Céu escrita por Liminne


Capítulo 35
Capítulo 33 – Poder [e as vinganças]




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Chegou pensativo à universidade. Era bem cedo e como de costume não havia muita gente na sala. Suspirou. Bufou. É... Era o dia de a Rukia bancar a doente. Será que ela ainda estava muito brava? Será que ia se vingar? Mas o que ela podia pedir de tão perigoso? Pensou no rosto infantil dela... Parecia inofensiva... Mas lembrou-se subitamente como ela conseguia ser fria quando queria. E pior! Lembrou-se da mãe dela... Daquele sorriso caloroso e tranqüilo... E do comentário do pai de Rukia de que ela era perigosa quando brava...
Quase pulou da cadeira quando ouviu a porta se abrir com violência. Que susto! Mas não era nada de mais, apenas alguns estudantes escandalosos. Segurou a testa e abaixou a cabeça. Estava mesmo era ferrado nessa vida.
Quando a sala já estava quase toda preenchida, a baixinha de olhos azuis chegou. Mesmo com aquela blusa de coelhinho e a saia cor-de-rosa, ela dava medo. De alguma forma... Ela dava medo.
- Bom dia. – ela cumprimentou ao aproximar-se dele.
- Bom dia. – ele cumprimentou de volta meio na defensiva.
Ficou observando-a até que ela se acomodasse no seu lugar. Ela olhou-o. Ele desviou o rosto.
- “Vou pedir desculpas.” – ele decidiu. – “Quem sabe se eu passar por cima do meu orgulho, ela não me perdoa?”.

****

Durante a aula não se falaram muito. Mas era normal, uma vez que os dois estavam sempre compenetrados nos livros e nos professores. No intervalo para o almoço então, como de costume, os dois já andavam juntos. Rukia levou consigo alguns livros. Era tão teimosa, tinha horas que não se dava um tempo para descansar.
- Ichigo, vai comprar meu almoço, vou ficar esperando. – ela abriu a boca já jogando esse balde de gelo, mais interessada nos livros que carregava do que na expressão perplexa do ruivo.
- C-como assim? – ele parou no meio do caminho e ficou olhando-a.
Ela parou e virou-se diretamente para ele. Os olhos azuis impassíveis.

- Eu estou enrolada com essa matéria. Não entendi muito bem. Vou ficar estudando como uma louca. – disse sem muita emoção na voz.
- E eu tenho que trazer o seu almoço e o meu? – ele ainda estava indignado.
- Claro. – ela levantou as sobrancelhas para destacar a obviedade do que dizia. – Hoje é sua vez de me bajular. – esperou que ele parasse de piscar e entendesse.
- C-certo. – ele assentiu. Em seguida fez uma careta azeda. – Eu já estou voltando. – saiu quase batendo pé. Não dava pra evitar estar cada segundo com menos vontade de pedir desculpas.
Rukia então arrumou um lugar para sentar e ficou lendo os livros como se nada tivesse acontecido. Alguma coisa dentro daquele coraçãozinho gritava dizendo que estava sendo dura demais. Mas a sua mente... A sua mente só sabia acusar aquele ruivo. Por cada minuto que perdia à noite sem dormir. Por cada dor de cabeça que a fazia desviar dos seus objetivos... Como alguém podia conseguir deixá-la tão confusa? Odiava não ter os próprios sentimentos sob controle.
- Olá, Rukia! – de repente, uma voz chamou-lhe a atenção. Levantou os olhos do livro e deu de cara com aqueles olhos azuis claros e o cabelo caindo perto deles.
- Ashido! – ela sorriu. – Olá! Como vai? Sente-se aí!
- Não estou atrapalhando? – ele pôs a mão na cadeira meio receoso.
- É claro que não! – ela negou.
Ele então se sentou.
- Como estão as coisas? – ele perguntou. – Vejo que o ânimo para estudar não acaba. – sinalizou para os livros.
- É claro que não! - ela riu. – Isso nunca!
Ele sorriu.
- E como vão as coisas para você? – a baixinha ficou mais séria. – Você sabe da Mai?
Ele abaixou os olhos.
- Não... Faz tempo que só ouço alguns boatos aqui e ali... – suspendeu e despencou os ombros juntamente com um suspiro. – Nem com a Chiharu tenho falado mais...
- Eu... Eu sei onde ela está. – Rukia disse baixinho. Ainda perguntava-se se era certo entrar naquele assunto.
A resposta veio com a expressão dele. Ergueu o rosto rapidamente para ela.

