Céu escrita por Liminne


Capítulo 14
Capítulo 14 – Prisão chamada Céu




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- Muito obrigado, Hinamori-kun. – o homem sorriu gentilmente.
- N-não agradeça Aizen-sensei. – ela sorriu tímida olhando para baixo. – É um prazer!
Ele continuou sorrindo para a menina até que ela olhasse para ele. Em seguida, desviou os olhos para a janela. – Uau! Já está anoitecendo.
- Oh não! – a garota alarmou-se. – A prima deve estar preocupada!
- Não se preocupe... – ele continuava tranqüilo como sempre. – Eu te levo em casa.
- N-não. – sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha só de imaginar que alguém visse uma cena dessas. – Eu posso ir sozinha...
- Mas não posso deixar. – ele afirmou agora parecendo mais sério. – Eu faço questão. Senão eu que ficarei preocupado.
Ela não teve escolha. Pediria que a deixasse antes das vistas do prédio, pensou. E seu coração acelerou de felicidade.
A Golden Week estava aí... Ia começar logo e nesse tempo não o veria mais... Queria estar perto dele mais tempo possível. Tinha se acostumado mal nesses últimos dias...
- Certo. – encolheu os ombros corando mais e mais. – Obrigada.
Seguiram até o carro do professor e entraram. Começaram a andar.
- E então, Hinamori-kun? – ele olhou para ela. – O que vai fazer no feriado?
- Hum... – corou. – Acho que nada... – torceu o nariz. – Rukia-chan vai viajar e minha prima deve dar umas festas... – abriu um sorriso fraco e triste. – Na verdade eu não gosto muito da Golden Week...
- Entendo... – ele foi solidário com a feição da menina. – Eu também não vou ter tanta diversão assim... Vou continuar trabalhando, sabe? Coisas que devo fazer em casa.
- Uau! Ser professor requer mesmo muito trabalho, não é? – Momo espantou-se.
- Pode apostar. – ele sorriu sem tirar os olhos da direção. – Agradeço por ter uma assistente tão prestativa como você... Não sabe quanto me ajuda!

- E-eu ajudo tanto assim? – o coração disparou lisonjeado. E aquecido. Muito, muito feliz. Aquele sentimento de solidão desaparecera. – Se quiser... Posso ajudá-lo no feriado... – olhou para os joelhos com as bochechas queimando. Talvez tivesse sido muito oferecida.
- Não faria isso com seu feriado... – ele riu.
- Não! – encheu-se subitamente de coragem e olhou para ele. – Eu juro que salvaria meu feriado assim.
Olhou para ela sério. Sorriu com a carinha de determinação... Tão verdadeira...
- Certo. – assentiu. – Vou recompensá-la por isso.
E os olhos castanhos brilharam como nunca. Pela primeira vez teria um feriado inesquecível.
Afundou-se no banco agora contente. O cheiro dele não desapareceria...

****

Algumas horas depois do alvorecer, ela acordou. Abriu os olhos lentamente e esfregou-os junto com um grande bocejo.
- “Sábado” – pensou espreguiçando-se na cama quentinha com cheirinho de sono – “Certo... Sem preguiça...” – um pouco contrariada, mas obstinadamente disposta, sentou-se na cama. Bocejou mais uma vez e levantou rumo à cozinha. As outras duas continuavam dormindo invejavelmente.
Era sábado, um dia antes da tão esperada semana dourada. Mas teriam aula. A turma de medicina teria aula. Era um tanto absurdo, mas a quantidade de conteúdo era mais ainda. E teria o resto da semana toda livre! Mesmo que alguns dias do intervalo não fossem feriados... E estava tudo pronto para a viagem... Veria seus pais e amigos
em breve... Sua amada Kofu!
Então resolveu não reclamar. Ainda dentro de sua camisola branca de mangas compridas com rendinhas nas pontas e laço no pescoço, começou a preparar o café-da-manhã. As pantufinhas de coelhos estavam tão macias nos pés que sentiu vontade de ir para a faculdade com elas... Que loucura! Devia estar sonolenta mesmo!
Esperando o chá ficar pronto, deu um pulinho na caixinha do correio. Não queria nenhum aborrecimento de Celeste-sama enquanto curtia sua Golden Week. Qualquer missão ia deixar pra depois com certeza!

