Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 71
Capítulo 71




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/20900/chapter/71

Bilhete de Undercity, enviado com selo da cidade e brasão dos Abandonados.

Sem neve. Sinto tanta falta de neve quanto sinto sua falta.

(sem assinatura)

 - Isso foi uma ofensa velada? E ela está 2 meses atrasada... Como é que ela sabe que estou aqui?!

 - Foi muito fofo... E fui eu que escrevi que viríamos pra cá. – opinou Imladris segurando o anel que estava dentro do pacotinho junto ao bilhete. – Ela sente sua falta... – cantarolou para a amiga.

 - Você leu o bilhete direito? “Sinto falta de neve quanto sinto sua falta.”, pelo que eu saiba ela não gosta de neve!

 - A Dama Sombria vai regularmente aos acampamentos de Howling Fjord, lá é frio e tem neve. Ela deve gostar do frio. Frio é bom.

 - Todo mundo decidiu experimentar cogumelos alucinógenos e nem me ofereceram?!

 - Se esse anel está aqui é porque... – a clériga suspirou tristemente – Príncipe Sunstrider está morto...

 - Quem?! – Kalindorane puxou a orelha de Lady Annie que perguntara crédula.

 - Kael’thas Sunstrider? Último da dinastia Sunstrider de Silvermoon?!

 - Nome de gnomo hippie... – riu Lady Annie, Imladris estremeceu ao ouvir a palavra gnomo.

 - Respeite-o! Ele era o Príncipe! – disse Kali um tanto transtornada por receber carta de Halduron Brightwing.

 - Era. Esse já era conforme informação de Immie. – replicou Sorena apertando um parafuso maior que seu punho com uma chave esquisita.

 - Você não é muito familiarizada com autoridade não é? – perguntou Kali para Lady Annie, a menina tomava raspadinha gelada azulada e sapateava conforme o ritmo da música da trupe de Silas Darkmoon tocando ao ar livre para os Campeões da Horda.

 - Pra quê? Só atrapalha. Se todos tivessem noção do que fazer e como fazer o certo não precisaria de líderes, leis e tudo mais. Tudo acordo tácito feito culturalmente.

 - Mas que raios você está falando? – Ox protestou ofendido.

 - Anarquia. Escute porque sua irmã gosta disso... – disse Imladris folheando algumas páginas de seu livro. Sorena concordou alegremente.

 - Porque pensa bem! – continuou a mais nova meio-elfa. – Se eu sei que não posso roubar a fazenda do meu irmãozão aqui porque é errado, porque isso vai prejudicá-lo e isso pode ocasionar uma briga em família, então pra quê fazer? Já tem uma lei interna aqui dentro... – apontando para o peito de Ox que prestava bem atenção nela. – Não precisa um mané almofadinha homologar que roubar é crime!

 - Não faz sentido algum...

 - Se todos soubessem que tirar a vida de outrem não é um direito adquirido nosso, ninguém se matava, não tinha guerras, nem precisaríamos de paladinos, clérigos, arqueiros-vigia e muito menos feiticeiros! – a risada de Imladris assustou Ox.

 - O que foi?

 - Nada não, tou rindo aqui do meu livro... Gente como eu era novinha! Só eu mesmo pra escrever uma porcaria dessas...

 - E se estou ciente que invadir a casa de alguém é proibido porque traz discórdia, lutas, blábláblá e pilhagem e escravos e coisas do gênero, pra quê então eu vou invadir?!

 - As pessoas precisam estabelecer lugares para se viverem, oras... – disse Ox com o cenho franzido, mas ele próprio se sentia confuso.

 - Ooooh sim porque quando Stormwind invadiu aquela mina em Burning Steppes ninguém discordou do quão legal seria não é? – opinou Sorena errando na mira e fazendo o parafuso voar e atingir um gnomo na cabeça. – Foi maaaal!! – saindo pra catar a peça.

 - Aquela mina trouxe prosperidade ao nosso povo!

 - Alguém chegou a perguntar aos kobolds o que eles acharam de serem chutados do lugar onde viviam? – foi a vez de Annie falar.

 - Essa é a grande diferença entra a Aliança e a Horda... – murmurou Imladris ainda entretida em seu livro de anotações.

