nem havia voltado ao ritmo normal. Tanto pelo desespero quanto pela raiva.
Rukia só virou o rosto para o ruivo e ficou com um sorriso pairando nos lábios. Um sorriso que misturava alívio e indignação.
- Eu fico pensando... Como. Como? Como ele inventa uma coisa dessas? Como ele pode brincar com a gente dessa maneira?
Ichigo também olhou para ela.
- Eu também gostaria de entender. – ele apertou as sobrancelhas e estalou a língua desaprovando. – Que ódio que me deu! Que ódio!
- Ele sempre nos faz cair em suas armadilhas... – ela continuava, com os olhos diminuídos. – Até mesmo eu! Eu acreditei que você era claustrofóbico e que tinham te trancado em um maldito armário de limpeza! – suspirou. – E fiquei desesperada... – acrescentou a última frase num sussurro.
Mas ele ouviu. E arregalou os olhos castanhos para ela. Mas em pouco tempo, observando-a enquanto ela encarava as próprias mãos, sua expressão se tornou mais afável, quase doce. O que era raro. Então ela havia se preocupado com ele. Genuinamente. Tanto quanto ele tinha se preocupado com ela, talvez.
Ela voltou a olhar para ele e ele tratou de desviar os olhos para a direção.
- Você também teve que falar um trava-línguas? – ele resolveu dizer alguma coisa em tom casual até que seu coração se acalmasse.
- Não. – ela sorriu e ajeitou-se no banco. – Por quê? Fizeram isso com você?
Ele deu uma olhada rápida para ela.
- É. A tal da Yoruichi-san. – suspirou irritado. – Eu odeio trava-línguas, eu gaguejo muito facilmente... E aquela mulher é uma louca!

Se o Celeste-sama na verdade é Infernal-sama ela deve ser uma...
- Ah... Falando nisso... – ela cortou a quase-piada dele. - Eu contei pro Infernal-sama... – ela mordeu o lábio inferior e desviou o olhar.
- Contou o quê? – ele não entendeu, de verdade.
- Hum... Do apelido... – ela parecia se sentir meio culpada e envergonhada.
- Tá brincando?! – ele animou-se perceptivelmente. – E qual foi a reação dele? Ele bem que mereceu!
- Foi no final do jogo... Eu praticamente gritei! – ela agora já sorria, começando a achar divertido. – Ele ficou tão abismado... Tão... “Ah-ah...” – ela imitou o jeito como o guru gaguejara desnorteado.
O que arrancou uma risada de Ichigo.
- Foi o melhor, Rukia! – ele aprovou, ainda sorrindo. – Eu queria ter visto a cara dele!
- E eu! – ela concordou. – Mas ele mereceu... Depois de me deixar tão desesperada... E depois de me fazer dançar Britney Spears pra ele!
Ichigo quase perdeu o controle do carro.
- Você dançou Britney Spears? – perguntou vagarosamente, não conseguindo se decidir se ficava deliciado ou chocado com a imaginação daquela cena.
- É. – ela emburrou e cruzou os braços, com as bochechas ficando quentes. – Oops I did it again.
E o ruivo riu de novo. Depois da tempestade o sol estava aparecendo para ele.
- Meu Deus, meu Deus! – ele balançava a cabeça. – Agora não sei se eu queria mais ter visto a cara do Infernal-sama ou você pagando esse mico!
- Por você, seu idiota! – ela aumentou o bico. – E você também não parece que se deu tão bem assim... Afinal, estava sem camisa quando te encontrei!
- É... – foi a vez dele de fazer uma careta envergonhada. – Ela me mandou tirar.
- Pra quê? – Rukia chocou-se.
- Ora, pra quê... Pra ela me dizer a maldita porta que eu deveria abrir. – ele soltou o ar. – Eu não estou dizendo? Aquela mulher é uma tarada!
Rukia riu. E como não rir? A cara dele... Toda vermelha... Ele era tão exageradamente tímido e aquela tal de Yoruichi ainda ousava fazer uma coisa dessas...
Chegaram à república. Mais uma vez, hora da despedida.

- Até a próxima Ichigo. – ela disse, sorrindo levemente. – E obrigada por tirar a camisa pra me salvar. – riu.
Ele fez uma careta, mas acabou sorrindo um pouco também.
- Eu que agradeço por ter rebolado pra me salvar.
Dessa vez ele parecia ter ganhado. Ela só mostrou a língua pra ele, sem saída.
- Tchau! – e saiu do carro.

