Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 6
Capítulo 6




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Stormwind.

                Oxkhar recebera a notícia do Esquadrão que fora com o Rei Varian. Seu pai ficara em uma tribo amigável de druidas ao Leste de Barrens. Hrodi estava bem e descansando até poder voltar para casa. O paladino aceitou as notícias de bom grado, mas ao cruzar a rua para fora das muralhas da cidade seu coração reclamou pela falta de detalhes. A missão fora completada, o filho de Rei Varian voltara para casa são e salvo. Até a tão notória maga Jaina Proudmoore, regente de Theramore aparecera na cidade. Montando em seu cavalo, ele percorreu o caminho de volta para casa e se deparou com a placa da Taverna do Sol. Ela estava suja de fuligem e com teias de aranha. Oxkhar prendeu o seu cavalo ali mesmo na entrada e puxou uma mini escada que ficava sempre ao lado da janela a direita da porta da Taverna. Como seu manto sujo de sangue coagulado, ele içou seu corpo até alcançar a placa e limpar toda a sujeira dali. Desceu e observou o trabalho feito com as mãos na cintura.

 - Oh senhor Oxkhar... Que bom que voltou. Notícias? – perguntou o cozinheiro Yzilder.

 - Ele ficou para trás em um acampamento. Foi ferido em combate, mas está se recuperando. Logo voltará para casa.

 - Isso é bom, muito bom senhor... – e olhando para onde o paladino olhava. – Qual é o cardápio para hoje, senhor? Alguma sugestão? – Oxkhar o olhou com estranheza, mas percebeu que a situação agora se invertia. Ele era responsável pela Taverna agora.

 - E-eu... ahn... o que costumamos servir?

 - Bem... Há batatas sobrando no porão e abóboras. Uma sopa cairia bem...

 - E carne?

 - Há javali no estoque.

 - Faça a sopa. Acrescente o javali. – os dois entraram na Taverna já cheia na hora do almoço. – Guarde o vinho por hoje, Yzilder. Sirva cevada e cerveja para os clientes.

 - Mas senhor...

 - Não quero um bando de beberrões em minha Taverna, Yzilder. Nossa cidade está sofrendo pelas perdas recentes e quanto mais nosso povo estiver sóbrio, melhor para se preparar para o que vier. 

 - S-sim senhor...


Portões Internos de Silvermoon, anos atrás.


                A figura oculta pela escuridão da noite olhava atentamente para o horizonte. O arco em sua mão estava mais que pronto, estava tremendo. Gritos de ordem vinham de todos os lados. Ela era a única que não se pronunciava. Os olhos atentos seguiam o rastro do inimigo vindo retumbante com sua horda amaldiçoada. Arthas Menethil caminhava livremente entre a terra dos elfos, a sua terra. O lugar que era seu lar desde sempre, o lar que protegia com unhas e dentes. Cada segundo que passava ela se lembrava de cada palavra dita pelos seus parentes antes de sair para a batalha de sua vida. Lirath era o único a se voluntariar.

 - Eu posso te cobrir, mana! Sei como lançar feitiços melhor que ninguém!

 - Você é louca, Sylvanas... – disse Alleria já arrumando suas coisas e saindo na noite escura para se perder do outro lado do Portal.

 - Você vai voltar, certo? – essa era Vereesa com lágrimas nos olhos. Andrus não estava mais com eles desde que Kael’thas decidiu dar as costas ao seu povo. A mãe tossia no quarto acima. A estranha doença de Lordaeron chegara a sua porta.

                Sylvos não voltara de sua expedição para achar a cura. Os mensageiros nas fronteiras disseram que ele fora emboscado por aqueles paladinos do Monastério Escarlate. Talvez Sylvos estivesse cativo e o resgate teria que ser negociado com calma, era assim que Sylvanas queria pensar. Mas ao ver que os mensageiros Farstriders trouxeram na última expedição a fez mudar de idéia quanto a tudo em sua vida. Agora o que mais importava era a defesa de Silvermoon. A sua Silvermoon.

                Outra ordem veio por cima do muro da guarnição que protegia o Portão Principal de entrada em Quel’Thalas. Ninguém passaria por aquele portão. Ninguém. Empunhou seu arco e mirou bem no coração do Cavaleiro Negro. A primeira flecha seria nele.

