Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 21
Capítulo 21




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Passo dos Elderes, Silvermoon.

 - Está complicado, deixe-me entender... – disse Eriol coçando a cabeça. A clériga Artemísia estava com sua pior cara de brava e o jovem mago olhava dela para o superior do Clericato em Silvermoon, Aldrae. – A senhora quer que eu não vá para Undercity? Não quer que eu honre... – Artemísia o beliscou antes que terminasse.

 - Honrar o quê? – Eriol deu um gritinho pela dor causada pelo beliscão. – Será que apenas eu sei nessa cidade toda que ir as Ruínas é causar outro cataclismo ao nosso povo?

 - Agora a senhora exagerou, clériga Artemísia... – disse um jovem iniciante.

 - Devemos responder ao chamado às armas, clériga Artemísia...

 - E matar mais de nossos jovens? Arriscar nossas forças militares? Eu discordo completamente de enviar clérigos para... para... – Soldados chegavam com macas improvisadas, feridos vinham em fila para o prédio dos clérigos.

 - Arqueiro-Vigia Killean dos Farstriders se apresentando! – disse um jovem elfo. – Venho com notícias do front do Capitão Myrokos!

 - Fale então, nobre soldado! – pediu Aldrae, enquanto os clérigos se mobilizavam para ajudar os feridos.

 - O Flagelo atingiu em cheio o lado Sul de Zul’Aman.

 - Quem ordenou que as tropas fossem para lá? – perguntou o clérigo.

 - O Chamado de Armas era para ajudar a Mão de Tyr, caro clérigo... – Artemísia parou no mesmo instante.

 - O quê?

 - A mensagem vinda da Rainha dos Abandonados incluía nossa efetiva ajuda em Mão de Tyr... – Eriol sorriu um pouco e correu para a praça central para dar as notícias à sua irmã e Sorena.


 - E eles tocam numa banda? – a criança balançava a cabeça concordando. Sorena olhava para a sacada de um prédio na entrada do Portão do Pastor.

 - Eles tocam em todos os lugares que a Horda está.

 - Tipo... Aonde? – o menininho pulou de alegria ao informar.

 - Orgrimmar, aqui em Silvermoon, às vezes em Tirisfal Glades... E uma vez eles tocaram em Stormwind, mas o pessoal de lá não gostou das músicas.

 - Bando de cabeças-de-bagre... – o menininho concordou e continuou a guiar Sorena pelos lugares de Silvermoon. – Como assim não quererem esses caras tocando? Música é a única coisa que você não pode negar na sua vida! – o menininho apontou para o maior, era um Tauren robusto e cheio de braceletes e colares.

 - Eu amo o Chefe Tauren de nível 80! Eu quero ser ele quando crescer! E tocar bateria e fazer o povo pular e ser de nível 80!

 - O que é ser “de nível 80”? Tem alguma diferença?

 - A moça não sabe o que é ser de nível 80...? – o menininho olhou desconfiado para Sorena.

 - Não...?

 - Então é novata com certeza...

 - Hey! Sou mais velha que você, seu pirralho! – Sorena protestou, mas ao ver que Eriol se aproximava deixou um sorriso abrir e correu para abraçá-lo. – Eriol!! Eriol!!

 - Aaaaai, calma, eu quero respirar!!

 - O grande nobre mago-voador! Olha só você! – ela o apertou mais no abraço. – Sua irmã deve estar orgulhosa de você...

 - Na verdade ela me passou um sermão sobre tomar atitudes heróicas sem consultar ela antes... – os dois silenciaram.

 - Irmãos mais velhos são uns chatos... – disse Sorena com rancor. O menininho cutucou a perna de Eriol.

 - A moça não sabe o que é nível 80... – Eriol a olhou espantado.

