Céu escrita por Liminne


Capítulo 33
Capítulo 32 – Poder [impaciência]




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Quando acordou na segunda-feira para preparar o café da manhã, Mai já estava acordada, digitando no computador.
- Bom dia, Mai. – Rukia sorriu com o rosto ainda inchado de sono.
- Já é dia? – a loira espantou-se. – Meu Deus!
- Garota... Faz mal ficar trocando o dia pela noite... – a baixinha alertou enquanto se espreguiçava.
- Eu sei... – ela sorriu com os ombros encolhidos. – É que estou numa parte empolgante.
- Humm... – Rukia aproximou-se. – Posso ler? – olhou para a tela por cima dos ombros da jovem.
- Não! – ela rapidamente desligou o monitor. – Não... Não sei se quero que você veja isso, Rukia... – mordeu a unha do indicador insegura.
- Nossa... – Rukia ficou um pouco triste. – Tudo bem... Mas não tem nada de mais em me deixar dar uma opinião, tem?
Mai sorriu estrategicamente.
- E não tem nada de mais em você me contar o que está realmente rolando com o Kurosaki. – levantou as sobrancelhas claras para ela.
Rukia diminuiu os olhos numa fúria brincalhona.
- Engraçadinha. – fez uma careta. – Vou lá fazer o café antes que atrase todo mundo.
- Vai lá. Coelhinha fujona. – Mai riu.
Pelo que se vê, nada tinha sido dito ou acrescentado pela capricorniana sobre seus sentimentos em relação ao canceriano.
Quando o café ficou pronto, as quatro mulheres juntaram-se para comer.
- E aí? Vai fazer o que hoje, Mai? – Rangiku quis saber.
- Ei! Nem pense em convidá-la para ir ao shopping de novo! – Rukia cortou logo. – Além de você ter que estudar, ela não tá podendo gastar dinheiro. – fez cara de mamãe responsável.
Rangiku fez um bico engraçado.
- Ela é sempre assim. – fingiu cochichar com Mai. – Autoritááária... Mandooona... – cantarolou as palavras.
- Pelo menos ela cuida da gente. – Momo deu pitaco na conversa.
- Ei! Fica quieta aí, ô puxa-saco! – Rangiku disse.
- Eu vou escrever hoje... E talvez dormir um pouco de tarde. – Mai declarou enfim.
- Ahn... E seus pais, Mai? – Rukia quis saber.

- Minha mãe ligou algumas vezes... – os olhos negros dela desviaram-se. – Ela disse que meu pai ainda não acredita que vou ficar fora de casa. Acha que estou refugiada na casa da Chiharu. – sorriu meio palidamente.
As três entreolharam-se penalizadas.
- E... Quando você vai falar com o Ashido? – Rukia obrigou-se a ser um pouco cruel.
E surtiu efeito a crueldade. A escorpiana parou de comer e ficou parada por uns segundos.
- Eu preciso estar preparada. – disse enfim, bem baixinho. Em seguida, levantou o rosto e sorriu. – Estou com saudades da Chi. Vocês se incomodam se ela vier para uma visita à tarde?
- Não! – Rangiku balançou as mãos. – Hoje eu vou trabalhar à tarde.
- Que raro! – Rukia sorriu. – E eu provavelmente vou ficar estudando.
- Eu também vou estudar... E ficar no clube de leitura depois da aula... – desviou os olhos quando mentiu.
- Okay. – Mai sorriu, agora parecia mais feliz realmente. – Então acho que vou dormir um pouquinho quando vocês saírem.
Rukia terminou de comer e levantou-se. Foi em direção às correspondências. Sabia que tinha chegado carta. É. Lá estava ela, cheia das suas estrelinhas habituais. Pegou-a e enfiou-a na bolsa que levaria para a faculdade. Tinha combinado com Ichigo que saberiam juntos a próxima missão.

