Céu escrita por Liminne


Capítulo 39
Capítulo 35 – Humildade




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- Rukia. – Ichigo suspirou e passou a mão pelos cabelos. – Eu te disse. Te disse que na hora certa você saberia. – disse pausadamente cada palavra.
- Então vai negar meu último pedido? – ela inclinou a cabeça.
- Depois você fala que EU é que abuso do poder. – cruzou os braços.
- Certo, certo. – ela deu-se por vencida. – Não precisa me dizer se não quiser. – virou o rosto um pouco aborrecida. – Eu aceito, já que não gosto quando me forçam a dizer certas coisas.
Ficaram
em silêncio. Ele olhando para o rosto virado dela. Seria aquilo uma chantagem emocional?
Bem... Se fosse, podia admitir derrotadamente que tinha sucumbido a ela. Se não fosse, podia dizer que, não precisava de missão nenhuma pra fazer as vontades dela. Bom... De qualquer maneira, esse era o fato.
- Okay, Rukia. – ele se rendeu enfim, fazendo com que ela voltasse o rosto novamente para ele. – Você quer saber o que significa... – ele apertou melhor a corrente entre os dedos. – Eu vou te contar.
Os olhos dela não puderam disfarçar o quanto estava exultante por dentro.
Os dois sentaram-se então no banquinho abaixo da cerejeira. E ele suspirou algumas vezes antes de começar a falar.

****

- Gin! – entrou no apartamento do homem com um sorriso enorme e um coração louco no peito. – Quanto tempo! Por onde você andou? – sua voz ofegava.
- Rangiku... – ele foi frio o suficiente para não reagir à alegria dela. – Preciso dizer uma coisa. E pretendo ser claro e direto.
Ela assustou-se na hora e paralisou. O sorriso desvaneceu. Mas o coração ficou ainda mais afobado.
- O que... O que aconteceu? – ela conseguiu perguntar numa voz miúda e receosa.
Ele ainda olhou para baixo por um tempo. Mas não tão longo esse tempo. Avançou até ela e beijou-a rápida e apaixonadamente. Sufocante.
- Gin... – ela respirava forte quando se separaram. – Não me assuste mais do que já estou assustada! Fale de uma vez!

- Rangiku. – ele segurou suas mãos do jeito mais forte que pôde. – Precisamos terminar. – e largou-as como quem ilustra o que foi dito.
- De novo isso? – ela não aceitou tão facilmente e nem levou a sério. – Quantas vezes eu preciso dizer que...
- Não. – ele cortou-a. – Falo sério. Precisamos terminar de verdade. E não é pelos mesmos motivos de antes.
Os olhos dela encheram-se imediatamente.
- Então... Qual é o motivo? – engoliu um nó irritante. – Não vou acreditar que não me ama mais... Porque você disse, que apesar de tudo...
- Ótimo. – ele cortou-a novamente. – Continue com esse pensamento. – sorriu daquele jeito que era de costume. – Mas não me procure mais.
- Mas Gin! – ela quase gritou. – Eu não entendo! Me diga o motivo pelo menos! Eu estou perdida!
- Rangiku. Eu disse que ia ser claro e direto. Simplesmente não me procure mais. Eu não quero mais ver você. E não quero mais que me veja. Os motivos não são relevantes. São imutáveis.
Ela abriu a boca para replicar, mas ele estava tão duro quanto uma pedra e tão frio como o inverno. Seus argumentos não adiantariam de nada, não é?
Não quando ele estava com aquela expressão e com aquele tom de voz.
Cerrou então os punhos e saiu pisando duro até a porta. Bateu-a com força, chorando silenciosamente e sentindo aquela fúria misturada com um fim do mundo em seu coração.
- Me perdoe, Rangiku... – o homem aparentemente tão frio, porém, encostou-se na porta que ela batera e desceu as mãos por ela com um sentimento apertado. – Me perdoe...

