Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 46
Capítulo 46




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Silvermoon mais tarde.


A biblioteca da Ordem dos Clérigos abrira há 2 minutos e Sorena já empilhava tantos livros em seus braços o máximo que podia. Ela deixou os livros desabarem na mesa de madeira bruta e de cor clara e voltou às estantes. Arrastou um banquinho e se equilibrou em cima dele para alcançar um livro mais alto.

– Sorena... Você mal conseguiu dormir... Pode, por favor, pelo menos tomar o café-da-manhã? – disse a clériga Artemísia bocejando. – E trocar de roupas?

– Mas eu preciso ler sobre as pimentas-de-trovão!! – ela esganiçou com a garganta seca. – Vovô disse que elas são boas para as feridas dos feiticeiros...

– E dão uma bruta dor de estômago caso não saiba... – a clériga sentou no banquinho perto da mesa com a pilha de livros. Foi lendo cada título e sorrindo pelas escolhas da filha. – Engenharia dos Goblins é rara por aqui. Se quer treinar bem tem que ir para Ratchet.

– Aonde?! – virou-se a menina elfa quase caindo do banquinho.

– Ratchet. É um distrito de goblins ao sudoeste de Orgrimmar. Seu pai treinou lá quando jovem. O velho Wretched manteve os estudos dele. – e com um suspiro saudoso. – Lá era tão lindo última vez que fomos... Sol e o Mar e as histórias... Será que a Cabeça de Javali continua por lá? – Sorena a olhava confusa.

– É lá que tem uns treinadores de Feiticeiros também? – a clériga concordou levemente com a cabeça e bebericando seu café matutino de cheiro forte. – Tenho que ir pra lá!! – Sorena correu para o outro lado da biblioteca e procurou por livros falando de Ratchet. Artemísia riu um pouco e ajeitou os cabelos avermelhados atrás das orelhas pontudas.

– Por que a pressa? Quer se livrar de mim novamente? – a filha olhou séria para a mãe.

– Isso não tem graça. – e voltando para a estante. – Se eu soubesse que a senhora era minha mãe lá em Fairbreeze, nunca teria colocado os pés pra fora da vila.

– Bom saber... – a mãe puxou de leve uma das orelhas dela. – Comer, trocar de roupa, fazer os exercícios?

– Aaaah mãe...! Eu tenho que estudar!

– Sem “mas”... Vamos mocinha! – dando uma palmada no traseiro da filha, Sorena se encolheu e correu para fora da biblioteca.

– Mas eu preciso estudar o mais rápido possível senão coisas horríveis podem acontecer! – ela disse dramaticamente.

– Não se eu estiver por perto...

– Mas a senhora não sabe o que se passa!

– Querida, eu sei de tudo que se passa na sua cabecinha... – pontuou a mãe prendendo os cabelos já longos da filha. – Coisas de mãe...

– A senhora lê mentes?!

– Não, mas tenho algo parecido chamado “controle de mentes”... Funciona com humanóides com inteligência inferior...

– Haha, então não vai funcionar em mim!! – debochou a mais nova entrando no corredor que levava para os aposentos de Artemísia.

– Você não deixou eu terminar... Humanóides de inteligência inferior a minha... Isso conta você...

– A nada modesta Artemísia...

– E parte de Silvermoon... E totalmente Floresta Eversong...

– Como a senhora é humilde!

– Ninguém tem um Q.I. tão notório quanto o meu... – Sorena girou os olhos e entrou no quarto. – Nem seu pai me batia nas resoluções de enigmas e equações químicas...

– Papai era inteligente pacas! – resmungou Sorena indo para trás de um biombo e trocando de roupa. – A senhora chegou a ver os diários dele? Ele começou a construção de uma Geringonça Voadora Turbo aos 16 anos!

– Foi a época que eu o conheci... – a filha pegou uma peça de roupa ofertada pela clériga.

– Então ele parou de fazer o projeto por sua culpa?

– Como assim? – Artemísia perguntou curiosa.