 - Não me olha assim! Até 4 anos atrás eu estava em um brejo no meio de uma cidade da Aliança, pescando e servindo batatinhas cozidas na Taverna do meu... pai...? – Sorena titubeou nas palavras ao ver alguém conhecido entre os guardas de Silvermoon. – Pai?! – e depois tendo certeza de quem era, deixou Eriol e o menininho atônito por ir tão rápido ao encontro de um senhor de idade avançada sendo escoltado com rudeza pelos guardas. - Soltem-no!! Tirem as mãos dele!! Seus...! – Sorena empurrou um guarda de lado e abraçou bem Hrodi. Sangue fresco sujou o lado de seu rosto, o velho tinha um machucado não-cicatrizado na testa. – Pai, sou eu!

 - Sorena, minha criança... – ele irrompeu em lágrimas a abraçando mais. – Em todos os lugares desse mundo, eu nunca pensei que você estaria aqui...

 - Você está ferido! Está doendo muito? Eu posso te levar aos clérigos, eles podem te curar e...

 - Este traidor humano irá para a prisão, isso sim!

 - Encoste um dedo no meu pai, seu guarda de meia-tigela e vai perder a mão! – ela avançou contra o guarda sem pestanejar.

 - Insolente! Só porque é protegida da arqueira-vigia Kalindorane, não quer dizer que...

 - Sou protegida de ninguém aqui seu idiota!!

 - Elfos-dos-sangue são tão desprezíveis... – disse alguém atrás do guarda o cutucando forçadamente na armadura metálica. Todos os presentes se curvaram diante da autoridade de Vereesa Windrunner e Lor’Themar Theron.

 - Algum problema, soldados?

 - Capturamos este humano em Mão de Tyr... Ele tentou nos atacar quando chegamos à cidade para conter o Flagelo.

 - Vocês deixaram todos morrerem lá dentro... – sibilou Hrodi segurando bem a mão de Sorena.

 - E você estava no Portão esperando o quê? A fada-do-dente? – Sorena percebeu que a piadinha infame era devido à falta de dentes de seu pai, tão velho agora. Alguém chegou atrás de Vereesa e sussurrou em seu ouvido, era seu consorte Rhonin.

 - Ele ficará sob minha responsabilidade, Lor’Themar... – disse ela apenas. Os guardas soltaram Hrodi e ele deu alguns passos em falso.

 - O que eles fizeram com você...? – perguntou Sorena sentindo um arrepio característico de quando estava cercada de mortos-vivos em Undercity.

 - Vamos cuidar de nosso bravo paladino, sim? – disse Rhonin ajudando o velho a andar, enquanto Vereesa lançava um olhar mortífero para os guardas. Sorena foi obrigada a rir.

 - Do que ri, criança tola? – perguntou ela dando as costas e indo em direção de seu marido.

 - Você parece com ela, menos a parte de desprezar seus familiares... – disse Sorena indo atrás dela. – E parece ser tão terrível quanto a Dama Sombria. – Vereesa virou-se bruscamente e pegou o braço de Sorena com força.

 - Não se atreva a chamá-la desse título... pérfido e... amaldiçoado! Eu a proíbo chamar Sylvanas desse jeito! – os olhos azulados da elfa foram se tornando opacos por estarem marejados.

 - Eu a chamo como ela quiser. E ela é a Dama Sombria... A minha Dama Sombria...

 - Então não terei outra alternativa... – Vereesa largou seu braço e continuou a andar. – Terei que te matar antes que se torne um deles...

 - Eu não tenho medo de você! – Sorena provocou ao entrarem no prédio dos clérigos. Rhonin confortava Hrodi, pois os dois riam das velhas histórias da Ordem da Mão de Prata, Vereesa esboçou um sorriso gentil ao marido.

 - Pois deveria... – disse a mais velha empurrando a garota sutilmente para a parede. – A mesma Praga que assomou teu corpo, está se manifestando em teu zeloso pai humano... – Sorena estagnou no mesmo instante, olhos vidrados nos olhos da tia. – E o acordo com Lor’Themar era de levar apenas um com a Nova Praga para minha Cidadela Violeta... Terei que escolher entre vocês dois. E você está fazendo isso ficar cada vez mais fácil...

 - Leve-o. – a resposta rápida de Sorena fez Vereesa dar um passo para trás. – E-ele deve ir... se está com...

 - Fala isso por que quer ficar com “sua” Dama Sombria...?

