Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 60
Capítulo 60




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Undercity semanas depois.


– Neve!! Neve!! Cadê a neve?! Hein, hein? Cadê a neve? Por que não tem neve, hein? Hein? Não tem neve por quê? – as perguntas de Lady Annie faziam Mistress Carrie massagear suas pálpebras e concentrar toda sua força de vontade para não estripar aquela criaturinha inquieta. – Em Howling Fjord tinha neve, em Dragonblight tinha neve, até lá em Dalaran tinha neve, por que aqui não tem neve?

– Quando é que você foi em Dalaran?! – a aracnídea questionou por achar a informação absurda. Suas fontes haviam rastreado Lady Annie apenas em três lugares durante sua fuga de Valgarde. A garota deu de ombros mastigando seu biscoito doce que os Orcs de Durotar ofertaram para as tradições do Banquete de Inverno. – Você foi em Dalaran?! – pegando a garota pelo braço e a içando consideravelmente acima do chão. Annie sequer se importou com a violência e continuou comendo seu biscoito.

– Umas duas vezes só essa semana...

– O QUÊ?! COMO OUSOU...?!

– Posso fazer o quê se sou poderosa pacas e posso estar em dois lugares ao mesmo tempo? Ah como é chato ser gostosa...

– Eu vou te ferver em óleo quente sua miserável!! – a jogando no chão e a cutucando com as quelíceras, a garota se afastou rapidamente e riu da nerubiana.

– Você é tão fácil de provocar... Calminha tá, estresse mata aranhas com mais rapidez que seilá... Leite é ruim pra vocês não?

– Não mude de assunto!! Você foi para Dalaran?! – Lady Annie subiu em uma elevação para ficar cara-a-cara com a sua “dona”. Com um olhar penetrante, a meio-elfa soltou:

– Estou vendo uma ruga. Bem abaixo do olho esquerdo. – e descendo da elevação, apontou indiscretamente para o nariz da aracnídea bem mais alta que ela. – Tá ficando velha hein, tia? Daqui a pouco terei que te chamar de vovó Carrie, hahahaha – e recebeu um tapa bem dado na cabeça, mas ainda sim não parou de rir. De tantos e tantos, ela escapava da suposta “surra” que Mistress queria dar-lhe, como o Trade Quarter era o lugar favorito de Lady Annie, ela conhecia cada canto como a palma de sua mão e usou bem seus conhecimentos para fugir das investidas da nerubiana enfurecida.

– Volte aqui sua criaturinha desprezível!! Saco de ossos podres!! Filha de chocadeira!!

– Opa, opa, opa! Não meeeexe com a minha mãe não!! – a garota apareceu de um canto rodopiando em um pulo para trás e puxou bem a barra do vestido de Mistress, esta se desequilibrou e tropeçou nas patas traseiras. – E filha de chocadeira é vossa senhoria já que junto com essa sua carcaça deve ter vindo trocentos ovos ao mesmo tempo... – a nerubiana se levantou com o orgulho ferido e planejou o bote perfeito para castigar a menina. – Sabia que as Aranhas-Rainha podem ter mais de 200 ovos ao mesmo tempo? – voltando a comer e falando com a boca cheia. – E a maioria deles serve apenas para soldados ou como adubo? – as duas voltaram a caminhar para os corredores detrás que levavam as Quadras circulares da cidade. – Então se sinta feliz, de 199 de seus irmãos nascidos naquele parto infeliz, apenas você serviu pra alguma coisa que preste... – dando um sorriso exagerado e oferecendo o biscoito comido para ela.

– É feito com leite.

– Oh sim, a Sor me disse que isso é veneno pra vocês... Por isso que tem tanta inveja dos mamíferos? Por que podemos beber leite e tudo mais? – a nerubiana foi agüentando sua raiva crescente até chegarem a próxima ponte. Lady Annie subiu a rampa como uma criança feliz e empolgada, praticamente dançando, mas percebeu tarde demais no seu deslize de ficar tagarelando e não observar o inimigo. Mistress Carrie delicadamente a empurrou para fora da ponte e com destreza a fiou pelas pernas para que ficasse de cabeça para baixo debaixo da ponte. O biscoito ficou boiando nas águas esverdeadas do esgoto e a garota chiou com irritação. – Meu biscooooitooooo!! Tava tão gostosooooo!!

