Céu escrita por Liminne


Capítulo 25
Capítulo 25 – Vento do destino




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- Cheguei! – Momo entrou em casa nas nuvens. Tinha até esquecido de sua mentirinha. Mas, por precaução, antes de ser tragada por aquele sentimento que não a deixava por os pés no chão, tinha vestido o uniforme.
- Prima! – Rangiku arregalou os olhos. – Estava preocupada com você! Não te vi quando cheguei! – correu até ela num cochicho. – A Rukia-chan tá no banho. E ela acha que você deu um pulinho no vizinho!
- Ah... – ainda perdida, foi voltando à realidade devagarzinho. – Ah! – finalmente localizou-se. – Okay! – fez sinal de entendimento. – Eu acabei indo pra escola... Lembrei que tinha coisa importante... – coçou a bochecha sem graça.
- Hum... – a loira espiou-a desconfiada. – Sei... E a dor melhorou?
- Melhorou bastante! – sustentou o melhor sorriso que conseguiu.
- Acho melhor você trocar de roupa antes de a Rukia-chan sair do banho... – voltou a sentar-se à mesa lixando as unhas. – Ela não vai cair na sua mentira e muito menos deixar você se livrar tão fácil.
Suas bochechas esquentaram. Então não adiantava mentir. Ela sabia que ela esteve aprontando. Bem... Mas não sabia exatamente o quê! Ia até abrir a boca pra protestar, mas ela estava certa. Era melhor trocar de roupa. Rukia não a deixaria em paz de jeito nenhum.
- C-certo. – correu para o quarto em busca de sua camisola.
Foi uma questão de poucos minutos até que Rukia aparecesse, com o cabelo molhado.
- Momo! – sorriu para a menininha que tinha o coração disparado pela agitação. – Como está o ouvido?
- Está bem melhor, Rukia-chan! – sorriu nervosa.
- Que bom! – secou as pontas do cabelo com a toalha. – Já estou indo aprontar o jantar, tá? É melhor você dormir cedo e descansar. Não é bom ficar perdendo aulas.
- É-É... – meneou a cabeça. – Obrigada.
Rukia então foi para a cozinha preparar o jantar enquanto as outras duas ficavam só olhando e esperando. Não tinham jeito mesmo.
Pelo menos Rangiku arrumou a mesa. Obrigada pela capricorniana, óbvio!

- Como foi o trabalho hoje, Rukia-chan? – Rangiku perguntou enquanto comiam.
- Bem... – fez uma pausa pensativa. – Foi relaxante... – suspirou. – Porque o dia na faculdade hoje foi pesado.
- Ahhh é mesmo! – Momo debruçou-se na mesa empolgada. – Era hoje que você ia desmentir o boato, não era?
Os olhos de Rangiku começaram a piscar furiosamente sobre a baixinha. Estavam curiosíssimas.
- Ahn... Mais ou menos isso... – levou um tempinho para colocar as idéias em ordem para explicar. Mas os olhares daquelas duas não a deixariam em paz. – O negócio é que... Descobri coisas... Descobri que a Fuu estava só mandada pela Mai... E que a Mai fez tudo isso pra me tirar do caminho dela... Estava achando que o ex dela estava gostando de mim ou algo assim... – não encarava as amigas.
- Que safada! – o queixo de Rangiku quase caiu. – Quem ela pensa que é pra usar a Rukia-chan assim?
- É! Absurdo! – Momo bateu de leve na mesa. – Tudo bem que a gente também usufrui muito das suas habilidades... – olhou para o prato que comia. – Mas jamais enganaríamos você, Rukia-chan!
- Verdade! – Rangiku apoiou com um punho fechado e o rosto iluminado.
Rukia riu.
- Vocês duas não existem... – balançou a cabeça.
- Mas você está bem, Rukia-chan? – Rangiku ficou preocupada.
- Estou sim. – ela afirmou.
- Você bateu nela? – Momo quis saber. – Espalhou pra todo mundo que ela é uma manipuladora e que inventou tudo?
- Você beijou o ex dela na frente dela só pra irritar? – a peituda estava fervendo.
- Não! – Rukia quase gritou indignada. – Claro que não, Deus! – segurou a testa.
- Então o que você fez? – Momo quase pulava de curiosidade.
- Bem, eu... – ficou vermelha. De repente o copo que estava na mesa se tornou tão interessante para seus olhos... – Eu disse que estava mesmo namorando o Ichigo. E que ele era um cara decente, melhor que ela que era uma falsa... – não ousava trocar os olhos de ponto. – Aos berros.
Silêncio... Silêncio... Silêncio até demais.
Foi obrigada a espiar os rostos. Por que é que não diziam nada?