****

Na segunda-feira, Mai levantou-se enquanto as mulheres da república ainda tomavam café. Todas estranharam, naturalmente.
- M-Mai? – Rukia foi quem falou, com os olhos arregalados. – Por que está acordada tão cedo?
Ela cobriu um bocejo com a mão, apertou seu roupão de veludo ao redor do corpo e sentou-se com elas.
- Bom dia. – sorriu, com o rosto levemente inchado. – Ontem eu fui dormir um pouquinho mais cedo. – disse enquanto começava a servir-se de chá. – Hoje eu vou passar na faculdade de novo.
- Oh... – Rukia tomou um gole de seu chá e continuou fitando a loira. – O que vai fazer lá?
- Ah, eu... Vou ver a Chiharu. – seus olhos negros fitavam apenas o copo em que bebia o chá.
- Sei, sei... – Rangiku se meteu na conversa. – O Ashido não tem nada a ver com essa história né?
Mai pousou o copo e sorriu.
- É claro que tem. Essa é uma pergunta de resposta óbvia. – riu.
- Ahhh! A Mai-chan vai reconquistar o namorado! – Momo sorriu animada. – Boa sorte, Mai-chan! – fez um sinal incentivador a ela.
- Eu espero que sim... – ela suspirou. – Vou dar o meu melhor para isso.
Rukia terminou seu café antes das outras e levantou-se. Foi até a caixa do correio. Já tinha dois dias, tinha certeza que já teria recebido mais uma carta estrelada.
Não deu outra.
- Uma carta do Celeste-sama! – Mai observou-a na mão de Rukia.
A pequena continuou em silêncio, lendo a carta. Sorriu no final.
- Dessa vez ele não foi infernal? – Rangiku quis saber.
- Não. – Rukia respondeu as curiosas. – Tá chegando o aniversário do Ichigo... E ele apenas quis me lembrar de fazer algo para ele.
- Olha! – Mai empolgou-se. – E o que vai fazer?

- Faz uma massagem erótica! Não, não! Faz um strip-tease. – os olhos de Rangiku brilhavam com as próprias idéias.
- PRIMA! – Momo arregalou os olhos horrorizada.
E Mai desatou a rir.
- Aposto que ele ia adorar. – a escorpiana piscou provocante.
- CREDO! – Rukia berrou exasperada. – Argh! – fez cara de nojo. – Pelo amor de Deus, me lembrem de não contar mais nada pra vocês! – saiu pisando duro. – Vamos logo Momo, você não pode se atrasar.
- C-certo! – Momo levantou-se e seguiu a capricorniana.
As loiras da casa continuavam rindo.
- Pobre Rukia-chan... Tão inocente... – Rangiku cantarolou quando as duas tinham saído.
- Total. – Mai balançou a cabeça ainda com o sorriso malicioso nos lábios. – Tão madura e mesmo assim parece uma criança... Espero que o Kurosaki não tire a inocência dela tão cedo.
- Que desejo maldoso, Mai! – Rangiku franziu as sobrancelhas.
A loira apenas riu e tomou mais um gole do seu chá. Invejava e admirava Rukia. Ela era diferente de todas as pessoas que já havia conhecido. E de alguma forma, era certa. Na sua vida, na vida de Rangiku e de Momo. Na vida de Ichigo. Desejava o melhor para ela. Finalmente.

****
Na hora do almoço, na universidade, Mai apareceu novamente. Estava sorridente e radiante usando um delicado vestido coral com decote nas costas e calçando sandálias altas e brancas de cortiça.
- Mai! – Chiharu correu até a amiga alegremente. – Veio de novo!
- É. – a loira ficou contente de ver a amiga logo de cara. – E aí? Como estão as coisas? – seus olhos negros detectaram Ashido alguns generosos metros adiante. Obrigou-se a desviar-se daquela visão.
- Estão bem. Você mudou a opinião das pessoas sobre você. – a pisciana foi guiando a amiga até a mesa em que se sentaria para almoçar.
- Isso sem dúvidas é ótimo! – Mai foi dizendo, ainda sorrindo. – Mas você sabe do que eu realmente quero saber. – olhou-a inquiridora.