– Medite um pouco sobre sua vida imprestável aí embaixo, querida. Volto quando o sol se pôr...

– M-mas não tem como ver quando o sol se põe aqui!! – a garota gritou se contorcendo inutilmente para se livrar da teia grudenta em volta de seus calcanhares. Seu rosto ficava avermelhado pelo fluxo de sangue descer aos poucos. Mistress sabia bem o que isso causava nos mamíferos depois de um tempo. – Não me deixa aquiiiiii!! – os passos estalados das patas de Mistress sumiram do alcance auricular de Annie e ela se contorceu toda em um espasmo de nervosismo. Ao se acalmar e colocar a cabeça no lugar, ficou a deliberar em como sairia dali. E se saísse teria que preparar um belo banho, porque aqueles esgotos não tinham uma aparência muito boa para se nadar. Não havia nada nem ninguém ali para ajudá-la e tentar chamar a atenção de alguém poderia ser pior. Colocou as mãos na cabeça já latejante de dor e tentou não se desesperar. Seu estômago roncava de fome. – Eu quero a minha mãe...! – a menina resmungou chorosa.


Icecrown – arredores do Torneio Argent no mesmo dia.


O elfo guerreiro corria o mais rápido que podia. Sempre olhando para trás e levantando seu arco para atingir seja lá o que o perseguia. Algo vinha pelo céu em seu encalço e outro rastejante no chão. A coisa que encontrara perto da crosta vazia de onde a Rainha dos Dragões Azuis - Syndragosa levantara de seu túmulo como uma monstruosa liche - o perseguia desde então. Ele sabia que haveria uma chance se pudesse chegar a estradinha que ia para o Torneio. As torres de vigia estavam ali, bem no horizonte, as flâmulas balançando agitadas pelo vento frio e castigador. Deveria chegar até lá, deveria contar aos outros o que vira. Quem vira. Subitamente sentiu-se preso ao chão, como se uma armadilha invisível houvesse grudado suas solas ao chão cheio de neve fofa. Elderion Lórien não deixou que sua coragem fosse embora nos últimos momentos de sua vida. Um grasnado horrendo veio de cima e ele não conseguiu visualizar o que estava lá nos céus. O grito estridente de um monstro atingiu seus tímpanos e ele se contorceu de dor, colocando as mãos instintivamente nos ouvidos. Deveria se livrar daquilo e contar o que vira. Por tudo que mais prezava em sua vida, pela sua família lá em Silvermoon esperando uma notícia sua sobre o Torneio, pela memória de seus parentes mortos em Dushwallow e na Invasão de Quel’Thalas, ele tinha que contar para alguém quem ele viu saindo dos Portões dos Argent Crusaders. O ar ficou pesado e difícil de se respirar, crostas de gelo e faíscas mágicas o envolveram por completo. Uma silhueta se aproximava com algo abominável ao lado. Um cavalo decrépito e de chifres torcidos. Em seu redor, a silhueta tomou forma humanóide e ele exprimiu um grito de horror.

– J-joa-joanes...?! – ele tentou reconhecê-la através do elmo em formato de caveira humana que ela usava. –Joannes, sou eu! Seu irmão! Elderion! Por favor, você se lembra de mim? Joannes, estávamos atrás de você desde que sumiu! Por favor me ouça, não precisa ser desse jeito, eu... – a aura emanada pela amazona da morte aterrorizava o elfo mais novo. – Joannes, por favor, me escute! Sou eu, Elderion! Seu irmão mais novo! Eu era pequeno quando você foi para Dragonblight! – o grasnar se tornou mais alto e isso distraiu o elfo aterrorizado, o seu perseguidor dos céus se apresentou com seu grifo enegrecido. – Você não vai se safar dessa, seu desgraçado! Mesmo que me mate, eles irão descobrir! O Argent Crusaders irão investigar sobre todas as atrocidades que você cometeu longe das arenas!

– Tua alma será bem vinda ao Poderoso Rei Lich, e assim vai ser... – anunciou o Cavaleiro Negro do Culto dos Amaldiçoados. Joannes o interrompeu com a sua espada rúnica. Os dois se encararam por um tempo, Elderion tremia no lugar, tentando de todas as formas em não se render, não se acovardar nos últimos instantes de sua vida.