Deparou-se com os olhos esbugalhados e as bocas escancaradas. E nada se movia, nem os cabelos.
- M-meninas... – ficou mais vermelha. – Não foi nada tão chocante assim, né? – voltou a comer, nervosa. Quase nem sentia gosto.
- C-c-claro que foi! – Rangiku espalmou as mãos sobre a mesa. – Você declarou aos berros que está namorando!
- Está namorando! – os olhinhos de Momo começaram a cintilar.
- É... – amaldiçoava-se por ter aberto a boca. – Foi isso que eu fiz.
- Que lindoooo! – a loira agora se derretia. – A nossa pequena, responsável e virgem Rukia-chan está namorando!
- Está namorando! – era só o que a geminiana conseguia repetir.
- Argh, já chega, né? – finalmente levantou os olhos chamejantes. – Não é que seja uma verdade o que eu falei... Era só pra ela ver se ia mudar alguma coisa na vida dela esse plano idiota. – inflou as bochechas.
- Ahhh, que gracinha! Quando a gente vai conhecê-lo? – a libriana, porém, ignorou totalmente as desculpas da baixinha.
- Quando vai ser o casamento? – Momo foi mais longe.
- Quando vai conhecer a família dele? – insistia.
- Quando vai levá-lo a Kofu?
- Chega!!! – gritou. Até assustou as festeiras. – Já disse que não é como se estivéssemos realmente namorando! Droga!
As duas encolheram-se, agora tristes da vida. Viam a animação voar pela janela dando adeusinho.
- Mudando de assunto... – as pequenas sobrancelhas de Rukia ainda estavam bem apertadas. – Eu quero conhecer o hacker. Quero agradecê-lo pessoalmente.
Os sentimentos naquele apartamento mudavam mais rápido do que alguém podia dizer encrenca. Rangiku sentiu, subitamente, um frio na espinha que a congelou toda.
- Hahaha... – riu pra disfarçar. – Sabe como é... É um segredo e tal...
- Nossa... – Momo observava a prima pensativamente. – Você conhece mesmo todo o tipo de pessoa estranha, né, prima? E ainda por cima criminosa...
As palavras interrogativas de Momo terminaram rapidamente o quebra-cabeça para Rukia. Será que... Só podia ser!

Lançou um olhar chocado e ao mesmo tempo inquiridor para a baladeira da casa. E pelo jeito que os olhos azuis dela pularam para o chão, pelo jeito robótico que seu pescoço se mexeu... Estava na cara.
- Ele voltou? – perguntou baixinho, mas de um modo quase ameaçador. – Ele voltou, Rangiku? – mas ela também tremia um pouco.
Não tinha mais como esconder. Apenas acenou duramente que sim com a cabeça.