- Ohh! – o olhar de Chiharu mudou e ela riu. – Entendi. – encolheu os ombros e meio que se debruçou sobre a mesa para passar as informações com mais discrição. – Ouvi dizer que naquele dia que você veio, acabou deixando-o com um sorrisinho bobo. – soltou uma risadinha animada.
- É mesmo? – o sorriso dela iluminou todo o rosto. – Você acha que isso é verdade? – mexeu no cabelo. – Ele ta a fim de mim, é?
Chiharu juntou as sobrancelhas confusa.
- Bem... Ahn... Mai... Não sei se ele algum dia não esteve. – balançou os ombros. – Acho que ele só estava magoado e tal...
- Chi! – a loira ignorou o que a morena acabara de dizer e pegou suas mãos, com os olhos pequenos consideravelmente maiores. – Você precisa me apresentar a ele. Arrumar uma ocasião.
Os olhos verdes de Chiharu ficaram piscando algumas vezes.
- Ahn? – ela fez perdida, com o rosto meio franzido.
Mai suspirou, mas não soltou as mãos da amiga e nem o sorriso luminoso do rosto.
- Ele conheceu uma outra Mai. – disse num murmúrio, como se estivesse escondendo um segredo de si mesma. – Essa Mai de agora, quer conhecê-lo... Quer que ele a conheça. Será que você pode me ajudar, Chi? Igual da outra vez?
A pisciana finalmente entendeu. E sorriu com um calor altruísta no peito. Como estava feliz de vê-la tão reluzente. Como estava feliz em poder ajudá-la.
- Mas é claro, Mai. – ela disse com a voz doce e satisfeita. – É claro que vou ajudá-la.
As duas riram felizes uma para a outra e puseram-se a conversar como se não se vissem há muitos anos.

*****

- Eu não acredito que ela veio de novo. O que ela está querendo? – Ichigo fez uma careta, sinalizando com a cabeça para Mai.
Rukia não respondeu.
- Rukia? – ele olhou para a pequena que tinha os olhos perdidos e viajantes. – Ei, Rukia! Acorda! – estalou os dedos na frente do rosto dela.
- Ah! – ela despertou. – Ah... – olhou para ele. – O que estava dizendo?
Ele suspirou ruidosamente.

- Nada não... – contraiu o rosto em mais uma de suas caretas. – No que é que você está pensando pra ficar assim tão lerda?
Ela sentiu-se um pouquinho espetada com o ‘lerda’, mas decidiu ignorar com um menear de cabeça.
- Não é nada de mais... – “Só a maldita carta do Infernal-sama.”, pensou. – Só... Umas coisas que tenho que fazer...
- Humm... – ele espiou-a enquanto mastigava a comida. – Okay. Não vou te forçar a contar nada. – abaixou os olhos para o prato.
É... Dessa vez Ichigo não poderia mesmo saber. E não era questão de medo, nem de frieza e nem de vingança. Era só uma surpresa. E ia pensar em algo do tamanho de seu merecimento. Com certeza ia.

*****

Na sexta-feira, Chiharu já havia atendido ao pedido de sua melhor amiga. Sim. Estava organizando uma grande festa. E na saída da faculdade, começou a perseguir Ashido, mesmo estando de saltos altos.
- Ashido! – ela gritou, mas ele não ouviu. Como andava depressa! Resolveu apertar o passo e não parecer uma desesperada afinal. Se Mai soubesse que tinha atraído o pisciano com escândalo, com certeza não ia aprovar. – Ashido! – mudou totalmente o tom de voz quando finalmente conseguiu alcançá-lo. Mesmo ofegando e com algumas mechas de seu cabelo jogadas no rosto, sorriu tentando parecer surpresa em encontrá-lo. – Que bom que... Te encontrei por aqui. – ficou meio em dúvida da própria frase. Afinal, não era óbvio encontrá-lo na saída na hora da saída?
Ele parou e olhou-a com seus olhos azuis frios. Ela parecia agitada.
Seu coração deu um salto.
- Oi Chiharu. – ele cumprimentou. Fazia tempo que não falava com ela. – Posso ajudar em alguma coisa? – franziu as sobrancelhas curioso e preocupado ao mesmo tempo. Não queria se alegrar demais antes de qualquer conclusão.
- Ah... – ela ficou claramente sem jeito. – Bem... – arrumou os cabelos longos e sorriu novamente. – Eu só queria te convidar para uma festa. – pegou em sua bolsa bordada com florzinhas coloridas um convite. – Vai ser lá em casa.