– Tem uma passagem uns dois meses depois sobre o projeto e ele nem tinha saído do lugar...

– Ah sim! A minha beleza deve ter o hipnotizado... – e dando um suspiro fingido. – Como é difícil ser linda e maravilhosa...

– Tem certeza que a senhora é clériga? Isso não é proibido no código de vocês? Se vangloriar de sua beleza, e ser NADA modesta?

– Sou uma Elfa-do-sangue, querida... – dando a outra parte do vestido. – Isso está entranhado na gente...

– Então ser prepotente e arrogante é uma coisa perpetuada pelos genes de um Elfo-do-sangue? – Artemísia concordou e sorriu largamente ao ver o vestido que fizera para a filha. – Isso explica o porquê da Kali ser tão chata... – e se olhando no espelho. – Credo!

– O quê, meu bem?

– Eu pareço uma clériga! Quero minhas roupas de volta! – tirando a parte superior do vestido vermelho e branco com a insígnia dos clérigos de Silvermoon.

– Joguei tudo fora...

– A senhora o quê?!

– Eram maltrapilhas, cheias de remendo e nada convencionais para uma mocinha sofisticada como você.

– Mas eu amava as minhas roupaaaaas!! – choramingou a elfa se jogando na cama dramaticamente. – O meu manto favorito foi pra sacolinha também? – Artemísia pensou um pouco e depois negou.

– Não... Aquela coisa encardida que a Mistress Carrie levou para Undercity? Eu nem usaria como pano de chão...

– Gaaaaaaaaaaah!! – a filha rolou na cama e colocou o rosto entre as mãos. – Eu tinha boas lembranças dele!! Era minha peça favorita!! – e fungando – E meu manto do Apotecário...? – ela pediu tremendo o queixinho.

– Mandei lavar com água benta. – Sorena soltou um suspiro de alívio.

– A Immie me deu aquele manto... Se algo acontecer com ele, eu viro presunto! Mesmo que a Immie seja vegetariana! – Artemísia abriu um pacote em cima de seu baú e tirou algumas peças de roupa.

– Aqui... Cortesia dos Willfire... – uma das peças era uma camiseta novinha verde-folha e alaranjada dos Farstriders, com a insígnia do posto de Infiltradora de Kali em um brasão bordado bem abaixo da gola. – A Kali tinha algumas roupas dela quando era mais nova e como o Eriol está maior que ela, não aproveitou... Você que gosta dessas coisas apertadas aí nas pernas... Como alguém pode usar calças? - Sorena pegou a roupa e ficou olhando por um tempo.

– É linda... – murmurou passando os dedos no volume dos bordados do escudo dos Farstriders.

– Sua tia usava uma camiseta mais escura que essa, mas era a mesma costura e desenho... – comentou Artemísia vendo o deslumbre nos olhos da filha. – O grande problema de Sylvanas era que camisetas não duravam mais que um mês com ela. Voltavam com buracos maiores e rasgos que inutilizavam o tecido...

– A senhora costurava para ela...?

– Não me chamavam de “Costureira Real” por nada, menina... Seu pai manchava muito coisa com graxa e óleo e misturas... Alguém tinha que fazer o serviço sujo e era eu... – a clériga concluiu com um bufo impaciente. – Sempre sobrava pra mim... – Sorena vestiu a camiseta rapidamente e ficou um tempo se observando no espelho. – Combina com a saia oliva... – pegando uma saia dentro de seu baú.

– Posso cortar o cabelo?

– Por que não o deixa crescer?

– Fico com cara de clériga?

– Algo contra clérigas?

– Não, de jeito nenhum! Vocês me curam e tudo mais!

– Então...?

– É que eu não me sinto a vontade com a idéia, só isso... – prendendo bem os cabelos igualmente vermelhos sangue em um coque no alto da cabeça. – Pareço ser uma pessoa viva? – perguntou para o espelho, mas foi a mãe que respondeu.

– Para mim, sempre foi. – dando um beijinho na bochecha da elfa menor que ela.


