Céu escrita por Liminne


Capítulo 40
Capítulo 36 – Labirinto




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Choque. Surpresa. Congelamento. Medo. Incredulidade. Não. Por mais que tentasse, seria impossível encontrar uma palavra que pudesse descrever a reação de Ichigo àquela abordagem. Era simplesmente... Simplesmente...
- Eu vou... Hun... – Rukia começou a gaguejar olhando para os dois. – Vou dar licença a vocês. – disse enfim saindo de cena.
Mai e Ichigo continuavam se olhando como se estivessem paralisados naquela posição.
- Eu prefiro... – Ichigo resolveu mexer a boca. – Prefiro que a gente converse num lugar mais reservado. – tirou finalmente os olhos do rosto dela e olhou ao redor sinalizando aquele monte de gente intrusa.
- Mas eu prefiro que seja aqui. – ela não desviou o olhar.
E ele tremeu um pouquinho.
- Mai. – o pouquinho se transformou em mais um pouco ao pronunciar o nome dela. Era a primeira vez em quase um ano que lhe dirigia a palavra. – Não quero que essas pessoas...
- Mas eu quero. – ela cortou-o e sorriu confiante e um tanto docemente. – Não vai ser como daquela vez.
Ele só balançou a cabeça.
Ela não ia pedir desculpas pra ele, ia? Será que ia mesmo??
- Eu sei que fui idiota. – ela começou antes que ele conseguisse se acostumar com aquela situação. – Não. – riu. – Céus, eu fui uma tremenda bitch. Mas, assim como disse a Fuu... – olhou nos olhos castanhos assustados dele. – O que passamos não foi falso. Por dias você era a única pessoa que conseguia melhorar meu humor. E me fazia sentir mais confiante. Você sabia do meu segredo e me elogiou. Você não sabe quanto isso significou pra mim. – balançou os cabelos loiros. – É. Claro que você não sabe... Afinal, eu agi como uma estúpida e simplesmente lhe dei as costas por egoísmo. – fez uma pausa. – Naquele dia com o Ashido. – tinha aumentado o tom, certamente para espalhar ao mundo o que ia começar a dizer. – Eu realmente tinha marcado de sair com você. Mas eu me esqueci, porque tinha me apaixonado por ele alguns dias antes e estava cega.

Tão cega que tomei uma atitude mesquinha e injusta com quem me ajudou tanto. Com quem eu realmente devia ter compensado. Eu humilhei você para não perder o que eu queria. Mas na verdade... Na verdade você sempre foi e sempre será alguém muito importante pra mim Kurosaki Ichigo. – terminou com o coração batendo forte. E as pessoas ofegando em volta de queixos caídos. – Será que... Será que você pode me perdoar pelo que eu fiz?
Os olhos do ruivo ainda mal podiam se mexer do rosto dela. Seus músculos pareciam travados. Não conseguia olhar para o público, só conseguia ouvir as exclamações reticentes e pequenos burburinhos e risinhos de incredulidade.
Calma. Tinha que se acalmar. Depois de quase um ano sendo chamado e apontado como lunático, mesmo quando achava que todos tinham esquecido e sempre aparecia um engraçadinho, ela finalmente estava ali pedindo perdão. E com todos em volta novamente. Como uma autopunição. Como uma troca justa. Aquela que, para ele também fora tão importante, estava ali dizendo que sentia o mesmo por ele e sempre sentiu. Estava livre das zoações para sempre. E ela ainda se importava com ele.
Endireitou-se na cadeira e respirou fundo o menos perceptivelmente que conseguiu. Ela merecia que a perdoasse? Ela merecia que fosse assim tão fácil? Quer dizer, era fácil, não era? Todos sempre a adoraram. Ela era linda, magnética e carismática. Não importava o que fizesse de errado, como uma celebridade, mais cedo ou mais tarde todos voltariam a aclamá-la. Seus egoísmos eram sempre facilmente esquecidos por causa do jeito manipulador que seu rosto era bonito e pelo modo como era tão confiante.
Era certo que ela o tinha machucado profundamente. E aquilo simplesmente não ia desaparecer com um piscar de olhos cheios de rímel. Não naquele momento.
- Eu não posso te perdoar. – antes que concluísse o exercício calmante de respiração, ouviu-se falando. Duramente.
A reação do público foi mais audível. As exclamações ganharam força, mas os risinhos continuavam incrédulos.