 - Vai pensando. E o Campo de Madeira de Warsong? – Imladris a olhou com um brilho assassino nos olhos. – Todos os escravos de pilhagem da Horda vão para lá, trabalhar sabe-se lá quantas horas por dia! E a Floresta Nightsong? Indo para o beleléu e ninguém faz nada! Aí vem uns druidas elfos da noite pra tirar satisfação, aí quero ver! Porrada na certa!

 - Como é que você sabe tanto sobre os campos de trabalho? – perguntou Kali. Annie deu um sorrisinho malicioso e se espreguiçou.

 - Tenho as minhas fontes...

 - Essa menina tem futuro... – opinou Sorena pegando Lady Annie de lado e coçando sua orelha pontuda.

 - Sua desastrada, sacripanca, orelhuda de uma figa!! – xingava o gnomo atingido.

 - Já pedi desculpas. – Ox instintivamente segurou Imladris pela cintura, fingindo estar a abraçando. A esposa já estava tão vermelha quando a irmã fazendo esforço no parafuso.

 - Mundo sem leis? – disse Kali semi-acordada. – Só em sonhos... – amassando bem a carta e jogando na fogueira ali perto. – Estou me sentindo tão cansada ultimamente...

 - Deve ser o clima. – respondeu Sorena rapidamente errando novamente o parafuso.

 - Mas meu corpo... está muito pesado... Mal consigo manter o andar...

 - Você deve ter bebido ale de anão. De novo. Isso não é bom para uma Arqueira-Vigia, desiste dessa vida e vai dormir.

 - Desde quando você se sente assim Kali...? – perguntou Immie com certa desconfiança.

 - Ahn... desde depois daquele almoço de anteontem... Eu acho...

 - Kali volta a dormir, você parece cansada... – disse Sorena empurrando a cabeça da arqueira sonolenta para dentro da carroça que se alojava ao lado da Tenda da Horda. Imladris a olhou mais desconfiada ainda, mas preferiu se irritar com o gnomo que continuava a proferir rudezas contra a elfa mais nova. Lady Annie resolveu mostrar sua nova aquisição na tenda dos Argent Crusaders, uma adaga de lâmina torta e com ponta finíssima, a menina começou a cutucar as unhas com o objeto e deu um olhar feroz ao gnomo incomodado.

 - Sinto saudades de Ambush criaturas humanóides de baixa estatura... Era tão legal quando eles faziam aquele barulhinho esquisito quando a faca passava pelos pulmões...

 - Ox, me ajuda aqui? – o irmão se abaixou e com um leve torcer de mão tirou o parafuso do lugar. Sorena o olhou decepcionada.

 - O que foi? Não ajudei não?

 - Eu preciso de comer mais feijão, só pode. – murmurou para si mesma.

 - O que foi? Sério, você tá nessa desde manhã...

 - Parece absurdo se eu disser que desde que cheguei aqui, sinto que não consigo nem fazer fogo com magia?

 - Fazer fogueiras aqui é quase impossível num frio desses. A lenha sempre está encharcada e... – Immie cutucou o esposo nas costelas, Sorena olhava para as próprias mãos.

 - Será que perdi meus super poderes élfico super poderosos?

 - Faz tempo que você não pratica não é? Podemos duelar a hora que você quiser... – acalmou Imladris com um sorriso confiante.

 - Oh não não!! – exclamou a mais nova rapidamente. – E-e-eu não quero voltar a ter... ter... você sabe... E eu melhorei e agora eu...

 - MANHÊ!! – gritou Lady Annie esganiçadamente e em uma nota mais aguda. Oxkhar tapou os ouvidos com uma careta. A menina saiu correndo pelo caminho e abraçou bem a ex-amazona da morte que circulava o Torneio como se estivesse em um universo paralelo.

 - Ela tem o dom de estourar tímpanos... – comentou Oxkhar limpando o ouvido esquerdo. Imladris o beijou no rosto e sorriu.

 - Ela é uma criança empolgada...

 - Reclama tanto, mas nem sabe o que é ter orelhas maiores que a cabeça... – resmungou Sorena montando na motoca-hog que acabara de montar com a ajuda dos amigos. – É como colocar um balde na cabeça e jogar todo tipo de som lá dentro só pra gente ouvir, né Immie?

 - Não sei de nada... – enlaçando o braço de Ox e o beijando no rosto novamente até ele ficar corado.