A boca estava aberta e os olhos arregalados. E havia uma luz... Uma luz tão rara, que parecia tê-lo abandonado por tanto, tanto tempo... Era preocupação. Era alívio. Era esperança.
- Onde ela está? – ele teve que se segurar para não se debruçar na mesa. – Onde?
O coração de Rukia apertou. Ver cada um sofrendo de um lado... Eles se amavam. Mas estava contente... Sabia que Mai estava lutando. E era corajosa.
- Eu não sei se posso te contar... – apertou os lábios lamentosa.
- Eu estou tão preocupado... – ele segurou a testa e fechou os olhos com muita força. – Ela estava tão fragilizada, tão confusa... Por mais que eu estivesse magoado, ou ainda esteja, não posso evitar sentir medo do que pode acontecer a ela...
Rukia sorriu ao ouvir aquelas palavras e ver aquela expressão confirmando tudo.
- Não se preocupe. – disse com um tom confortante. – Não sei o que você realmente sabe da verdadeira Mai. Mas eu sei que ela é forte, corajosa, batalhadora... E por mais que possa parecer frágil, tem uma capacidade incrível de se reconstruir.
Ashido não disse nada. Apenas continuou absorvendo o olhar confortador que Rukia lançava. E agora, depois de ouvir aquelas palavras... Seu coração finalmente pôde relaxar. Sentiu um grande peso fora de seu corpo, como se o estivesse agüentando durante algum tempo e só se desse conta agora.
Então isso tudo queria dizer que... Mai estava bem. Que Mai havia se encontrado, finalmente.
- Muito obrigado Rukia. – ele conseguiu dizer, com o rosto ainda reluzindo sutilmente.
Rukia apenas continuou com seu sorriso gentil.
Até que Ichigo apareceu segurando enrolado as duas bandejas do almoço.
- Ah, Kurosaki. – Ashido olhou para o ruivo que, só para constar, estava de cara feia. – Sente-se, eu só estava de passagem. – levantou-se educado.
- Fique com a gente, Ashido. – Rukia convidou lançando um olhar vingativo para Ichigo discretamente.
- Não, não... – ele balançou as mãos. – Eu já estou indo, obrigado. Foi um prazer falar com você Rukia.

- Igualmente! – ela sorriu e acenou enquanto Ichigo arrumava as coisas na mesa, com um bico gigante.
- Convidando ele para sentar com a gente... – ele murmurou ressentido e irritado ao mesmo tempo. – Muito bonito e sensível de sua parte, Rukia.
- Pra você ver como é bom quando brincam com certas coisas como se não fosse nada. – ela inclinou a cabeça para ele e lançou-lhe um sorrisinho sarcástico sem vontade.
O ruivo soltou um longo e pesado suspiro.
- Você é mesmo uma muralha de gelo e ressentimentos.
- É, talvez eu seja. – ela contra-atacou. – Eu ainda não me sinto bem em falar daquilo, se você não reparou. E acho um absurdo que você abuse de uma missão idiota do Infernal-sama pra tirar informações de mim.
- Me desculpa, tá legal? – ele entregou os pontos irritado. Não do jeito que havia planejado anteriormente. – Eu só... Só achei que você confiasse em mim para se abrir... Mas tudo bem, eu abusei mesmo um bocado. Talvez por causa daquela noite, no terraço... – acrescentou a última frase bem baixinho, quase como um pensamento alto.
Mas Rukia ouviu e o efeito imediato foi seu coração disparar e seus olhos se desviarem do rosto dele. Então era... Era mesmo... Era por isso mesmo que ele havia perguntado... Era por isso mesmo. Ele não havia se conformado com o ritmo? Ele estava com uma pulga atrás da orelha?
Suas horas de dor de cabeça antes de dormir foram todas com razão.
Ia perguntar, “O que tem a noite no terraço?”, mas preferiu ficar quieta. Não tinha certeza se queria ouvir a resposta. E sabia muito bem que não queria debatê-la, qualquer que fosse.
- Okay. – ela refez sua postura na cadeira. – Já que abusou de mim ontem, vou abusar de você hoje e aí estaremos quites. – sorriu pequenamente.
E Ichigo engoliu
em seco.
- O-o
que você está pretendendo?
O sorrisinho dela se transformou
em venenoso.
- Melhor
apenas comermos tranqüilamente agora.