Como assim ele rejeitou a Mai publicamente? Seria vingança? Como estava o rosto dela agora?
- Ao contrário do que provavelmente você pensa, eu já esperava por essa resposta. – ela disse, com o mesmo rosto, apenas com um pouco de luz a menos. – E acho que eu teria feito o mesmo. – disse sinceramente, com um apertozinho no peito.
E então, virou-se bem mais leve para o lado oposto. E Chiharu veio correndo em sua direção.
- Amiga! – cochichou emocionada. – Estou tão orgulhosa de você!
- Eu também, Chi. – ela sorriu e soltou o ar pesadamente. – Eu também!
As duas foram andando em frente então e passaram por alguém. Alguém bem alto, de olhos bem azuis e cabelos avermelhados.
É claro que não foi sem querer. Aquele par de olhos negros o tinha localizado discretamente. Não o encararia. Não olharia para trás.
O resto ia ser conseqüência. Como sempre.

****

O restinho da semana foi tumultuado. Mai havia passado como um furacão na universidade e houveram muitos abalados.
Chiharu passou a desfilar com o peito mais cheio e um sorriso constante. Ashido não revelou nada a ninguém, por mais que perguntassem. Mas certamente estava mais alegre.
O assunto do campus era a loira inglesa que de repente resolvera ser humilde e justa com todos que prejudicou. E sem descer dos saltos! Falavam sobre sua nova luz, sobre seu corte de cabelo e seu iminente sonho de ser uma escritora. Os boatos maldosos rapidamente desapareceram. Mas o nome era o mesmo, e só se falava nele.
Rukia tentara tocar discretamente no assunto com Ichigo durante os intervalos. Mas ele sempre fugia. Apenas dizia que o que tinha de ser feito tinha sido feito e ponto. E bem... Ele estava certo de qualquer modo. E, uma observação importante, passou a ser mais respeitado.
Agora a parte realmente crítica da situação foi com Fuu. A garota parecia simplesmente inconformada com tudo aquilo. Mai foi tachada de mentirosa e mesmo que viesse lhe pedir desculpas, acabou jogando o título detestável sobre ela!

E, como se realmente não tivessem curtido todos os boatos maldosos, as pessoas passaram a tratá-la diferente, como se tivesse feito algo de muito errado. Além de mentirosa, foi chamada de fofoqueira, falsa e invejosa.
Na sexta-feira daquela semana, na hora da saída, a jovem de cabelos rosa dirigia-se aos portões da universidade de mau humor. Quando será que aquele pesadelo ia acabar?
- Eu disse que ela viria. Eu disse. – ela ouviu a voz naquele tom infantil que só podia pertencer a uma pessoa. Parou e girou para encará-la.
- É Chiharu. Você disse. – respondeu. Foi a única coisa que lhe veio à mente. Mas sentiu que devia ter caprichado mais na resposta, porque a cara de vitória daquela garota a estava irritando.
A morena sorriu.
- Acho que você é a única errada agora. – continuou, feliz da vida. – Por que não vai pedir desculpas?
Fuu diminuiu os olhos. Mas suspirou e relaxou um pouco.
- É. Quem sabe eu faço isso. Para a sua amiguinha não ficar tão tristinha que ninguém quis perdoá-la.
Chiharu empertigou-se.
- Na verdade... Acho que quem ficou mais triste foi você, Fuu. – sorriu de novo. – Por que afinal, perdoada ou não, a Mai voltou a ser o assunto, só pra constar, positivo de todo mundo. Em compensação você... É o negativo agora. – recebeu um olhar atingido. – Mas o mais importante... Você perdeu uma grande amiga. Porque a Mai pode ter o defeito que for. E essas qualidades que as pessoas só enxergam superficialmente. Mas ela tem uma enorme qualidade: é uma grande amiga. A melhor do mundo. E você poderia ter esse privilégio. – deu de ombros. – Bem, não é pra qualquer um afinal. – riu. – A gente se vê, Fuu! – acenou e saiu andando.
Não adiantava ficar ali parada torcendo para que quebrasse o salto. Então saiu andando também, para o mais longe possível daquele inferno. Pelo menos até a segunda-feira.
- Humm... – Rukia andava lado a lado com Ichigo. – Vamos ver o Celeste-sama amanhã?