 - Vou dar uma volta. Se eu não voltar em 5 minutos... Espera mais um pouquinho!! Hahahaha!! – rindo histéricamente e dando a partida no amontoado de lataria velha e peças de motor de goblin alojados em uma estrutura frágil com duas rodas enormes e um carrinho mínimo acoplado ao lado.

 - Vê se não atropela ninguém! – advertiu Oxkhar acima do som do barulho ensurdecedor e de estouros de escapes.

 - Vê se não é atropelada! – essa foi Immie. Sorena abanou a mão e se equilibrou na motoca-hog como se fosse a coisa mais natural do mundo. O veículo tremelicou na neve e saiu marcando o caminho com respingos de óleo, vapor e muito barulho.

 - Como ela tem cabeça pra essas coisas? Mesmo depois de ver aquilo tudo lá embaixo no cais?!

 - Ela funciona desse jeitinho esquisito mesmo... – e suspirando levemente e gostando do ar pesado e úmido da tarde, ela se aninhou mais ao lado de Oxkhar.

 - Com frio?

 - Não quando você está por perto... – os dois se olharam rapidamente e riram ao mesmo tempo por saberem exatamente o que um pensava do outro.

 - Ali tem raspadinha de frutas de cor azul. É bem gostosa! E ali o tio Leôncio vende peixe empanado com limão por cima, nham nham! Comi muito ontem, mas o Ox disse que faríamos competição de quem limpava a tigela... – tagarelava Lady Annie em volta da mãe e apontando os lugares que conhecia no Torneio. Joannes estava tão fora dali que seu olhar se perdia fácil nas nuvens, no chão, em algum lugar além. A menina não se intimidou pela falta de atenção dada as suas narrações, mas de vez em quando segurava sua mão gelada pela morte, ou a puxava para continuar a caminhada. Após andarem por toda extensão do Torneio e verem muitas coisas, Joannes foi obrigada a parar bem na arena onde o Cavaleiro Negro estava desafiando um campeão. Pelo andamento da luta, os dois acabariam desmaiando de tantos golpes dados um no outro. Ela se demorou observando cada movimento do morto-vivo, o olhar brilhante e gélido de uma amazona da morte que recuperara a consciência por acaso. – Mamãe...? – a menina disse em um fio de voz, garganta tremendo e olhos vidrados na pele pálida e azulada da mãe morta-viva. – Manhê... Olha pra mim...? – Joannes não a escutou, estava agora se recordando de alguma coisa. Um duelo como aquele. Um treinamento, achava. Olhou para as próprias mãos e ainda sentia o sangue fresco dos combatentes em contato com sua pele gelada. Ainda ouvia os gritos agonizantes dos sobreviventes. – Mãe... Por favor... Olha pra mim? – pediu Lady Annie com um tom choroso, ela já estava sentindo algo muito estranho emanar do corpo da mãe. Algo que ela só sentia quando a Morte estava muito perto de si. – N-não vai a nenhum lugar onde eu não possa te perseguir...?! – a menina esganiçou segurando Joannes em um abraço bem apertado em sua cintura, encostando sua orelha pontuda bem perto da onde seria o coração de sua mãe e fungando insistentemente. Odiava sentir-se inútil quando a mãe enfrentava os demônios internos.

 - Não vou a lugar n-nenhum, querida... – respondeu Joannes enlaçando as costas da filha única e dando um beijinho breve em seus cabelos. – Não vou mais a lugar nenhum... Você é o meu lar agora, entendeu? – a garota ladina a olhou com olhos marejados, grandes olhos acobreados que faziam Joannes se arrepender amargamente de ter desistido de sua missão. Desistido de seu destino. Lady Annie concordou alegremente e abraçou mais a mãe. Joannes olhou ao redor e percebeu no olhar maligno vindo do Cavaleiro Negro, que acabara de derrubar um dos competidores a campeão de Silvermoon com um golpe mortal no pescoço.

 - Que-quer ver a Feira Darkmoon? T-tem algodão-doce lá... – pediu a menina com um olhar pidão. Joannes sorriu tristemente e acariciou os cabelos desgrenhados pintados de verde vivo da menina.

 - Vamos sim... Algo me diz que esse seu estômago não vai parar de pedir coisas para comer... – e dando as costas à arena, as duas seguiram pelo caminho de volta a Tenda da Horda. – Aonde será que aprendeu a comer tanto desse jeito?

 - Papai disse que eu tenho um vórtice na minha barriga...

 - Eu não duvidaria... – riu-se Joannes com sua típica voz espectral.