 - Ele ultrapassou a ponte quebrada!! – gritou Lor’themar, seu tenente. Com um aceno de sua cabeça ele entendeu a ordem. Era hora de atacar. – Arqueiros, ao sinal!! – milhares de flechas apontaram para a mesma direção. Uma rajada de flechas infestou o ar derrubando vários inimigos. Menos ele. Ele nunca era derrubado.

                Sylvanas mirou certeiramente, a flecha atravessou o campo de energia que circundava o Cavaleiro Negro, mas não a sua armadura. Pela primeira vez na vida sentiu medo. Medo do fracasso. Vidas estavam em suas mãos, as vidas de Silvermoon estavam em suas mãos e tudo que Sylvanas via era o corpo sem cabeça de seu irmão aos seus pés. Sua flecha certeira não atingira o Inimigo. Lor’themar circulava entre os cavaleiros vociferando ordens e palavras de coragem. Iriam morrer. Sylvanas sentia isso dentro de seu coração. Morreria e sabia que Sylvos estava realmente longe de seu alcance. Dentro de seu coração ela sabia que o irmão fora morto, ela conseguia ver o que Sylvos via às vezes, mas agora tudo era um borrão sangrento toda vez que tentava se conectar inutilmente ao irmão.

 - Arqueiros!! – ela ordenou, todos aprontaram as armas. – Ao meu comando!! – e nova saraivada encheu o ar de silvos e gritos de dor. – Soldados!!

 - Por Silvermoon!! – gritaram todos ao mesmo tempo. Lor’themar empunhou sua lança e tomou sua posição.

 - Ninguém passará por esse portão!! – ela gritou acima dos sons de batalha.

 - Por Silvermoon!! – responderam os arqueiros-especiais subordinados à Sylvanas, usavam um brasão diferente em seus escudos e armaduras. Eram descendentes dos Altos-Elfos. Eram conhecidos como os Protetores dos Sin’dorei, os Farstriders.

 - Colocaremos o Inimigo aos nossos pés e pisaremos em sua carcaça!!

 - Por Silvermoon!! – eles devolveram empunhando suas armas de longo alcance. Um deles tinha uma arma de fogo com cano estreito. Este ficara nas sombras do Portão e trajava uma roupa camuflada.

 - Ficaremos e lutaremos... – ela disse para si mesma, desejando arduamente que isso se tornasse verdade. – Como uma família devotada deveria fazer...

                Quando a Vigia-General de Silvermoon caiu de joelhos aos pés do Cavaleiro Negro, Arthas Menethil, ela pediu uma morte limpa. O amaldiçoado recusou seu último pedido. Ao receber o golpe letal da espada de Arthas em seu peito, Sylvanas visualizou a morte de Sylvos do outro lado do Continente. Um paladino do Monastério Escarlate o golpeara no rosto, abrindo um rasgo da mandíbula até separar o queixo do rosto. O irmão-gêmeo nem sentira a violência do golpe e o sangue invadir os seus pulmões em uma velocidade incrível. Morrera asfixiado. Ela morrera da mesma forma.

                Momentos depois Sylvanas gritava em dor por reaver o controle de seu corpo, mas não de sua mente.

                Agora ela era uma banshee, a serva mais traiçoeira do Rei Lich e invadia o seu Lar, matava seus amigos e parentes. Abria as portas de Silvermoon e entregava a sua cidade amada para o Inimigo fazer o que quisesse.


Ruínas do Palácio de Lordaeron.

                Como qualquer criança que não conhecia o mundo direito, Sorena Atwood se sentiu intimamente apta a aceitar qualquer condição de vida que fosse imposta. Se fosse para evitar ir longe demais às trilhas para não ter que topar com alguém não-desejado (Confundir um cadáver sem mente comandado ainda pelo Rei Lich e um Abandonado recém-acordado era tão trivial.), então reclusa na biblioteca dos missionários, Sorena fingiu o seu papel de cativa, mas se pensasse um pouco em sua condição, era uma cativa, senão próxima escrava para os olhos do alto escalão da cidadela incrustada na rocha e túneis. A visita à tumba da Rainha fora a única até então. O Dragon Hawk a seguia por todos os lugares e frequentemente comia os insetos e ratos que a oportunavam durante o sono na cripta. Derris não mais a olhava nos olhos, sequer dirigia palavra. E no fundo de seu coração acelerado, Sorena sabia o motivo do afastamento: Derris tinha alguma coisa a ver com seu verdadeiro pai, Sylvos Windrunner.