Meus pais vão viajar na próxima semana e eu resolvi chamar umas pessoas legais para... Você sabe. Distrair um pouco a cabeça de tanta pressão. – mostrou a ele seu sorriso mais doce e convincente.
- Humm... – ele ficou revirando o convite verde nas mãos. Por algum motivo, já sentia cheiro de Mai.
- Você vai, Ashido? – ela perguntou, diante do silêncio dele, com os olhos piscando e cintilando de ansiedade.
- Eu... – ele continuava encarando o convite. – Bem, eu não sei. – olhou para ela finalmente, num suspiro. – Eu tenho muita coisa pra fazer e não sei se vou poder. Mas não estou descartando a hipótese. – sorriu e fez menção de sair andando.
- Ashido! – ela não queria, mas quando viu, já estava gritando o nome dele. Ele parou e encarou-a. E ela engoliu
em seco.
Não
importava como. Tinha que fazer aquela surpresa para Mai. Ela faria o mesmo por ela. Deus sabia que ela já tinha feito tanto por ela!
- O que foi, Chiharu? – o homem perguntou com paciência. Na verdade, ele estava mesmo esperando por aquilo.
- Sabe... – os olhos dela rodaram tímidos. – Uma amiga minha muito bonita vai estar lá... – sorriu lembrando-se do joguinho que Mai inventara. – E ela quer conhecê-lo. Se você não for, não vai ter a mínima graça. Nem pra mim, nem pra ela.
Ele entendeu, óbvio. Até o mais tolo de todos saberia, desde o começo, que aquilo não passava de uma armação.
E mesmo que fosse tudo tão forçado, tão explicitamente combinado, não deixava de ser altamente convincente.
Afinal, esperara por isso por quanto tempo?
- Certo. – disse enfim com um sorriso mais dócil, um tanto quanto divertido, enquanto enfiava o convite no bolso. – Eu vou fazer de tudo para aparecer. Fiquei curioso sobre sua amiga tão bonita. – entrou na brincadeira, percebendo o brilho de satisfação naqueles olhos verdes.
- Okay. – ela mal podia conter o sorriso enorme. – Te vejo lá, Ashido. Garanto que não vai se arrepender! – piscou e saiu andando na frente dele.
Mas sua vontade mesmo era de sair correndo até Mai, para contar tudo a ela.

Mas não podia. Sabia que já estava na cara, mas pelo menos um pingo de dignidade tinha que manter. Não era mais uma criança afinal.
- Não vejo a hora de te conhecer, loirinha. – enquanto isso, Ashido ficara parado no mesmo lugar, olhando para algum ponto imaginário no ar. O coração estava quente. Seu peito, mesmo que estivesse excitado, estava enchendo-se de paz.

****

- Oi, Mai! – Rukia entrou no apartamento e deu com a inglesa digitando no computador. Nada imprevisível.
- Ah, oi! – ela fez, como sempre, sem erguer os olhos da tela.
- Onde estão as outras? – a pequena quis saber.
- A Momo foi pro vizinho e a Rangiku não chegou. – o barulho do teclado continuava incessante.
- Humm... – Rukia não perturbaria se não tivesse um motivo. – Tenho uma coisinha pra vocês.
- Ah é? – estava na cara que a loira não estava interessada.
- É. – Rukia segurou o riso. Parecia que ela esquecia o mundo quando estava escrevendo. Nada mais importava. E apreciava isso com toda a sua alma. – Bem, é um convite... – simulou descaso na voz. – Eu ganhei um pra cada uma de vocês. Vou deixar o seu aqui do seu lado. Quando você puder, dá uma olhada. – deixou o papel verde do lado do teclado. - Vou tomar um banho. – e desapareceu corredor adentro.
Era só questão de tempo que ela percebesse.
Mas até que demorou uns bons quinze minutos. Só quando a inspiração fugiu e ela precisou dar uma parada para se lembrar de uma palavra que largou o teclado para recostar-se na cadeira e pensar. Conseqüentemente seus olhos acabaram percorrendo toda a mesa e sendo atraídos pelo verde destoante.
E antes que desse por si, já estava com ele nas mãos, lendo-o.
Não acreditava naquele conteúdo.
Um sorriso invadiu seu rosto de repente.
Conhecia aquele endereço que estava ali... Conhecia.
Mas ainda não podia acreditar.
- Chiharu! – exclamou assim que terminou de ler tudo umas três vezes. – Você é uma pestinha! – num ímpeto de alegria, beijou o papel. – Eu te amo, garota!

