Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 20
Capítulo 20




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Silvermoon no mesmo instante.

                Ao pousar na Praça Principal de Silvermoon, Eriol foi aplaudido por dezenas de pessoas. As notícias correram rápido e parte desse crédito fora para Andrus, o ladino, agora escondido em seu covil favorito: a Taverna da Lua Cintilante no Beco Mortal na periferia da cidade. Andrus espalhara a aventura do bravo Eriol, que conseguira expulsar os kaldorei das fronteiras da Floresta de Eversong, além de limpar a área para a cavalaria do Líder Lor’themar passar sem problemas. Tudo isso em cima de um curioso animal voador.

                Kalí estava entre as pessoas, com o mesmo olhar inquisidor e que prometia broncas para mais tarde. Mas para sua sorte, a irmã se afastou seguindo os vigias de Lor’themar e aquela carroça dirigida por um morto-vivo. Não que Silvermoon recebesse esse tipo de visita, mas todos sabiam o quanto a política era não deixar ninguém além de elfos do sangue entrar na cidade.


                Sorena estava muito quieta para quem tinha perguntas demais para serem respondidas. Com os braços cruzados na frente do corpo curvado, os olhos fundos e com olheiras muito escuras, os lábios ressequidos e os olhos esverdeados perdendo a tonalidade transpareciam o quanto ela se sentia por dentro. Vazia.

 - Você precisa descansar...

 - Logo irei... – ela respondeu para o velho que a acompanhara até o aposento amplo reservado aos Windrunner em Silvermoon. Nas paredes finamente decoradas havia pinturas e brasões da família. Um deles chamou atenção de Sorena que o tocou com os dedos trêmulos. Era a árvore genealógica dos Windrunner. – O que aconteceu realmente?

 - Eu não saberia dizer... – respondeu Theridion tirando as botas de viagem e colocando seus pés em uma bacia de água quente. – estava muito ocupado tentando descobrir qual era a doença de minha esposa.

 - A Praga?

 - Sim... Não sabíamos como ela se manifestava. Achávamos que éramos imunes... E quando Dandelion piorou, tudo ficou extremamente vazio em minha vida... Foi só uma questão de tempo. - Sorena encostou na parede com a cabeça, seu dedo arranhando o nome de Sylvanas entre os nomes de Alleria e Vereesa.

 - Vovó... morreu mesmo daquele jeito?

 - Se Sylvanas plantou essas lembranças na sua cabeça, pode esquecer... Sua tia é uma criatura deturpada pelo Mal, criança... As lembranças dela sempre serão as piores possíveis para qualquer mortal agüentar.

 - Então como...?

 - Lirath veio com a brilhante idéia... “Vamos levar mamãe para Silvermoon, vamos cuidar dela com os xamãs de Thunderbluff.”, logo meu filho foi mudando de idéia. As paredes do quarto não agüentavam mais os murros, ou urros daquela coisa que tomara conta da minha esposa. Eu nem percebera quando ela finalmente fora embora de seu corpo... Só me lembro de chegar em casa com notícias do front, Vereesa se casara escondido com um mago humano, fugira de casa sem dar explicação alguma. Alleria sumira do mapa, Sylvos morrera em combate, Sylvanas abatida nos portões de Silvermoon quase há 2 anos, Andrus não dava notícias. O único que ficou conosco foi o fiel Lirath, o meu mais novo. Naquela noite ele abriu o nosso portão e não conseguia entender com que força a mãe havia derrubado a estante dos livros. Quando pisei na soleira aquela coisa me atacou, no corpo da mulher que eu amava mais que tudo! O que eu podia fazer?

 - Você a matou?

 - Não... Uma flecha fez o serviço. – Sorena levantou a cabeça e mirou o velho descansado na cadeira confortável. – Se está pensando nela, sim, foi ela. – Sorena arfou com dificuldade e caiu no choro ali mesmo. – Seu pai entrou pelos fundos, atacou Lirath, o mordeu no pescoço, o contaminou com a Praga e depois pediu perdão sabe-se lá como! Todos os meus filhos estavam mortos. Todos aqueles que eu conhecia tão bem nesse mundo morreram. – o velho suspirou pesadamente e se espreguiçou. - Plantas são como meus filhos agora. Se elas morrem, eu posso replantá-las novamente, elas crescerão.  Velho maluco tem apego às plantas. O velho ranzinza não entende mais o mundo lá fora. O velho Windrunner rumina a sua vida trágica só para não se culpar, é o que eles falam...

 - Como eu... sobrevivi?