****

- O meu pai nunca foi muito convencional. – Ichigo começou a explicar, com um ar leve e nostálgico pairando sobre os lábios e os olhos. – Você teve provas suficientes disso.
Rukia apenas assentiu com a cabeça, sorrindo.
- Então... Quando Celeste-sama deu a bênção final para ele e para a mamãe... Pouco tempo depois ele... Ele quis pedi-la
em casamento... Ou seja, quis ficar noivo.
O sorriso de Rukia cresceu. Pela história e pelo orgulho que o canceriano tinha daqueles fatos que narrava.

- Mas... Como ele não é muito convencional, como eu tinha dito no começo... Ele não quis usar um anel. Ele mandou fazerem esse colar. – suspendeu-o no ar, o K brilhando ao sol. – Um colar personalizado, com o K da família Kurosaki. Quando ela o colocasse no pescoço, seria uma Kurosaki. – olhou para ela. – Entende?
- Oh! – os olhões de Rukia cintilavam. – Seu pai é adorável mesmo. Tão criativo e original. – riu suavemente. – E o filhinho... Um ladrãozinho de colares! – o cutucou com o cotovelo.
- Há! – ele a empurrou de leve. – Mas até que você tem razão... – ele tirou os olhos dela e voltou a fitar a jóia. – Quando eu descobri isso... Fui até aquela caixa e tirei-o de lá. E guardei-o com as minhas coisas. Era especial demais.
Rukia ficou encarando-o. Até que ele percebesse e a olhasse de volta. Ela então pulou os olhos para a mão dele, para o que ele segurava, como quem pede permissão. E ele assentiu, abriu a mão e deixou o objeto tão precioso livre para que ela tocasse.
- Poderia... – ela continuava olhando fixamente para o K. – Colocá-lo em mim?
O coração dele quase parou.
- É tão bonito... Queria ver se combinava comigo. – ela sorriu inocentemente.
Ele relutou. Hesitou. Aquilo era especial demais para brincar assim.
Mas... Era ela . E ela estava pedindo que ele colocasse nela... Parecia até um... Uma...
- Certo. – pegou-se dizendo. E quando deu por si, ela levantava os cabelos, virada de costas, para que ele pudesse pendurar enfim aquele cordão em seu pescoço. E ele o fez. Movido por alguma força mágica. Pelo cheiro das flores que se misturava com o dela. – Pronto. – anunciou quando tinha acabado de arrumar o fecho.
Ela então se virou. Para ele foi como em câmera lenta. Ela sorriu, tocando o K no pescoço. E depois tirou a mão e só ficou olhando para ele, com a jóia pendurada no pescoço, combinando inegavelmente com o brilho dos seus lindos olhos.
O ruivo canceriano tinha certeza de que estava passando mal.

- É lindo... – ela murmurou olhando-o. E então, subitamente, riu e levantou-se. E antes que Ichigo pudesse acompanhar tudo aquilo, ela começou a correr. – O roubei pra mim! – virou o rosto para ele mostrando a língua.
- Ru-Rukia... – ele ainda estava estático, tentando absorver bem aquelas cenas. Mas quando compreendeu o que estava acontecendo, ficou desesperado. – Rukia! – chamou, mas ela continuou correndo, então ele começou a correr atrás dela.
Foi com toda a sua velocidade. E ouviu os risos descontraídos dela. Não podia dizer que não estava gostando daquilo. Mas queria mais que tudo alcançá-la. E poder olhá-la nos olhos... Só para perguntar, o que é que aquilo significava, já que seu coração não parava de perguntar-lhe aos berros.
- Peguei! – ele exclamou quando conseguiu segurar o braço dela.
Ela girou rindo para ele. Mas ele não estava tão leve assim.
- Rukia... – ficou encarando-a enquanto a pequena respirava mais rápido por causa do exercício. – Por que foi que saiu correndo? – perguntou debilmente, com medo de ir diretamente ao ponto.
- Porque era o único jeito de roubar seu cordão. – ela fez uma careta para ele, ainda brincando.
- Mas por que... Por que é que gostou tanto dele? – conseguiu perguntar fazendo um esforço enorme.
- Ué... Porque... Porque é bonito. – franziu as sobrancelhas. – E tem um significado muito legal.
- Então... – os joelhos tremiam. – O que isso quer dizer, Rukia? – a encarou mais de perto. – O que é que isso quer dizer? – repetiu a pergunta mais vagarosa e enfaticamente para que ela pudesse captar bem o seu sentido.
Ela recuou e começou a apelar para a defensiva novamente. Droga. Será que tinha feito tão mal em mexer com aquele cordão? Que olhar ela aquele?
- Ah Ichigo... Não quer dizer nada... – tocou o K e sentiu um arrepio. – Quer dizer... Nós já estamos amarrados mesmo... Então não achei que...