- É. Tinha até esquecido disso... – ele passou a mão na testa. – Agora minha curiosidade sobre a nova tramóia dele voltou.
- Tramóia. – Rukia sentiu um calafrio. – Com certeza tramóia.
- Nada que não estejamos acostumados, acho. – Ichigo brincou, com um tom pensativo.
- Tem razão né? – a pequena riu. – Não consigo imaginar nada mais louco do que o que já passamos por causa dele... – revirou os olhos, mas sorriu em seguida.
Ichigo também sorriu concordando e os dois foram para o carro.

****

Chegaram à loja e já foram falar direto com a menininha de marias-chiquinhas. Já estavam tão acostumados com aquele caminho, com aqueles procedimentos...
Então, quando finalmente estavam cara a cara com o guru loiro, quiseram logo saber.
- E então? – Rukia perguntou. – Do que se trata dessa vez?
Apesar de parecer impaciente e irritada, Celeste-sama sabia como aquele coração tinha mudado.
Mas parecia que, por algum motivo desconhecido, a maioria das duplas de supostas almas gêmeas sempre acabavam descontando suas frustrações nele, como se estivesse ali só para infernizar suas vidas e nada mais.
- Vou levá-los ao subterrâneo! – o homem ofegou alegre, se abanando com mais vontade.
- Verdade ou conseqüência de novo? – Ichigo arqueou uma sobrancelha.
- Credo, não! – Celeste-sama sem querer se expressou mais do que deveria, então compensou se abanando com mais força. – Hoje vamos brincar de oooutra coisa.
Ichigo e Rukia entreolharam-se curiosos antes que o homem continuasse.
- Peguem isso! – jogou escutas com microfones para os dois. – Equipem-se. – sorria.
Agora não estavam mais apenas curiosos. Estavam receosos também.
- Vou manter a comunicação com vocês por meio destes aparelhos e dos braceletes. – estalou os dedos. – Agora vamos à brincadeira!
Do nada apareceram Tessai e a garotinha que varria a loja.
- Vamos rapaz. – o homem medonhamente alto jogou Ichigo no ombro e saiu andando para a esquerda.

- Ei! Mas que porra é essa?! Me solta! Me coloca no chão! – o ruivo se debatia e gritava inutilmente. O parrudo era totalmente impassível.
Rukia tinha os olhos arregalados de susto. Se não temesse tanto seu destino naquele momento, estaria rindo do escândalo de Ichigo.
- V-venha por aqui. – Ururu fez uma reverência e pôs-se a caminhar no sentido oposto ao de Tessai com Ichigo.
Tinha mais sorte que o ruivo, sem dúvidas.
- Certo. – disse ainda meio desconfiada e foi seguindo a garota.
Celeste-sama, porém, apenas desapareceu loja adentro até chegar a sua sala de tela gigantesca e se acomodar em sua fofa poltrona azul, colocando nele mesmo mais uma escuta com microfone, mas não tão simples quanto a de suas vítimas. Pegou o controle remoto que repousava numa mesinha de vidro do seu lado, apertou alguns botões e também alguns em sua escuta e sorriu satisfeito enquanto começava a dizer para os dois, mesmo separados.
- E então, vamos brincar de caça ao tesouro?
Antes que pudessem responder, os dois chegaram aos seus destinos, depois de muitos degraus abaixo. Mesmo de lados opostos, tinham a visão do mesmo lugar. Numa sala ampla, enorme o bastante para ser uma casa, viam-se diante de nada mais nada menos que um labirinto. Formado por paredes nuas e portas coloridas. Uma vez que abrissem a primeira porta e estivessem lá dentro, estariam apavorantemente perdidos.
- Eu não posso entrar nisso! – o guru ouviu o grito histérico de Rukia. Na verdade mais que histérico: em pânico.
- É claro que pode. – Celeste respondeu apertando o botão dela em sua escuta. – Você deve .
- Não! – ela balançou a cabeça, quase rindo de nervoso. – Se eu entrar nunca mais vou conseguir sair. E o que diabos isso tem a ver com a droga de um relacionamento?! – estava mais decidida que nunca de que aquele homem era a personificação do mal e que seus objetivos eram puramente sádicos.
Isso porque ela ainda não tinha ouvido a frase seguinte.