                Acompanhava a vinda e ida dos aventureiros Abandonados e até de alguns como ela pelo salão principal, às vezes se atrevia mais e pedia permissão para as sentinelas levá-la ao Salão do Trono para ouvir as aias banshee contarem suas histórias. Às vezes encontrava a Rainha Sylvanas em profundo silêncio, mirando a luz do Sol lá fora como se fosse um espectro perturbador nos vitrais. Muitas vezes teve vontade de questioná-la de seus pensamentos, mas mantinha sua impetuosidade dentro de si, aprendera naquele lugar morto e estéril que palavras valiam muito para um povo que perdera praticamente tudo em uma guerra injustificada.

                Em um dia especial, viu um dos seus pesquisando avidamente um tomo antigo na biblioteca, aproximou-se como se não quer nada além de observar e percebeu que o elfo relativamente um pouco mais velho tinha marcas bem visíveis de sua maldição. Cabelos tão dourados e que outrora deveriam estar alinhados com seu rosto, estavam calvos e esbranquiçados. Cicatrizes em volta de um olho pálido e sem íris, a mão trêmula segurava o tomo como se fosse um esforço colossal.

 - O que quer? – disse o elfo rispidamente. – Nunca viu um maldito Elfo do Sangue na sua frente? – ela se afrontou um pouco e se afastou.

 - Não desejo nada, senhor... Desculpe-me se atrapalhei seus estudos... – e se encaminhou para outra prateleira com pesar. Era nisso que se transformava quando consumia magia demais? Um mero fantasma sem largar a carne vívida? Arrepiou-se, tentou espantar o nojo de uma existência desse jeito, concentrou-se no seu próprio estudo. Ali deveria ter algo sobre seus pais, qualquer coisa. Aquela placa de metal na cripta não respondeu muita coisa, já que Derris se recusava a falar o motivo de estar enterrado no lugar de seu pai verdadeiro. Decidiu procurar por Sylvos, o pai. Ele deve ter sido importante na época antes do Flagelo infestar Quel'Thalas. Ou pelo menos eram o que as histórias contavam.

                Passou a tarde toda em intensa pesquisa, desde tomos pesados a pergaminhos corroídos por traças ou ratos. Alimentou-se pouco de queijo curado e um pouco do naco de carne de javali que conseguira comprar na mão de um dos guardas lá fora. Sua vontade de ganhar um pouco de poder de um ser vivo a atormentou no meio da noite, enquanto dormia na cripta vazia ao lado da de Derris. Aflita por um pouco de vida, enfiou as mãos rapidamente na sua sacola e agarrou a cota de escamas e sussurrou algumas palavras de poder. Nada grandioso, efeitos pequenos e insignificantes para uma feiticeira como ela. Aquilo a acalmou um pouco, o seu coração descompassado se estabilizou e um sorriso bobo veio em seus lábios. Por um momento quente do emanar de magia, ela se sentiu bem perto de algo superior a ela. Como se a vida tivesse um sentido absoluto ao drenar um pouco da energia da cota de escamas. Encheu seu peito de ar mofado da cripta empoeirada e viu um inseto subir pela sua bota de viagem, com um simples roçar no bichinho, obteve um pouco mais do que a acalmava. Descansou a cabeça na pedra dura e deu o inseto para o Hawk Ox – decidira chamar o bichinho com o nome de seu irmão, pois queria ainda se lembrar dos parentes humanos – que mastigou o inseto com certa apreciação.

                Mas em seu íntimo Sorena desejava por uma bela refeição quente e saborosa.


Monastério Escarlate, anos atrás.

                Derris Atwood era o nome do Paladino. Sylvanas adorou torturá-lo até o último minuto e deixar seu irmão devorá-lo como o animal violento que era ainda dominado pelo poder do Rei Lich. O Monastério Escarlate estava banhado em sangue naquela noite. Ela sorria escondida em sua capa atrás de uma muralha. Os gritos de desespero ecoavam longe, aqueles que escapavam do ataque surpresa do Flagelo encontravam a morte do lado de fora da construção. Uma legião de Abandonados estava ali esperando cada um que tentava fugir. Os magos e mais fracos eram digeridos, os tão renomados paladinos eram imolados, marcados a ferro e depois mortos. E voltavam a vida para servir sua única Rainha. Quando o desgraçado Derris saiu porta afora, segurando sua espada banhada de sangue apodrecido, murmurando preces aos seus deuses inferiores, Sylvanas apareceu bem na sua frente.