- Não! – ele gritou de súbito, fazendo a baixinha dar um pulo. – Me devolva esse cordão. – ele parou de gritar na segunda frase, mas o seu tom era tão duro quanto nunca o tinha visto usar.
- Calma, Ichigo... – ela franziu as sobrancelhas. – Não precisa ficar tão nervoso.
- Me devolva logo, Rukia. – a voz amansou um pouquinho, mas continuava séria e ressentida. – Eu não estou brincando.
Ela então, assustada, tirou o cordão com dificuldade e um pouco trêmula. Devolveu a ele de cabeça baixa.
Ele guardou-o de volta na caixinha.
O silêncio que pairou entre os dois foi incômodo e duro.
- Me desculpe. – ele quebrou o silêncio enfim, depois de um tempo. – Me desculpe por ter gritado e me alterado. – enfiou a caixinha no bolso. – Mas isso não é uma brincadeira Rukia. Eu não estou brincando. Isso é muito sério pra mim. É um tesouro, entende?
Ela fez que sim com a cabeça timidamente. Seu coração se espremia no peito e suas bochechas coravam de vergonha.
- Por isso eu disse que não estava na hora de você saber. E muito menos de usar isso. Eu não devia tê-lo colocado no seu pescoço. – meneou a cabeça reprovando sua própria ação.
O coração espremido de Rukia deu-lhe uma estocada triste no peito. Mas... Ela não era sua alma gêmea afinal? Então por que... Ei! Por que estava pensando isso?
- ‘Já estamos amarrados’. – ele repetiu a frase dela, certamente com raiva daquelas palavras. – Não quero que, com esse pensamento, você use esse cordão. Não quero. – balançou de novo a cabeça. – Você tem seu ritmo. Eu também tenho o meu. E isso aqui... – pôs a mão no bolso. – Isso aqui é para a pessoa que eu mais amar... Para a pessoa que eu quero que carregue meu sobrenome. E que, principalmente, essa pessoa queira carregar meu sobrenome. Não por um tempo. Não por qualquer motivo.