 - Sua mãe fugiu com você antes que tudo acontecesse. Seu pai estava fora há muitos meses, ela se mudou para o Vilarejo de Fairbreeze.

 - Mas mestre Derris disse que ela estava morta...

 - Ele acha que ela está morta... Foi o que Sylvanas disse a ele.

 - Por que me levaram para Goldshire?

 - Viver entre os humanos? Idéia fraca de Lor’themar após a Queda de Quel’thalas. Os vigias deveriam levar as crianças recém-nascidas para longe do reino. Alguns amigos nossos em outros reinos se propuseram em guardá-los, vigiá-los, mantê-los fora do perigo.

 - Eu nunca vi um elfo em Goldshire.

 - Não precisava ser elfo.

 - Algo me diz que o cozinheiro Prim não fazia parte disso.. – o velho riu-se da piada da neta.

 - Não, mas a velha louca sim...

 - Karin...? A arqueira?

 - Ela é uma aliada de confiança de minha filha mais nova, Vereesa, apesar de ter a mesma opinião equivocada sobre nós. – Sorena perguntou o que seria com um olhar.

 - Elfos-do-sangue são desprezíveis. – disse uma voz feminina parecida com a de sua tia Sylvanas. Vereesa Windrunner chegava com sua comitiva de Dalaran.


Fronteiras de Quel’Thalas.

                Yondil espiava pela fresta de sua tenda em um acampamento nos arredores da Floresta de Eversong. A discussão entre os capitães o deixava com dor-de-cabeça. Não podia negar a carta em suas mãos. Não poderia recusar o convite e se fizesse isso ela se lembraria de esmagá-lo assim que voltasse dos mortos. Porque ela sempre voltaria dos mortos. O Vigia limpou o suor da testa e virou-se para a caixinha de jóias enrolada em sua mochila de viagem. Verana dera a ordem através de sua superiora, Alleria queria que o colar fosse entregue à Sylvanas o mais rápido possível. Quase 23 anos perdido nos corpos encontrados na vila Windrunner e ele fora o sortudo a encontrar o artefato. Justamente ele que admirava Sylvanas de longe quando era um simples arqueiro-júnior nas fronteiras e estradas de Silvermoon. Um mero fracote ruim de mira era naquele tempo. E agora sendo o representante dos Farstriders depois de Halduron Brightwing, ele se sentia o mesmo fracote daquele tempo.

Não fora só o colar que o obrigava a ir a aquela cidade em ruínas ver a antiga paixão de criança. As ordens eram expressas. Yondil Silentform jurava lealdade eterna aos Windrunner e principalmente aos assuntos que tratassem os Windrunner. Pegando suas coisas em cima da mesa e seu distintivo dos Farstriders, ele saiu da tenda e foi até seu irmão mais velho, Myrokos. Depositou o distintivo na mão espalmada do irmão e deu meia-volta sem dizer palavra alguma.

 - Yondil!! Aonde vai?! – perguntou Myrokos confuso e alarmado com o gesto.

 - Você é o Representante de nossa Sociedade, sabe o que isso significa. Que a luz do Sol te guie...

 - Você não pode ir embora assim!!

 - Por isso mesmo estou indo...

 - Yondil!!

 - O que é, Myrokos?! – o mais novo virou-se para o irmão, olhos avermelhados pelas lágrimas de aflição.

 - Não vá, seu lugar é aqui!

 - Eu tenho um chamado, irmão e devo cumpri-lo a qualquer custo.

 - Então irei com você!

 - Não seja tolo! – o mais velho socou o irmão no ombro e com isso pregou novamente o distintivo em sua cota de malha.

 - Rapazes, estamos indo! Quero esse acampamento desmontado agora! – exclamou Myrokos para os Vigias ali acampados, logo tendas eram tiradas do lugar, elfos passavam de lá para cá e abasteciam a carroça que levava os suprimentos. Myrokos era um líder inquestionável, assim como seu irmão.

 - Não faça isso com eles, Myrokos... – pediu Yondil ao ver que as montarias estavam a postos.

 - Qual é irmão? E perder a oportunidade de esfregar o chão de Lordaeron com a cara de fuinha daqueles malditos da Ordem da Luz? Não perderia isso por nada...

 - Espere um momento, líder Myrokos...? – perguntou um outro Vigias. – Eles se atrevem a invadir nossa cidade novamente?