Windrunner Spire de tarde.


– Queria muito agradecer por tudo que tem feito, Immie... – sussurrou Kali com lágrimas nos olhos e abraçando bem a clériga.

– Que isso? É meu trabalho, hehehe... – a mais nova tentou não ficar tão envergonhada pelo abraço sincero. Em Undercity as pessoas não costumavam abraçar umas as outras.

– Eu já tinha perdido a esperança de ver meu lar assim... vivo novamente!

– Estamos aí pra isso, Kali... – disse Oxkhar confiante. O seu novo uniforme preto com detalhes vermelhos nos punhos e gola era diferenciado de todos os outros Farstriders. A arqueira o abraçou também e limpou o rosto timidamente. – Qual das casas era a sua?

– Oh... ahn... aquela ali onde era a biblioteca... – fungando um pouco e ajeitando a mochila de viagem e o arco nos ombros. – Meus pais eram arcanistas de Silvermoon. Papai cuidava do Centro de Saber daqui... – apontando o prédio espiralado com dois pavimentos e com uma placa em thalassiano deteriorada pelo tempo. – Era professor de línguas e princípios arcanos...

– Onde posso levar isso, capitã? – perguntou um Farstrider com sacos fechados.

– São para o Windrunner Spire. – Immie sorriu empolgada. – Encomendas vindas dos nerubianos para ajudar no “probleminha” que temos aqui...

– Adoro nerubianos!! – exclamou a clériga dando um pulinho.

– Bem, “capitã”... – debochou Oxkhar. – Acho que estou na sua jurisdição agora...

– Está? – perguntou Immie e Kali ao mesmo tempo.

– Oras... A Kali vai ser a líder dessa parte... E vamos morar aqui não? – os olhos de Imladris brilharam intensamente.

– Vamos...?

– Minha irmã deixou bem claro o quanto queria que nos livrássemos da casa... E com certeza eu não vou jogar essa chave fora!

– Mas temos que pedir permissão a Dama Sombria!! – Imladris agonizou segurando as orelhas. – A casa é dela!!

– Corrigindo: A casa é minha... – disse Theridion dando a volta no grupinho que chegava e apertando a mão de Mary Edras efusivamente. Os três olharam para os dois.

– É tão bom saber que veio!

– Mestre Theridion vim assim que recebi a carta de recomendação...

– Saiba que estou muito feliz, milady... Venha, venha... – ajudando a Abandonada a desembarcar. – Cuidado o passo, essa areia é cascuda.

– O que será que ele deve estar aprontando...? – questionou Imladris espreitando a conversa. Kali beliscou a manga da camiseta de Oxkhar.

– A mulher fez a roupinha, é cadete? – ela gracejou, Ox ruborizou, mas entrou na brincadeira.

– É, você sabe... – dando de ombros. – Ela faz uns agrados e eu faço outros... Essas coisas de casados...

– Não sei por que vou dizer isso, mas vocês são feitos um para o outro... – indicando Imladris lá atrás ouvindo atentamente as instruções de um grupo de Abandonados. Uma comoção de elfos-do-sangue chamou a atenção de todos, eles balançavam os braços para o alto e gritavam empolgados. Logo uma ventania incomum bagunçou as folhas caídas no chão e um imenso pássaro exótico aterrissou em um lugar vago perto da Torre dos Farstriders, alguém soltou do animal de estranha coloração avermelhada, alaranjada, amarelada em um dégradé decrescente. Bico afiado e olhos tão avermelhados. Abaixo das penas das asas semi-membranosas, um esqueleto revestido de um metal acobreado de estrutura sólida. As duas patas tinham adornos feitos especialmente para aterrissagens e anéis para amarras.

– Caramba, vocês têm que ver a vista lá de cima!! – exclamou o elfo tirando os giróculos do rosto e pendurando em volta do pescoço. A pele muito morena e suja de poeira e suor, corselete de couro fino em formato de águia no peitoral e cabelos espetados para cima. – Nunca vi lugar tão iluminado em Ghostlands como aqui! – e se abaixando em uma asa do imenso Dragonhawk, ele tirou duas caixas enganchadas uma na outra. – Cartas! Correspondências! – gritou em voz grossa e já adulta. – Não sejam tímidos! O Correio chegou!