- Bem... Se você pensa assim... – ele suspirou. – Você pode desistir e deixar seu canceriano preso num armário minúsculo de produtos de limpeza.
- O quê? – o riso nervoso agora se transformou em sarcástico. – Aquele homem gigante prendeu o Ichigo num armário de limpeza e você quer mesmo que eu enfrente todo esse labirinto só pra tirá-lo de lá? – riu mais uma vez. – Não, eu não vou bancar o herói para a donzela indefesa!
- E se eu te contar que o seu canceriano é claustrofóbico?
O quê!? Era mentira não era?
- E então? Você ia mesmo virar as costas?
Era um blefe. Só podia ser. Claro que era! Aquele homem era um louco varrido, mas não era completamente...
Era sim. Ele era o Infernal-sama afinal de contas. O sádico de que tirara conclusão segundos antes. Ele seria capaz disso!
- O Ichigo... – tentou manter a voz firme e cética. – O Ichigo nunca me contou que tinha esse problema.
- É, nós também não sabíamos... Mas precisávamos de um ponto fraco para essa missão, então fizemos com que ele nos dissesse. – a voz era descaradamente fingida de pena. – E então o prendemos no armário.
- Isso é impossível! – agora o coração da pequena estava aos batuques, sufocando-a e fazendo com que enxergasse tudo girando ao seu redor. – Esse labirinto é enorme! – gritou exasperada, obviamente mudando de idéia. – Como vou encontrar o fim a tempo?!
- Relaxe, capricorniana-san. – o homem sorriu perceptivelmente até através da escuta. – Se ele desmaiar a gente chama um médico.
- Mas que droga! – ela cerrou um punho e bateu o pé no chão com força. Sua voz era uma mistura de desespero com uma fúria sem tamanho. – Por que você tinha que falar, seu idiota? – resmungou para Ichigo, mas só quem podia ouvir era ela mesma e o guru sádico.
- Fique tranqüila. Atravesse a primeira porta e manteremos contato. Te darei dicas.
Atravessou então resignada, sem pensar em mais nada a primeira porta branca.

E tremeu da cabeça aos pés ao perceber que estava inevitavelmente ali dentro e que tinha que achar a saída antes que Ichigo desmaiasse ou coisa pior.
Não tinha jeito. Ia ter que bancar o herói e salvar a donzela indefesa. E com a determinação digna de uma história épica.
- Não posso deixar aquele emo sozinho chorando... – murmurou para si mesma, sem nunca quebrar o orgulho completamente, sempre apelando para a ironia, mesmo quando sozinha com seu coração. – Ele é fraco demais pra agüentar isso...

****

No outro extremo do labirinto, o jovem ruivo recebeu a mesma notícia incabível.
- COMO VOCÊS PODEM PRENDER A RUKIA NUM ARMÁRIO?! TIRE-A DE LÁ IMEDIATAMENTE! – gritou a plenos pulmões, quase fazendo o guru ficar surdo.
Pelo menos algum castigo ele tinha que ter por brincar com aquilo.
- Isso não será possível, Canceriano-san. – Celeste-sama disse em tom desculposo, mas nem um pouco culpado. – O único que pode libertá-la é você, assim que atravessar o labirinto. – sorriu girando em sua poltrona.
- Mas que... Argh! – ele suava de raiva. Passou a mão pelos cabelos e inspirou fundo. Mas sabia que nada daquilo o tranqüilizaria. Só queria tirá-la de onde quer que ela estivesse. E ver naqueles olhos enormes que estava bem.
Céus, como ele arrancou a informação de que ela era claustrofóbica?!
- Fique tranqüilo, Canceriano-san. – o homem continuava no seu tom relaxado. – Vou te dar dicas para atravessar o labirinto.
O ruivo só respirou forte como resposta. Queria matar aquele guru, se possível engasgado com suas estrelas malditas. Mas conteve-se. Tinha que encontrar Rukia e era isso que mais importava no momento. Ela precisava dele.
Atravessou então a porta bege.

****

Rukia deu de cara com uma fileira enorme de portas de variadas cores. Não fazia idéia de qual escolher. Se escolhesse a errada, poderia ficar presa em algum cubículo e se continuasse tentando sair, podia se perder ainda mais. Não! Era só memorizar as cores. Não... Podia se confundir... E se tivessem cores repetidas?