****

Quando acabou a aula, Rukia e Ichigo caminhavam para os portões. O ruivinho ainda intrigado com a vingança da baixinha.

- Ahn... Vai fazer o que agora?
- Vou estudar. Já disse que aquela matéria está me dando trabalho...
- Olha, eu entendi ela bem direitinho, estive estudando esses dias... Se quiser ajuda...
Rukia então parou no meio do caminho. Tinha acabado de ter uma idéia de como acrescentar aquela simples vingancinha.
- Eu quero! Ótimo! Então você vem comigo. – ela disse e foi apertando o passo.
- Mas Rukia, a biblioteca é pra lá! – ele apontou pra trás.
- Eu sei. – ela assentiu. – Mas nós vamos pra minha casa.
Os olhos castanhos de Ichigo arregalaram-se.
- A-ah... – gaguejou. – Pra sua casa... – e ela chamava isso de vingança?
- É. Me ajuda a carregar esses livros. – deu alguns para Ichigo e os dois foram andando até o carro dele.

****

- Cheguei! – Rukia abriu a porta do apartamento.
- Rukia-chan! – Momo veio saudá-la alegremente, largando o tédio do livro que tentava ler. – Ahn... Veio acompanhada hoje... – corou ao ver Ichigo. Seus olhos imediatamente ganharam um novo brilho de curiosidade.
- É. – Rukia tentou não se abalar com aquele olhar. – Momo, esse é o Ichigo. Ichigo, essa é a Momo, a minha colega mais novinha de quarto.
- Olá Momo. – Ichigo cumprimentou sem jeito.
- Oi. – ela sorriu toda encantada e interessada. – Vai ficar para jantar com a gente?
Ele olhou confuso para Rukia.
- Provavelmente. – ela respondeu sem dar muita importância. – Onde estão as loiras, hein? – mudou de assunto.
- Foram dar uma volta... A Mai-chan precisava fazer uma pesquisa para o romance e levou a prima junto. Disseram que iam demorar.
- Ah, ótimo. – Rukia sorriu. – Vou tomar um banho. Ichigo, fique à vontade.
- Hun... Certo. – ele não estava à vontade.
- O que vai fazer para o jantar, Rukia-chan? – Momo quis saber.
- Pergunte ao Ichigo. Ele vai cozinhar hoje. – ela disse como se não fosse nada, avançando corredor adentro.
- COMO É QUE É? – O queixo do jovem quase despencou no chão.

- É. – Rukia virou o rosto para ele, sorrindo de um jeito particularmente irritante. – Afinal, você veio para me ajudar a estudar, não veio? Eu preciso que alguém tome conta da casa enquanto eu dou uma lida nos livros.
A expressão de Ichigo continuava a mesma, completamente abismada. Então era essa a vingança? Ia fazer ele de empregada?!
Momo virou o rosto para Ichigo.
- Você vai ser um bom marido desse jeito. – sorriu amigável. Mas por algum motivo, o espetadinho só conseguiu sentir o sangue ainda mais quente.
- Tá bom... Onde estão os ingredientes? – tentou segurar a ira.