 - Lembra de mim, nobre paladino? – o homem parou estático na grama molhada, trêmulo pela visão da elfa morta-viva.

 - V-você...!! – ele gritou desesperado, apontando para ela. – V-você é uma assombração!!

 - Você não vai querer saber o que eu sou, Derris de Goldshire...

 - S-saia da minha cabeça!! Saia da minha mente!! – Sylvanas sorriu por saber onde doía mais no paladino. O irmão mais novo que deixou em Goldshire. Adorava mexer com as lembranças dos mortais, embaralhar os sentidos, fazê-los pensar que suas ilusões eram verdades. A tortura física não era nada comparada a psicológica, Sylvanas Windrunner sabia como maltratar um coração e enfraquecer uma alma. Aquela alma ali na sua frente era especial. O paladino agora esfolava seu próprio rosto com as unhas, arrancava a armadura com agonia, urrava de dor e espumava saliva abundante pela boca. As órbitas de seus olhos giravam em loucura repentina e tufos de cabelos eram arrancados com selvageria de seu escalpo. Então ela viu. Sylvos se aproximava, como um animal ensandecido a procura de algo para devorar. Um breve gesto das mãos, e sua legião rechaçou o grupo de mortos-vivos do Flagelo em pedaços, menos seu irmão. Ela chegou bailando como sempre fazia ao se aproximar da vitória, arrastando o pobre paladino pelas vestes. Jogou-o aos pés do irmão e o encarou atentamente. O Flagelo tinha medo de Sylvanas, o poder do Rei Lich não entendia como sua serva mais leal se libertara.

                Sylvos a encarou de volta, como se aquela faísca de lembrança acendesse em seu cérebro decomposto. Como se soubesse que a comida ofertada pela linda elfa a sua frente era mais que obrigação. Era um presente fraternal.

 - Bom apetite... – disse apenas, dando as costas para os dois e saindo da construção. Os gritos de horror que ela ouviu foram como música em seus ouvidos. Como amava a vingança bem orquestrada. Sorriu novamente e pensou bem em seu próximo passo. Derris de Goldshire... - Interessante... – disse para si mesma.


Trade Quarter – Undercity.

 - O que ele faz ali? – perguntou Sorena apontando para debaixo da ponte onde o vendedor solitário vivia com suas baratas dançarinas, Imladris a puxou pelo manto animadamente e virou o rosto da mais nova para um ponto perto de um dos comerciantes da cidade subterrânea.

 - Esquece ele e venha cá... Conhece aquilo lá? – apontando para um Abandonado na companhia de uma exótica mulher de chifres, cascos de bode e rabo.

 - Ela tem um rabo? Pessoas podem ter rabos aqui?

 - É uma súcubos! Você não sabe o que é uma súcubos?

 - Mestre Derris me falou delas, mas muito pouco... – Imladris suspirou aliviada e virou Sorena para a encarar.

 - Me promete uma coisa, por nossa amizade?

 - Ahn... Tá... Pode falar... – sem certeza se tinha realmente uma amizade duradoura com a elfa que conhecera há poucos dias.

 - Você nunca, nunca, nunquinha irá conjurar uma coisa daquelas! – levantando os braços com dramacidade. Sorena a olhou bem e depois deu uma espiada, Imladris a fez olhar de novo para si com um puxão de orelha. – Promete?

 - Eu nem sei como fazer uma fogueira, Immie... Como vou conjurar uma... ahn... sério mesmo que aquilo ali atrás é um rabo...?

 - Pára de olhar! Ainda mais ali... para... atrás dela!!

 - Por que não pode olhar? – Sorena estava com um olhar inocente para a clériga.

 - Porque isso é perversão!! – exclamou Imladris sem se conter.

 - O que é perversão? – silêncio das duas. – É quando alguém toma o corpo de outro? Não, não, isso é possessão... – resmungou a mais nova, Imladris a olhava atônita. – Mas por que eu conjuraria uma mulher com chifres?