E mesmo se não tivesse, teria que tentar uma por uma para achar os caminhos... E quantas e quantas portas deviam ter dentro de mais portas?
Achou melhor gritar com o homem que infernizava sua vida.
- Celeste-sama! Eu quero as dicas!
- Calma minha jovem! – o loiro apertou o botão dela na escuta. – Tudo tem seu preço.
Preço? Do que ele estava falando agora?
- Que... Que raio de preço? – falou entre os dentes, tentando se acalmar mentalmente.
- Cada dica, um preço. – ele quase ria, ela podia sentir de longe. – Nada muito caro, prometo.
- Então... – retesava todo o corpo. – Me fala logo o preço e a dica.
No auge da tensão de Rukia, Celeste-sama teve a atenção desviada para a mulher negra que acabara de entrar em sua sala segurando um laptop.
- Yoruichi-san! – ele exclamou com um sorriso enorme. – Pensei que eu ia ter que trabalhar sozinho!
Ela fez uma careta de desprezo.
- Como se eu fosse a preguiçosa aqui. – pegou da mão dele o fone e a escuta que a aguardavam e equipou-se. – Eu fico com o Canceriano-san. – saiu da sala.
- Certo. – o loiro acenou com a cabeça, um pouco enciumado, mas logo apertou novamente o botão de contato.
E voltou a ouvir os berros da baixinha.
- CELESTE-SAMA!!!!
- Calma, criança! – sorriu. – Vamos lá. Diga cinco frutas vermelhas.
Ela ficou paralisada. Ajustou melhor o seu fone e perguntou calmamente.
- É o quê?
- É isso mesmo. – sorria ao ver a expressão dela. – Diga cinco frutas vermelhas. Ahh, Ukitake-san, é tão fácil, não acredito que não sabe.
Inspirou com a força que usaria para levantar uma rocha.
- Morango, cereja, amora, tomate e framboesa.
- Muito bem! – ele cantarolou alegre. – Porta vermelha.
“Eu devia ter imaginado.” – Rukia pensava revirando os olhos. Mas não tinha tempo pra perder irritada. Atravessou a porta vermelha. Percebeu que as portas só tinham maçanetas do lado de fora. Seria mesmo obrigada a pagar o preço do guru. Se bem que, se continuasse assim, não tinha do que reclamar.

****

- Oi, Canceriano-san! – o ruivo ouviu uma voz feminina e assustou-se.
- Q-quem ta falando?
- Sou o braço direito do Celeste-sama. – ela riu. – Muito prazer, Yoruichi.
- Ah... Hun... Onde se meteu o Celeste?
- Ele foi cuidar da sua amiguinha. Mas não podemos perder tempo. Eu vou te dar dicas pra você ir escolhendo as portas. Mas para eu dar as dicas você precisa pagar por elas.
- Pagar?! – ele espantou-se. – Eu vou gastar dinheiro em cada porta dessas?
- Não tolinho. – ela riu de novo. – Olha, agora por exemplo. Vou só pedir que diga cinco nomes de mulher.
Ahn? Que babaquice era aquela?
Rukia estava
em perigo. Não era hora de se preocupar com isso.
- Ahn... Masaki, Rukia, Yuzu, Karin e... Yoruichi.
- Certo. – Sorriu. – Porta amarela.
Atravessou. Que coisa mais estranha…

****

Olhava para as três portas enquanto ele perguntava.
- Capricorniana-san... Você sabe que os signos têm seus planetas regentes.
- Sei.
- Então diga o planeta regente de capricórnio e o de câncer respectivamente.
Ele sabia que ela não teria idéia.
- “Mas que merda.” – ela pensava suando e batendo o pé no chão. – “Eu li isso na revistinha de astrologia... Mas qual era mesmo?”
- Capricorniana-san?
- Ahn... Urano e Netuno?
- Erradooo! – ele cantou animado.
- Humm... Sol e Lua?
- Erradooo! – ele continuava cantando.
Ela cerrou os dentes.
- Lua e Sol?
- Erradooo!
- Ai meu Deus... – tapou os olhos com as mãos forçando desesperadamente o cérebro para lembrar. – Mercúrio e Plutão?