****

Depois de um tempo, Rukia saiu do banho já usando seu confortável baby doll cor de rosa. Não se importava de estar de pijamas na frente de Ichigo. Não depois do que se passou na Golden Week no hotel de madeira.
Passou na frente da cozinha então com os livros que tinha arranjado na biblioteca e sentou-se no sofá da saletinha para estudar.
Ichigo só deu uma olhada para trás e contemplou aquela cena com desgosto. Ela realmente estava abusando.
- Ligou para as duas, Momo? – Rukia perguntou à menina que fazia seu dever de casa na mesa da cozinha.
- Liguei. Elas não vão vir jantar em casa. – ela informou.
- Deu sorte Ichigo. – ela provocou. E o ruivo mandou-lhe um olhar furioso.
- Rukia-chan! O dever... – Rukia olhou para Momo e sinalizou em seguida para o caranguejo. – Hoje o Ichigo que vai te ajudar com o dever também. – sorriu amável para a menina.
- Okay. – ela não se importou, pelo contrário, pareceu ainda mais alegre. – Ichigo, como faz essa conta aqui?
A cara mal humorada do canceriano não conseguia esconder a raiva que estava sentindo de jeito nenhum. Mas mesmo assim, o que podia fazer? Missões do Infernal-sama são como ordens superiores.
- Bem... Primeiro você multiplica aqui... – ele foi mostrando para ela no caderno. – Tipo...
- OLHA A COMIDA! – Momo berrou para o fogo que aumentou de repente.
- Ahhh! – ele virou-se atrapalhado e assustado. – Mas que droga! – apagou o fogo e ficou abanando.

Rukia escondeu a cara no livro e ficou rindo. De qualquer maneira não ia conseguir estudar. Mas aquilo estava mesmo divertido.
- Mas então, como eu estava... – Ichigo voltou-se para Momo. E viu Rukia rindo do outro lado, no sofá. – Você multiplica um por um... – foi dizendo para a geminiana com os dentes trincados, como se ela tivesse culpa da visão que estava tendo.
- Ahh é! – ela lembrou-se melhor de como fazia o exercício. – Obrigada Ichigo. – sorriu. – Agora se concentre na comida. – ergueu o punho tentando incentivá-lo. Tão inocente na história... Não é preciso descrever a maneira como aquilo afetou o jovem. Como se fosse mais um deboche.
Voltou então a cozinhar com o máximo de dedicação que podia. Não queria ainda dar motivos para aquela baixinha maldita reclamar.
O negócio é que... Ainda não tinha tanta experiência assim na cozinha. Mesmo que tivesse talento.
- Ahhh! – Momo deu um grito.
O ruivo se assustou e acabou derramando o vidro quase inteiro de molho no prato.
- MAS QUE INFERNO! – ele gritou exaltado.
- Eu que o diga! – Momo se estressou e arrancou a folha do caderno. – A conta não dá certo nunca!
- E nem essa comida! Agora vai ter que comer molho com carne. – bufou irritado, tentando tirar o excesso do molho
em vão.
- Está
difícil aí? – Rukia espichou o pescoço e perguntou só para irritar ainda mais o canceriano.
- Não. – ele era orgulhoso. – Está tudo sob controle. – foi até Momo depois da sua tentativa de salvar a carne. – Vamos fazer essa conta do começo.
Rukia sorriu e voltou a ler. Mas não conseguiu mais. Quando deu por si já estava espiando por trás das páginas aquela cena. Aquele homem desajeitado de cabelos esquisitos usando um avental e ensinando para uma criança o dever de casa, enquanto ao mesmo tempo dava conta da comida. Podia mesmo perdoá-lo depois dessa.

****

Depois de mais alguns incidentes do tipo quase queimar a mão e ter algumas dúvidas cruéis sobre o preparo da comida, a mesa já estava toda posta.