****

Estava chovendo quando chegou. Como se fosse em seu coração. Não via nada além do cinza. Mas precisava continuar. Precisava...
- Mai! – Chiharu encontrou-a no corredor e correu em sua direção. – Pensei que não viria! – segurou os ombros da amiga de infância com o olhar esverdeado transbordando preocupação.
- É claro que eu viria, Chi. – ela disse olhando naqueles olhos. – Você sabe que o melhor jeito de alimentar o que falam sobre você é fugir. E isso eu não quero.
Foram andando juntas até a sala da loira. Estava cedo, quase não havia ninguém. Com exceção do ruivo que sempre chegava naquele horário.
Ignoraram-no. Sentaram-se no canto oposto ao dele na sala.
- Chi... – Mai começou receosa. – Você acha que todos vão me odiar agora? – abaixou os olhos pretos para as botas. – Você acha que... Todos vão olhar torto pra mim?
A morena suspirou. Segurou uma das mãos da amiga e olhou-a no rosto.
- Olha Mai... Talvez sim. – sentiu que aquilo tinha ferido a escorpiana. – Mas... Mas você vai continuar mantendo o queixo erguido. E aí todos vão esquecer e... E vão ver que a Mai é a Mai de sempre! – sorriu para animar.
Mas os olhos de Mai começaram a umedecer.
- Mas... – engoliu um nó. – A Mai não é a Mai de sempre. Você sabe disso. Eu sei disso. Ela sabe. Ele sabe. – subiu os olhos para a amiga. – E eu não sei se agüento mais... No fundo ela tem razão, Chi... Não vou ter nada com tanta mentira. O Ashido não pareceu nada diferente depois de saber dos boatos. – fez uma pausa dolorosa. – Não era a Rukia no meu caminho. Sou eu mesma no meu caminho. Ou a falsa eu.
Chiharu mordeu o lábio inferior.

O que faria? Era muito complexo... Não podia mandar a amiga assumir de uma hora para a outra quem ela realmente era. Ela escondeu de todos por vinte anos. Não seria assim tão simples. E as pessoas realmente podiam achar que era louca, cheia de personalidades. Não a entenderiam. Sem querer então, seus olhos verdes caíram sobre um ruivo que tinha o livro aberto sobre a mesa. Mas que por acaso não o estava lendo. Então os olhares acabaram se cruzando.
Sentiu que ela dizia algo com os olhos. Seu coração deu um salto louco. Mas conteve-se. Mirou os olhos nas letras do livro. Não tinha mais nada a ver com aquela história. Não iria mais ajudar. Não era assim tão nobre. Mas... Por que estava sentindo aquela pontadinha incômoda no peito?
- Acho que... – Chiharu desistiu da ajuda. – A única saída é se assumir então, não é?
A escorpiana cerrava forte um punho. Lutava para a lágrima não escorrer. Estava grudada no rímel.
- Como posso fazer isso...? – perguntou baixinho, quase num sussurro. – Como, Chi? – a voz estava falhando. – Chutar a faculdade, as pessoas, aparecer com uma nova personalidade e pensamentos... Meus pais não vão aceitar isso. Ninguém vai aceitar isso! – a lágrima finalmente desceu. Mas a mão da loira foi rápida em secá-la.
Nesse momento, Fuu entrou na sala.
- Fuu! – Chiharu levantou a mão acenando.
Mas a garota de cabelos tingidos apenas continuou andando até um lugar lá do outro lado, um pouco atrás de Ichigo. Abriu sua bolsa e pegou um papel.
As amigas então se entreolharam mudas.
- Kurosaki! – Fuu cutucou o ruivo à sua frente.
- Hun? – ele estranhou, mas procurou parecer natural.
- Venha à minha festa de aniversário. – ela sorriu e entregou-lhe um convite laranja. – É no final de semana. É à fantasia e tem de ir caracterizado, hein? – deu um tapinha no ombro dele. – Vai todo mundo, inclusive vou convidar a Rukia-chan. Não deixe de ir!
O jovem não conseguiu responder nada. Só ficou encarando o convite estupefato. O que estava acontecendo, afinal?

Os olhos de Mai caíram para o chão e em seus lábios apareceu um sorrisinho amargo. Era essa sua nova realidade. Estava entre a cruz e a espada. Parecia que ia ser odiada de qualquer maneira.