****

- Em um ninho de mafagafos havia sete mafagafinhos. Quem amafafa... – ele parou e respirou. – Em um ninho de mafagafos, havia sete mafagafinhos. Quem amafagafar mais maga... – apertou os dentes impaciente. – Porra, que inferno!
Yoruichi se segurava firme para não rir.
- Está nervoso, Canceriano-san? Relaxa... Se não a língua trava mesmo.
Ele queria matá-la sem nem ter visto seu rosto. Como era possível relaxar numa situação como aquelas? Trava-línguas? Como aquela desgraçada sabia que ele gaguejava facilmente?

- Em um maldito ninho de mafagafos...
- Olha a pirraça, Canceriano-san, olha, olha! – Yoruichi ralhou como se falasse com uma criancinha, um tom extremamente irritante.
Seria ela PIOR que o Infernal-sama?
-
EM UM NINHO DE MAFAGAFOS HAVIA SETE MAFAGAFINHOS. QUEM AMAFAGAFAR MAIS MAFAGAFINHOS, MELHOR AMAGANHA... – os músculos se contraíram tanto que ele teve um tremelique. – Puta que pariu!

****

- Marte e Vênus? Vênus e Marte? Sol e Saturno? Saturno e Sol? – a pequena dos olhos azuis quase chorava. Não agüentava mais repetir tantos astros ao acaso sabendo que sua ignorância e demora custariam o ar de Ichigo.
- Quase, quase lá! – Celeste nem se comovia. Continuava no mesmo tom alegre.
- Saturno e Marte?
- Quase, quase!
- Marte e Saturno?
- Não...
- Saturno e... E...
- E...? – ele incentivou.
- Vênus?
- Não...
- Ai que droga! – ela bateu o pé no chão e enxugou o suor da testa. – Saturno e Lua?
- Isso! Muito bem! Porta rosa claro.
Adoraria descobrir sua tortura cor-de-rosa... Adoraria!
Pelo menos estava chegando mais perto.

****

- Em um ninho de mafagafos, havia sete mafagafinhos; quem amafagafar mais mafagafos, melhor amafagafa... – ele apertou os olhos e bateu os dois pés no chão irado. Mas tinha que tentar de novo, não importava. A essa altura, o que teria acontecido com Rukia? Que tipo de homem seria se ela estivesse numa ambulância? Malditos mafagafos! – Em um ninho de mafagafos, havia sete mafagafinhos; quem amafagafar mais mafagafos, melhor amafaganhador será. – suspirou. Tinha conseguido? Tinha finalmente conseguido?!
- Muito bem! – ela vibrou. – Conseguiu! Siga para a porta verde-água!

****

- E então Capricorniana-san. Pode ver um cabide aí dentro?
Ela olhou para o canto do espaço onde havia apenas portas e lá estava um cabide... Com alguma coisa amarela pendurada.
- Sim, estou vendo. – respondeu já sentindo o medo e a ansiedade no peito.
- Suponho que conheça a cantora Britney Spears.
Não...
- C-conheço... – encolheu-se.
Ele não ia...

- Então ótimo! Coloque aquela peruca e faça um pedacinho de uma coreografia famosa dela!
- Não! – ela ouviu-se negando com um risinho nervoso. – Não pode ser... Você não está falando sério! Eu não sei dançar!!!
- Nem um pouquinho? Quando a Britney estreou você era uma pré-adolescente, Ukitake-san. Aposto que imitava as coreografias dela com suas amigas.
Olhava para a peruca e sentia as bochechas queimarem. O que diabos era aquele cara? Onde ele aprendera a ser tão... Tão... Miserável, desgraçado, maligno, sádico, nojento, irritante, cínico e infernal? Onde raios ele tinha deixado seus escrúpulos?!
- Por que é que eu tenho que fazer isso?! – ela gritou exasperada, já sem nenhum pingo de controle.
- Porque seu Canceriano está tendo um ataque de pânico dentro do armário de limpeza... – ele fez a ressalva com uma voz cuidadosamente irritante.
Merda. Mil vezes merda! Era bom que aquele ruivo fosse grato pelo resto de sua vida.
Quando deu por si, estava colocando a peruca loira na cabeça. E sem saber direito para onde olhar, tímida e sem jeito, começou a dançar e cantar desajeitada:
- ‘Oops, I did it again! – deu uma giradinha e mexeu os quadris segurando-os. - I played with your heart! Got lost in the game! – fez um gesto infantil e floreado de coração batendo no peito. - Oh baby, baby!
Oops, you think I’m in love… That I'm sent from above... I'm not that innocent! – terminou ainda mexendo os quadris e rodando os braços até chegar ao peito com as mãos unidas.
- Ohhh! – ele fez encantado. – A minha preferida! – deu um risinho pervertido. - Sabia que a Ukitake-san não era tão inocente!
Mesmo sem estar olhando-o, ela lançou-lhe um olhar matador.
- Okay, okay, porta verde escuro.