Não tinha certeza se o jantar estava digno de não receber reclamações da capricorniana. Mas pelo menos o dever de casa de Momo receberia elogio do professor no dia seguinte.
- Está na mesa. – Ichigo anunciou com uma voz de má vontade.
Momo sentou-se rapidamente e Rukia veio bem devagar. Assim que todos estavam acomodados, começaram a comer. Os olhos castanhos do ruivo sempre ligados na expressão da pequena de olhos azuis. Ela mastigou, engoliu e não disse nada. O que o deixou mais irado do que já estava.
- E então? – ele resolveu perguntar. Em sua opinião pelo menos, a comida não era de se jogar fora. – Como está a comida?
- Está boa. – Momo sorriu. – Até que pra quem quase queimou e encharcou de molho, está bem gostosa!
Ichigo sentiu-se melhor. Mas ainda faltava a opinião mais importante.
- É. Razoável. – ela respondeu franzindo o nariz de leve. – Não tem problema um dia ou outro comer uma comida assim.
O punho de Ichigo cerrou embaixo da mesa. Sabia que ela queria mesmo era provocá-lo, mais do que tudo. Talvez estivesse até exagerando. Talvez não. Pelo nariz que empinava, era com certeza! Mas por que, mesmo assim, estava se sentindo tão frustrado e com tanta vontade de... De...
- Mas eu gostei do tempero da carne. Está diferente. – ela disse de repente, surpreendendo-o. Fez até os punhos relaxarem.
Seus olhos surpresos encontraram-se com os impassíveis dela. Ela mostrou-lhe um pequeno e rápido sorriso. Logo desviou o rosto para a comida novamente.
- “Baixinha irritante. Muito, muito irritante!” – ele pensava enquanto respirava fundo para que o coração voltasse ao normal.

****

Depois de jantar – e lavar a louça, claro – o ruivo ficou algum tempo encarando Rukia enquanto ela lia o livro e fazia algumas anotações.
- Er... – ele pigarreou para chamar-lhe a atenção. – Tem alguma coisa ainda em que você queira ajuda?
Ela levantou devagar os olhos de suas anotações.
- Não. Já pode ir pra sua casa. – ela decidiu.
- Okay. Então... Até amanhã... – ele foi andando.

- Ah não! – ela gritou de súbito fazendo-o parar. – Espera. Eu tenho uma coisinha pra você ainda! – e deixando os livros e o caderno na mesinha, desapareceu correndo para o quarto.
- Uma coisinha para mim? – ele franziu as sobrancelhas. – Com o que será que ela vai me surpreender? – deixou um pequeno sorriso curioso e esperançoso escapar pelo canto da boca.
- Aqui! – ela apareceu sorrindo do corredor. – Toma. – quando chegou até ele, tão devagar para sua curiosidade, estendeu-lhe um saco gigante cheio de roupas.
A esperança então correu para o mais longe que pôde e sua expressão caiu como de um abismo.
- O que é isso? – cada uma das palavras saiu muito devagar, como a fala de um robô.
- São as nossas roupas... – ela começou a explicar casualmente. – Sabe, a máquina de lavar da república quebrou... E está me dando o maior trabalho lavar tudo isso... Então, você sabe... Resolvi usar a missão do Celeste-sama para ter um benefício.
O jeito como ela falou aquilo fez com que ele diminuísse os olhos e sentisse borbulhas no sangue.
- Então... Lave-as para mim. – estendeu o saco de roupas. – Ah, e muito cuidado! Tem roupas da Mai aí. Não vai querer arrumar confusão com ela de novo... Melhor lavá-las à mão. Ah e, claro, não esqueça de passá-las. – sorriu.
- Ótimo. – ele tomou da mão dela com violência. – Estou indo. E não precisa me levar até a porta! – foi andando rapidamente. Vai que ela ainda tinha mais alguma idéia macabra!
- Vai com cuidado, Ichigo! – ainda acenou debochadamente para ele.
- Você vai ver só, Rukia... Me aguarde... – ele prometeu com os olhos em chamas, enquanto avançava pelo corredor mal iluminado.

****

No outro dia, Ichigo chegou à faculdade um pouco mais tarde. Mas pudera! Ficara a noite inteira lavando aquelas roupas. E ainda tinha que passá-las mesmo que fosse o seu dia de ser bajulado!
O pior de tudo não era isso. O pior mesmo foi explicar para Yuzu o que estava fazendo lavando roupas de mulher à mão!