– Eriol!! – Kali saiu correndo e agarrou o irmão em um abraço forte. Um estalo foi ouvido atrás dele.

– Valeu, mana... Minhas costas voltaram pro lugar... – ele agradeceu se espreguiçando lentamente.

– Você veio da onde?

– Ahn... Kalimdor... Longe pacas. O mago do Portal não quis teleportar o Ox aqui... Tive que pagar uma grana para um goblin fazer essa carapaça aqui embaixo pra ele... – batendo na estrutura metálica do peitoral do estranho pássaro. Oxkhar se aproximava cauteloso, fascinado com o animal. Imladris ria alto.

– Como ele cresceu tanto?! – o piloto deu de ombros.

– Eu sei lá! Come como um lazarento, mas manteve a forma durante esse inverno.

– O que ele é...? – perguntou Oxkhar curioso como uma criança... – Ele não tem órgãos internos...!! Ele está morto?! Como é que ele voa?! Como pode um bicho desses...?!

– Você deve ser o Ox original, não? – Eriol apertou bem a mão do ex-paladino, agora guerreiro dos Farstriders. – Esse mocinho aqui é um Dragonhawk... Só que tá mortinho, veio assim de fábrica. Ox é seu apelido, já que a antiga dona batizou com Lirath, o Indomável. Pode tocar se quiser... Ele não é de morder mais dedos dos outros... – Oxkhar esticou a mão e passou os dedos na superfície lisa do bico em forma de flecha do animal morto-vivo.

– Era da Sorena... – murmurou Imladris no rosto do marido. – A Dama Sombria o reviveu e ela o adotou... Ele era tão pequenininho!

– Ele é lindo... – Oxkhar tinha os olhos marejados.

– O que foi, meu bem? – perguntou ela.

– E-eu sempre quis ter um dragão quando criança... Voar por aí por dias sabe? – Imladris o pegou pelo pescoço e o beijou muito.

– Hey, arrumem um quarto! – disse Eriol indignado. – Sou menor de idade ainda, poxa...! – retirando os pacotes e cartas de dentro das caixas.

– Como eu te amo Oxkhar Atwood!

– Ahn, quê? Por quê?

– Eu sempre quis ter um dragão quando criança!

– Mesmo?! – a clériga concordou vigorosamente com a cabeça e o beijou novamente. – Eu gosto de dragões dourados e...

– Netherdrakes! Roxinhos!

– Aqueles lá de Outland?

– Arram!!

– São difíceis de domar... – comentou Eriol fungando e assuando o nariz em um lenço já velho. – Droga, ainda tou com areia de Kezan no nariz... Essa porcaria vai subir pro meu cérebro e vou ficar lelé da cuca... Preciso de um clérigo, rápido!

– Você viu um Netherdrake?! – perguntou Imladris.

– Você foi a Ilha de Kezan?! – esse foi Oxkhar.

– Você OUSOU passar por cima do Maelstron VOANDO?! – foi a vez de Kali.

– Eu disse que ninguém queria fazer portal pra eu voltar poxa! Solanna Darkleaf! Aqui, sua mãe mandou um cartão...

– Obrigada Eriol... – a Farstrider novata agradeceu.

– Mary Edras!! – gritou o rapaz de 17 anos. - Mary Edras! Alguém com o nome de Mary Edras? – a Abandonada apressou o passo lá da estradinha do cais e chegou para apreciar o espetáculo.

– Oh agradecida rapazinho... – Eriol acenou com a cabeça, Oxkhar se encolheu ao ver a sua mãe morta abrindo a carta. Mary leu algumas linhas e trocou olhares com o filho.

– Magistrado Aminel!! – a elfa tão pálida e parecida com Imladris já estava ali a espera.