****

- E então, Hinamori... – Hitsugaya foi dizendo, enquanto andava com seu pino pelo tabuleiro. – Suas férias estão chegando não é? – pousou o objeto e olhou para ela.
Ela torceu o nariz pensativa no jogo e começou a agitar o seu dado.
- É sim. – respondeu.
- Não vai fazer nada? – ficou olhando o dado dela rolando, com o coração dez vezes mais acelerado.
- Ah... – ela andou as cinco casas com seu pino. – Não fiz planos não... – suspirou. – A Rukia-chan deve ir pra Kofu e eu devo ficar agüentando minha prima e suas festas... – revirou os olhos, mas em seguida sorriu. – Ainda bem que eu tenho um vizinho tããão legal!
Ele corou e obrigou-se a olhar para o jogo.
- É que... Eu tenho planos pra agosto. – disse enfim.
O sorriso dela murchou. Ia deixá-la sozinha?
- Ah... – o desânimo invadiu sua voz antes que pudesse disfarçá-lo. – O que você vai fazer, Shiro-chan? Vai viajar?
- Na verdade vou. – ele olhou rapidamente para o rosto triste dela. – Vou para a casa da minha avó...
Ela jogou novamente seu dado. Mesmo que tivesse conseguido mais pontos nessa rodada, continuou com os lábios caídos e os olhos tristinhos.
- Ah... Que legal... Divirta-se. – não tinha nenhuma empolgação na voz.
Ele teve que conter um sorriso. Mas não foi assim tão difícil, pois a timidez estava tomando conta de todo seu rosto com aquele vermelho queimante e a contração dos músculos.
- E eu pensei que... Bem... Você sabe... - ele continuou dizendo como se não tivesse sido interrompido por ela. - Minha avó mora perto da praia e tal... E tem um tempo que ela fica me perguntando de você... – ficou dando voltas, sentindo os olhos dela secando-o. – E eu pensei se... – corou mais violentamente. – Se você não queria ir comigo.
Os olhos dela brilharam intensamente. O sorriso brotou em seus lábios e cresceu sem que ao menos se desse conta.
- Shiro-chan! – ela gritou alegre. – É claro que eu quero ir!
Ele ficou feliz, mas ainda não ousava encará-la diretamente.

- Nós vamos ver sua avó! Faz tanto tempo que não a vejo... E vamos ficar o mês todo juntos! E vamos à praia... E vamos tomar quilos de sorvete... E vamos ver os fogos de artifício! E... E...
- Certo. – ele não conseguiu reprimir pelo menos um sorrisinho. – Então vou comprar nossas passagens.
- Ah! Vai ser tão divertido! – Momo já começava a imaginar. Estava mesmo com vontade de sair, se distrair e ir à praia. Com seu melhor amigo seria perfeito!
- Sim, vai ser sim. – ele balançou a cabeça. – Agora vamos voltar ao jogo. Eu estou ganhando e você não vai me distrair.
Ela fez uma careta pra ele e os dois continuaram. Mas o sorriso logo voltou para o rosto da geminiana.

****

Do outro lado do corredor, no quarto e após o banho, Rukia alternava fazer uma pesquisa e vigiar a porta para ver se alguém estava prestes a entrar. Não estava a fim de ser flagrada. Não daquele jeito! Estava deitada em sua cama com a ficha de Ichigo que recebera de Celeste-sama, um caderno e várias revistas sobre astrologia espalhadas ao seu redor.
Nem ela mesma sabia se aquilo ia ajudar em alguma coisa. Nem ela mesma tinha consciência total do que estava fazendo. Só sabia que devia ser uma cena vergonhosa de se ver. E sabia melhor ainda que precisava fazer aquilo.
- Humm... – murmurava consigo mesma enquanto fazia anotações. – Cancerianos são ligados à família, presos ao passado... Gostam de coisas antigas... São românticos, não gostam de escândalos... – leu a ficha de Ichigo mais uma vez. – É, aqui consta que ele tem pavor de humilhações públicas... – suspirou. – Preciso de algo discreto, bem discreto. Nada de festa surpresa ou coisa desse tipo... – rabiscou mais no caderno. Soltou o ar impaciente e jogou-se no travesseiro. Deixou a revista e a ficha de lado e levou o antebraço à testa, fechando os olhos. - Passado... – continuava murmurando pensativa. Agora tinha esquecido de vigiar a porta. – Algo sobre o passado... – ficou pensando por alguns segundos.