Esperava secretamente receber uma carta do loiro guru apenas desejando uma “Semana dourada estrelada” e pronto.
Ele deveria ser um pouquinho mais como seu codinome gay sugeria.
Encontrou o envelope de Céu. Parecia que ele estava sempre ali...
Abriu-o torcendo para que seu desejo secreto se tornasse realidade, mas acabou tendo uma surpresa.
Ali não havia nenhuma missão, nada escrito com a letra do guru... Não. Ali havia uma lista... E aquela letra era...
Parou para ler. Começou. As sobrancelhas cerraram-se. Os lábios comprimiram-se e os olhos diminuíram. Estava quase rangendo os dentes de raiva. O que era aquilo? Uma estúpida piadinha de mau gosto? Não. Era a letra dele, de Ichigo. Já a tinha visto antes.
- “Velha amargurada”?! “Mais fria que o Alaska”?! “Autoritária como um general”?! – ia lendo em voz alta para si mesma com o tom mais incrédulo e empertigado que conhecia. – Como ele... Quem ele pensa que é?! – bateu o pé fofinho no chão queimando de raiva. – E eu escrevendo sete qualidades desse... Desse ordinário! – levantou o queixo ainda com os dentes apertados. – Imbecil! Isso não vai ficar assim... – amassou a carta nas mãos de tanta indignação.
Sorte que o chá ficou pronto e ela correu para colocá-lo numa xícara. E acabou dando o resto da atenção para o seu desjejum. Senão ia acabar descontando em alguma coisa naquela pobre cozinha... Ou seu sangue ia explodir de raiva.

****

- “Que problema eu arrumei...” – o ruivo pensava sentando-se sozinho na sala de aula. Não tinha ninguém, nem Mai. Provavelmente muitos faltariam. – “Que merda de Infernal-sama!” – tirou novamente do bolso a carta com as sete qualidades escritas na letra de Rukia.
Ao mesmo tempo em que seu coração disparava fazendo-o sorrir quase imperceptivelmente, seu peito se contraía num mau pressentimento. Sim... Ela gostava de seu jeito protetor... Gostava de seu cheiro e do jeito que se vestia... Gostava de sete coisas nele...
Em compensação... Em compensação ele odiava vinte coisas nela!
Nunca mais confiaria em Infernal-sama!

Nunca mais! Essa era sua anotação mental em negrito.
Estava
abrindo o livro da aula para dar uma olhada quando ouviu passos. Seria Mai um pouco atrasada? Ergueu os olhos... Deu de cara com a figura baixinha, alva de olhos enormes azuis, toda inofensiva em seu vestidinho verde claro coberto por um casaquinho branco e delicado até abaixo do peito de mangas três quartos.
É. Com certeza só o rosto era inofensivo... Só aquele vestido... Só aquele casaquinho... Seu coração podia sentir isso.
Os olhos castanhos então fizeram um esforço para pular para dentro do livro, fingindo não tê-la visto. Mas no fundo o dono deles sabia que a atitude não era de muito adiantamento.
- Olá, Ichigo. – a voz dela saiu dura e fria.
Subiu os olhos devagar até ela, em pé a alguns poucos metros de onde estava sentado.
- O-oi, Rukia... – assentiu com a cabeça. – Bom dia. – voltou rapidamente de volta os olhos para as páginas em branco. É. Não estava enxergando nada ali.
A jovem olhou para os lados. Para trás. Não viu ninguém nem ouviu passos. Então voltou o olhar para o jovem a sua frente e cruzou os braços na frente do peito após livrar-se do material.
- E então, Ichigo... Será que você tem alguma explicação sobre isso? – mostrou-lhe a lista, sem cerimônias. O rosto permanecia sério.
- Ora... – ele desviou os olhos. – Eu fiz o que Celeste-sama pediu. Fiz uma lista dos seus defeitos.
- Ah. – ela meneou a cabeça e olhou para a mesa dele. Viu a sua própria lista pousada num canto. – E por que ele mandaria você fazer isso se mandou eu escrever uma lista com suas qualidades? – desafiou-o como se o pobre canceriano tivesse culpa.
- E eu é que sei? – agora o ruivo olhava para a baixinha. – Pergunte a ele se não está satisfeita!
- Há! – ela soltou um curtíssimo riso sarcástico. – E depois eu é que sou rude com as palavras! E você é o rei da delicadeza. Um verdadeiro gentleman. Oh, por favor, case comigo! – mesmo com as palavras, seu olhar era impiedoso e medonho.