****

- A Fuu te deu o convite da festa dela? – Ichigo perguntou para Rukia enquanto eles almoçavam.
- Deu! – ela arregalou os olhos. – Isso não é esquisito? – ela franziu as sobrancelhas.
- Esquisito? Esquisito é ela ter me dado o convite.
- O quê?! – o queixo dela quase caiu. – Ela te deu?
- Deu! – ele afirmou com a cabeça e tudo. – Putz. Essas garotas são loucas, sério!
- São... – Rukia concordou com uma cara de assustada. – E a Mai, hein? – de repente abaixou a voz num suspiro. – Ela está bem?
Os dois quase que inconscientemente olharam para o lado, onde um pouco adiante, estava a mesa que a loira dividia com Chiharu.
- Não acho que seja hora para se preocupar com ela. – o ruivo disse finalmente. – Afinal, ela teve o que mereceu. Cabe a ela fazer o correto agora.
Rukia ainda não tinha certeza. Encolheu-se na cadeira.
- Mas... – voltou os olhos para o canceriano. – Hoje algumas pessoas vieram me perguntar sobre ela... Cheias de gracinhas... – meneou a cabeça fazendo careta de reprovação. – Estou preocupada. Perguntaram o que ela realmente era... Se eu estava tendo um caso com o ex dela... O que ela fez pra me manipular... Se ela fez plástica no nariz... – estalou a língua. – Até se ela era um travesti me perguntaram!
Ichigo cuspiu o suco todo que estava tomando.
- Hahahahahaha! – ria. Era muito raro. – Cara, que mentes bizarras!
- Idiota! – ela gritou. Pegou um pouco de guardanapo e secou os perdigotos, ou melhor, a chuva de Ichigo. – Isso não tem graça! – estava brava. – E além de tudo não tem educação... – bufou.
- D-desculpa... – ele ficou sem jeito. – Foi mal... – coçou a nuca. – É que a mente dessas pessoas fofoqueiras realmente me espanta...
- Só a você? – ela olhou para ele pausando a limpeza. Suspirou. – É o que mais me dá medo aqui...

Ficaram um tempinho em silêncio.
- Ah! – de repente Ichigo lembrou-se de algo. – Mudando de assunto... E a carta do Celeste-sama? Abriu?
- Abri. – ela respondeu meio contrariada. Aquele assunto sobre a Mai ainda a incomodava... Mas em certo ponto Ichigo tinha razão. Ela acabou tendo o que merecia e agora precisava agir por si mesma. Não tinha mais nada que pudesse fazer. Tinha que tocar sua própria vida. – Eu achei absurda!
- É... Bem absurda mesmo... – ele concordou. – Mas pra ele é tudo muito fácil, né? A gente que se estrepe!
- Pois é... – ela fez bico. – Como é que eu vou invadir sua casa e descobrir tudo isso? Aquele cara não pode ser normal!
- Tá reclamando de quê? E eu que tenho que ir pra Kofu?
Ela parou. Ficou encarando-o paralisada.
- V-Você vai mesmo pra Kofu? Só por causa do Infernal-sama?
- Não é por causa do Infernal-sama! – ele resmungou com as bochechas ardendo. – Até parece que eu ia fazer alguma coisa por ele! – virou o rosto.
E ela sem querer sorriu. E sentiu seu coração bater na velocidade que a chuva caía.
- Vou nesse fim de semana. – ele resolveu falar logo alguma coisa para não continuar naquela situação constrangedora.
- N-nesse fim de semana? – ela assustou-se de novo. – E vai perder a incrível festa à fantasia da Fuu? – ou não... – Sua única chance de ter sido convidado?
Olhou para a cara irritante dela de deboche e quase não conseguiu conter um riso.
- Babaca! – atirou alguma coisa de seu prato no rosto dela. – É melhor eu acabar com isso logo, não é? E aproveitar enquanto estou em dia com os trabalhos...
Ela puxou um sorrisinho melancólico.
- Queria muito poder ir com você... Pra ver meus pais... Minha casa... E pra ver o que você ia inventar pra bater na minha porta... – olhava para baixo toda saudosa.
Ele ficou espiando-a meio emburrado e meio comovido.
- E por que não vem comigo?
- Tá louco?! – ela quase gritou. – O que meus pais pensariam que eu vim fazer em Tóquio? Nem pensar... Você não pode levantar suspeitas do que está realmente acontecendo, certo?