 - Porque os feiticeiros fazem isso! Conjuram demônios extraplanares para auxiliá-los em seus propósitos...?

 - Aaaaah... Então meu Voidwalker...

 - Veio de um lugar nos quintos dos Ínferos...

 - Aonde? – a clériga desistiu de continuar e fez Sorena dar as costas para a cena da súcubos dando breves beijinhos em seu dono.

 - Eu preciso te levar a um lugar, urgentemente! – arrastando a mais nova dali para os corredores circulares. Depois de andarem bastante (E Sorena perceber que o Abandonado com a súcubos estava bem atrás delas, indo para a mesma direção.) pararam na frente de uma construção fantasmagórica dentro da cidade. Parecia um templo nefasto, com andares irregulares acima e uma passagem para o porão.

 - Preciso mesmo? – ela questionou dando uma espiada em uma parte do grande espaço atrás do templo, onde alguns aprendizes de feiticeiro praticavam. Um deles estava em um grande círculo de poder e lutava rudemente contra uma criatura terrivelmente feia e deformada. Havia espinhos saindo de suas costas e segurava um pesado machado de guerra.

 - Mestre Kerwin, você está aí? – perguntou Imladris gritando para o alto. Um grunhido foi a resposta, mas o Abandonado Feiticeiro atropelou as duas com sua súcubos no encalço.

 - Oh, cuidado aê... – o Abandonado não pediu desculpas.

 - Meus assuntos são mais importantes! – Sorena acenou para o morto.

 - Hey, mas a gente chamou primeiro. Espera sua vez! – um estalar de chicote fez as duas elfas pararem estáticas. A súcubos deu um olhar mortífero para ambas e mostrou os caninos pontiagudos.

 - Irão criar problemas para meu mestre? – ameaçou gentilmente. O Abandonado já subia as escadas e ia ter sua conversa com Richard Kerwin, o Mestre em feitiçaria da cidade.

 - Isso não é justo! – reclamou Sorena apontando para o Abandonado mal-educado. – A gente... – outro estalo fez ela se calar e fechar os olhos. – Isso irrita...!

 - Sor, acaba com ela... Eu tou aqui caso precise de cura... – pediu Imladris sentando em um murinho da construção. A mais nova ficou acuada, olhando para os lados e gesticulando.

 - Eu não vou bater em uma mulher de chifres! – a súcubos riu maliciosamente e fez uma pose sedutora.

 - Ela não é uma mulher! É uma súcubos! – pontuou a clériga.

 - Mas é mulher sim! Olha só pra ela!

 - Pode ter certeza disso, garotinha... – estalando o chicote bem perto do nariz de Sorena, ela fechou os olhos com força. – O que foi? Tem medo de mim?

 - Isso irriiiiiita!!

 - O que irrita? – estalando de novo, mas dessa vez bem perto dos cabelos vermelhos da mais nova.

 - Isso aí!! É pior que arranhar quadro verde!! E...!! E...!!

 - Sorena, ela é só uma súcubos. Bate nela, depois nós batemos no folgado que tomou nosso lugar. – a mais nova iria protestar, mas recebeu um beliscão no traseiro.

 - Heeeey!! Quem deu a liberdade?!

 - Pode vir... Vamos ter uma festinha agora mesmo... – a súcubos adiou o ataque e atingiu Sorena bem no peito com seu chicote maximizado com energia demoníaca.

 - Isso não vale! – reclamou Imladris se levantando e apontando para a criatura. – Foi trapaça!

 - Oh pobrezinha elfa, nem pode se defender... – a clériga lançou uma magia de cura em Sorena e a ajudou levantar.

 - Posso sair agora? Preciso de ar...

 - Eu pensei que você soubesse o suficiente para desconjurar coisas como ela...

 - Coisa?! Com quem você pensa que está falando sua elfinha manajunkie?! – a  succubus foi para cima de Imladris, mas foi interceptada com uma conjuração de uma bolha protetora em sua volta. Nada a atingia, mas nada ela conseguia atacar.

 - Eu gosto muito da minha vida, obrigada... – se afastando, mas tendo o tornozelo amarrado pela ponta do chicote da súcubos. Caiu ao chão com força. – Ai... isso... doeu... – levantando a mão por um momento e baixando em seguida.