****

Chiharu queria falar com Rukia antes que sua aula começasse. Dirigiu-se então às escadas que levavam aos corredores do seu destino. Mas antes de encontrar seu propósito, acabou esbarrando em um obstáculo de cabelos cor-de-rosa.
- Bom dia Chi! – a geminiana cumprimentou. Tinha junto a si uma garota mais ou menos da mesma idade e de cabelos bem curtos.
Chiharu paralisou incrédula.
- Bom... Dia... – olhou para Fuu. Fazia tanto tempo que ela nem lhe dirigia a palavra!
- E então? Como vai a Mai? – perguntou como que casualmente, mas com um sorrisinho de algo a mais no rosto.

- Parece que ela está fugida. – a garota de cabelos curtos se meteu na conversa. – Será que os boatos de que ela nem era mulher eram verdadeiros? – puxou um sorrisinho de canto que logo se tornou uma gargalhada contagiante para Fuu. Mas nunca para Chiharu.
- Com licença. – como não era fã de brigas, a pisciana tratou de apertar o passo para livrar-se das duas.
- Ei, ei, espera um pouco! – mas Fuu não deixou, segurando seu braço para que ficasse. Logo o soltou. – Eu te fiz uma pergunta. Faz mais de uma semana que a loirinha mais querida da universidade não dá as caras! Todo mundo quer saber o que aconteceu!
Chiharu apertou as sobrancelhas e inflou as bochechas. Mas não conseguiu parecer mais ameaçadora que um hamster. Fuu sabia muito bem o quanto era frágil e pacífica.
- O que a Mai faz ou deixa de fazer não diz respeito aos outros. Só a ela mesma. – respondeu, porém, mais firme do que o esperado.
- Que grosseria, Chi! – Fuu arregalou os olhos.
- Grosseria não. – continuou o mais firme que conseguia, mesmo nervosa. – O que ela está passando é coisa dela e não de todo mundo, Fuu. – olhou desafiadora nos olhos dela. – Já que você deve estar louca para espalhar mais uma fofoca. Pessoas como você, não merecem ficar sabendo disso.
- Ei! – agora Fuu ficara seriamente ofendida. – Pessoas como eu, como assim? Não me trate como a vilã da história, mocinha! Eu sou uma das vítimas! Afinal, a Mai me enganou o tempo todo! Não espere que eu fique aqui puxando o saco dela e dizendo que eu sinto muito e estou muito preocupada.
A outra jovem apenas balançava a cabeça afirmativamente.
- Tudo bem. Eu concordo que a Mai te enganou e isso faz de você uma vítima. Mas não concordo que só por causa disso você tenha que sair por aí espalhando fofocas maldosas sobre ela e ainda ficar rindo e debochando.
- Você diz isso porque sempre foi amiguinha dela e não passou por idiota como eu. – Fuu levantou o queixo.

- Mas bem que você gostou de passar por idiota nesse um ano que você andou com a gente, né? – de repente, sentia seu sangue fervendo. – Porque sendo vítima das mentiras da Mai você teve facilidade pra conhecer um monte de gente, foi convidada pra um monte de festas, conheceu ma pancada de garotos... E ainda sendo vítima dela, passamos tanto tempo juntas todos os dias, você pôde passar a noite na casa dela chorando suas mágoas e ganhando conselhos, presentes e popularidade pra fazer fofoca dos outros, o seu hobby preferido. E mesmo assim, depois que descobriu que ela estava te enganando, não teve uma gotinha sequer de gratidão e já virou as costas... Mas até aí dá pra entender. Agora, além de virar as costas ainda ficar contra desse jeito? Rindo da cara dela e debochando? Aposto que faz isso só porque estão todos fazendo e você quer tirar seu corpo fora de ter sido amiga dela!
As outras duas ficaram mudas e chocadas com a explosão da sempre tranqüila Chiharu.
- Por isso eu digo. – a morena de olhos verdes continuava. – Pessoas como você não merecem saber de nada do que a Mai está passando. – sentia o coração palpitando na garganta e as pernas trêmulas. – E mesmo assim, eu tenho certeza que ela ainda vai vir te pedir desculpas. Porque ela sim é uma pessoa grata e de bom coração. Sendo mentirosa ou não. – inspirou com força, torcendo para que ninguém reparasse na sua tremedeira. – Agora, com licença. Tenho que falar com uma pessoa. – saiu batendo seus saltos da melhor maneira que conseguiu não dando nem tempo de Fuu fechar a boca.