Mas para sempre. E porque corresponde esse amor. – olhou para ela, mesmo com dificuldade. – Eu quero ver esse K pendurado no pescoço da pessoa que, eu esteja seguro, quer tanto quanto eu, dividir o mesmo destino. – a essa altura, sua voz já tinha mais doçura. Mas continuava com a mesma ênfase e seriedade. Aquele garotinho, por mais que fosse chorão e frágil, sabia o que queria.
Rukia sentiu uma amargura indescritível em sua garganta. O rubor nas bochechas aumentou. E sua freqüência cardíaca diminuiu, afetada. Sentia aquela contração incômoda no peito e os olhos, por algum motivo, queimando de olhar para ele.
Ele estava certo. E estava falando sério. Fora mesmo uma tola de brincar com aquilo. De encarar aquele tesouro em tom de brincadeira. Por mais que tivesse verdadeiramente apreciado o significado daquela jóia, não conseguira demonstrar. Não conseguiu aplicar na realidade. Agora quem foi infantil foi ela. Somente ela.
Espera um pouco. Sim. Ela sempre havia sido a infantil naquela relação. Por mais que se achasse adulta. Por mais que o chamasse de criança. Ela vinha sendo a infantil o tempo todo. Sempre fugindo, sempre com medo, sempre boicotando os momentos... Sempre encarando aquela inegável armadilha do destino como... Como...
- Me desculpe Ichigo. – pediu, envergonhada de si mesma e sinceramente humilde. – De novo, me desculpe. – o mínimo que podia fazer era olhar no rosto dele quando pedia.
Ele ficou olhando-a sério. Suspirou.
- Eu desculpo. – disse. – De novo, eu desculpo.
Ela sorriu.
Ele tinha se esforçado o tempo todo para conquistá-la. Ele estivera o tempo todo a perseguindo e bancando o obviamente apaixonado. E ela... Achou que, sendo perseguida e conquistada a cada dia, estaria numa boa posição. Talvez. Mas agora descobriu que essa condição não lhe garantia nada. Não lhe garantia que o tivesse conquistado também.
E naquele momento, com o verão tão próximo, deixou que as imagens de Kofu sumissem de suas memórias.

Deixou que o objetivo inicial dos dois morresse como se nunca houvesse nascido.
Podia agora admitir para si mesma. Não queria ser esnobada por ele. Não queria ser o que fosse decepcioná-lo. Também queria conquistá-lo.
- Então, Ichigo. – continuou sorrindo, do melhor modo que conseguiu. – Me leva de novo pra patinar no gelo?

****

Quando o sol se pôs, Rangiku mal podia lembrar a cor dos próprios olhos. É. Estava bêbada de novo, a caminho de volta para casa, uma vez que toda sua grana acabou.
Aproximou-se do prédio praticamente se arrastando.
- Nanao-chan... – Shunsui e Nanao estavam atrás do balcão, analisando juntos alguns papéis.
- O que é? – ela respondeu olhando pra ele.
Ele então, rapidamente, roubou um beijo dela, a deixando com os olhos arregalados.
- Kyouraku! – bateu com o livro na cabeça dele. – Já falei pra parar com isso! – seus olhos chamejavam assim como suas bochechas.
- Mas Nanao-chaaan! – ele cantarolava e choramingava ao mesmo tempo com a mão na cabeça. – Não tem ninguém por perto! – sinalizou para o hall que estava há um segundo vazio, mas que agora já continha a loira peituda cambaleante.
- Ahh! – ela gritou e bateu mais uma vez nele. – Não tem ninguém, né?
Ele ficou distraidamente em silêncio – mesmo que estivesse apanhando – observando a moradora da república caminhar trocando as pernas para o elevador e depois virou o rosto cínico para Nanao como se nada tivesse acontecido.
- Éééé! – continuou cantarolando e choramingando. – Não tem ninguém por perto!
- Seu cara-de-pau! – ela continuou batendo nele.
A libriana então chegou ao seu destino, com algum esforço abriu a porta e chegou até a cama onde desabou.
Ainda chorou um bocado antes de adormecer.

****

- Eu to bem, Ichigo! Me coloca no chão! – Rukia resmungava bem perto do ouvido do ruivo. Estava pendurada em suas costas, segurando com os braços seu pescoço e com as pernas sua cintura.
- Não vou soltar. Você não vai conseguir andar até o carro. – ele resmungou de volta e continuou o trajeto.