- É, eu me esqueci de acrescentar o sarcasmo a sua lista! – ele agora a desafiou de volta, ficando irritado.
- Quem está sendo sarcástico agora?! – ela aproximou-se mais, trincando os dentes e aumentando o tom.
- Grrr... – ele fez o mesmo, mas tentou acalmar-se. Pelo menos por fora. – Eu já disse que não tenho culpa de nada, não venha jogar tudo pra cima de mim! Foi o Celeste-sama que mandou! E, além disso, não escrevi nenhuma mentira nessa droga de lista!
- Nenhuma mentira? Nenhuma mentira?? – ela perguntava incrédula, com um sorrisinho revoltado. – Então eu sou mesmo interesseira e amargurada como uma velha??
- É! – ele olhou firme para ela numa coragem súbita. – Satisfeita? Você é sim! Não fique achando que é a mais perfeita do mundo! Conforme-se com seus vinte defeitos!
- Seu arrogante! Quem você pensa que é para falar assim? Não me acuse de querer ser perfeita, isso não é verdade!
- Então por que é que está reclamando dos vinte defeitos que te apontei? – levantou o queixo e as sobrancelhas pra ela.
- Porque foi muita insolência sua! – ela levantou mais. – Você escreveu um monte de calúnias! Você mal me conhece!
- O bastante para que esses vinte defeitos gritem para mim.
- Se eu fizesse uma lista dos seus no primeiro dia que te conheci, teria muito mais de cinqüenta defeitos! – ela já estava quase gritando.
- Eu não me importo com isso! Não quero ser perfeito. – ele deu de ombros, mas o rosto estava crispado.
- Nem eu! – a voz dela ficou mais aguda e ela quase bateu o pé no chão de nervoso. – Mas você não pode me chamar de fria e materialista! Isso é uma calúnia!
- Não é nenhuma calúnia! – ele bateu na mesa e olhou mais firmemente para ela. – É a verdade! Você é fria como o Alaska, não tenta se aproximar de jeito nenhum, só fica na defensiva enterrando seus sentimentos e usando todos esses nossos encontros, toda essa grande armadilha do destino como um pretexto para ganhar dinheiro! – explodiu de uma vez. Chegou até a ofegar quando terminou.

Seu coração não cabia mais no peito, precisava de espaço maior, se debatia. O rosto certamente estava rubro. E começava a sentir calor, mesmo com o friozinho da manhã. As sobrancelhas continuavam irremediavelmente franzidas.
Ela também se calou. E seu coração também se agitou. Não tanto quanto o do ruivo, mas o bastante para fazê-la refletir por alguns segundos.
Ele estava certo, não estava? Ela realmente estava levando tudo aquilo como um pretexto para ganharem dinheiro no final... E realmente estava escondendo qualquer que fossem seus sentimentos.
Mas espera um pouco... Os dois tinham combinado isso! Sobre o dinheiro. E o motivo era nobre! E que sentimentos afinal estava escondendo? Não tinha sentimento nenhum! Eles só estavam se aturando até o final... Ela não sentia nada por ele... Não! E ele não sentia nada por ela, certo? Não deveria sentir!
- Nós... – foi encontrando lentamente as palavras. – Nós combinamos tudo isso...
Ele desviou o rosto. Por que foi que falou tudo aquilo? De algum jeito se sentia mais leve... Mas por outro lado, estava com medo. Tinha ido fundo demais naquela história toda.
- N-não venha tentar ser poético numa hora dessas só para sair por cima! – o lado que deseja sempre estar por cima da capricorniana veio à tona. Ou seria sua defesa mais uma vez? – Não há armadilha do destino nenhuma! Não venha tentar tirar vantagem porque não sou uma mulher idiota que cai em todas as coisas bobas e falsas que os homens dizem! Você sabe por que estamos juntos, então não inventa e não me xingue por isso!
- Eu não estou inventando nada! – ele gritou sem encará-la diretamente. – Eu não quero merda de dinheiro nenhum!
- Então o que é que você quer?! – o coração dela estava aos pulos. – Quer me azucrinar? Ótimo. Esqueça os sete espremidos elogios que eu consegui te dar, você conseguiu. Você me irrita!
Abaixou a cabeça. Os cabelos cobriram os olhos. Cerrou os punhos. Ela não entendia... Nunca entenderia... Celeste-sama devia estar enganado...