****

- E então... – depois que terminaram o almoço e o assunto parou de fluir, Ichigo resolveu tocar naquele assunto. – Você trouxe a carta?
- Trouxe. – Rukia respondeu. Puxou da bolsa o envelope estrelado. – Vamos abrir?
- Vamos. – Ichigo tirou sua carta do bolso.
Os dois ficaram se olhando por alguns segundos como se esperassem um sinal de partida e então de repente começaram a abrir suas respectivas cartas.

Rukia terminou de ler mais depressa e então começou a relê-la em voz alta:

“Caríssima capricorniana,

Você bem deve saber que não é só de bons momentos que se faz um relacionamento. E também deve saber que o egoísmo jamais deve imperar numa relação a dois. Portanto, a sua próxima missão será bajular. Isso mesmo. Bajular! Imagine que seu parceiro está muito doente e precisando de carinho e cuidados especiais (apenas imagine!). O que você deve fazer? Sim! Cuidar bem dele e fazer tudo que ele quer por um tempo. Afinal, ele faria o mesmo por você não é?
Mas calma! Antes de xingar, rasgar essa carta em mil pedacinhos e berrar aos Céus que Celeste-sama é um tremendo de um injusto, saiba que o vírus dessa doença imaginária, alterna os dias da semana para se manifestar. E melhor ainda! Atingiu os dois envolvidos na relação. Ou seja, terá o dia da caça e do caçador. Até o final de semana, quero que bajulem um ao outro alternadamente. Nenhum pedido poderá ser negado. E eu recomendo mesmo que não negue. Mesmo assim, qualquer reclamação do seu canceriano, você sabe meu endereço, pode vir até mim.

Tenha uma semana brilhante como as estrelas! ^__^

Celeste-sama e a equipe de Céu.”


Olhou para o ruivo. Ele a olhou de volta apreensivo pela sua reação. A baixinha de olhos azuis então jogou a carta na mesa e soltou uma risada.
- Esse Infernal-sama... Queria saber de onde ele tira essas idéias tão loucas. – desviou os olhos dele.
Ichigo continuou mudo.
- Ahn... – ela voltou ao normal e olhou para ele cautelosa. – A sua carta é a mesma coisa, né?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Ótimo. – ela soltou o ar com força. – Quem vai começar? – diante de novo silêncio, ela resolveu mudar de estratégia. - Você se sente doente? – perguntou puxando um sorrisinho de canto.
Ela cedeu e acabou sorrindo também.
- Acho que sim.
- Legal. O sábado vai ser meu. – ela comemorou.

- Espertinha! – ele fez uma careta para ela.