Ela bufou com força.
- Estou com raiva. – declarou resignando-se à carona e fazendo bico.
- Por que? – ele arqueou uma sobrancelha. – Por que eu estou te ajudando? Deixa de ser orgulhosa, menina! – ralhou.
- Não é isso. – ela parecia uma criança indignada. – Eu não acredito que fui capaz de levar um tombo tão feio...
Ele se conteve para não rir. Então era isso.
- Você estava enferrujada oras. Já faz mais de um mês que você aprendeu a patinar... Essas coisas necessitam de prática para aperfeiçoar. Mas você acha que é perfeita e já pode sair dando saltos duplos na sua segunda vez numa pista! – alfinetou.
- Eu não acho que sou perfeita! – gritou em própria defesa. – E não tentei dar nenhum salto duplo. – inflou as bochechas.
Ele avistou o carro.
- Certo, certo. – assentiu. – Acho que não vai demorar muito para que você consiga essa proeza.
- É mesmo? – sem querer ela caiu na armadilha, toda animada.
- Há! Eu sabia! Você tava querendo dar um salto!
Ela não respondeu, só grunhiu com raiva.
O ruivo chegou ao carro e colocou-a no banco do carona devagar.
- Vou a uma farmácia comprar uma pomada pra sua perna. Fica aí. – ele disse.
- Tá. – ela cruzou os braços e ficou vendo enquanto o canceriano se afastava.

****

- Eu decidi, Chiharu. – Mai conversava com a amiga num restaurante, depois da sessão de fotos. – Vou aparecer na faculdade semana que vem.
Se a pisciana estivesse comendo naquela hora, certamente teria engasgado.
- V-vai mesmo? – gaguejou com os olhos verdes arregalados. – E o que pretende fazer?
A loira endireitou-se na cadeira.
- Bem. Vou falar com a Fuu... – prendeu a respiração e soltou-a devagar. – Acho que ela merece alguma satisfação, afinal.
- Eu sabia que você ainda ia fazer isso. – a morena sorriu. – Mesmo que ela não mereça... – revirou os olhos.
- Ela está uma parte certa na história, Chi. – Mai disse de modo afável. – Eu não a culpo, sabe?
- Humm... – Chiharu encolheu os ombros. – E os outros fofoqueiros?

- Isso... – Mai puxou um sorrisinho. – Isso não importa. Eles vão me ver mais linda e mais feliz que nunca, quer castigo maior?
Chiharu riu. Era verdade. Não existia castigo melhor para fofoqueiros invejosos.
- Falando nisso, gostou do meu corte de cabelo? – a escorpiana exibiu-os balançando-os com a mão.
- Ficou linda! Ainda mais linda!
Sorriram uma para a outra e o garçom chegou trazendo os pedidos.

****
- Hum... – com a pomada na mão, Ichigo ficou encarando a pequena sentada no banco do carro. – Acho que você precisa... Ahn... – corou. – Tirar a meia.
Ela também ficou vermelha.
- Ichigo... Eu acho que posso fazer isso em casa.
- Até lá esse troço vai ficar roxo! – ele gritou. – Passa isso logo enquanto ainda está vermelho!
- É, tudo bem. – ela fechou a cara. Tirou as sapatilhas e começou a puxar a meia-calça, descobrindo devagar as pernas que, só para constar, ficariam bem à mostra por causa da saia raramente curta.
O coração do ruivo acelerou com a visão.
- Aqui. – ela mostrou na coxa, o lado que estava vermelho.
E antes que pudesse pegar a pomada da mão do ruivo, ele a estava passando no dedo. E mais depressa ainda, espalhando-a na perna da capricorniana, visivelmente trêmulo.
- I-Ichigo... – ela ficou ainda mais vermelha e sem jeito. Mas não tinha motivo para aquilo, certo? Era só um futuro médico cuidando de sua perna... Acidentes acontecem o tempo todo! – Ai! – logo se esqueceu do constrangimento, estava dolorida.
- D-desculpa. – ele desesperou-se. – Tá vendo? Logo logo vai ficar roxo. – fez uma careta e terminou de espalhar o creme. – Pronto. Com isso você vai melhorar logo.
Olhou para ela depois de um suspiro, ainda com o peito agitado. E ela o olhava com olhos tão doces...
- Obrigada Ichigo. – disse suavemente.
- N-não tem de quê. – ele coçou o rosto e desviou os olhos. – Eu também sou meio enfermeiro, você sabe.
- Não to falando só disso. – ela o surpreendeu. – Obrigada pelo dia de hoje. – continuou sorrindo singela e encantadoramente.