- C-certo. – assustou-se um pouco. Mas ela tinha razão. Também não queria que sua família soubesse de nada por enquanto... E aliás, soubesse de quê? Nem ele sabia o que estava realmente acontecendo entre os dois. E por alguma razão... Por alguma razão aquele jeito de ela alarmar-se lhe dava uma impressão positiva... – Mas não se preocupe. – achou-se no dever de consolá-la. - Você vai ter tempo ainda para voltar à sua cidade. – disse enfim, com a voz mais mansa que o normal. – Quando o verão chegar e o Sol começar a torrar sua cabeça, você vai poder correr pras montanhas. – sorriu pequenamente.
- É. – ela animou-se um pouco. – Não esqueça de levar casacos, hein? Mesmo estando quase no verão lá pode fazer um friozinho... É bem mais frio que aqui.
- Certo. Não vou esquecer.

****

- Ashido! Ashido! – foi correndo até ele no fim da aula. A chuva já havia parado, mas as poças espirravam na sua bota.
Os olhos azuis do pisciano quase pularam. O que ela estava fazendo? Virou-se esperando.
- Ashido... – chegou perto, recuperando o fôlego. – Preciso falar com você. E não posso esperar mais... – estava urgente mesmo. Os olhos, mesmo opacos, gritavam isso.
- O que é... Mai? – ele perguntou inseguro. Enfiou as mãos nos bolsos da calça escura.
- Eu... – ela encolheu-se dentro do casaco marrom. – Eu quero saber o que está pensando de mim. – se esforçava ao máximo para continuar olhando naqueles olhos. Não ia suportar continuar guardando aquele desespero. Não em meio a tanto desespero em sua vida. – Por favor, diga logo... Mesmo que me doa.
Ele ainda desviou o olhar antes de responder. Estava receoso. E ressentido. Saberia explicar toda aquela confusão de pensamentos?
- Olha eu... – respirou fundo. – Eu achei péssimo o que fez. Piorou sua situação. Piorou o que eu achava de ruim de você. – fez o que ela pediu. Foi sincero. – Mas... De verdade... – pôde ver as lágrimas brilhando nos olhos dela. – Estou querendo ignorar isso. Estou querendo ignorar você. É isso. Estou querendo ignorar essa Mai.

Essa Mai que sei que não é a verdadeira. – apertou as mãos. – Se eu voltar a olhar pra você, vai ser pro seu verdadeiro você. Não esse. – virou-se. Precisava escapar dali. Não era tão frio assim. Saiu andando.
- Ashido... – ela murmurou, as lágrimas escorrendo. Era isso. Agora estava sendo ignorada por aqueles que enganou. Sua existência falsa estava deixando de existir.
Queria só continuar ali, debaixo da melancolia daquele céu cinzento. Sentindo as botas de camurça se molharem nas poças. Sentindo a leve brisa soprar sua saia. E deixar as lágrimas se derramarem dos seus olhos até o chão, num ciclo vicioso.
Mas não ia perder para sua fraqueza. Tampouco ia vencer sua frieza. Ia apenas embora para casa, esperar que tudo acabasse de desmoronar... E que um dia, aquela ruína desaparecesse para sempre.

****

- Feliz aniversário! – quando Momo chegou da escola, teve a maior surpresa. Ao abrir a porta do apartamento, lá estava Rukia, Rangiku e Toshiro, esperando por ela com um grande bolo confeitado.
- Pessoal! – os olhinhos castanhos brilharam. – Então vocês lembraram! – o sorriso só crescia.
- Claro que lembramos, sua boba! – Rukia riu. – Caiu na velha historinha de acordar de manhã e ninguém te dar os parabéns, é?
- Burrinha! – Rangiku correu até a prima e lhe fez cafuné. – Depois a loira sou eu!
As duas ficaram rindo. E o garoto até sorriu.
- Até o Shiro-chan veio! – ela nem se importava com as alfinetadas. – Eu realmente não esperava!
- É Hitsugaya! – ele emburrou. – Mas não vou encher muito porque hoje é seu aniversário. – cruzou os braços e desviou o olhar.
Já era sexta-feira daquela semana. Aniversário de treze anos da pequena geminiana. Tivera sido um dia maravilhoso até então. Ganhara um lindo vestido de verão azul do seu professor Aizen além de atenção especial na aula. Mas estava esperando mais ansiosamente para saber qual seria aquele outro presente sobre o qual falaram no início da semana. Sabia que estava em algum lugar no seu caderno.