Flashback

- Onii-chan! – os olhos de Yuzu quase saltaram das órbitas. – O-o que é isso!?
- Shh! – ele pediu silêncio, totalmente humilhado, molhado e cheio de bolhas de sabão em volta. – Ainda estou seguro enquanto o velho estiver vendo aquele filme idiota. – e então ameaçou a irmã com os olhos. – E enquanto você não contar para ele.
Ela corou.
- Ma-mas... Mas por quê? – perguntou baixinho, mas intrigadíssima.
- Por que... Por que... – Mas que droga! – Porque os veteranos... Daquele grupo... Me pediram. – Putz, tinha alguma desculpa pior, não?
- Ah... Onii-chan! – os olhos da loirinha rapidamente encheram-se de lágrimas. Ela então suspirou e começou a dizer com uma vozinha suave e penalizada. – Você é maravilhoso, onii-chan... Não precisa bancar a empregada das pessoas para que elas te aceitem...
- Eu não estou bancando a empregada. – ele disse entre dentes, esfregando com força aquele maldito vestido rosa.
Yuzu ainda ficou encarando o irmão cheia de dó. Ele parecia tão abandonado, com tanta necessidade de ser aceito...
Quando deu por si, o estava abraçando.
- Y-Yuzu! – ele berrou assustado. – Você vai se molhar toda!
- Onii-chaaan! – agora ela chorava escandalosa. – Eu te amooo!
- Yuzu, fica quieta! – ele estava desesperado.
- Que gritaria é essa aqui?
Pronto. A voz do terror. Seu pai. O circo estava armado.

Fim do Flashback

E agora, não sabia o que era pior. Ir para a faculdade e ter que olhar para a cara da causadora de toda a humilhação ou ir para casa e ter que ser mimado forçadamente pela irmã mais nova cheia de compaixão...
Não. Nada era pior do que seu pai mandando que lhe lavasse as cuecas. Nada mesmo!
- E aí, Ichigo? – encontrou Rukia no corredor. – E as roupas?
- Amanhã eu entrego sem falta. – ele respondeu com a cara mais feia que conseguiu fazer.
- Certo. – ela não conseguiu segurar um risinho.
- Tá rindo de quê? – ele ficou ainda mais zangado. – Hoje você está na minha mira, se cuida! – apontou o dedo para ela.

- Uui que medo do cancerianozinho chorão! – ela encolheu-se teatralmente.
- Hunf. – ele virou a cara. – Vamos estudar que a gente ganha mais.

****

- Hahahahaha! – Rukia morria de rir na hora do almoço. – Tá falando sério?!
- Tô. – o canceriano ficou emburrado. – E é tudo culpa sua, garota! – ele apontou para ela irado.
- Ahh, mas pelo menos te perdoei pelo ocorrido na segunda-feira. – ela enxugou as lágrimas no cantinho dos olhos. – Caramba, fiquei imaginando a sua cara quando seu pai mandou você lavar as cuecas dele... Hahahaha! Seu pai é demais!
- Desagradável demais você quer dizer, né? – ele continuava carrancudo.
E ela continuava rindo.
- É, vai rindo mesmo. Até você descobrir o que eu quero que você faça hoje.
Ela parou na hora.
- O quê? – perguntou assustada, com os olhos maiores.
Agora foi a vez dele de se ajeitar na cadeira e tomar uma postura superior.
- Quero que você conserte a minha imagem lá em casa. – disse de queixo
em pé.
- Ah. Tá.
– ela fez uma cara cética. - Deixa eu puxar minha varinha de condão aqui.
- Idiota! – ele foi devidamente afetado pela ironia. – Você não vai precisar de varinha de condão. Mas bem que você ia querer ter uma. – ele sorriu maldoso.
Ela fingiu não se abalar, continuou com a mesma cara para ele.
- Já que estão me achando um coitadinho, sem vida social e lavador de roupas, você vai fingir que... – corou. Mas tentou manter a cabeça erguida. Era vingança afinal. – Vai fingir que... Que está a fim de mim. – falou a última frase tão rápido que mal deu para captar.
- Vou fingir o quê do quê? – ela inclinou-se para mais perto dele para entender melhor.
Ele respirou fundo, vermelho de raiva e de tanto o sangue fazer voltas malucas pelo seu rosto.
- Que está a fim de mim! – forçou a voz de nervoso.
E então ela não conseguiu mais fingir tranqüilidade. Seus olhos escancaram-se juntamente com sua boca. Por alguns segundos mal pôde proferir um ‘ah’.