Mesmo tendo passado um mês próximos, não tinham a menor sintonia. Pareciam caminhar, caminhar, um ao lado do outro, mas totalmente separados... Paralelos... Nunca se tocariam em ponto algum. Mesmo que ele fizesse curvas... Se ela não fizesse também, nunca se tocariam.
Talvez ela estivesse certa. Talvez devessem esperar para pelo menos ganharem uma recompensa no final...
Tsc. No que estava pensando? Aquilo era recompensa?
Se quisesse dinheiro não arriscaria seus mais íntimos sonhos e sentimentos nisso. Não daquele jeito...
- O que você quer Ichigo? Porque eu não agüento mais brigar com você e continuar recebendo cartas e cartas que parecem ser mais convites para mais brigas!
- Eu não agüento mais também. – ele disse enfim. Olhou para ela amargurado, mas ainda escondendo o sentimento na sua cara de mau humor.
Talvez Celeste-sama tivesse cometido um erro afinal. Não devia se condicionar tanto... É. Ia encontrar sua verdadeira alma gêmea.
- Já que não quer o dinheiro... O que acha de irmos hoje até o Infernal-sama desfazer essa palhaçada toda? Acho que já deu pra ele se divertir bastante com a nossa cara, não?
Estava pensando exatamente nisso, mas com as palavras dela chocando-se contra seu ouvido, entrando tão ásperas e fazendo tanto estrago, sentiu-as de verdade. Entendeu-as. E o coração resistiu, como uma criança que não quer largar a mãe para o primeiro dia de aula. Doeu.
Olhou para ela assustado. Deu de cara com o rosto sereno dela, com a indignação aparecendo sutilmente nos lábios, nas sobrancelhas e nos braços cruzados.
Devia deixar de ser infantil e ir logo para a aula afinal... Não era o que se esperava dele?
- Eu... – a palavra saiu sem vida, sombria. E nem pôde completar a frase.
Um grupinho de estudantes entrou na sala seguido do professor.
- Ukitake-san, que bom que veio. – o velho professor sorriu ao ver a pequena. Ajeitou os óculos e pôs uns papéis em cima da mesa. – Preciso conversar com você sobre seu trabalho. Muito interessante!

Os olhos azuis até então sérios e indignados começaram a brilhar de satisfação. E foi correndo até o professor verificar o tal trabalho. Deixando Ichigo com sua frase interminada, com seus pensamentos reticentes e confusos... Suspiroso. Resignado.

****

Tinham acabado de acordar, ainda estavam na cama. A morena espreguiçou-se e bocejou pela centésima vez. Olhou para o loiro ao lado. Ficava diferente sem chapéu. Sorriu por ser uma visão quase que exclusivamente sua.
Ele percebeu que estava sendo observado e olhou de volta. Ela sorriu. Ele sorriu de volta.
- Está pensando no quê, Celeste-sama? – ela apoiou as mãos no peito dele e deitou a cabeça inclinada sobre elas.
- Como posso pensar em alguma coisa se acabei de acordar? – ele sorria remexendo os olhos para ela. – Eu não sou um gênio o tempo todo... A máquina demora um pouco pra ligar, tem que ter um defeito.
- Haha. Convencido. – ela saiu de cima dele e deitou-se com a cabeça para os pés da cama. – Sabe que sonhei com aquele seu caso difícil?
- Jura? – ele fechou os olhos. – Parece que está mais empolgada do que eu.
- Na verdade estou um pouco curiosa... Eles já receberam as listas, não?
- É... – ele respirou fundo. – Acho que sim. Estou aguardando a conseqüência... Das duas vai acontecer uma: ou eles sentarão para conversar e entender o que e o porquê de cada um ter escrito o que escreveu ou vão brigar feio. – sorriu novamente.
- Hmmm... E pelo que bem conheço de signos opostos, vai ser a segunda opção, não?
- Por isso avisei que o caso deles demoraria mais tempo...
- Mas não acha que isso seja ruim? Quero dizer, induzir uma briga...?
- Brigas tanto podem juntar quando podem separar um casal... Mas para o segundo caso, o destino não dá bobeira, não se preocupe.
- Hahaha. Claro que não me preocupo. Sei que tem gente manipulando o destino para os dois... – ela riu.
- O destino não é manipulável. – o sorrisinho se espalhou.