 - KALINDORANE WILLFIRE!! – gritava o anunciante no megafone instalado acima da grande arena principal. – KALINDORANE WILLFIRE FAVOR SE APRESENTAR NA ARENA VALIANT IMEDIATAMENTE!! SUA PRESENÇA É URGENTE!! KALINDORANE WILLFIRE DE SILVERMOON!! Alguém ache essa garota sim? – disse mais baixo e logo dois Argent Crusaders que cuidavam da segurança do local desceram a torre de transmissão do Torneio. Sorena esfregava as mãos maliciosamente e sorria macabramente para o filhote de pantera que a olhava de lado. Algumas cartas que ela enviava já eram despachadas magicamente.

 - Acha que temos que acordar sua dona? – Scido miou baixo e bateu uma das patinhas no montinho de neve perto da caixa de correio para se comunicar. – Nãããããoooo não é? Deixa ela lá dormindo... E dormindo... É melhor pra ela, pra todos nós, principalmente pra mim que não irei catar pedacinhos dela e...

 - MYRTAE WINDRUNNER!!! – gritou alguém atrás dela. Era Kalindorane com uma veia tencionada na têmpora bufando cambaleante, olhar doentio e pálida como um cadáver.

 - NÃO ME CHAMA DESSE NOME FEIO!! – gritou ela de volta dando língua para fora, logo a língua mostrada foi pega pela arqueira-vigia com a ponta dos dedos e puxada com violência até um canto reservado. - Gaaaaaaaaaaaah!! – exclamou ela tendo a língua resfriada imediatamente por causa do frio da tarde.

 - Como você foi capaz de fazer isso comigo?! – exclamou Kali não soltando a língua. – Você envenenou a minha comida, me fez ficar capotada naquela carroça por 4 dias, eu perdi TODAS as competições previstas pro calendário da semana, envergonhou meu nome perante TODAS as cidades de Azeroth e ainda fica rindo da MINHA desgraça?! – o filhote de pantera bateu a patinha novamente concordando. Sorena o olhou com raiva. – Por que fez isso comigo?! Pra se divertir?! Pra ter seu momento de traquinas Windrunner?! Pra ficar fazendo chacota com o meu nome?! – e percebendo que a outra não iria responder nada com a língua presa, ela a soltou. A mais nova fez uma careta para arrumar a mandíbula e salivou bastante para esquentar a língua semi-congelada. – RESPONDA!!

 - Primeiramente, tudo isso foi para o seu bem estar pessoal... – disse a mais nova enroladamente pela câimbra que dera no maxilar. – Segundo: Você não perdeu todas as competições, só no final de semana que tem arco-e-flecha e tiro-ao-alvo...

 - Mas que diabos você tava tentando fazer?!

 - O que acha que eu fiz? Você que comeu comida estragada e ficou aí capotada!

 - Immie descobriu acônito de lula bruxuleante na minha sopa... O que me diz disso? – Sorena deu de ombros cinicamente.

 - Culpe os ladinos? Eles que usam venenos pra fazer pessoas capotarem... acho... eu... – fazendo mais caretas para se acostumar com a sensação de dormência.

 - Eu vou te matar. Bem devagar e com uma flecha cravada pela sua garganta, bem aqui!! – apontando rudemente um ponto abaixo do queixo da menina e a empurrando contra a carroça. – Por que fez isso?! POR QUÊ??? – agora a segurando pelo colarinho.

 - Eu já disse, eu não sei o que você está falando...!!

 - Caramba... Aquele cara matou outro competidor na Arena dos Valiants... – comentou um competidor estafado para outro ao entrarem na Tenda da Horda. – E com as mãos vazias! Transformou a cabeça do elfo em geléia...

 - Quantos ele já enterrou?

 - Com o contagem geral desde o começo da semana? 17 até agora... E caixões às vezes não tem espaço para o que ele faz com os pobres coitados... – Kali olhou para os dois combatentes cansados, depois para Sorena e depois para suas mãos segurando bem o colarinho da mais nova. Tirou as mãos rapidamente e olhou envergonhada para o chão.

 - Gastei meu dinheiro todo com a motoca-hog. Não tenho mais pra fazer um caixão pra você e mandar de volta pra Silvermoon... – Sorena disse apenas, arrumando seu colarinho e contornando a tenda para voltar a mandar suas cartas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.