- Ichigo... – finalmente conseguiu desengasgar. Mas a voz continuava fraquinha, quase sem ar. – Ichigo... – repetiu. E agora já ria de nervoso. – Eu entendi bem?
- Sim. Entendeu. – ele continuava da cor de um morango, mas dava seu melhor para não parecer ainda mais fracassado. – Você vai lá em casa hoje como uma colega de estudo e vai fingir que... Que... Bem... Que está dando em cima de mim.
- Há! – ela continuava com o riso nervoso. – Você não pode estar falando sério!
- Agora você não pode me acusar de abuso de poder! – ele defendeu-se antes que ela o atacasse. – Eu só quero restaurar minha imagem!
Ela encostou-se no respaldo da cadeira e cruzou os braços.
- E por que eu dar em cima de você melhoraria sua imagem? – quis saber diminuindo os olhos para ele.
- Ah-ah... – foi a vez dele de gaguejar. – P-Por que... – Droga, ela sempre tinha que sair por cima? – Por que se uma mulher bonita estiver dando em cima de mim descaradamente, não vai haver motivos para meu pai ter pena de mim nem achar que estou com problemas para me adaptar socialmente. É óbvio! – riu também nervoso. Espera um pouco... Tinha dito mesmo ‘mulher bonita?’ Mas que droga!
Ela sorriu sem saber o motivo. Mulher bonita... Então ela era motivo de orgulho para ele? Ei! No que estava pensando? Ia ter que se humilhar total dando em cima de um cara deliberadamente! Mesmo que fosse o Ichigo... Mesmo que fosse fingimento, obviamente... Não faria isso nem em circunstâncias normais!
- Mas, mas... – ela tentava escapar desesperada, como se estivesse se debatendo para não se afogar. – Mas eu já fui a Usagi-san, lembra? – Perfeito! – Eu não posso simplesmente aparecer como sua colega agora.
- Pra isso que existe peruca, lente, desculpa esfarrapada, irmã gêmea, mudar de curso, sei lá! Se vira! – ela não ia pôr seu plano a baixo! Não depois de ele ainda ter tido a coragem de contá-lo!
Ela inspirou com força. Soltou o ar com mais força ainda. É. Não ia ter jeito. Ia ter que usar todas as suas habilidades dramáticas.

- Certo. – comprimiu os lábios irritada. – O que eu posso fazer, né? – resignou-se, mas não com doçura. – Eu não posso abandonar o bebê chorão, com a imagem destruída e cheio de mimimi no meu ouvido. – revirou os olhos.
- Isso não vai me atingir hoje. – ele mentiu. – Porque o dia promete... – sorriu malicioso.

****

- Eu preciso de ajuda! – Rukia chegou esbaforida em casa.
- Meu Deus! – Mai se assustou, quase jogou longe o livro que estava lendo. – O que aconteceu, Rukia? – endireitou-se no sofá.
- Daqui a uma hora mais ou menos o Ichigo vai vir me buscar... E eu preciso me disfarçar!
- Vai se esconder dele? – Momo ergueu os olhos do pote de sorvete que devorava com a prima e franziu as sobrancelhas estranhando.
- Não! – Rukia jogou as coisas que carregava no chão suspirando. – Eu preciso ir a casa dele... Mas eu já fui antes... Fingindo ser outra pessoa... Então...
- Mais uma Missão do Celeste-sama, né? – Rangiku sorriu brilhante. – Adoro!
Rukia lançou um olhar malvado para ela.
- Então você precisa se disfarçar porque a família do Kurosaki tem que achar que você é outra pessoa e não a outra pessoa que você já fingiu que era? – Mai perguntou para tirar a dúvida.
E as três ficaram piscando ainda mais confusas para ela.
- Tá legal. – Mai levantou-se do sofá. – Se precisa se disfarçar, então eu acho que tenho uma idéia. – sorriu divertindo-se antes de começar.
- Produzir é com ela mesma. – Momo riu enquanto a loira inglesa levava Rukia para o quarto. – Ela é tão estilosa! – seus olhos brilhavam.
- Humm... – Rangiku fez beicinho. – Pensei que era mais fã da sua prima...
- E eu sou! – ela riu. – Deixa de ser carente! As duas são lindas e estilosas, pronto!
- Humm... – ainda ficou olhando de esguelha para a priminha. – Sua traidora. – enfiou uma quantidade consoladora de sorvete na boca.