 - Não... Porque eu aceito o meu destino, seja ele qual for... Mas sei bem que meu pai não aceitaria... – dando um aceno para o pai sendo medicado em uma maca.


Leste das Terras da Praga.

                Derris olhava os dois jovens conversando novamente sobre a Luz. Um papo nada interessante para o seguidor das Artes da Morte como ele. Pensou em como isso acontecia, essa coisa que chamavam de amor. Estava claro que o paladino humano estava completamente apaixonado pela clériga tagarela. Mesmo que ela fosse da outra facção, de outra linhagem, de outra raça. Elfas do Sangue eram tão atraentes para os humanos? Derris nunca iria saber, quando seu corpo caiu por terra no Monastério Escarlate, o amor que sentia por Serenath foi-se junto com seu sangue. Agora só sentia aquele vazio, um vazio especial que era só preenchido quando se lembrava de como sua irmã-gêmea o livrou do domínio do Rei Lich. Agora Derris pensava seriamente se tudo que Sylvanas fizera não era um imenso jogo e ele era apenas mais uma peça no tabuleiro.

 - Malditos vermes em minhas entranhas... – ele praguejou para afastar o pensamento de traição.

 - Algum problema, Mestre Derris? – perguntou Imladris, o paladino, como sempre, segurou a guarda de sua espada, esperando por qualquer momento de distração para estraçalhar seu corpo decrépito. Paladinos seriam os mesmos. Burros, grandões e cheios de coragem até que a morte chegasse à porta da casa deles.

 - Já pensou no que vai fazer, caro paladino? – perguntou Derris ao rapaz enfurnado em seu manto de viagem.

 - Fazer o quê?

 - Quando chegar a sua hora?

 - Minha hora? Isso é uma ameaça? – Oxkhar levantou-se bruscamente e sua mão foi novamente para a guarda da espada.

 - Sua hora de honrar sua espada, garoto! De que lado você estará?

 - Mestre Derris, isso é uma coisa a ser discutida depois... – pediu Imladris com uma voz séria.

 - Claro que estarei ao lado de meus nobres companheiros da Ordem Sagrada da Luz! – Derris soltou um chiado de desaprovação.

 - Humanos paladinos são desprezíveis... – disse ele entediado. – Muito obrigado pela lavagem cerebral Onyxia...

 - Que-quem? – perguntou Oxkhar confuso. – Como Onyxia...? Ela está morta! Majestade Varyan a matou!

 - Oras, não sabe o que aconteceu?

 - N-não?

 - Katrana Prestor soa familiar?

 - Claro que sim! A fiel conselheira de nosso Rei!

 - Onyxia. Filha de Asa Letal. – Oxkhar teve um acesso de loucura passar momentaneamente pelos seus olhos até sua mão. Imladris o olhou com a cabeça tombada.

 - Não era a senhora que tomava conta das vendas de fungos na Quadra dos Ladinos? – Derris acenou um não.

 - Essa era Onyra...

 - O que aconteceu com ela? Não apareceu mais há muito tempo...

 - Apotecário Faranell testou a Nova Praga nela... – o rosto de Imladris ficou estarrecido.

 - Quer dizer que... Onyra pode ser uma daquelas experiências falhas espalhadas pela Quadra dos Magos e no corredor da Sala do Trono?

 - Experiências falhas? O que diabos vocês fazem naquele lugar?! – Oxkhar questionou escandalizado.

 - Oh pela Dama Sombria! Eu posso ter pisado nela naquele dia em que entrei correndo na Sala do Trono! – Imladris levou a mão aos lábios em um gesto de completa preocupação.

 - Vocês são loucos ou o quê?! – Oxkhar já desembainhava a espada e apontava para Derris.

 - Acha que ele agüenta a verdade, Imladris? – a clériga deu de ombros e andava em círculos.

 - Que verdade?!

 - Rapaz... É melhor se sentar, porque isso vai te afetar...


Silvermoon, Corte do Sol.