****

Ouviu a campainha tocar enquanto estava fazendo o chá. Tinha calculado mais ou menos que horas ela chegaria. O mais cedo possível, tamanho era o desespero quando ligara.
- Olá! – Mai abriu a porta sorrindo para a amiga.
- Mai... – Chiharu estava emocionada de vê-la. Fazia tempo. – Maaai! – abraçou forte a loira que ficou sem jeito.
- Chi... – ela riu um pouco colocando os braços em volta da jovem devagar. – Você não é mais criança!
- Ahh eu sei. – ela resmungou sem soltar-se do abraço. – Mas eu senti sua falta. – afastou-se então e olhou para a amiga cautelosamente. Ela sorria como havia meses que não via. Os cabelos continuavam brilhosos e vivos. Usava um lindo vestido rosa de alças com fivelas em forma de estrela. As maçãs do rosto pareciam mais coradas... Embora estivesse com olheiras. – Mai... – pegou a mão dela. – Você nem fez as unhas... E está dormindo direito?
A escorpiana não desmanchou o sorriso.
- Vamos entrar e aí conversamos. Vou servir um chá para nós duas.
Entraram no apartamento e a loira fez o que disse. Serviu o chá para as duas na saletinha e então se sentaram.
- Aqui é tão... Pequeno... – Chiharu comentou. Já conhecia o apartamento, mas ele já era apertado na época que vivia só três pessoas, imagine quatro!
- É... – Mai bebeu um pouco do chá. – Estou dormindo no sofá.
Chiharu quase cuspiu a bebida longe. Ficou boquiaberta e com seus olhos esverdeados arregalados.
- Está dormindo... Nesse sofá? – fez sinal para onde estava sentada.
- Nesse sofá. – ela afirmou sem parecer triste ou incomodada.
- Humm... – se recuperava. – Acho que isso explica as olheiras... – disse baixinho.
- Não. – Mai ouvira. – Isso explica a dor nas costas. As olheiras... Bem. A culpa pelas olheiras é do meu romance. – esticou o sorriso.
E então nos olhos assustados de Chiharu apareceram estrelinhas alegres.
- Está mesmo trabalhando tanto nele? – estava empolgada.

- Claro. Não paro de pensar nisso um segundo. Estou tendo tantas idéias! Preciso te contá-las!
Sorriu tão grandiosamente quanto a amiga. Ela estava feliz. Nada mais importava.
- Mas antes... Preciso saber de algumas coisas. – o sorriso da escorpiana desaparecera e ela se ajeitou no sofá. – Tipo... Sobre a faculdade. Continuam falando de mim? O que estão achando do meu sumiço?
Chiharu sentiu uma pontada no estômago. Droga. Não queria que Mai ficasse sabendo dessas coisas! Estragaria a felicidade dela? Sugaria sua coragem? Ou apenas a encheria de ilusões perigosas?
- Mai... – começou cautelosamente. Percebeu que os olhos negros quase a engoliam de receio e curiosidade. Não. Não teria coragem. – Não... Não se preocupe com isso. – sorriu nervosamente. – Sabe... Só escuto uns comentários de vez em quando...
- E o que eles dizem? – aproximou-se mais no sofá.
- Dizem... Perguntam se você está doente ou foi pra Inglaterra. – ocupou a boca com o chá para fugir da amiga.
- Chi... – ficou olhando-a desconfiada. Parecia estar mentindo, a conhecia bem. Mas alguma coisa dentro de si mesma... Alguma coisa queria acreditar naquela mentira. Era melhor. – E o Ashido? – mergulhou mais fundo na sua agonia.
- Não tenho falado com ele... Sério. – disse dessa vez olhando nos olhos de Mai.
- Hum... Certo. – ficou pensativa por uns segundos.
Chiharu pensou em perguntar se ela pretendia voltar para a faculdade para falar com Ashido e talvez com Fuu. Mas preferiu confiar na sua intuição. E no caráter da sua amiga.
- E então? Vamos fazer as unhas? – Chiharu iluminou-se de súbito. Queria que aquela visita fosse toda alegre. Do jeito que a amiga merecia depois de tudo. E queria que ela continuasse sorrindo daquele jeito.
- Okay, vamos. – ela riu.
- Enquanto isso me conte todas, absolutamente todas as suas idéias!

****

- Você estava especialmente mais bonita nas fotos de hoje. – Aizen disse a Momo quando foram para a sala descansar da sessão de fotos do dia. A menina tinha sido fotografada usando roupas de verão.