Droga! Estava mesmo vivendo a realidade naquele momento?
- Bem... Melhor que tenha gostado mesmo do dia. – ele quebrou aquele clima. – Porque gastei o maior dinheiro com a patinação e agora com remédio.
- Há! – ela abriu a boca indignada. – Eu falei pra gente rachar, sua coisa! – cruzou os braços irritada. – E eu posso te pagar a pomada, quanto foi?
- Fica quietinha aí, vai. – ele ficou sem saída e sem argumentos. – Era minha obrigação hoje te bajular. Mas ainda bem que isso acabou!
Ela ficou olhando-o de esguelha por um tempo. Mas logo relaxou. Conhecia aquela cara.
Ele então deu a volta e entrou no carro. Deu partida e os dois foram em direção a república mais uma vez.

****

Assim que entrou em casa, Rukia sentiu-se sacudida pela dura realidade. Encontrou Momo desesperada, ao celular.
- Rukia-chan! – ela largou o aparelho longe e correu até a baixinha de olhos azuis. – Que bom que você chegou! – tinha lágrimas nos olhos.
- O que aconteceu, Momo? – apavorou-se.
- Eu acabei de chegar e... E a prima... – piscou os olhos úmidos rapidamente. – A prima tá desmaiada!
Sem esperar, Rukia correu até o quarto e viu a mulher inconsciente.
- Aposto que ela bebeu de novo. – concluiu quando se aproximou dela. – Você não devia estar tão surpresa.
- Mas... Mas ela tinha parado...
Rukia suspirou.
- Acho que ela está apenas dormindo, Momo... – ficou olhando a libriana. – Melhor deixá-la...

****

Rukia acabou tendo razão. Uma hora depois, Rangiku acordou passando mal. A capricorniana e a geminiana foram bem gentis até que ela se recuperasse.
Quando Rukia terminou de servir o jantar foi que perguntou o que aconteceu.
- Eu bebi. – ela admitiu sem encarar as amigas.
- Isso é óbvio. – Rukia disse. – Mas por quê? Achei que você tinha dado uma maneirada nisso.
Ela sorriu amargamente.
- Ele terminou comigo. – disse num tom fraco. – E não tinha nada que eu pudesse fazer.
Momo e Rukia trocaram olhares penalizados.
- Sempre tem o que fazer, Rangiku. – Rukia segurou a mão dela carinhosamente.

- Prima... – Momo imitou o gesto de Rukia. – Você não acredita tanto em destino? Era pra ser assim...
- Não... – tocada com o calor das duas, seus olhos começaram a umedecer de novo. – Nós estamos destinados, Celeste-sama disse.
- Então espera que o destino vai arrumar isso. – Momo continuou.
- Mas enquanto eu espero... O que vai ser da minha vida? – olhou para as duas perdida.
- Não. – Rukia disse de repente. – Não desista, Rangiku. Lute pelo seu destino.
As outras duas ficaram olhando estupefatas para a estudante de medicina.
- É. – sentiu-se ligeiramente sem jeito. – Lute. Se o destino quer vocês juntos, não desista dele. Se ele também te ama, ele não quer deixá-la sozinha.
Por um minuto, a loira sentiu uma pontada de felicidade. Rukia falando daquele jeito... Parecia que tinha aprendido alguma coisa, afinal. Parecia que estava mudando...
É. Se inspirou tanto alguém por causa do amor, lutaria por ele. Não era hora de perder as esperanças.
- Obrigada. – sorriu com as lágrimas escorrendo. – Vocês são as melhores amigas do mundo!
Rukia e Momo sorriram e trataram de abraçar a peituda.