 - Tem certeza disso Yondil...? – perguntou seu irmão mais velho Myrokos. A Mão de Tyr estava vazia e desinfetada do Flagelo. Cada canto dela. Os elfos não ousaram mexer nos tesouros, muito menos nas relíquias. Deixaram a cidade abandonada como estava.

 - Sei que vai demorar um pouco, mas preciso fazer isso antes que...

 - Olha aqui camarada, nada vai acontecer... Estamos do seu lado, lembra? O time inseparável? – o elfo mais novo riu um pouco para o chão.

 - Não me sinto digno disso...

 - E quem se sentiria...? Você tem um tesouro e tanto aí e pra quem deve entregar não é lá confiável...

 - Eu sei que perdemos a confiança quando... quando... – o mais novo balbuciou algo entre “queda” e “traição” – Mas a irmã dela está na cidade! Ela deveria entregar isso! Não eu!

 - Capitão Myrokos dos Farstriders...

 - Sim, meu senhor! – todos os vigias reunidos na Praça bateram continência a Lor’Themar.

 - Desobedecestes minhas ordens, colocou seu pelotão em risco em uma cidade inimiga por causa de um chamado vindo de um lugar que NÃO apreciamos em saber que existe... – Myrokos iria responder, mas Lor’Themar foi rápido. – Sabia que as notícias correm rápido?

 - N-não entendo meu senhor...

 - Alguém muito burro ou esperto demais disse aos quatro ventos que Silvermoon atacou Mão de Tyr, matando todos que estavam lá...

 - Não, nada disso, meu senhor! Quando chegamos...

 - Sim, sim, foi o que o velho humano disse. Mas ele viu como foi a recepção de vocês com os... sobreviventes.

 - Eles estavam impregnados pela Praga senhor, não poderíamos deixá-los sair da cidade. – explicou-se Myrokos. Lor’Themar caminhou entre o grupo de 13 homens. Cada um estava estafado e marcado pela batalha anterior.

 - Sim, claro... Mas agora os humanos acham que fomos nós que devastamos a cidade... A Aliança enviou um comunicado bem direto para nosso mensageiro vindo do Sul. O rapaz ficou sem as pernas e veio pendurado na sela do cavalo... – os soldados-vigias abaixaram suas cabeças ao mesmo tempo. – Queriam responder a um chamado de armas, Myrokos? Chamaram a guerra à nossa porta!!

 - Senhor... Temos nossas razões...

 - Suas razões? – Lor’Themar encarou bem o elfo a sua frente. – Suas razões? O seu dever maior é proteger o nosso povo! Manter nossa cidade livre do Flagelo! Livre da Aliança! E você fez ao contrário, chamou-os direto para nosso Portão!! – gritou o superior no rosto do Vigia.

 - Nós temos nossa devoção a zelar... – disse Yondil com firmeza. Lor’themar virou-se para ele.

 - Vocês devem zelar pelo seu povo!!

 - Nós somos Farstriders, meu senhor... Obedecemos apenas ao nosso chamado. – disse um deles.


Praça da Troca e Venda Real, Silvermoon.

                Kalí apontava um dedo para o nariz do irmão. Sorena corria em círculos pela pracinha, chamando atenção de Hawk-Ox e jogando pedaços de carne para o alto para o pássaro morto-vivo comer.

 - Você se juntou a eles...? Justamente eles?

 - Eles precisavam de um Mago... Um Mago Voador, então eu tava lá e...

 - Isso é suicídio... Por que não se joga de uma ponte bem alta? É bem mais fácil!

 - Você é dos Farstriders! Sabe que temos que cumprir as ordens dos líderes!

 - Mas não um chamado vindo de Undercity!

 - Vai Ox! Mais alto! – os dois se distraíram com uma Sorena empolgada, pulando por cima das cadeiras, se equilibrando na borda da fonte e lançando o pedaço de carne acima de sua cabeça para o pássaro pegar. – Você está lerdo e gordo!

 - Ela continua provocando as pessoas? – perguntou Eriol coçando a barba rala em seu queixo.

 - Você nem imagina... – suspirou Kalí impaciente.