– Graças ao Sol esse pacote veio...

– Esse foi pesado, tia Aminel... – disse o entregador. – Tem pedras aí dentro é? Lancaster Right!! Esse é de Undercity... – o rapaz resmungou cheirando o pacote. - Acho que é queijo estragado... Só pode...

– Tome cuidado com essa curiosidade pirralho! – admoestou o clérigo Lancaster tirando o pacote da mão dele de modo rude. – Finalmente... – e se afastou novamente.

– Eriol Willf... Opa, esse sou eu! Eba, carta pra mim! – disse ele guardando sua carta no bolso. Uma revoada de pássaros fez os que se concentravam ali olhar para cima novamente. Um cavaleiro dos céus aterrissou seu Dragonhawk com leveza, além de puxar as rédeas de mais dois. – Senhor Sunwing! – os dois se cumprimentaram. O elfo manteve os outros longe de Ox-Hawk e os alimentou com doninhas que estavam penduradas em sua mochila de caça.

– Nunca me atraso, garoto... Vamos lá... – disse o cavaleiro dos céus dando uma olhada ao redor. – Windrunner Spire é um excelente lugar para o novo ponto de vôo...

– Coloquem essas galinhas voadoras na minha casa e eu os esfolo com essa tesourinha de cortar gavinhas... – comentou senhor Theridion todo possessivo mostrando o instrumento cortante.

– Imladris Rivendell Atwood! – chamou Eriol, a clériga correu e pegou as cartas que recebera, todas de Undercity, exceto uma.

– Mas senhor Theridion... Aqui na praça pode ser perigoso para os habitantes... Você sabe como esses danadinhos são...

– Na minha casa NÃO!!

– Mestre Theridion... – Imladris mostrou uma das cartas, o selo era da Dama Sombria, outra com o brasão de Silvermoon e outro com o de Orgrimmar. – Quer que eu leia? – o velho pegou as três cartas e leio-as rapidamente. Depois amassou-as bem e jogou-as no chão.

– Eu não vou limpar côco de galinha voadora! – o velho gritou no rosto de Sunwing. Eriol apaziguou.

– Calma senhor Theridion... Vim aqui para isso... – acalmando o velho. – E eles não são galinhas, poxa... São aparentados distantes dos dragões...

– A minha casa vai servir de poleiro pra essas galinhas super-desenvolvidas... Aaaah se eu ver aquela menina irresponsável! Vou torcer o pescoço esverdeado dela até...

– Calma Immieeee!! – Oxkhar segurava a esposa com dificuldade, pois a clériga já invocava uma magia atordoante com uma das mãos em direção ao velho rabugento.

– Como ele OUSA dizer isso da Dama Sombria?! – se contendo e abaixando para pegar as cartas amassadas, as endireitando e colocando dentro de seu livro de orações e magias.

– Mana, carta do Lethvalin... – disse Eriol dando a carta para ela, Kali apenas rasgou a carta em pedacinhos e jogou em um braseiro feito no centro da praça para manter a fonte de água límpida com os vapores mágicos de diversas cores. Immie e Ox se olharam.

– Não vou servir de escravo para aquela desmiolada!! – reclamava Theridion indo para o Windrunner Spire. – Mas que falta de vergonha e respeito comigo!! – Imladris apontou bem a adaga que Oxkhar guardava no cinturão.

– Minha mira não é certeira, mas consigo daqui...

– Okay, certo Immie, sério... Larga isso... – Oxkhar a agarrou por trás e tirou a arma branca de sua mão. A esposa ia virar-se para protestar, mas ele foi rápido e a beijou no pescoço e no rosto.

– Sério! Arranjem um maldito de um quarto!! – foi a vez de Eriol protestar fechando os olhos com as mãos. – Poxa vida, parece você e Lethvalin quando casaram! Se agarrando o tempo todo e fazendo essas coisas! Que nojo! – Kali o estapeou no braço com um sorrisinho malicioso.