Mas tinha que procurar e esperara chegar em casa pra isso. Mas pelo visto, teria que esperar mais um pouco.
Mas que raio de presente seria esse que cabia em seu caderno, afinal?
- Rukia-chan! – de repente pensou em algo. – Você não devia estar trabalhando agora?
- É... – coçou o rosto. – Na verdade sim... – sorriu. – Mas não se preocupe com isso. Hoje é seu aniversário. Já inventei uma desculpa para faltar hoje!
- Ah! – ela corou toda contente. – Acho que não mereço isso!
- Merece sim! – Rangiku disse. – Apesar de tudo você é uma boa menina. Tanto que a gente tem presentinhos pra você!
- Mais presentes? – quase pulava de alegria.
- Claro! – a loira puxou algumas bolsas. – Pode olhar!
A moreninha então correu até lá. Tirou três embrulhos e foi abrindo-os curiosa e com um sorriso enorme nos lábios.
- Um cordão do Chappy! – exclamou estendendo o dito cujo no alto. – Que lindo! Aposto que foi a Rukia-chan que deu!
- Hehe... Acertou! – ela sorriu de volta. – Eu sei que você adora aquele meu... E esse é ainda mais bonito.
- É! Obrigada Rukia-chan! – agradeceu alegre.
- Veja os outros! – Rangiku apressou.
- Ah! Um CD do Orange Range! – seu rosto iluminou-se. – Foi o Shiro-chan! – abraçou o CD.
- É... Foi... – ele ficou feliz pela óbvia satisfação dela. Mas, claro, preferiu não demonstrar.
- Muito obrigada! Eu estava louca por ele! – riu. – Ahh, agora vamos ver o da prima! – remexeu no último embrulho e tirou de lá... Bem... Uma calcinha minúscula cor de cereja.
- P-p-prima... – ficou da cor do presente no mesmo instante. – O q-que que é i-isso? – tremia de vergonha. Tinha vontade de atirar aquela coisa vergonhosa na cara daquela loira safada. Mas não conseguia nem se mexer. No que ela estava pensando, afinal?!
Olhou para os três e pôde captar a expressão chocada de Rukia. Mas pior ainda, captou a expressão roxa do seu amigo de infância. É. Roxa. De tão vermelho que ficou.

- Hahahahahaha! – de repente, a peituda caiu na gargalhada. – Que idéia ótima que eu tive! – se divertida. E era a única. – Olha a cara de vocês! Hahahaha!
- Isso não tem graça! – a aniversariante esbravejou batendo o pé no chão. Não queria encarar ninguém de novo.
- Deixa de ser boba! – a libriana pegou a calcinha da mão dela. – Isso é só uma calcinha inofensiva. Não morde não! – secava as lágrimas de riso do cantinho dos olhos. – E nem é seu presente. Era brincadeira. – tirou uma outra bolsa de trás de uma cadeira e estendeu-lhe. – Comprei um romance pra você, já que entrou pro clube de literatura e tudo mais.
- Ah... – pegou a nova bolsa ainda trêmula. – Acho bom mesmo... – deu uma olhada no livro sem realmente vê-lo.
- Ah, qual é a de vocês? – resmungou. – Vocês são tão sem graças... – ligou o rádio. – Vamos dançar, vamos! Ficam paralisados com qualquer brincadeirinha!
- V-vamos ouvir o CD novo! – recém-recuperada e tentando ignorar a prima louca, Momo foi até o rádio.
- É. Vamos. – Hitsugaya também se recuperava aos poucos.
- E comam bastante! – Rukia interveio. – Eu fiz bastante coisa pra gente! – voltou a sorrir.
Divertiram-se até a noite. Esqueceram os problemas e os compromissos até que a comida tivesse acabado, a música cessado e os convidados estivessem cansados.
Era uma família... E Hinamori Momo estava muito feliz
em tê-la. Estava muito orgulhosa de ser parte dela.
Em pouco tempo muita coisa havia mudado. Agradecia aos Céus por isso. Agradecia a chegada daquela mulher, que por mais que fosse menor que ela, teve o papel de unir aquela família. Era o mais próximo de ter uma mãe. Esperava poder se esforçar o suficiente para não desapontá-la.
Mas será?
Ainda esperou ansiosamente que aquelas duas dormissem para abrir o caderno e procurar aquele misterioso presente. Um papelzinho.