- Obrigada Aizen-sensei... – corou avidamente e abaixou os olhos como de costume.
- Está feliz por algum motivo especial? – ele sorria sempre caloroso e confortador.
- Não... – sorria. – É que... Eu gosto muito de estar aqui com o senhor... E te ajudar nos seus planos... E eu aprendi a gostar muito de ser fotografada. Acho que o senhor encontrou algo que eu realmente gosto de fazer!
- Me sinto honrado de poder ajudar uma das minhas melhores alunas... – aproximou-se sutilmente dela. – E amiga também.
O coração da pequena faltou dançar de felicidade.
- Sabe Hinamori-kun... Eu também gosto muito de estar aqui com você. São as minhas tardes preferidas. Mesmo que você seja tão mais nova que eu... Você é madura e alguém em quem eu confio incrivelmente.
- Aizen-sensei... – seus olhinhos brilhavam. – Eu pensei que só eu me sentia assim... – riu timidamente.
Ele riu também.
- Acho que temos mais coisas e sentimentos em comum do que imaginamos superficialmente. – olhava para ela gentilmente. – Mas ainda vamos ter muitas sessões de fotos para descobrir.
- Só... Só sessões de foto? – quando deu por si, estava perguntando.
Ele abriu mais os olhos, mas logo voltou ao normal.
- Quando acabarem as fotos a gente arruma mais uma desculpa. – fez um afago carinhoso nos cabelos presos dela e sorriu bem perto do seu rosto.
Ela sorriu também, com o coração pulsante.
- Falando nisso... – ela desviou o olhar. – Ainda falta muito para terminarmos o book?
- Um pouco... – ele balançou a cabeça. – Falta um pouco...

****

Rukia já ia andando para fora da universidade. Pensava distraidamente se ainda encontraria Chiharu em casa, quando foi parada por uma mão em seu ombro.
- Rukia! – a voz veio em seguida. – Eu vou te levar em casa.
Ficou parada olhando para a pessoa que se aproximara. Era Ichigo. Tinha o rosto levemente corado e os olhos determinados, estava tão sério como se estivesse dando uma má notícia.
- Não precisa, Ichigo. Eu venho todo dia sozinha, posso voltar sozinha também.

- Mas... Naquele dia... – Ichigo parecia meio confuso agora.
- Estava muito tarde, a gente passou a tarde toda estudando, lembra? Hoje eu quero ir pra casa mais cedo. - mostrou-lhe um sorrisinho rápido e virou-se novamente.
- Rukia. – mas ele insistiu. – Eu estou doente, se lembra? Você vai comigo.
Era uma carona, uma coisa boa. Mas aquela imposição a irritou um pouquinho de alguma forma. Não estava acostumada a mandarem nas suas escolhas. Mas, graças ao Infernal-sama, estava se acostumando com tantas coisas que não gostava... Ou talvez com o que não queria gostar.
- Humm... Certo. – resignou-se. – Não é uma coisa ruim para você me pedir. – riu, agora mais leve, deixando de lado a amargura da rebeldia.
- Vamos. – ele respirou satisfeito e os dois se dirigiram ao carro.
Andaram um pouco em silêncio, até ele abrir a boca.
- Não consegui pensar em muitas coisas para você hoje... Acho que foi desvantagem ter começado.
Rukia sorriu.
- Foi você que quis começar. – deu de ombros, mas não com desprezo e sim com bom humor.
Ele olhou para ela com um meio sorriso e tomou um caminho diferente na direção.
- E então? Deu muito trabalho arrumar a decoração do terraço? – Ichigo mudou de assunto.
- Um pouco. – Rukia estranhou a mudança no caminho, mas resolveu não questionar a princípio. – Mas eu tenho fiéis ajudantes!
- Pobres escravas seria o certo. – ele espetou.
- Há! Engraçadinho. – ela torceu o nariz pra ele.
Novo silêncio. O coração de Ichigo acelerava, cheio de algo que queria sair, mas teimava
em hesitar.
- Rukia...
– ele foi espremendo. – Faz quanto tempo... Que você e seu ex terminaram?
A baixinha quase pulou no assento, tamanha a força com a qual seu coração reagira àquela pergunta.
- M-meu ex... – até abobalhou-se um pouco. – Terminamos no comecinho desse ano... Mas... Por que isso tão de repente?
Ichigo abriu a boca, mas fechou-a de novo. Não respondeu.
- Então você... Ainda pensa nele, não é?
Ela juntou as sobrancelhas um tanto aborrecida.