 - Você também veio com essa de casamento oras! Eu não sabia, senão eu teria feito a condecoração mais tarde!

 - Essas coisas acontecem!! Não se pode prever!! – a mais velha balançou os braços.

 - Você casa com o Lethvalin e pronto, a nossa vida vai ser uma maravilha. Três Farstriders para proteger nosso povo. Porque se preocupa tanto com o que possa me acontecer? Lethvalin me apoiaria.

 - Não é tão simples assim! Você está sob risco de morrer batalha! E aquele lugar é amaldiçoado!

 - Ela veio de lá. Até agora não fez nada inapropriado para a classe dela – Eriol apontava Sorena rodando em círculos e tentando puxar a cauda de seu Dragon-Hawk.

 - Não mude de asunto! E você, mocinho, está de castigo!

 - Eeeeu não posso ficar de castigo!! O Chamado às Armas...!!

 - Você não vai nem por cima do meu cadáver!!

 - Eu gosto dessa parte... – disse Sorena chegando bufando por ar e sorrindo maliciosamente. – Então Kalí... No meu aposento ou no seu? – perguntou roucamente, enquanto Eriol ria da cara da irmã. – O que foi querida? Você falou “por cima do meu cadáver” e eis a sua feiticeira aqui! – Sorena fez um gesto amplo de saudação.

 - Pare com isso, está me envergonhando na frente de meu irmão... – pediu Kalí de um jeito que fez Eriol arregalar os olhos e rir mais.

 - O que você fez?! Era pra ela meter uma flecha na sua testa agora! – Sorena limpava as mãos sujas de carne na saída da fonte.

 - Ela não fez nada... – tentou Kalí, mas Sorena pulou de volta para eles, Hawk-Ox pairava sobre eles.

 - Sabe o que é legal disso tudo? Ele não faz caquinha... – disse Sorena apontando para Hawk-Ox. – Imagina um bicho desses fazendo caquinha em nossas cabeças? Tem multa pra caquinha de Dragon-Hawk aqui em Silvermoon? Aliás, eu não vi tantos assim por aqui... Vi lá fora e tem aquelas galinhas pretas super-desenvolvidas... – Eriol caiu na risada enquanto Kalí segurava Sorena pelos ombros a carregando para o prédio.

 - Me ajude aqui, Eriol!!

 - Eu adoro quando ela tem crises... – O jovem rapaz pegou Sorena pelo outro lado e os dois saíram arrastando ela para o prédio.

 - Não diga isso! – o velho Theridion apareceu na entrada.

 - Você deve admitir que o senso de humor dela fica excelente quando isso vem... – a irmã mais velha deu uma olhadela mortífera para ele e depois um penalizado para Theridion.

 - Outra vez? – perguntou apenas.

 - Outra vez... – replicou Kalí, Eriol ficou sem entender. Logo Sorena estava deitada na cama, tremendo em suor frio e balbuciando coisas desconexas.

 - E se eu não aprender a pescar até final de maio... Coisas irão acontecer... Os peixes vão morder os meus dedos, sabe? Parece que eles estão mordendo meus dedos agora... Estão mordendo meus dedos agora, Kalí? – Theridion pigarreou e fechou as cortinas.

 - Ela deveria pegar um ar sabe? Tipo... – Eriol opinou apontando para as janelas. – Ela precisa de ar corrente...

 - Ela está com a Nova Praga, Eriol... – Kalí confessou baixinho para o irmão, o elfo a olhou.

 - O quê???

 - Que isso não saia daqui, menino... – sibilou Theridion indo para o outro quarto.

 - Ela contraiu isso em Undercity... Acho que foi uma experiência...

 - Experiência?! Estão fazendo experiências com elfos lá embaixo?! – Kalí deu de ombros.

 - Eu lá vou saber...

 - Então ela vai...? – Kalí concordou pesarosamente e disfarçou fungando um pouco e sentando na beirada da cama. – Malditos...

 - Lembra de quando papai disse pra gente cuidar bem de quem a gente amava? – a voz de Kalí fez Eriol se ajoelhar a frente da irmã.

 - Kalí, não fica assim...