- Ah, não? – num piscar de olhos ela apareceu em cima dele, encarando-o de perto com seus olhos amarelos. – Tem certeza Destino-sama? – sorriu maliciosa.
- Ohh... Falando desse jeito, acho que posso pensar no assunto...
Aproximaram os rostos, os lábios quase se tocando e os corpos chocando-se um contra o outro, até a porta se abrir e revelar uma menininha de aparência triste e marias-chiquinhas.
- Celeste-sama... – a vozinha fina foi dizendo. – O café-da-manhã está pronto...
- Obrigado Ururu. – ele acenou por cima do ombro de Yoruichi para a menina.
Ela se retirou olhando para o chão.
- Vamos comer, estou com fome! – a morena dos olhos de gato levantou-se rapidamente sem se importar com as vestes não muito decentes e foi andando até a porta.
- Ai, ai, ai... – ele levantou-se e colocou o chapéu. – Destino cruel...

****

A aula havia terminado. O coração de Rukia estava acelerado... Sim. Dentro de algumas horas estaria dentro do trem, rumo a sua cidade querida, indo ao encontro de seus pais e amigos.
Ia andando até o portão da universidade quando encontrou Ichigo. E lembrou-se do combinado.
- Ah, Ichigo! – ela parou-o. – E então? Nós vamos até o Celeste-sama hoje?
Ele olhou para os tênis. Conteve um suspiro e encarou-a.
- É. Vamos.
Melhor não pensar muito. O destino sabia o que reservava para os dois.
- Então eu vou passar em casa correndo, pegar minhas malas e me despedir das meninas, aí a gente se encontra lá, tudo bem?
- Malas? – ele arqueou uma sobrancelha.
- Ah... Eu vou viajar para Kofu. – ela quase deixou um sorriso enorme enfeitar os lábios.
E o coração do ruivo resistiu mais dolorosamente, como se na comparação, agarrasse firmemente a barra da saia da mãe, fincasse os pés no chão.
- Hum... Certo. Então eu passo para te pegar no seu prédio daqui a uma hora.
- N-não precisa...
- Combinado. Até lá. – e saiu apertando o passo para fora daqueles portões, deixando a imagem da baixinha fitando-o.

****

- Boa tarde meninas! – Rukia entrou apressada em casa. Acenou para as duas e foi correndo para o quarto pegar a mala.
- Boa tarde, Rukia-chan! – as duas responderam em coro, sentadas à mesa da cozinha tomando sorvete.
- E então? – ela voltou correndo. – Almoçaram direito? – espiou-as com os olhos diminuídos.
- Almoçamos sim. – Momo assentiu. – Usamos as últimas economias do mês para pedir comida num restaurante! – sorriu.
- Ah meu Deus! – Rukia balançou a cabeça reprovando. – Eu devia ter deixado comida pronta...
- E então, Rukia-chan? – Rangiku perguntou cheia de sorvete na boca. – Vai mesmo nos abandonar hoje?
- Eu vou... – a pequena sorriu para si mesma. – Mas não vou esquecer-me de vocês, pestinhas. – riu. – Já sabem as recomendações, né? Nada de festinhas inapropriadas para você! – apontou para a loira peituda. – É pra cuidar da Momo!
- Sim senhora! - a peituda bateu continência.
Momo sempre desejou ouvir isso... Que sua prima tomaria conta dela sem falta... Mas quando finalmente teve o prazer de ouvir o desejo se tornando real, sentiu que não precisava mais. A verdade era que não queria mais! Não dessa vez.
- Vê se fala da gente pros seus pais! – continuou a libriana. – Mostra aquela foto que tiramos juntas! – os olhos azuis brilharam.
- Ah, claro! – Rukia sorria. – Estou levando a foto!
Ficaram um tempo
em silêncio. Rangiku e Momo pensavam que, mesmo sendo só uma semana, sentiriam falta daquela baixinha que era uma mãe para elas... E Rukia pensava o quanto sentiria falta das suas “filhinhas”. Mas estava enormemente contente. Seu coração mal cabia no lugar e parecia que batia tão forte que espantaria qualquer sentimento ruim ou doloroso.
Só de imaginar o sorriso da mãe, o calor do pai e o abraço dos amigos... Só de ver a sua casa, seu quartinho com o cheiro das flores da vizinhança novamente...
- Vê se tenta fazer as receitas que eu separei pra você. – quebrou o silêncio apontando para o livrinho de receitas num canto da mesa. – São bem simples, não vai ter problema.