 - É bem melhor, Eriol... – sorriu Myrokos. – Desta vez veremos como os Abandonados são realmente em batalha. – E tirando a carta da mão de Yondil, Myrokos mostrou aos seus cavaleiros. – Um chamado às armas, meus irmãos! Se devemos nossa estada na facção da Horda, devemos cumprir com nossa parte! – os Farstriders se entreolhavam duvidosos. – Sim, são ordens vindas dos líderes de Undercity, mas lembre-se! Muito deles eram de nosso povo! Muitos aqui sabem do que estou falando! – alguns soldados baixaram as cabeças constrangidos, Eriol espiou entre eles, Andrus era um que se encolhera em seu lugar. – Um chamado de socorro, amigos! E quem somos nós para não obedecermos a um chamado de socorro?

 - Undercity? Eles estão mortos! Que fiquem assim! – exclamou um vigia temeroso.

 - Somos respeitados e ouvidos na Horda por causa deles, camarada. Não se esqueça disso.

 - Eles vivem sobre política e enganação! Irão nos matar naquele lugar amaldiçoado. – muitos protestaram com a decisão, Myrokos tentava replicar. Todos foram se silenciando quando a figura distinta de Andrus Windrunner seguiu Yondil Silentform.

 - Aonde eles vão? Estão loucos? – Myrokos estapeou a cabeça do que perguntara.

 - Estão seguindo o que coração deles querem, caro vigia. E é disso que somos feitos. Quer ficar, Aldos? Fique. E fique com meu distintivo. És o capitão dos Farstriders a partir de agora. Diga isso à Silvermoon. – pegando sua mochila e indo em direção do irmão.

 - Mas meu senhor e se perguntarem?! – exclamou Aldos mais confuso ainda com o distintivo na mão.

 - Diga que fomos honrar um compromisso! – e foram andando pela estradinha que levava até a saída de Quel’thalas. Aldos olhou para os Cavaleiros e depois para Eriol alisando sua estranha montaria.

 - Eriol Willfire, entregue a seguinte mensagem para o nosso Líder Halduron Brightwing: Iremos às ruínas de Lordaeron honrar o compromisso com a Rainha dos Abandonados. Peça reforços caso não voltemos em 3 dias. Entendido?

 - S-sim senhor... – e foi a vez de Aldos depositar o distintivo na mão de Eriol e partir com seus soldados em direção da onde Myrokos, Andrus e Yondil foram.


Praça da Corte do Sol, Silvermoon, manhã.

 - Já chegou a pensar em usar chicote ao invés de arco-e-flecha? – perguntou Sorena distraidamente pegando um pedaço de papel do chão da capital Silvermoon. Kalí a olhou com curiosidade. – Eu quero dizer, há alguém que usa chicotes para ameaçar inimigos? Por que ninguém nunca pensa nisso?

 - Esse tipo de arma é pouco usado por nós, Sor... Não é muito eficaz contra mortos-vivos... – Sorena espremeu o papel em uma de suas mãos, depois soprou entre os dedos devagarzinho. A fonte de água que jorrava a metros acima de suas cabeças acalmava o clima de tensão que a cidade estava. Um dos cartazes afixados era o Chamado às Armas de Undercity. Até os embaixadores do líder dos Orcs, Thrall, estava de visita à cidade. – Por que pensou nisso?

 - Não sei, às vezes isso me passa pela cabeça... Isso e doutores-bruxos...

 - Bruxos-doutores, você quis dizer...?

 - É, esses mesmos! Estou com essa canção remoendo a minha cabeça...

 - Uma canção sobre bruxos-doutores...?

 - É... Você me acha louca por isso? – Kalí, que usava uma túnica de cor degradê (entre o vermelho e amarelo), sentou à frente de Sorena e a encarou demoradamente.

 - Por que acharia? – Sorena soprou com mais força para dentro de sua mão e logo seu punho ficou cercado por chamas azuladas. Kalí pegou um pouco de água da fonte e já iria jogar em cima da menina elfa, mas soltou um gritinho admirado ao ver o que Sorena carregava na palma da mão: Uma réplica de uma flor dobrada em papel um tanto chamuscado.

 - Também penso em rosas negras... Nunca vi uma... Vovô disse que são raras, só crescem em cemitérios e tudo mais... – Sorena ajeitou a haste do papel que agora estava tão sólido que parecia ser feito de madeira. – Mas prometeu que iria me ensinar a plantar coisas... Eu gosto de flores... – e ofertou a réplica para Kalí.

 - Obrigada...

 - Isso é por toda a confusão que passou comigo nas costas... Não sou uma boa aventureira, acho eu... Tenho que melhorar...

