Já haviam se passado oito anos desde que ele a conhecera. Ela estava com vinte anos, e ele, com trinta e quatro. Aquele botão de rosa desabrochou numa linda flor, e ele se sentia orgulhoso por ter acompanhado seu crescimento de perto. Mas isso não compensava a dor de não ter seus sentimentos correspondidos...
    Ele queria se casar com ela e ter dois filhos: Hana, que significa “flor”, e Haru, que quer dizer “primavera”. Eles se chamariam assim por causa da mãe, cujo nome, Sakura, quer dizer “flor de cerejeira”. Seriam uma família unida e feliz. “Mas...” – pensava Kakashi – “...isso não passa de mera utopia.”
    Kakashi caminhava por um lindo bosque repleto de... Flores de cerejeira. Era o começo da primavera em Konoha.
- Hum... Tenho a ligeira sensação de que estou esquecendo algo...
    Ele ficou pensativo e finalmente se lembrou que Tsunade o havia chamado.
- De novo se atrasando, Kakashi? Você não tem jeito mesmo...
- Hehehe... Mas então, por que estou aqui?
- Quero que leve esta caixa de medicamentos para a Academia Ninja. Eu mesma preparei os remédios e estava pronta para levá-los, mas surgiu um compromisso de última hora. Portanto, leve-os até lá. A enfermeira recém-contratada foi solicitada e já deve estar aguardando a caixa.
- Sim. Irei agora mesmo.
    “As aulas só voltam amanhã e a Tsunade já quer esses medicamentos hoje lá na Academia... Gostaria de ter esse senso de responsabilidade...”, dizia Kakashi enquanto se dirigia ao local.
    Ao chegar, ele ficou surpreso ao se deparar com a nova enfermeira.
- Sakura?
- Hum? Kakashi-sensei?
- A Tsunade mandou lhe entregar isto.
- Ah, sim... Poxa, faz um tempinho que não nos vemos!
- Pois é, eu nem imaginava que você um dia trabalharia aqui...
- Hehe... É que eu tenho interesse por medicina, você sabe... E eu queria trabalhar em algo do ramo...
- Hum... Ser médico é uma profissão muito nobre, Sakura.
    Kakashi sorriu. Porém, seu sorriso ficou oculto sob a máscara, e seu rosto levemente corado também.
    A última vez em que ele e Sakura haviam se visto foi perto do Natal, num encontro entre professores e ex-alunos. Shikamaru e Ino revelaram que estavam namorando, Naruto e Hinata passaram a namorar naquele dia após se declararem e... Sasuke e Sakura já namoravam há quase quatro anos. Ela estava radiante contando para Ino seus planos para comemorar mais um aniversário de namoro. Kakashi apenas a observava, feliz por ela estar feliz. Já havia se conformado de que não poderia haver um romance entre eles. Mesmo assim, às vezes a tristeza o assolava...
- Sensei, por que ficou triste de repente?
- Hã? – Kakashi despertou de seus devaneios – Ah, deve ser impressão sua.
    Ele sorriu mais uma vez, colocou de leve sua mão na cabeça de Sakura e foi embora.
    “Quer dizer que, antes de eu ir realizar missões, vou poder passar por aqui e falar com ela...” – pensava a caminho de casa – “Isso vai ser bom, mas ao mesmo tempo bastante doloroso para mim... Nossa, como eu sou idiota! Podia ter aproveitado essas semanas que passamos sem nos ver para tentar esquecê-la, mas...” – Kakashi suspirou – “Mas é mais forte que eu... A saudade que senti esses dias só mostrou o quanto eu gosto dela e que o que eu sinto não é brincadeira.”
    Ele chegou em casa e pegou um livro para tentar se distrair.
- Que droga... Só de lembrar dela preocupada perguntando por que eu fiquei triste já me deixa bobo... Vou dormir que é o melhor que eu faço.