E de repente uma imagem lhe veio à cabeça. Uma imagem que, lembrava-se bem, tinha feito seu coração apertar-se até doer. Tanto de emoção, quanto de tristeza.
Era aquilo. Perfeito.
O passado... Cancerianos são presos ao passado. Um lugar tão bonito não merecia recordações tristes e um trauma para sempre.
Sorriu.
- Eu vou me esforçar, Ichigo. – abriu os olhos e sentou-se na cama. Ia dar o seu melhor para mostrar ao canceriano que se muda o passado trabalhando no presente. Balançou a cabeça ainda com o sorriso satisfeito no rosto e pôs-se a arrumar sua cama.

****

No outro dia de manhã, as mulheres da república se encontraram para tomar o café da manhã.
- Olha que milagre, mais um dia que a Mai acorda cedo! – Rukia sorriu para a loira.
- É. – ela riu. – Estou tão feliz que não consigo simplesmente ficar dormindo. – sentou-se junto com as outras.
Ninguém precisava perguntar o motivo da felicidade da escorpiana.
- Ah, essa festa vai ser demais! – Rangiku se animou. – A casa da Chiharu é bem grande, é?
- É sim. – ela respondeu. – Tem uma sala enooorme. Com portas que dão para a piscina, outro espaço bem grande. Eu ia ajudá-la a arrumar, mas ela disse que quer fazer isso por mim. Como um presente. Eu não tenho uma amiga adorável?
- Com certeza que tem. – Momo balançou a cabeça enérgica. – Você tem muita sorte, Mai-chan.
- Não... Eu não diria tanto! – ela franziu o nariz e mexeu as mãos. – Eu não tenho sorte com a família... E atualmente, não com o amor. Mas eu estou confiante que logo terei.
- Falando
em família... E a sua família, Mai? Você tem tido notícias? Nunca fala nada... – Rukia era sempre quem puxava os assuntos sérios.
A loira empertigou-se.
- Rukia, querida. Pode me deixar ter um pouquinho de prazer sem pensar nessas coisas? – seu tom era cuidadoso, mas decididamente incomodado.

- Eu até posso. – a baixinha disse ainda séria, porém na defensiva. – Mas eu me preocupo com você. – suspirou também empertigada. – Será que só eu me preocupo com as coisas sérias nessa casa, meu Deus? – exaltou-se um pouco.
Rangiku riu.
- Bem... Eu falo com a minha mãe às vezes... Se bem que tem uma semana que ela não me liga mais... E meu pai... Não sei se ele ta com raiva de mim ou esperando eu voltar. Minha mãe diz que ele não toca no meu nome. – balançou os ombros.
Um silêncio se instaurou na sala.
- Ai, ta vendo, Rukia-chan? – Rangiku gemeu acusadora. – Essa sua mania de achar as coisas sérias importantes acaba com o clima alegre da gente!
Agora foi a vez de Mai e Momo rirem.
- Hunf. – ela fez bico. – Parece que está todo mundo contra mim hoje.
- Voltando ao assunto alegre... – Mai deu uma olhada vingativa e maldosa para Rukia, mas de brincadeira. – E as roupas? Já sabem qual vão usar?
- Eu sei! – Rangiku levantou a mão. – Eu vou usar um vestido vermelho frente única que eu comprei semana passada! – seus olhos brilharam. – Parecia que eu estava adivinhando que ia ter festa!
- Ahh, não vou poder ir de vermelho dessa vez! – Mai fingiu-se de chateada. – Mas não tem problema, já tenho uma roupa pra usar. – riu toda orgulhosa.
- É mesmo? – Momo sorriu. – Posso ver?
- Não. – ela negou. – Só no dia vocês vão ver.
- Espera um pouco... – Rukia interrompeu de novo. – Vocês não estão contando que a Momo vá a essa festa, estão?
- Ahhh, de novo, Rukia-chan? – Momo resmungou, se referindo a seriedade da capricorniana.
- É verdade, Momo. Agora a Rukia-chan tem razão. – Mai interveio. – Você ainda é muito novinha para uma festa à noite.
- Vocês são muito cruéis! – ela cruzou os braços. – Todas vocês!
- Cresça e apareça, pirralha! – Rangiku atingiu a testa da priminha com um peteleco.