- Vou tentar sim! – a loira sorriu já nostálgica. – Rukia-chan... Será que poderia trazer alguma coisa de Kofu pra gente?
- Que ótima idéia! – Momo aprovou com um aplauso alegre. – Podia trazer um doce, uma lembrancinha...
- Pode deixar. – Rukia meneou a cabeça. – Vou me lembrar de vocês.
Ficaram se olhando mais um pouco até que se abraçaram. Sem planejar, como um ímã, de repente uma estava nos braços da outra.
- Vou sentir saudade! – Momo gemeu.
- Eu tambééém! – a voz de Rangiku era chorosa.
- Ah, meninas... É só uma semana! – Rukia tentava não ficar tão emocional.
Segundos depois separaram-se do abraço.
- Obrigada por tudo. Obrigada por serem minha família. – a jovem de cabelos negros agradeceu com olhos ternos.
- Nós é que agradecemos. – Momo disse em nome das duas.
- Ai, ai! Agora vamos parar com esse melodrama todo! Se eu correr acho que ainda dá pra tomar um banho antes de minha carona chegar! – decidiu antes que aquela despedidinha se tornasse uma novela mexicana.
- Então corre Rukia-chan! E fique bem bonita se for um homem, viu? – a loira piscou.
E, rindo da amiga, a capricorniana andou depressa pelos corredores até chegar ao banheiro.

****

O carro se movimentava pela estrada. Rukia estava calada, pensativa. As imagens de sua terra natal ficavam aparecendo em sua cabeça fazendo-a cada minuto mais feliz. Mas desde que entrara no automóvel do ruivo, aquele perfume cítrico começara a levar-lhe para outro mundo... Outras questões e imagens começaram a pipocar diante de seus olhos... Não era a mesma paz.
Olhou para ele. Estava concentrado na direção. Mais carrancudo que o normal. Não tinha dito uma só palavra desde que dera partida no carro. Aquilo incomodava... Não sabia por que, mas incomodava.
Começou a sentir-se levemente dolorida ao imaginar-se longe do seu bracelete. Dentro de poucos minutos teria que jogá-lo fora, certo?
Mas por que é que estava se sentindo assim? Não deveria estar aliviada por ter menos uma preocupação na vida?

E ainda uma preocupação boba que não a levava para lugar nenhum! É. Era assim que devia estar se sentindo...
Mas talvez nunca mais falasse com o ruivo depois disso... Talvez nunca mais se olhassem direito... Talvez não lembrassem mais um do outro, nem com aquele ponto em comum que tinham que era tão importante para os dois... Talvez não descobrisse mais nada dele. E queria descobrir tantas coisas...
Respirou fundo e o perfume acabou entrando mais em seu corpo. Lembrou-se daquele primeiro dia... Desentenderam-se tão feiamente e depois dançaram como se nada de ruim houvesse acontecido... Com um combinado reconfortante... E depois ficou sentindo aquele cheiro em sua roupa a noite inteira... E chegou a sonhar com possibilidades... Chegou a deixar o coração pensar um pouco...
Não! Apertou as sobrancelhas e repetiu mentalmente que era melhor assim.
Estivera andando por aquela estrada perigosa de novo... Ainda bem que não ia continuar! Sabia muito bem que amor não existia... Imagine se almas gêmeas iam existir! Ainda bem que acordara! Ainda bem que estava se livrando desse atraso antes que fosse tarde demais!
Voltou a pensar
em Kofu. Melhor assim.
Enquanto isso, Ichigo tentava manter os olhos e a mente focados na estrada... Censurava qualquer pensamento que começasse a lhe perturbar...
Não adiantava mais resistir ou se lamentar... Era confiar no destino... E não se deixar deprimir por mais uma tentativa frustrada.
Chegaram até a loja aparentemente simples do guru. Ichigo estacionou o carro e os dois saíram como se estivessem sozinhos.
Foram andando até a entrada. A menininha de marias-chiquinhas que estava sempre varrendo a varandinha da loja pareceu surpresa em vê-los.
- C-celeste-sama! – ela foi dizendo pra dentro da loja meio atordoada. – Seus clientes estão aqui fora! – ouviu-o dizer alguma coisa e voltou-se de cabeça baixa para a dupla. – P-podem entrar... Vou preparar um chá. – largou a vassoura e saiu correndo loja adentro.