****

Chegou o verão. O calor só ia aumentando... As cerejeiras logo não estariam mais tão cor-de-rosa. Apesar das chuvas, era cada vez mais difícil ver pessoas de casaco ou com blusas de manga. Mas essas eram as mudanças superficiais.
Na quarta-feira da semana seguinte, Ichigo e Rukia foram almoçar como de costume. Mas havia uma novidade: mais uma missão estrelada!
- Então quer dizer que a gente vai ter que ir até lá dessa vez? – Ichigo inspirou parecendo não muito contente.
- É... – Rukia encostou-se ao respaldo da cadeira e encolheu os ombros. – Não sei por quê... Mas entrar naquele lugar me dá umas sensações estranhas...
- Não é só em você. – Ichigo garantiu seriamente. – Afinal, tudo que envolve aquele cara é muito estranho.
Rukia concordou com a cabeça e um sorrisinho. Só que... De repente, o aceno e o sorriso evaporaram e deram lugar a uma expressão chocada.

- O que foi Rukia? – Ichigo ficou preocupado. – Já tá sentindo os calafrios daqui? – brincou.
- Ichigo... – ela foi dizendo paralisada e apontou um dedo para as costas dele. – Olha!
O ruivo então se virou. E a expressão chocada de Rukia acabou sendo-lhe contagiante.
Porque o que os dois viam, era nada mais nada menos do que ela de volta. Sim. Inspirando beleza e coragem, Mai estava de volta, desfilando nos seus saltos enquanto as pessoas viravam e viravam os pescoços para olhá-la.
Seus cabelos loiros brilhantes estavam mais curtos agora, e muito mais graciosos. O vestido fúcsia com preto, de alcinhas e estampa quadriculada descia justinho até os quadris, onde a saia em camadas se derramava lindamente até metade das coxas. Usava uma tiara que fazia par com o vestido e scarpins altos no mesmo tom de rosa. Seu rosto sempre fora lindo, mas aquele brilho que agora ostentava, era novo, era muito mais do que apenas lindo. Ela sorria, mesmo com os burburinhos. Mesmo que no fundo, estivesse um bocado nervosa. E dessa vez não era porque queria que pensassem que ela era diferente e especial. Não. Dessa vez, era só coragem. Era se sentir humana, era se sentir Mai na frente de todos e, mesmo com o medo, não conseguir deixar de sorrir.
Rukia viu quando ela parou exatamente na mesa de Fuu. Se temia o que estava por vir, não dava para saber. Só dava para enxergar o quanto tinha mudado, mesmo que só a olhassem por fora.
- Oi Fuu. – ela disse simplesmente, com o mesmo sorriso luminoso, parada na frente da mesa que a geminiana dividia com mais cinco pessoas. – Oi pessoal. – acenou com a cabeça para os outros que estavam de boca aberta e mal conseguiram cumprimentá-la de volta. – Espero não estar interrompendo nada, mas eu preciso falar com você. – dirigiu-se novamente aos olhos vermelhos à base de lentes de Fuu.
A garota de cabelos rosa não sabia nem como se mexer. Quer dizer... Ela estava ali. Incrivelmente, mais linda do que nunca! Pensou que aquilo não fosse possível. Ainda mais depois de tudo.