****

- E então, Canceriano-san... Pode me responder uma coisinha da sua vida? – Yoruichi perguntou num tom malicioso assim que o ruivinho havia aberto a porta verde-água.
- Hun... – ele olhava para as portas. – Pode.
E ele tinha escolha por acaso?
- Quando foi seu primeiro beijo?

Na hora ele virou uma pimenta humana e engasgou-se com absolutamente nada.
- Cof! Cof! – tossia e tentava acalmar o peito. – Pra quê quer saber isso?! – gritou irado.
- Ora... Só curiosidade... – ela sorriu felinamente, mas ele não podia ver. – Ah, você já é um homem, não tem nada de mais em dizer!
- C-certo. – ele pensou
em Rukia. Só estava falando por causa dela! – Foi com... 13 anos.
- Humm... Interessante. – a voz dela o atormentava ainda mais. – E com quem foi? Quantos anos ela tinha? Onde foi? Como foi?
Ele arregalou os olhos. A cor rubra não queria desgrudar de sua pele.
- F-foi com uma prima de... Hun... 10 anos. Foi... No meu quarto. E... Meio esquisito...
- Nossa, você é mais tímido e inocente do que eu pensei. – sorriu. – Mas tudo bem, eu deixo você passar com essa. Porta marrom.

****

Ainda humilhada e com o coração em pânico, Rukia encarava as portas em vários tons de roxo ao seu redor.
- Porta púrpura. – ele disse.
Ué? Dando a dica de graça?
Rukia correu até a uma das portas.
- NÃÃÃAÃO! – ele gritou desesperado e o coração ainda agitado dela, quase virou duas cambalhotas. Junto com ela mesma.
- Puta que pariu! – ela berrou. Não costumava xingar assim, mas ele nunca a tinha deixado mais louca na vida. – Qual é o seu problema?!
- Só não quero que você vá parar num cubículo sem saída, poxa... – ele fez-se de ofendido. – Você devia me agradecer! – fingidamente empertigado.
Ela obrigou-se por tudo que era mais sagrado a não jogar aquela escuta no chão e sair arrombando as portas.
- Certo. – ofegou. – O que foi, querido Celeste-sama? A que devo a honra de seu grito agudo?
Ele sorriu com o sarcasmo dela. Era uma capetinha mesmo.
- É que você cometeu um pequeno erro. Essa não é a porta púrpura. É a roxa.
O queixo dela quase desabou.
E qual raios era a diferença tão grande? Como ela ia saber?!
- Olha aqui... – o sarcasmo e a paciência sumiram de repente. – Eu não sou pintora, não faço curso de moda, não sou uma patricinha e muito menos sou um gay.

Então eu naturalmente NÃO SEI A DIFERENÇA ENTRE PÚRPURA E ROXO!
- Tem muita diferença, Capricorniana-san. – ele balançou a cabeça. – Vamos lá, eu confio na sua sensibilidade. Você é uma mulher, deve saber dessas coisas.
Ela soltou o ar com força e foi até uma outra porta. Só haviam quatro ali, essa tinha que ser a certa.
- NÃÃÃÃÃO! – outro grito assustador quando ela pôs a mão na maçaneta.
- MAS QUE RAIOS! – ela gritou, mas foi mais efeito do novo susto do que de qualquer coisa. – Que cor é essa agora? Quase-púrpura?
- Não... Essa é violeta... – ele tinha um tom lastimoso na voz. Como se ele estivesse desapontado. Como se ela fosse uma completa imbecil.
Ela revirou os olhos sentindo o sangue ferver e caminhou para a porta mais escura. Agora tinha que estar certo.
Como não ouviu nenhum grito, abriu-a e atravessou-a calmamente.