- Ichigo! Onde você está querendo chegar? – sua voz deixou transparecer sua raiva.
Ele olhou mudamente para ela. Mas aqueles olhos castanhos que sabiam ser tão melancólicos, a diziam o suficiente.
- Não é nada... – ele voltou os olhos para frente. – Eu só queria saber se... – seu coração o estava quase deixando sem ar. – Só queria saber se... – Se você sente por mim o mesmo que eu sinto por você, era o que ele queria dizer. Sabia que devia confiar nela e no que existia entre os dois. Mesmo que fosse lento. Era o ritmo deles, já tinha entendido. Mas o monstro da insegurança não parava de puxar seu pé na hora de dormir. Será que não estava entendendo errado? Será que estava sendo otimista demais? O que estava faltando afinal para conquistá-la de vez? – Queria saber se ainda sofre por ele. – disse enfim.
Ela desviou os olhos ainda com as sobrancelhas apertadas. Que inferno de pergunta. Que inferno de coração disparado!
- Ichigo... Você sabe que eu não gosto de falar sobre isso... – ela disse em voz baixa e triste.
Dava para perceber qual era a resposta. O ruivo apertou as mãos no volante e um sentimento quente começou a espalhar-se em seu peito. Seria por isso o medo dela de se entregar e de ter fé? Se pudesse provar a ela que jamais faria o que aquele homem fez...
- Rukia... Por que é que você não confia mais em mim? – disse sem esperar que tivesse coragem mesmo de dizer. – Vamos, é meu pedido de hoje. Você nunca falou dele pra ninguém não é?
Aquilo estava deixando a capricorniana vulnerável demais pro seu gosto. Comprimiu os lábios numa careta irritada. Não olhava para o canceriano.
- Nem pros meus pais. – disse. Tinha medo do que o Infernal-sama seria capaz de fazer se ela não fizesse a vontade do ruivo.
- Não é bom sofrer calada.
- E quem você é pra falar isso? – ela gritou de repente. – Duvido que você saia contando pra todo mundo seus problemas!
Ele assustou-se a princípio, mas logo devolveu no mesmo grito:
- Eu conto pra você!
- Eu também contei pra você! – ela contra-atacou.

- Você sabe que foi obra de muita insistência. E mesmo assim falou pouco sobre seus sentimentos.
Ela cerrou os dentes e preparou-se para lançar nele um golpe final bem malcriado. Mas conteve-se. Ele não estava agindo de má fé, estava? Ou estava mesmo abusando do poder? Aquele assunto ainda mexia tanto com ela assim a ponto de fazê-la cega para distinguir a intenção dos outros?
Suspirou.
- Eu não acredito ainda no fim que teve... – disse baixinho, olhando para si mesma. – Foi minha primeira ilusão e desilusão... Tudo muito rápido. Eu realmente acreditei... Por um pequeno tempo acreditei que o amor podia mesmo ser maior que tudo. E no fundo, o orgulho foi tão maior que o pisoteou em segundos. – ficou com os olhos perdidos por um tempo. O canceriano sentiu medo que começasse a chorar.
- Não era amor... Por isso não foi maior que tudo. – disse depois de algum tempo, cuidadosamente.
Mas o cuidado não foi suficiente. Recebeu como recompensa um olhar transtornado dela.
Como ele podia afirmar que foi ou não amor de verdade? O que era o amor de verdade para ele? Não... Tinha medo do que poderia vir a seguir.
- Quero ir embora. – ela declarou. – Me deixe aqui que eu vou andando.
- Não. – ele negou. - Quem está no poder hoje sou eu.
Ela respirou fundo ruidosamente.
- Okay então. O que mais você quer saber? – a pergunta saiu no mínimo feroz.
- Mas que droga, eu só queria que você confiasse um pouco em mim! Queria poder ajudar! – ele agora também estava irritado. – Você é difícil mesmo, garota. – amarrou a cara e entrou de uma vez na rua da república.
Em poucos minutos estava na porta do prédio. Parou o carro.
- Tchau Ichigo. Muito obrigada pela carona. – ela agradeceu duramente, saiu do carro e bateu com força a porta. – Maldito Infernal-sama! – gritou para si mesma enquanto se aproximava do prédio.
- Droga! – Ichigo abaixou no volante arrasado. – Eu sou péssimo quando estou no controle! – soltou o ar com tanta força que se sentiu tonto. Aquele guru maldito... Sempre tinha que acabar com a paz!