– Fique quietinho aí que algum dia você vai saber o porquê fazemos tanto isso... – e dando um beliscão forte, o rapaz exclamou em um tom mais fino. – E você praguejou na minha frente?! Use essa palavra novamente e vou cobrir a sua língua com sal grosso...

– Bem... Vou ajeitar os meninos e espero que você tenha cuidado com o seu monstrengo aí, Willfire... – disse Sunwing ordenando os Dragonhawks a irem para o caminho do Windrunner Spire. – Você sabe como funciona não?

– Sim senhor! – o rapaz bateu continência. E ajeitou a postura para parecer mais adulto e imponente. Kali o cutucou na barriga.

– Parece um galo de briga orgulhoso...

– Melhor isso do que um Frangotestrider... – debochou Eriol com um sorrisinho no rosto.

– Aaaah andou aprendendo o que não devia com certa pessoa?

– Ela me contou coisas legais que vocês fizeram... Poxa vida, Kali! Eu preciso mesmo ir para UC quando vier o Hallow’s End! Quero muito um daqueles chapéus de abóbora!

– Como a Sorena está? – perguntou Imladris abrindo a carta que era de sua amiga. – Estudando direitinho?

– Ela vive na biblioteca dos clérigos. Dá medo. Entra de manhã, sai de noite. E depois pratica até tarde da noite lá fora no Portão dos Pastores. Eu fico por lá sabe? Recebo muitas missões da Capitã Gloaming e Arcanista Helion. Vocês têm que ver! Ela desmontou o mecanismo central de um Patrono Arcano e colocou-o de volta nos trinques! Tou te dizendo... – retirando mais um pacote de cartas. – O pessoal de Silvermoon a chama de “A Insana” pela disposição maluca que ela tem... Ela não pára nunca!

– Sabia que minha menininha não iria me decepcionar... – Immie disse toda orgulhosa e ruborizada, Oxkhar caiu na gargalhada. – O quê?

– Você parece uma mãe zelosa... Mas bem... Finalmente a encrenqueira colocou a cabeça nos eixos...

– Oxkhar... Posso falar com você...? – Mary Edras disse chegando perto do guerreiro. Ele olhou para Immie com preocupação e seguiu a mãe.

– Ela não pára um minuto sequer! Teve uma vez, na semana passada, que ela pegou todas as lamparinas do Passo dos Elderes e colocou um dispositivo mecânico nelas. Quando a noite caiu, todas se acenderam ao mesmo tempo! Nem precisou dos guardiões irem lá e acender as chamas! E quando o Sol apareceu, bam! Elas se apagaram do mesmo jeito!

– Sorena “A Insana”...? – Imladris estranhou.

– E ela está fazendo a Geringonça Voadora Turbo. Antigo projeto do pai...

– Aí sim, podemos chamá-la de Insana... – comentou Kali dando uma espiada na carta de Imladris, a clériga percebeu e ofertou a carta para a arqueira ler.

– Ela começou o cockpit um tempinho atrás. Muita bagunça e coisa pra comprar. Ela tava sem um tostão, sabe o que fez? Começou a vender brinquedos na lojinha de engenheiros ali na Praça dos Farstriders. Veio gente de Quel’Danas pra comprar o tal do esquilo automático. E as ovelhas? Hahaha!! Elas são demais!! Fazem barulho agora, e soltam pum, hahaha!! Muito engraçado! – Kali lia a carta com toda atenção do mundo. Imladris sorriu para a arqueira e depois para o irmão. – Ela me disse que está ajuntando dinheiro para ir para Ratchet, a vila dos Goblins em Kalimdor? Lá tem os melhores engenheiros goblins de toda Azeroth! E ela quer ir para Outland também, visitar o primo, até passei o nome de um mago que faz portais lá em SM...

– SM...?

– Silvermoon... – explicou Kali com a cara séria e devolvendo a carta. – Usamos abreviações para denominar as cidades.

– UC, Undercity. Org, Orgrimmar, SM, Silvermoon... Por aí vai...

– Outland? Ela quer ir longe então... Estou espantada com o espírito aventureiro dela...