 - Por que então eu sinto que vou perder vocês dois? E olha que eu cuido de vocês muito bem, mas nunca parece ser o suficiente... – segurando a mão gelada de Sorena e a beijando gentilmente.


Estrada para Stratholme.

                Oxkhar já sentira a beira da morte várias vezes, mas ali naquele momento estava tendo mais certeza do que nunca que iria morrer. O desgraçado ao seu lado sequer se movera, apenas fazia aquele barulho esquisito com a mandíbula costurada. Imladris é que tentava apaziguar.

 - Oi pessoal... Tudo bem, bom dia...? – dizia ela rapidamente em Thalassiano, o paladino não entendeu absolutamente nada. – Ahn... Viemos de Undercity...

 - Sabemos disso! – exclamou um Farstrider com uma arma parecida com uma lança, mas com uma lâmina afiadíssima na borda.

 - Então sabe que viemos em paz...? – ela deu o seu melhor sorriso.

 - Não nos interessa a sua paz! O que quer nessa estrada?

 - Andar? – respondeu Mestre Derris na mesma língua. A ponta afiada de uma das lanças especiais cortou o ar e cortou sua mandíbula bem rente a costura. A bocarra de Derris abriu, mandíbula metálica pendurada. Ele colocou-a no lugar pacientemente e continuou a fazer o barulho esquisito. Oxkhar encarou o Abandonado ao seu lado. Ele não temia a morte. Não temia ser esquartejado por aquele grupo desconhecido de elfos. Pela primeira vez em sua vida, Oxkhar respeitou aquele morto-vivo ao seu lado. Ele não tinha medo de morrer, já ele... Ele estava morrendo de medo como uma criancinha chorona.

 - Viemos de Undercity para avisar aos Farstriders... – Imladris foi cuidadosa ao tirar a mensagem de dentro de seu livro de magia. – Que as Forças de Stormwind irão invadir Lordaeron pelo Sul, haverá luta nas fronteiras com Khaz-Modan e é provável que cheguem reforços vindos de Kalimdor. – nenhum movimento dos arqueiros-vigia. – Undercity pede ajuda em tempos incertos. Pois se eles invadirem a capital, com certeza seguirão até Quel’Thalas, já que pensam que... que... ahn... – Imladris tentava ler a mensagem.

 - Sylvanas Windrunner fez um apelo, camaradas. Não irão atender?

 - Não obedecemos aos mortos, sua aberração...

 - Por isso tantos morreram no Portão quando o cavaleiro da morte veio... – várias flechas voaram em direção de Derris, Oxkhar tentou em vão e puxou seu escudo metálico para protegê-lo, uma das flechas atravessou a estrutura sólida do escudo e penetrou em seu antebraço. O paladino segurou o grito de dor e continuou a proteger o Abandonado atrás de seu escudo e armadura. – Paladino...

 - S-sim...? – gaguejou Oxkhar fingindo estar bem. A ponta da flecha era serrilhada e estava saindo pelo outro lado de seu braço.

 - Eu já estou morto. Mesmo que atirassem, eu não iria sentir... – Oxkhar o olhou raivoso.

 - Estava tentando te proteger, seu maldito!

 - Essa não é a menina mais nova da Magistrado Aminel? – disse um que Oxkhar não conseguiu ver onde estava.

 - Não, não senhor, eu sou de Undercity...

 - Pela Luz do Sol que nos ilumina! É sim, é Imladris!

 - Parece que fui reconhecida...? Ou algo assim? Isso quer dizer que tenho fãs também? – disse a clériga dando de ombros.

 - Elfos do sangue são tão... previsíveis... – resmungou Derris. Oxkhar, que já perdera sangue demais, tonteou um pouco ao tirar a flecha perfurante do braço. Imladris foi até ele e com um toque de sua mão fez o ferimento cicatrizar.

 - O-obrigado... – ele disse se segurando para não desmaiar pela dor.

 - Disponha. E não se machuque tanto...

 - Tentarei... – ele sorriu o seu melhor sorriso, a clériga desviou o olhar para ele não ver que havia ruborizado.




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