    Então, os dias foram passando. Kakashi continuava a reprimir seus sentimentos e trabalhava normalmente realizando missões; Sakura era muito elogiada pela sua dedicação. Eles sempre conversavam antes de Kakashi ir para as missões. Muitas vezes, ao regressar, Kakashi ia até a Academia perto da hora de Sakura ser dispensada e via Sasuke se aproximar para buscá-la. Ele apenas olhava os dois saindo de mãos dadas. “Por que eu não me apaixono por alguém que esteja ao meu alcance ao invés de sofrer por algo impossível?” – pensava cada vez que se despedia do casal.
    Passaram-se uns quatro meses, e foi quando algo muito estranho aconteceu: Sakura não foi à Academia! Kakashi sabia que ela não era de faltar e ficou preocupado. Decidiu ir até a casa dela depois, já que a missão do dia seria rápida.
    Ao terminar, ele foi até a casa de Sakura e tocou a campainha.
- Pois não? Ué, Kakashi-sensei? O que foi?
    Ela estava abatida. Parecia que havia chorado sem parar.    “Ah, meu Deus... Quem a deixou assim merece uma bela surra.”, pensou Kakashi.
- Eu que lhe pergunto: o que aconteceu para você faltar?
    Sakura abaixou a cabeça e sentiu uma lágrima escorrendo. Enxugou-a rapidamente e, tentando conter a voz de chorou, convidou o sensei para entrar. Este andou um pouco e depois olhou na direção de Sakura, que dizia ao fechar a porta:
- Se quiser, posso preparar um chá...
    Ela se virou, ainda cabisbaixa. Kakashi caminhou lentamente até a garota e, frente a frente, perguntou:
- O que aconteceu, Sakura?
    Sakura começou a chorar e levou as mãos ao rosto.
- Aquele... Aquele idiota!
- Quem, o Naruto?
- Não, o outro idiota!
- Hum... Sasuke?
    A simples menção ao nome do dito cujo paralisou Sakura por um instante e a fez chorar mais ainda. Como num ato de desespero, ela abraçou o sensei. Ele ficou meio assustado com a atitude dela, mas achou melhor retribuir, acolhendo-a carinhosamente em seus braços.
    Sutilmente, ele lhe perguntou:
- O que ele fez?
- Ele... Ele disse que... Os sentimentos dele por mim... Mudaram... Eu... Não consigo aceitar... Não consigo...
    Kakashi a deixou chorar mais um pouco em seus braços. “Tenho que dizer algo para consolá-la...”, pensou.
- Acho que você deveria ver o lado bom dessa situação. Pense o seguinte: você fez com que o Sasuke gostasse de você e viveu um romance com ele, o garoto de quem você sempre gostou.
    Kakashi levantou gentilmente o queixo de Sakura com uma das mãos e, enquanto enxugava as lágrimas dela com a outra mão, disse:
- Então, faça com que suas lembranças com ele lhe tragam felicidade, por mais que vocês tenham tido momentos ruins. Só o fato de já ter vivido tantas coisas com o Sasuke fará você se sentir feliz... – Kakashi sorri - ...certo?
- Ce-certo... Ainda estou meio triste, mas... Vou seguir seu conselho. Obrigada, sensei!
    Ao ver um singelo sorriso se formar naquele rosto que havia derramado tantas lágrimas, Kakashi ficou muito comovido e, claro, encabulado.
- Hehe... De nada!
- Ah, eu queria muito retribuir a sua ajuda, mas... Como?
- Hahaha! Não se preocupe! Já vou indo!
    Quando Kakashi se aproximou da porta, Sakura falou:
- Ei, eu tive uma idéia! Que tal você ir ao festival de Konoha? Nossos amigos vão, e lá eu posso escolher algum presente bem legal para você!
- “Nossos amigos”?
- É! Nossa, como você é desligado... Eu me refiro ao Naruto, ao Iruka-sensei e aos outros! Sabe de quem estou falando, né?
- Aaah, sim... Mas esse Festival não é daqui a um mês e pouco?
- Sim! E então? Você vai, não é? – ela disse, empolgada.
- Hum... Não sei...
- Aaaaah, por favooooor!
    Kakashi ia dizer que pensaria no assunto, mas para não magoar a garota, respondeu que iria.
    Andando em direção ao local onde Naruto sempre comia lamen, ficou a se perguntar, com uma gota:
- Desde quando eu me tornei tão manipulável pela Sakura?