– Eu mais ainda... – comentou Kali pegando suas coisas no chão e rumando para a Torre dos Farstriders. Eriol franziu a testa e deu de ombros.

– Ela sempre fica assim quando o assunto é a Sorena...

– Essas duas vão brigar muito até se entenderem... – riu Imladris guardando as suas cartas e apertando as mãos do garoto. – Muito obrigada, senhor Eriol Willfire... – o rapaz ficou maravilhado porque sentiu alívio nas juntas dos dedos, era onde doía mais quando cavalgava muito tempo em Ox-Hawk. De tanto segurar as rédeas, depois de um tempo as palmas das mãos esfolavam com a fricção. – Pode entregar um recado para Aelthalyste, Mestre dos clérigos em Undercity? – ela escreveu um bilhete rapidamente em uma página em branco de seu bloco de anotações. – Logo enviarei mais cartas para ela, só não esperava que o Cavaleiro dos Céus chegasse tão rápido por aqui... – Eriol pegou o bilhete e colocou no bolsinho de sua camiseta.

– Pode deixar que o recado irá o mais rápido possível! – e fazendo uma reverência a Imladris. – Com sua licença, Embaixadora...?

– Oh sim, claro...! – a clériga se sentiu eufórica subitamente pelo tratamento tão respeitoso. Eriol correu um pouco e deu um pulo em cima de Ox-Hawk. Com um clique feito com a língua, ele pediu para que o animal morto-vivo alçasse vôo. – Ao infinito e além! – e saiu voando como uma flecha em direção ao céu nublado. Oxkhar subia o morrinho da vila cabisbaixo.

– O que foi...? – a esposa perguntou preocupada.

– Papai recebeu notícias de Goldshire... O velho Primms morreu... A Taverna foi derrubada... Disseram que era “o lugar onde os traidores da Aliança viveram”...

– Oh Ox... Não fique assim... – Immie o abraçou com cuidado e segurando bem sua cabeça.

– Não pouparam nem o túmulo de mamãe... Queimaram a lápide, apagaram o nome lá nas Arqueiras... Como puderam fazer isso...?

– Ox querido, é a Aliança. Eles fazem isso mesmo!

– Não... Não é assim! Nós lutamos muito por eles e fizemos o que podíamos para ajudá-los! Posso não estar mais a favor do Rei deles, mas poxa vida...! Era a minha casa sabe? Onde eu nasci e cresci e... – evitando olhar para os olhos esverdeados de Immie.

– Pode chorar, eu deixo... – beijando a testa dele com carinho. Ele deixou uma lágrima teimosa sair, limpou-a com raiva, o rosto corado.

– Se eu fosse um maldito barão ou lorde cheio de dinheiro e terras, os desgraçados não fariam isso... – disse entredentes. – Como sou camponês é nisso que dá... Escorraçado dos registros como se fosse um dos da Irmandade do Defias...

– Não fica assim, hein? Olha pra mim...

– Como foram capazes de esquecer o que meu pai fez...? Ele deu a vida várias vezes pelo reino deles... Eu dei o meu sangue por eles...! E minha mãe? Quantos ela não curou que nem tinham onde caírem mortos direito? – cerrando as sobrancelhas e encarando o chão. – Dá vontade de invadir a cidade e surrar aquele pomposo do Varian de uma vez até ele prestar atenção na população necessitada... O Velho Thir e a Fazenda do Garret praticamente sobreviviam por causa da Taverna, sabe? Mantimentos e troca de mercadoria... E agora?!

– Você ainda tem muito de paladino nesse seu coração mole... – sussurrou Imladris nos lábios dele. Deu um breve beijinho. – Agora entenda uma coisa: O mundo é injusto. As pessoas mais ainda. O jeito é reverter as injustiças com nossas ações benéficas. Você faz bem por questionar e ter raiva, mas apenas isso não vai ajudar quem precisa...

– Você quer que eu invada Stormwind e bata no Rei Varian?!