*****

- Tire a camisa.
Foi simplesmente o que ele ouviu.
- Não.
E foi o que simplesmente respondeu.
Celeste-sama era sem dúvidas um maníaco infernal. Mas aquela mulher... Ela era uma tarada louca! Novamente ela o estava deixando com as bochechas em chamas!
- Kurosaki-san! – ela resmungou chateada. – É só tirar a camisa. Não custa nada. Você não tem seios para esconder.
Ele fez uma careta para o nada. Sentia-se totalmente desconfortável. Mesmo que não tivesse ninguém ali, ela o estaria monitorando... E ele não estava acostumado a fazer coisas desse tipo!
- Vamos, é pela Capricorniana-san... Já faz um bom tempo, não sei se ela ainda está acordada...
Com uma fúria e determinação súbitas, o ruivo então arrancou a camisa antes que alguém pudesse dizer desespero.
- Pronto. – fez um bico enorme. – Satisfeita? – seu rosto ardia mais que uma fogueira.
Ela riu maliciosa.
- Isso parece com prostituição, Kurosaki-san...
Ele fingiu que não ouviu, mas sua careta era melhor que qualquer resposta.
- Porta laranja.

****

- Olha, você já está na metade do labirinto, Ukitake-san! Viu como foi mais fácil do que pensou?
Ela bufou e teve que engolir o que ia dizer.

“Se a próxima metade for tão pavorosa quando foi essa, não sei se sou eu ou o Ichigo correndo mais perigo.”
- Isso graças a mim e as minhas dicas é claro. – ele continuava arengando coisas idiotas sobre seu narcisismo e sarcasmo irritantes.
- Fala logo o que eu tenho que fazer agora! – ela o cortou sem a mínima paciência.
- Ta bom, ta bom... – ele pareceu um pouco chateado. – Me diga três segredos seus.
Três segredos? Mas que merda!
Será que contava a verdade?
- Anda logo, Capricorniana-san... O tempo ta passando...

****

- Diga cinco pessoas que você ama. – Yoruichi ordenou.
Nossa. Foi uma pergunta malvada.
Quer dizer... Amava sua família, é claro. Mas além disso... Além disso... Amar era algo tão, tão sério... E tão difícil de dizer.
Mas é claro que a amava... E ele sabia disso. E não tinha certeza se tinha alguém que realmente não soubesse.
- Minha mãe, meu pai, minhas duas irmãs e...

****

- Eu já fui apaixonada por um professor. – ela começou, com o rosto quente e os olhos voltados para baixo. – Eu... Sei a coreografia de Oops I did it again inteira... – ficava mais e mais vermelha. – E... E...
Droga não tinha mais nenhum segredo. Não tinha mais!
A não ser...

****

- E? – Yoruichi instigou. – Vamos lerdinho, sua Capricorniana vai morrer de pavor!
- E a Rukia. Pronto!
Yoruichi estava satisfeita.
- Porta branca, meu jovem.
Ele avançou com pressa, como se fugisse de si mesmo.

****

- E...? – Celeste-sama incentivou. – Vamos, Capricorniana-san! A próxima porta está te esperando. O Kurosaki-san sufocado está te esperando!
Ela não queria contar, mas...
- EU INVENTEI O APELIDO DE INFERNAL-SAMA PRA VOCÊ. – ela confessou embaraçada num jorro de puro desespero.
Chegou a arregalar os olhos depois que disse. Droga. Ele tinha descoberto.
- I-Infernal-sama? – o homem ficou perplexo. – Ah-ah... – tentava não parecer tão aparvalhado. Como alguém tinha feito uma ironia tão malvada com seu codinome? - Porta bege. – era obrigado a dizer.

Envergonhada, Rukia abriu com rapidez violenta a porta.
E para sua surpresa, deu de cara com Ichigo, de rosto vermelho, olhos esbugalhados e... Sem camisa.
- ICHIGO?!
- RUKIA?!
Os dois ficaram se encarando em choque, como se tivessem acabado de ver um alienígena com duas cabeças.
- Mas... – os dois disseram ao mesmo tempo e se calaram. – Celeste-sama! – os dois gritaram, de repente entendendo tudo, mas sem desgrudar os olhos um do outro.
- Pegadinha! – ele cantarolou no ouvido dos dois. – Eu só queria testar a quantidade de micos que vocês pagariam um pelo outro. – riu deliberadamente. – E então? Se divertiram?
Os dois começaram a ofegar com força, como se estivessem tentando conter uma ira devastadora. Mas a verdade é que era exatamente isso que estava acontecendo.


Continua...


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