- Não acredito! – deitada em sua cama, dentro de sua camisola, estava boquiaberta. – Uma agência de modelos? – o coração palpitava e as estrelinhas em seus olhos piscavam sem parar. – Não acredito... – deitou-se na cama contemplando o presente. – Aizen-sensei... Muito obrigada!
Não demorou muito para cair no seu revigorante sono. Tinha sido um dia e tanto.

****

Era muito cedo. Sete e pouca da manhã. E mesmo sendo sábado, Rukia apareceu correndo na estação em seu vestido branco de flores de cerejeira.
- Ichigo! – viu o ruivo ali parado, de mala pronta. Ele ainda estava ali. Que bom!
- Ru-Rukia?! – os olhos dele escancararam-se ao vê-la. O coração queria pular até ela desesperado. – O que está fazendo aqui? – segurava a vontade de sorrir. Não acreditava naquilo... Só podia ser uma visão...
- Ichigo. – chegou até ele. – Eu estou muito insegura quanto a essa sua viagem. – admitiu de uma vez, como um balde de água gelada.
E o peito do ruivo murchou. A vontade de sorrir transformou-se numa veia quente na testa. Então ela não estava mesmo fazendo uma gentileza... E muito menos queria se despedir. Só queria acertar os últimos detalhes... Típico. Não sabia por que ainda se iludia.
- Não vou deixar nada suspeito, que saco! – irou-se. – Já falei isso mil vezes!
- Não é sua reputação que está em jogo! – ela defendeu-se no mesmo tom irritadinho. – O que meus pais pensariam de mim se soubessem? Iam achar que eu insisti em ser independente para... Para... – corou. – Ah, fala sério!
- É. Fala sério! – ele bufou. – Você é realmente paranóica. Até parece que eu quero que seus pais pensem alguma coisa de mim.
- Então tá. – amansou um pouco mais a voz. – Vou tentar confiar nessas palavras. – mesmo assim ainda o olhava de esguelha. – Mas o que você vai dizer pra eles deixarem você entrar?
- Vou dizer que você é a melhor aluna da faculdade, que eu faço jornalismo e que me mandaram investigar sua misteriosa origem. Tá bom assim? – totalmente impaciente.