– Não, bobão! Reverta essa sua raiva em boas coisas... – olhando ao redor.

– Esse lugar triste vai precisar de bastante coisa boa pra ser arrumado de vez... – a clériga concordou.

– O que a Mary foi falar com você...?

– Papai mandou uma carta para ela...

– Mandou?

– Eles se correspondem desde que papai chegou em Dalaran. – Imladris ficou surpresa e com um leve sorriso no rosto. – Ele com medo de morrer e ficar sozinho sabe? Voltar como um do Flagelo ou sei lá... Como um Abandonado... Aí resolveu escrever pra ela...

– Ah sim... Entendo...

– Se tornaram bons amigos... Ele encomenda algumas coisas para ela lá em Dragonblight, ela coleta alguns temperos daqui e manda de volta... Essas coisas...

– Estranho ver como o que era amor verdadeiro pode se tornar em amizade incondicional... – comentou Imladris com certo receio, Oxkhar enlaçou a mão dela na sua e beijou a mão da esposa.

– Não sei se é certo em dizer, mas gostaria muito de ser seu amigo pra sempre, Immie... – a clériga o olhou confusa. – Mas com o adicional bom de ser seu marido e amante e amorzão de todo sempre...

– Você é um bobão, sabia? – ela riu puxando a orelha dele.


Dias depois em Silvermoon de manhã.


 - Olha o que eu ganhei da Sorena...? – a clériga mostrou uma caixa de presente bem empacotada. Eriol estava ali ansioso para saber o que era, já que ele estava incluso na lista de presentes. Ela foi tirando os presentes, o primeiro era um esquilo mecânico mensageiro de cor parda. – “Para melhorar a comunicação entre os engomadinhos.”, hehehe, ela é tão fofinha... – lia a clériga.

 - O que veio mais?

 - “Para Eriol, o Indomável! Que controla a única montaria épica voadora que nenhum campeão de Silvermoon poderia ter.”, oh é um óculos!

 - É um girotrom-maximus 3000... – explicou o hóspede da casa. Ele também analisava a caixa. – Tem sorte, pirralho. Um desses custa os seus dois olhos no mercado negro... Deve ser de Dalaran...

 - Serve pra quê?! – Eriol perguntou curioso, vendo todas as lentes dos óculos especiais.

 - Quando você voar naquela coisa morta-viva, vai saber do que esses óculos são feitos... – explicou o hóspede sem ser ouvido.

 - Eeeee, ahn... incomum... – Artemísia segurou uma pistola com ajustes no coldre e um cano enegrecido pelo uso. – “Diga tio Andrus que não mais derruba a gente quando ainda está quente. Tem suporte pro ombro aí também.” – os olhos da clériga se encheram de lágrimas. – Ela arrumou a notória... Isso só não me enche de felicidade porque sou contra armas de qualquer tipo...

 - Mestre Andrus vai ficar feliz! – Eriol verificou a arma restaurada.

 - Ela mandou uma carta para Mestre Theridion e Magistrado Aminel...

 - Pronta entrega, tia Artemísia! – exclamou o menino estufando o peito.

 - Hey espere aí! Tem carta para Lethvalin para a Kali também... Ele deixou aqui mais cedo... – Eriol pegou as correspondências e desceu as escadas saltitando.

 - Tem carta pra mim? – perguntou o hóspede.

 - Não... Ela ainda acha que você a assombra...

 - Bem, sei que pedir perdão pelas possessões a essa altura vai ser besteira... Por isso eu preciso que você...

 - Sylvos, tem certeza disso...? – Artemísia entristeceu subitamente. – É assim que deve terminar mesmo?

 - O meu caminho foi extirpado da sua vida, você teve a bravura de escolher o seu, logo tenho que ajeitar o meu.

 - Sylvanas concorda com isso...? Você sabe que...

 - Ela não me prende mais a esse mundo... E a única pessoa que me prendia está em boas mãos... – o espírito de Sylvos Windrunner sorria para Artemísia parado em uma das janelas do quarto dela.



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