****


Mais tarde, nesse mesmo sábado, Mai foi à casa de Chiharu. Momo foi tomar sorvete com Toushiro e Rangiku saiu sem dar satisfações.
A única que ficou no apartamento foi Rukia.

Óbvio, acompanhada de livros, cadernos e canetas, no seu precioso ritual de estudo. Isso até o seu celular tocar.
Foi andando irritada até ele. Imaginou que seria alguma das meninas.
- Alô. – respondeu sem muita expressão. Nem tinha visto o número no visor.
- Er... A-alô. – aquela voz gaguejando... Só podia ser ele!
- Ah. – sentou-se na cama. – Oi Ichigo. – sorriu imaginando a cara dele. Apostava que estava sem graça de estar ligando, seja para o que fosse.
- Rukia... – ele tentou pensar no que dizer. – Eu... Te atrapalhei em alguma coisa?
A jovem pensou nos livros e cadernos que deixou no sofá.
- Não. – mentiu. – Na verdade... Eu estava estudando, mas não tem problema. – agora tinha falado a verdade. – Estranho você me ligar. O que aconteceu?
O coração dele pulou e ele temeu que ela o pudesse ouvir do outro lado da linha. Respirou fundo. Ela não tinha dado chilique por ele tê-la interrompido. Mas estava estranhando sua ligação. Por que diabos só precisava ouvir a voz dela?
- N-na verdade... Não aconteceu nada. – pausa. – Quero dizer... Eu só achei estranho... Hoje faz uma semana a missão do labirinto... E eu não recebi nenhuma carta estrelada. Você recebeu?
Rukia pensou na carta que lembrava do aniversário de Ichigo.
- Não. – foi obrigada a mentir. – Não recebi nenhuma.
- Ué? – ele começou a se sentir mais relaxado. – Então será que ele esqueceu? Ou será que está tramando algo mais infernal do que nunca?
Rukia riu.
- Aposto na segunda opção, do jeito que ele é!
- Não vou mais acreditar em nenhuma mentira que ele disser sobre você! – ele respondeu na brincadeira.
- Ahh é? E se eu estiver realmente correndo perigo? Aí eu vou morrer! – Rukia provocou. – Sabe, eu demorei a acreditar naquela história de claustrofobia... Mas eu não quis arriscar deixar você morrer sufocado de pânico.
Ele teve que se sentar.
- Certo. Você me pegou. – ele entendeu a indireta. – Eu arriscaria novamente sim.
Aquilo pareceu tanto com um flerte... O que diabos estava fazendo?

Confusa e ainda diante de um silêncio duvidoso resolveu mudar de assunto.
- Ahn... Ichigo... – hesitou. – O que você gosta de comer?
Ele estranhou. Os olhos chegaram a crescer um pouco.
Ela tinha algum objetivo ou estava puxando assunto? Não devia ter ficado tão quieto!
- Eu gosto de chocolate. – ele disse, pensativo.
- Só chocolate? – Rukia torceu o nariz.
- É. O que eu mais gosto mesmo é chocolate.
- Que feminino. – Rukia riu. Se não provocasse, não seria ela. Mas aquele comentário teve mais de uma intenção.
- O que você disse?! – Ichigo ficou irritado e gritou. – Mas que inferno! Qualquer um pode gostar de chocolate!
Rukia lamentou não poder ver a cara dele naquela hora.
- Okay, okay. – ainda ria. – Bem... Vou ficar esperando a carta do Celeste. Se ela não aparecer até sábado que vem, vamos atrás dele.
Mais uma vez, o caranguejo surpreendeu-se.
- Você correndo atrás do Infernal-sama? Que coisa... – quando deu por si, já estava deixando a curiosidade dominá-lo.
- Bem... – ela ficou um pouco sem jeito. – Você sabe... Quando a esmola é muita, o santo desconfia.
Ele sorriu.
- É verdade...
- Ohh, o que é isso?! Meu filhão sorrindo feito bobo no telefone! – Isshin invadiu o quarto do ruivo e flagrou a cena. – Vem ver, Yuzu, vem ver!
- PORRA! – ele gritou com o rosto rubro e o sangue fervendo. – SAI DAQUI SEU VELHO MALDITO!
Rukia começou a rir do outro lado. Típico.
- Yuzu, Yuzu! – o homem cantarolava audivelmente até para Rukia. – Vamos tirar uma foto! Vamos filmar e colocar no Youtube!
- Rukia, preciso desligar. Tem gente pedindo pra levar um soco. – ele falou com os dentes trincados, bem baixinho, mas com força suficiente para fazê-los doerem.
- Tudo bem. – ela sorriu. – A gente se fala outra hora.
- Certo. – ele ia desligar.
- Ichigo! – ela chamou, o que o fez esperar. – Você vai à festa da Chiharu?
Ele ficou um tempo sem responder.
- Vou pensar sobre isso. – respondeu enfim, não muito convincente.