– Eu te amaldiçôo, seu verme desprezível!! – Elderion cuspiu aos pés do Cavaleiro Negro. – Nossa vitória prevalecerá acima de teus interesses mesquinhos! – e se virando bruscamente para Joannes, a perigosa amazona da Morte, ele concluiu. – Pelo Sunwell!! Por Quel’Thalas!! – ele engoliu em seco após gritar o seu mote com orgulho. Uma fina adaga entrara em seu corpo e atravessara um de seus rins, a lâmina foi torcida com lentidão e ele grunhiu segurando-se inutilmente nos ombros de sua assassina. Quando a lâmina parou de girar em seu interior, ele recuperou o resto de fôlego que tinha e encarou bem os olhos sem vida e em um espectro azulado de sua única irmã, a jóia rara de Silvermoon, a única filha da Casa Real de Lórien com o Dom da Profecia. Joannes o encarou com mesma intensidade, mas animalesca e furiosa.

– Por Sargeras... – ela sussurrou em seu ouvido e o deixou escorregar para o chão para se contorcer em sua morte agonizante. A neve foi tomando a cor do sangue que se esvaía do corpo convulso.

– Meus Mestres não gostarão nada de sua interferência nessa missão. – a rapidez élfica de Joannes surpreendeu o Cavaleiro Negro que apenas conseguiu segurar o cabo da espada rúnica que atravessara seu peito.

– Ninguém fica no caminho dos Cavaleiros da Morte e sua presa. – o Cavaleiro Negro chiou em dor, mas não demonstrou emoção.

– Eles irão saber e veremos qual vontade irá prevalecer.

– Desafiando o seu Destino, mísero morto-vivo? Você é só um peão para o Culto dos Abandonados. Quer provar sua lealdade e seu valor? Vença o maldito Torneio e mate em nome do Rei Lich e não em nome de teus mestres covardes... – e tirando a espada, ela verificou o morto aos seus pés. A lâmina rúnica absorvera o sangue coagulado do Cavaleiro da Morte.

– Mestre Kel’Thuzad irá saber de tua intromissão... Elfa amaldiçoada... – a última frase ele falou bem perto do rosto de Joannes, ela apenas o deixou içar vôo com o seu grifo de montaria e ir de volta para o Torneio. A amazona da Morte cutucou o corpo desfalecido aos seus pés e tirou algo da bolsa que seu Acherus tinha na sela. Uma máscara com um buraco para um olho só. Ela levantou novamente sua espada rúnica e fincou a lâmina bem no meio da testa de seu ex-irmão.

– Levante-se, meu escravo... – e assim que retirou a lâmina maldita, o corpo de Elderion levantou-se sombriamente e foi envolto em uma pegajosa aura negra. Logo os seus urros de agonia foram sufocados por aquela película maligna e seu corpo se transformou em algo quase bestial. Um geist com o crânio aberto ao meio e um horrendo olho amarelado e de íris doentia saindo do buraco feito pela lâmina. – Sirva-me até o maldito dia de tua verdadeira morte. – a resposta foi um gemido de dor sufocado feito pela criatura que era seu irmão. Ela jogou a máscara para ele cobrir a horrível cabeça deformada, ele obedeceu prontamente. – Tua primeira ordem como meu servo: Vigie o Cavaleiro que planejou tua morte. Colete informações sobre as lutas e atividades dele. E se alguém te descobrir, mate-o em nome de nosso Senhor Supremo, o Rei Lich. – o geist recém-formado gemeu novamente e teve uma corda especial bem forçada em sua garganta pela amazona da Morte. Em um gesto de dominação, Joannes apertou bem o nó que fez o servo engasgar sonoramente. – E ache a minha filha. – ordenou por último fazendo carinho no capuz do geist-irmão. Montando em seu Acherus, Joannes deixou a planície da Queda de Syndragosa, seu irmão deformado ficou a observá-la. Uma fagulha de lembrança em sua mente agora deturpada pela perversão do poder do Rei Lich: A imagem de uma criança de cabelos e olhos acobreados no colo de uma Joannes sorridente e feliz.



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