Os dois então entraram devagar atrás. No ambiente um tanto quanto escuro, viram a figura de chapéu, hoje sem a mesa e o computador, apenas sentado atrás de uma mesinha baixa, rodeado de almofadas verdes e vermelhas, tomando chá e conversando com o fortão do outro dia.
- Ohhh! Olá! – levantou-se quando viu os dois. – Que prazer imenso recebê-los aqui! – o fortão desapareceu. – Podem sentar-se, Ururu logo trará chá para vocês! – sorriu.
- Estamos com pressa. – Rukia disse logo.
- Hm... Entendo... – o loiro balançou a cabeça sério. – Então... Parece que estão com algum problema... A que devo a visita apressada de vocês afinal?
- Simples. – Rukia sempre tomava frente nas respostas. – Nesse mês que passamos em teste, não fizemos nenhum progresso... Todas as vezes que nos encontramos brigamos e terminamos com raiva um do outro... E essa lista no final, que parecia mais uma armadilha, foi a gota d’água.
- Isso. – Ichigo veio complementar. – Não dá para tentar ajeitar as coisas com uma muralha de gelo orgulhosa!
- Como é que é? – Rukia irou-se com a alfinetada. – É por isso que a gente não dá certo! – bateu o pé. – Ele é um grosso, mas consegue ser mais sensível que uma criança. Qualquer coisinha já está reclamando e chorando!
- Eu não fico reclamando e chorando! – uma veia saltou na testa do canceriano.
- E eu odeio homens fracos e crianções! – ela ignorou o grito indignado dele e prosseguiu de braços cruzados.
- Como se uma mulher fria e materialista pudesse exigir alguma coisa!
- Não me chame de fria e materialista! – olhou para ele furiosa.
- Então vou te chamar de quê?! – ele desafiou-a. – Não dá mais, ela tem razão. – fechou os olhos apertados. – Não dá pra ficar numa situação onde tudo que você tenta é em vão!
- E o que é que você está tentando?!
- Ei, ei, ei! Parou crianças! – Celeste-sama começou a bater palmas para chamar atenção e parar com a discussão. – Roupa suja se lava em casa, tenham isso em mente!
Ururu apareceu com uma bandeja e duas xícaras de chá.
- Er... Querem um pouco de chá?