- Certo. – ela sorriu maldosa. – Agora vá lá antes que seu pai coloque você no Youtube. – riu.
- Filho da... – o ruivo esquentado se conteve. – Tchau Rukia. – e desligou.
E agora? Voltava a estudar ou ia espiar o Céu de verão pela janela?

****

- Então você faz isso por mim? – Rangiku pediu, com os olhos suplicantes.
- Tá certo. – a jovem alta e bonita assentiu. – É só me aproximar do homem alto, com olhos estranhos, cabelos brancos e sorriso de raposa que mora aqui – ela sinalizou. – E dar a ele um convite para uma festa.
- Isso, isso. – a loira peituda confirmou. – Por favor, não confunda ele com outro!
- Com essa descrição, acho meio difícil confundir. – a garota riu.
- Obrigada Asumi-chan. Você é muito gentil.
- Não é nada... Afinal, seduzir homens é meio que minha especialidade. – piscou.
- Certo. – Rangiku comemorou por dentro. – Vou esperar o resultado. – sorriu. – E fico te devendo essa, pode cobrar.

****

Os dias passaram sem grandes acontecimentos até a quinta-feira.
Rukia havia colocado seu despertador para bem antes da hora. Mas acabou acordando antes mesmo do relógio.
Levantou-se na ponta dos pés e foi até a cozinha. Escreveu um bilhete para as outras jovens da casa e foi tomar banho para se arrumar.
Escolheu uma saia listrada levinha que descia até pouco acima dos joelhos, alternando amarelo no tom das pétalas dos girassóis e branco e uma blusa branca de alças caídas que se prendiam à parte mais superior dos braços. Prendeu os cabelos em marias-chiquinhas baixinhas com pregadeiras de borboletas amarelas e calçou suas sapatilhas brancas.
Foi novamente até a cozinha e tirou do fundo do armário uma cesta que havia comprado e escondido. Forrou a dita cuja com uma linda toalha branca contornada de bordados amarelos e desceu para o hall.
Ao chegar lá, foi procurar Nanao, que estava no balcão como de costume.
- Bom dia Nanao-san! – ela cumprimentou sorrindo. Mas estava um pouco nervosa.

- Bom dia, Rukia-san. – a mulher cumprimentou. – Está procurando os doces, não está? – perguntou mesmo sabendo a resposta. – Vamos buscá-los!
A moça então foi andando e Rukia seguiu-a. Estavam indo até a geladeira da sala de Shunsui, onde Rukia tinha sido permitida a guardar seus doces para que ninguém descobrisse.
- Aqui estão. – Nanao sinalizou. – Eu mesma me certifiquei que Kyouraku não encostasse em nenhum deles. – fez pose séria e empurrou os óculos para cima.
Rukia riu achando divertido.
- Obrigada Nanao-san. Mas como ele foi tão comportado, vou deixar um docinho para ele. – a capricorniana deixou um pote na geladeira e terminou de acomodar o resto na cesta, com ajuda de Nanao.
- Não está muito pesado? – Nanao preocupou-se.
- Bem, está... – Rukia admitiu levantando a cesta. – Mas tudo bem. Eu sou forte, vou agüentar. – sorriu para passar tranqüilidade. – Tenha um bom dia Nanao-san. Muito obrigada!
Despediram-se e a baixinha de cabelos negros atravessou a rua com sua cesta, dirigindo-se à faculdade.
Não sabia dizer ao certo o motivo, mas sabia que, com aqueles raios de sol matinais beijando sua face, sentia-se alegre, leve, útil e confiante. É. Sentia-se bem. Aquele peso nos braços só estava ali para lembrá-la o quanto ela podia se sentir bem.


Continua...


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