- Me aguarde, Kurosaki Ichigo! Se você sabe abusar do poder, não tem idéia do que eu posso fazer! – Rukia continuava falando sozinha, atravessando o hall do prédio com mil idéias fervendo na cabeça e aquele sentimento amargo borbulhando no coração.

****
- Cheguei. – Ichigo chegou em casa com um bico quilométrico. Atirou-se no sofá e ficou lá respirando pesado. Como pôde ser tão burro? Acabou forçando uma barra, agora ela estava irritada de novo. Já não tinha aprendido que com ela tudo tinha que ser devagar? Mas também... Pra que tanta violência? Ele só queria ajudar! Só queria entender melhor!
- Filho! Mas que cara é essa? – Isshin apareceu e sentou-se ao lado dele. – Já começaram as provas, é?
- Não é isso. – ele respondeu cruzando os braços.
- Então só pode ser mulher... – Isshin cobriu o queixo com os dedos. – Ou a falta de uma hahahaha! – ficou rindo escandalosamente da própria piada.
- Cala a boca! – Ichigo rosnou e levantou-se do sofá a fim de se isolar no quarto.
- Ei, filhão, venha cá! – Mas Isshin puxou-o de volta. – Você não passa tempo nenhum com o pai. Só estuda, vem pra casa, come e dorme... Isso quando não trabalha...
Ichigo ficou parado sem dizer nada, mas ainda com aquela cara azeda.
- Como foi naquele dia com os veteranos? – o pai continuou perguntando, mas agora seu tom de voz estava mais cauteloso. – Eles gostaram da comida?
- Gostaram. – o ruivo resolveu responder. – E a gente estava se dando bem... Eu tinha entendido o esquema deles, mas... Parece que ainda não sou o bastante...
Isshin arqueou uma sobrancelha.
- Como assim não é o bastante? Eles são o quê? Uma gangue da qual você quer participar?
- Que mané gangue! – o tom voltou a ser impaciente. – É só que... Não sei quando posso finalmente... Finalmente conquistá-los... Quer dizer, chegar a eles... Alcançá-los... – os olhos castanhos estavam perdidos e viajantes.
- Humm... – Isshin sorriu de leve sem que o filho percebesse. – Acho que o que falta é um pouquinho de paciência da sua parte.

- Mais paciência!? – ele quase gritou. – Mas eu já esperei tanto...!
- Se já esperou tanto, acho que não tem problema esperar um pouco mais.
- Mas e se eles estiverem arranjando um jeito de me dispensar? – perguntou de um jeito tão triste e frágil que fez o pai lembrar de quando era uma criança chorona.
Isshin passou então o braço pelos ombros dele e os apertou calorosamente.
- Confie em si mesmo, filho. Dê o seu melhor e confie em si mesmo. Continue correndo atrás e não desista. Se você fizer o melhor que pode, não tem porque não dar certo. E lembre-se: a insegurança é uma pedra de tropeço. Chute-a para longe e siga seu caminho!
- É... – ficou olhando para os próprios joelhos. – Eu que sou um idiota mesmo... Além da insegurança, acho que não sei bem como ter o controle nas mãos... Acabo apressando as coisas e pondo tudo a perder... – segurou a testa arrasado.
- Ah, disso eu sempre soube! – de repente a voz de Isshin voltou a ser alegre e piadista. – Você nasceu pra ser passivo, meu filho.
- Como é que é? – o sangue do ruivinho esquentou na hora e seu rosto virou-se bruscamente para o pai.
- Isso mesmo! Passivo! É sempre melhor quando alguém amarra uma coleira no seu pescoço e te mostra pra onde deve ir.
- Eu não sou assim! – cerrou os dentes para o pai. E logo mais o punho também.
- Sinto muito filhinho. – bateu no ombro dele fingindo-se de compadecido. – Administrar o poder é um talento nato. Tenha certeza de encontrar uma mulher autoritária, senão acabará sendo presa fácil de um homem! E ser passivo numa relação gay vai ser bem mais doloroso...
- Sai daqui seu velho idiota! – o caranguejo explodiu vermelho, quase roxo de raiva. – Vai se ferrar!
Isshin saiu correndo rindo da cara do filho, enquanto o mesmo corria atrás dele para mostrar que não era tão passivo assim.