- Não quero droga nenhuma! – Ichigo berrou ainda de sangue quente. – Quero acabar com isso de uma vez!
- Seu cavalo imbecil! – Rukia berrou para o ruivo com uma cara assustadora. – A garota não tem culpa das suas frustrações! – voltou os olhos segundos atrás chamejantes para a garotinha, agora suaves. – Nós estamos com pressa querida... Mas vou tomar um pouco do chá. – pegou a xícara e a garotinha sorriu timidamente antes de se afastar.
Rukia olhou para Ichigo enquanto levava a xícara aos lábios. Um olhar novamente feroz. Ele estava bufando de braços cruzados e olhos fechados, consentindo a sua culpa de ter sido tão mal educado.
- Então... – feito o silêncio, Celeste-sama interveio. – O que estavam dizendo? De forma civilizada, por favor... – tentou esconder um sorrisinho de prazer.
- Bem... – Rukia pousou a xícara na mesinha e olhou para o loiro. – Estávamos dizendo que não dá mais. Cansamos. Somos ocupados e temos muito que fazer para continuar tentando evoluir uma relação que, ta na cara, nunca vai dar certo. Somos muito diferentes. Odiamos muita coisa um no outro. Um não valoriza as qualidades do outro. Temos pouquíssimas coisas
em comum... E estamos cheios de ficar servindo de palhaços a cada encontro.
Celeste-sama olhou discretamente para Ichigo. Os olhos castanhos eram melancólicos de longe. Suspirava baixinho, sem encarar nem Rukia nem o guru. Era uma espécie de consentimento forçado.
- Certo... – o loiro de chapéu tomou mais um gole de seu chá e voltou a encarar os dois. – E onde vocês querem exatamente chegar?
- Não se faça de bobo! – Ichigo resmungou. – Não está vendo que queremos deixar tudo isso? Não está vendo que queremos desistir? Acaba com isso logo, droga!
Rukia reprovou a falta de educação do ruivo novamente com o olhar. Mas dessa vez ele não se importou. Estava se contendo ao máximo, não agüentava mais aquilo.
- Então não querem esperar até o final? Mas que jovens apressadinhos... Nem parece que ouviram o que eu disse no começo... – balançou a cabeça reprovador.

- Claro que ouvimos! Mas não temos mais tempo nem confiança para isso! É muito estressante! – o tom de Rukia estava ficando cada vez mais impaciente.
- Mas esse não foi o acordo... – Celeste-sama continuava regulando.
- Sabemos disso! – Ichigo quase gritou.
- Ai, ai... Então acho que não tem jeito... – o velho suspirou triste e coçou a testa. – Venham os dois até aqui e me dêem seus braços com o bracelete.
Os dois entreolharam-se e assentiram. Foram até ele e estenderam os braços tentando não hesitar. Rukia olhou para Ichigo. Ele não olhava de volta. O olho parecia querer mexer, mas algo maior não queria deixar.
- Só um instante que vou pegar uma ferramenta! – o loiro virou-se de costas e pôs-se a fuxicar numa gaveta cheia de tralhas.
A dupla então franziu as sobrancelhas curiosa. Será que ele precisava de uma ferramenta para arrancar-lhes os braceletes?
- Ah, aqui está! – a voz dele saiu toda satisfeita.
Os dois tentaram esticar os pescoços mais não puderam ver o que o guru segurava.
Celeste-sama então estalou os dedos e a pouca luz que havia na loja desapareceu. Ichigo e Rukia ficaram assustados, ainda com os braços estendidos.
- Pronto. – Celeste-sama disse e estalou novamente os dedos. A pouca luz voltou.
E os olhos da dupla arregalaram-se de tal maneira que poderia ser julgada impossível.
- O-o que é isso? – Ichigo gaguejou quase sem voz.
- MEU DEUS! – Rukia berrou desesperada. – O que você fez?!
- Chama-se corrente do destino. – o homem de chapéu começou a explicar fingindo-se alheio ao sentimento louco que os dois emanavam de cada poro de seus corpos. – Eu costumo usá-la somente em casos extremos, mas... O destino pediu... Não tem como negar. – suspirou fingindo-se de chateado.
- Me solte agora mesmo! – Rukia berrava com os olhos pinicando. – O que pensa que está fazendo seu velho louco?! Me solte agora mesmo!
Ichigo puxava o braço, mas não adiantava. A corrente estava presa entre os dois braceletes e parecia bem resistente.

- Oh não... – Celeste-sama balançou a cabeça. – Me desculpe mocinha, mas mesmo que você chore, não posso soltá-la... Afinal, vocês estão aprisionados, eu avisei. É a vontade do destino. Devemos obedecê-la!
- E como vamos ficar livres dessa joça?! – Ichigo continuava tentando puxar a corrente, cada vez com mais violência, a voz já saía num rugido.
- Quando vocês se entenderem, eu solto vocês... – abriu o leque e começou a se abanar. – Mas vocês não vão me enganar... Eu estarei observando. E outra coisa! Não achem que poderão cortar a corrente e se livrar tão facilmente. Ela é feita de um material especial e só pode ser solta por moi . – sorriu. – Trato é trato, não é? – inclinou a cabeça com aquele semblante irritantemente satisfeito. – Tenham uma Golden Week estrelada! – desejou do fundo do coração.


Continua...


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