E Chiharu tinha razão... Queria falar com ela. Mas tinha medo do que podia ser aquilo. Vingança?
- Okay. – conseguiu dizer, tentando disfarçar o quanto estava congelada. – Vamos para a sala conversar. – fez menção de levantar, mas Mai pôs uma mão em seu ombro obrigando-a a continuar sentada no mesmo lugar.
- Não. – disse, ainda com um ar leve no rosto. – Eu posso falar aqui mesmo. – deu de ombros bem humorada. – Eu não tenho mais nada para esconder de ninguém.
Os colegas de Fuu entreolharam-se espantados e excitados. Iam descobrir toda a verdade?
Mas o coração de Fuu estava se apertando. Agora tinha mais medo. Lembrou-se que sempre as humilhações naquele lugar eram acompanhadas por um grande público. E se ela fazia questão, queria mesmo se vingar!
Mas ela não sabia que a culpa da maioria das fofocas ao seu respeito era dela, sabia? Devia saber... De algum jeito, devia.
Engoliu em seco e encarou aqueles olhos pretos profundos, irritantemente impassíveis.
- T-tudo bem. – sorriu, mas tinha gaguejado!
- Sabe Fuu... – a loira sentia todos os olhares voltados para ela, mas não se importava. – Eu sinto muito. – disse, mas não parecia estar sendo irônica como a geminiana pressupôs. – Fomos amigas por um ano e eu não fui capaz de ser eu mesma, de mostrar muitas coisas sobre mim para você... – pela primeira vez parou de sorrir e adotou uma expressão arrependida e um tanto melancólica. – Eu sinto muito mesmo. Foi muito errado o que eu fiz. Mas eu era só uma medrosa. E eu precisei perder o que mais prezava para aprender que não devia mentir e enganar as pessoas. Mas quero que saiba que nenhum dos momentos que passamos foi falso. Eu os vivi verdadeiramente ao seu lado e vou me lembrar deles para sempre. – fez uma pausa para tomar fôlego. – Eu entrei obrigada no curso de medicina. Nunca gostei nem planejei isso para a minha vida. Na verdade, não sou uma modelo que vai, mais tarde, ter um nome que lembre salvar vidas e ganhar muito dinheiro.

Na verdade mesmo, sou só uma pessoa criativa e sensível demais que recebeu o dom de escrever. – sorriu de novo. – E eu resolvi assumir esse dom. Vou ser escritora e não me importo com o que isso pode me trazer de conseqüência no futuro. – expandiu mais o sorriso. – Não acho que vamos voltar a ser amigas. Porque eu te enganei. E realmente fiz mal pra você. Mas queria que pelo menos pudesse me perdoar. E, no lançamento do meu primeiro livro, queria que aparecesse. – a luz do seu sorriso era agora de simpatia, mas por algum motivo, ainda mantinha um quê de superioridade. – Bem, era só isso. – olhou para todos ao redor que continuavam boquiabertos e de ouvidos apurados. – Quer dizer alguma coisa? – voltou-se para a ex-amiga.
- A-acho que não... – ela balbuciou confusa.
- Certo. – Mai balançou a cabeça. – Então é só isso. – sorriu mais uma vez e mandou um beijinho para os outros. – Tchau gente. Se o destino quiser, vejo vocês por aí. – e saiu estalando os sapatos, como se nada mais a importasse, como se estivesse voltando para seu mundo paralelo maravilhoso, como se não tivesse causado aquele tumulto.
- Ela quer ser escritora! – alguém da mesa de Fuu ofegou emocionado.
- Então era isso que ela escondia? – outra pessoa parecia decepcionada. – Uau, Fuu. Parece que não é só a Mai que é mentirosa afinal de contas.
Fuu sentiu as bochechas
em chamas. Sorriu sem graça, mas não conseguiu apagar aquele fogo que ela tocou ali. Todos voltaram a falar sobre ela, só sobre ela. E dessa vez não cheios de especulações idiotas. Não que tivesse algo de nobre em bajular daquele jeito, mas a mentira havia acabado.
Para fechar, a geminiana encontrou-se sem querer com o olhar de Chiharu que passava em frente a sua mesa, sorrindo quase tão vitoriosa quanto a escorpiana. O que foi suficiente para que levantasse e corresse enjoada dali.
Continuando sua saga porém, Mai dirigiu-se agora a outra mesa. É. Sua coragem a estava impulsionando longe e ela foi na direção do canceriano ruivo.

- Kurosaki... - seus olhos pretos o encararam diretamente. As sobrancelhas claras franzindo-se levemente. - Preciso muito falar com você.


Continua...


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