****

Quando chegou em casa, Chiharu já havia ido embora. Mai estava dormindo em sua cama, Rangiku ainda não havia voltado e Momo tinha deixado um bilhete dizendo que estava no vizinho.

Tomou então um banho e se vestiu. Sentou-se na cama de Rangiku e ficou pensando em como se vingaria daquele ruivo abusado. Se não fosse por ele, não estaria tendo que enfrentar aquele furacão por dentro.
De repente, teve um estalo.
- Humm... – Mai começou a abrir os olhos incomodada com a luz acesa e o barulho que Rukia estava fazendo andando de um lado pro outro. – O que está acontecendo?
- Vingança! – Rukia respondeu enquanto enfiava roupas num saco bem grande.
- Vingança? – a escorpiana sentou-se na cama e esfregou os olhos pequenos. – Você está se vingando de quem? – estranhou.
Pensou em não responder, mas com o pouco que já conhecia de Mai, sabia que ela não ia deixá-la
em paz.
- Ichigo.
– respondeu rápido, ainda concentrada nas roupas.
- Vocês brigaram? – Mai acomodou-se na cama e abraçou uma almofada, com um sorrisinho no canto dos lábios. – O que ele fez pra te deixar tão irritada?
Rukia olhou fulminante para ela. Mai então engoliu o sorriso e fez-se séria.
- Mexeu no meu passado. Usou do poder pra me obrigar a lembrar de uma coisa que eu quero muito esquecer.
- Poder...? Esquecer o que? – a loira estava boiando.
Rukia preferiu ignorar por enquanto.
- Pronto. Acho que com isso dá pra começar. – olhou triunfante para o saco de roupas.
Mai franziu as sobrancelhas loiras.
- Vai dar vestidos pra ele usar? – fez um barulho engraçado de riso preso.
- Não! – Rukia sorriu ao imaginar. – Mas até que seria uma boa. – riu. – Na verdade, vou fazê-lo lavar isso tudo.
- Mas na república tem máquina de lavar...
- É, mas e daí? – Rukia deu de ombros.
- E tem vestidos meus aí! – seus olhos cresceram apavorados.
- Melhor ainda. – ela sorriu maldosa. – Ele vai ter que lavar tudo cuidadosamente à mão.
- Hahaha! – a loira achou graça. – E depois vai ter um vídeo pra gente rir da cara dele?
- Humm... – com as mãos na cintura, Rukia fez uma careta pensativa. – É uma pena, mas acho que não.

- Ahhh... – Mai desanimou um pouco, mas logo voltou a sorrir. – Bem, se precisar de umas idéias, estou aqui. Você é muito boazinha para essas coisas... Se bem que eu não devia prejudicar o Kurosaki por nada... – acrescentou a última frase bem baixinho para si mesma.
- Obrigada. – Rukia sorriu para a amiga. – Mas eu espero que minha raiva passe com isso aqui. – sem perceber, já estava sendo piedosa com o canceriano.
- Mas já vou avisando, se qualquer coisa acontecer com as minhas roupas, eu vou me vingar bem feio é dos dois! – ameaçou com as sobrancelhas levantadas.
- Não vai acontecer nada, isso eu posso garantir. – Rukia sorriu vitoriosa.


Continua...


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