- Humm... Acho que tá... – ficou pensativa. Tinha alguma coisa melhor? – Posso copiar de você?
- Pode... – ele fez cara de poucos amigos. – Só não se assuste se meu pai se empolgar demais. Eu te garanto: eu não puxei nadinha a ele.
- Ah ótimo. – ela meneou a cabeça. – Então vou me dar bem melhor com ele.
- Engraçadinha! – emburrou.
- Então... – ela tirou da pequena bolsa que levara uma cartinha. Abriu-a. – Temos que completar/descobrir os seguintes itens: uma foto de infância, o lugar preferido no bairro ou cidade, informações de familiares e amigos, no mínimo cinco, perspectiva do quarto, informações vergonhosas, no mínimo três, informações sobre escola ou colégio freqüentado e trazer alguma coisa que acharmos interessante. – voltou os olhos para ele. – Você acha que consegue?
- Eu tenho que conseguir. – ele afirmou. – Não vou me deslocar daqui para o interior pra não cumprir a porcaria da missão, né?
- Hum... – ela ficou pensativa. – Boa sorte pra você... – acabou sorrindo. – Pensando bem, acho que vou curtir um pouco isso... – riu. – Imagino as coisas vergonhosas que vou descobrir sobre Kurosaki Ichigo!
- Ah! – ele arregalou os olhos e corou. – N-não se esqueça que também descobrirei sobre você. – provocou enfim. Mas sabia que o comentário a seguir ia declarar a vitória dela. Ela sempre vencia.
- Não acho que vá encontrar nada muito vergonhoso sobre mim. – gabou-se. – Enfim... Se não conseguir, passe pro próximo item.
- Há, há. – ele já sabia que ia perder, por isso, nem foi tão doloroso.
Chegou a hora de ele entrar no trem.
Olharam-se. Os corações dispararam.
- Não perca o meu endereço, hein! – ela foi recomendando apressadamente. – Tente não ficar muito nervoso, minha mãe é muito boa em descobrir mentiras. Não olhe nos olhos dela! E não se espante com meu amigo de cabelos vermelhos, caso o conheça. Ele fala alto e é meio mal educado, mas é gente boa.

- E você não acredite em tudo que meu pai disser. Ele é louco. – foi fazendo o mesmo. – Procure ter minha irmã de cabelo loiro do lado, a Yuzu. Ela é a mais sensata. Não se assuste com nada, mesmo o que parecer mais bizarro. É tudo normal.
- Se você tiver que dormir lá, pegue uma recomendação de hotel com meu pai. – ela continuou. – Não aceite nada que uma ruivinha de peitos grandes te oferecer pra comer. Mas se ela insistir, não se recuse e nem faça cara feia... Ai, Deus, isso é quase impossível... – murmurou mais consigo mesma. Mas fez as sobrancelhas do ruivo se apertarem mais.
- Esconda seu bracelete do meu pai, pelo amor de Deus! E ignore-o se ele der em cima de você.
Os dois ficaram se olhando. Faltava pouquíssimo para o trem partir.
- Acho que está bom, né? – ela disse. Juntou as mãos no peito. – Vai dar tudo certo.
- Acredite. – ele afirmou. Caminhou para mais perto do trem. – Tchau, Rukia.
- Tchau Ichigo! – andou rapidamente até ele. Segurou-lhe o braço de leve. – Boa sorte. – sorriu. Vou esperar você aqui quando voltar.
Os olhos dele relampejaram. E o coração voltou a fazer festa.
- Vai logo! – ela gritou. – Vão te deixar aqui!
- Ahh! – ele atrapalhou-se e subiu no trem. – Até! – acenou.
- Até! – acenou de volta. E esperou até que os trilhos ficassem solitários...

****

- Mai, o que aconteceu? Você desistiu da faculdade? – Chiharu quis saber, por telefone. Tinha acordado a loira tão cedo.
- Não... Não ainda. – disse. Bocejou. – Chi... Me deixe sozinha.
- Não agüento mais! – ela ignorou o último pedido da amiga e gritou. – Todos os dias, desde aquele último que você foi à aula e conversamos na sua sala, eu vou à sua casa e não me deixam entrar. Sua mãe disse que você está com estafa e precisa descansar... Que droga você inventou pros seus pais?
- Chiharu, me deixa! – ela repetiu. – Eu preciso refletir. Preciso ficar sozinha... Estou perdida... Não quero ser ignorada. Não quero ser odiada. Não quero encarar a minha realidade mais...

- Mai, me escuta... Ainda temos uma a outra, eu vou te apoiar e a gente vai vencer. As pessoas vão esquecer... Só precisamos esperar. Por favor, não se prostre assim...
Ninguém respondeu. Só sabia que ela estava ali pela respiração. Era isso que ela queria? Só continuar respirando?
- Mai? Mai! Responda!
Nada. Continuou ouvindo a respiração incerta dela até... Até o clique que encerrou a ligação.


Continua...


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