****

A campainha do apartamento tocou uma hora depois.
- É o Ichigo. – Rukia alarmou-se. – Tem certeza de que não estou ridícula?

Rangiku, Momo e Mai ficaram fitando a pequena capricorniana com as cabeças inclinadas e os olhares críticos.
- Está tudo, menos ridícula! – Rangiku disse enfim.
- Verdade, Rukia-chan! Parece uma mini Mai! – Momo riu.
- Então não tem como estar ridícula. – Mai brincou e todas riram.
- Bem... Acho que ninguém vai mesmo me reconhecer assim... Mas... Não exageramos muito?
A campainha tocou de novo.
- Para fazer o papel de quem vai dar em cima de alguém descaradamente, você tem que estar beeem diferente, Rukia. – Mai disse e as outras concordaram.
- Okay então. – ela respirou fundo. – Estou indo para a vergonha e humilhação. – revirou os olhos bem maquiados.
As outras três então voltaram para seus afazeres casuais quando a baixinha abriu a porta.
- Ru-Rukia... – Ichigo chocou-se quase a engolindo com os olhos esbugalhados. – É mesmo você? – inclinou-se para mais perto.
Não pensou que ela fosse se disfarçar tão... Com tanta... É. Com tanta dedicação. Até um trato desses ela tinha que cumprir perfeitamente, assim como tudo que fazia. Mas mesmo sabendo disso... Não imaginou que viveria para ver uma Rukia de peruca loira curtinha e rosto muito maquiado, principalmente os olhos que estavam contornados de preto bem forte. E ainda a roupa! Estava de vestido curto num tom de vermelho que conhecia alguém que adorava usar.
- Sou eu sim, idiota. – ela corou levemente e apertou o passo na frente. – Vamos logo!
- V-vamos. – ele concordou.
Mas aqueles olhos... Era ela definitivamente, não importava o quanto tentasse se esconder... Só esperava que eles só brilhassem daquele jeito para ele e para mais ninguém...


Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Informações Extras

Personagem: Sagatsuki Mai

— Seu avô paterno é japonês e casou-se com uma inglesa;
— Seus pais (ambos ingleses) conheceram-se na Inglaterra e a tiveram em Londres;
— A família Sagatsuki foi morar no Japão quando Mai tinha quatro anos de idade;
— Mai viaja muito entre os países por causa da família e dos negócios do pai no Japão;
— Sua mãe é uma ex-modelo;
— Conheceu Chiharu assim que se mudou para o Japão, foram vizinhas por muito tempo e sempre estudaram juntas;
— Seu nome se pronuncia ‘Mái’, é um nome japonês;
— Acredita muito em astrologia e é supersticiosa;
— Sempre foi mais valorizada pela sua beleza do que pelos seus talentos e seu jeito de ser, o que a levou a sentir seu interior rejeitado;
— Gosta muito de comprar roupas e livros de romance, mas se pudesse escolher, se desfazia de suas roupas pelos livros;
— Apesar de ser considerada fútil por muitos e priorizar o exterior, sempre foi artística e muito inteligente;
— Sonha em ser escritora desde seu primeiro concurso de redação na escola;
— Apesar de atrair muitas pessoas e ser popular, tem muita dificuldade em fazer amigos de verdade;
— Sua cor preferida é o vermelho mais puxado para o vinho;
— Quando mais nova, costumava ser escalada para os papéis principais das peças, mas o que queria realmente era escrevê-las;
— A personagem que começou a trabalhar quando alcançou certa maturidade na escrita chama-se Sarah e se parece muito com sua amiga Chiharu, mas que tenta buscar um lado mais forte e feroz para se proteger.



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