 - Bolhinha de poder não funcionou. Vou usar algo mais efetivo! – arregaçando as mangas e tirando sua maça brilhante da cintura. O Abandonado chegara no mesmo instante.

 - Mas que diabos está acontecendo aqui?!

 - Estou me divertindo com essas elfinhas... – ronronou a súcubos alisando a barba desgrenhada do dono.

 - Mas vocês estão loucas?!

 - Você passou na nossa frente! Mestre Kerwin só aceita UMA visita por dia!! – exclamou Imladris alterada.

 - Meus assuntos são mais importantes que...

 - Concordo. – disse uma voz atrás deles. Era Mestre Kerwin acompanhado por Derris. Imladris levantou Sorena e soltou um chiado agoniado por ver que a mais nova sangrava pelo nariz. Os dois feiticeiros desceram as escadas e observaram a cena.

 - Minha cabeça tá doendo... – resmungou Sorena baixinho, cobrindo o rosto com a mão e se afastando para um canto. Imladris ficou a olhar com pena e revolta.

 - Clériga Imladris... Poderia explicar...? – pediu Derris ruminando com sua mandíbula de metal.

 - Estávamos aqui e queríamos falar com Mestre Kerwin, a Sor precisa saber mais sabe? Ler mais livros e tudo mais... Aí esse... cara aí apareceu e deixou a súcubos de vigia! Ele tomou o nosso lugar! Fui eu que chamei Mestre Kerwin, não ele!

 - Isso é verdade, Ésquio? – Kerwin virou-se para o Abandonado, ele deu de ombros.

 - Não sei do que ela está falando, Mestre.

 - Derris...? – encarando o outro Abandonado.

 - A menina é minha responsabilidade, não sua. Deixe que eu cuido disso.

 - Bom mesmo. – disse Kerwin para ele e lançando um olhar para o Abandonado com sua súcubos, ele indicou o caminho para a Quadra Real. Saíram deixando os três ali.

 - Então... – Sorena apontou para a súcubos que mandava um beijinho provocante e seguindo o mestre.

 - Ela que começou!

 - Eu me pergunto por quê...

 - Sorena não tem a mínima idéia sobre feiticeiros! Eu a trouxe para que Mestre Kerwin a treinasse devidamente! Ela nem sabe o que é uma súcubos.

 - Mulher com chifres e rabo. – disse Sorena estancando o sangue do nariz com a mão. – E que sabe bater na gente...

 - Deixe-me ver isso... – disse o Mestre, segurando seu rosto com cuidado. – Hmmm... rompeu um vaso sanguíneo...

 - Foi na queda... – explicou Imladris fazendo um punho fechado em direção ao Abandonado. – Aquele cara me paga!

 - Por que não a ajudou?

 - Por que eu não sou a feiticeira aqui? – devolveu Imladris com um olhar crédulo. Sorena a olhou irritada. – Oras! Eu CURO pessoas e ocasionalmente as chuto (Se forem gnomos, eu chuto!), é claro...

 - Poderia ter evitado esse tipo de incidente.

 - Ela deveria ter lutado! Ela é uma feiticeira! – Sorena cuspiu excesso de sangue no chão e se levantou.

 - Eu preciso de ar... – saindo silenciosamente sob o olhar atento de Derris.

 - Ela pode ser uma feiticeira, mas sobreviveu esses 4 anos sob minha proteção.

 - Desculpa! Sorena, eu não quis...! – mas a menina já havia atravessado a ponte e se encaminhava lentamente para a Quadra dos Mercadores.

 - Se eu souber de mais algum incidente do tipo envolvendo ela, você é um cadáver boiando bem ali... – apontando os esgotos que passavam por ali perto. O Mestre saiu devagar, indo atrás da discípula, Immie mandou língua para ele.

 - Rabugento! – murmurou para si mesma. Uma mão descarnada tocou seu ombro.

 - Obrigado por trazê-la aqui, Immie... – disse Mestre Kerwin. – Eu a treinarei com muito gosto... A Dama Sombria agradece pelo seu esforço...

 - Oh sim! – exclamou a clériga com um sorriso amarelo, havia completado sua tarefa com o Conselho dos Feiticeiros do Culto das Sombras Esquecidas, mas estava chateada por ter feito Sorena se machucar.



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Notas finais do capítulo

Surpresas e mistérios??
Pode apostar que sim!



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