 - Melhorar? Dependendo de mim, você ficará presa em Silvermoon até sua velhice... – riu a arqueira-vigia prendendo a rosa negra em seu prendedor de cabelos. Sorena suspirou para o alto e levou um susto.

 - Olha só! Um corvo! – Kalí virou-se para olhar o pássaro empoleirado na estátua de uma elfa arqueira que enfeitava a fonte. – Esse carinha tá me perseguindo?

 - Por que diz isso?

 - Papai disse que eu vim num embrulho com a cabeça de Mestre Derris e um corvo.

 - Isso foi... bizarro...

 - É, mas quem disse que eu sou certinha...? – provocou Sorena apertando o nariz da mais velha. – Quem tem esse posto é você.

 - O que mais de sua vida que é bizarro?

 - Além dos pensamentos desordenados?

 - Deve ter algo que eu não saiba. – uma sobrancelha de Kalí levantou quando a boca de Sorena iria dizer algo mais.

 - Às vezes eu tenho pensamentos muito ruins sobre as pessoas... Principalmente sobre a Dama Sombria...

 - Dama...?

 - A Suprema lá de Undercity...

 - Ah... e pensamentos ruins seriam...?

 - Algo relacionado a dores extremas e falta de respiração.

 - Você quer matar a Rainha Banshee?

 - Não, claro que não!! – exclamou Sorena com fervor. Encolheu-se depois. – Desculpe-me... – Kalí sorriu para o chão.

 - Você sempre fica assim quando falam dela...

 - Eu sei, é humilhante saber o quão imbecil eu sou por cair na conversa dela...

 - É bonitinho... – comentou Kalí, as duas se olharam por alguns instantes, a palidez acentuada de Sorena sumiu pelo rubor que a acometeu. – É louvável. Você a respeita como se ela fosse uma deusa...

 - Ela é uma pessoa incompreendida... – o corvo acima delas crocitou fortemente. – Não estou falando com você! Não se meta na conversa! – replicou Sorena brandindo o punho esquerdo para cima. – Cara intrometido... – Kalí riu baixinho e levantou-se.

 - Tenho que te falar algo... E pedir uma coisa também.

 - Pode falar... – Sorena voltou a sentar na beirada da fonte.

 - Me casarei até o final da estação e gostaria que você participasse da festa. Será que é possível você ficar quieta aqui em Silvermoon até então? – Sorena arregalou os olhos em surpresa e sorriu.

 - C-claro! E-eu ficarei sim, acho eu... Do jeito que a tal da Veeresa fica no meu pé, não me deixará ir antes disso... – e pigarreando. – E quem seria o sortudo? – Kalí sorriutimidamente para o chão e limpou uma sujeira imaginária em seu vestido.

 - O Vigia Lethvalin... Aquele que...

 - Sim, sim, eu sei... – Sorena concordou efusiva. Apertou a mão da Vigia algumas vezes e sentou novamente na beirada da fonte completamente perdida.

 - Bem, estou indo. Tenho que dar uma bronca no Eriol...

 - Ah bronca, sim! – Sorena acordou de algum lugar e concordou com um sorriso largo. - Vocês, irmãos mais velhos, são chatos demais!

 - Esse é o nosso trabalho... – a mais velha se retirou da pracinha onde as duas estavam, o olhar de Sorena estava perdido agora nas costas da Vigia. Sua boca abriu devagar para poder falar qualquer coisa na hora, mas o corvo que a vigiava intensamente crocitou baixinho.

 - Você é um intrometido...! – disse Sorena limpando a lágrima que descia teimosa pela bochecha.


Fronteira de Alterac e as Terras Fantasmas.

 - Explica de novo? – pedia Imladris para o Paladino Oxkhar ao seu lado na estrada. Derris ia à frente guiando o caminho.

 - É um poder que temos... Podemos curar qualquer um ao nosso redor com a força de vontade. E a graça da Luz, é claro... – Derris bufou impaciente e resmungou algo.

 - O que é a Luz afinal?

 - É o que nos guia, que nos dá a força para nossa missão... Proteger as pessoas do Mal.

 - Está aí um outro conceito questionável no meu livro de questionamento de conceitos...

 - Você é complicada, Imladris... – disse Oxkhar rindo um pouco.

 - Complicada? O mundo é que é simples demais aos olhos dos outros!

 - Vocês podem parar de tagarelar? Estou ficando com dor de cabeça! – reclamou Derris.

 - O senhor nem sente dor de cabeça!

 - Posso dar um jeito nisso... – Oxkhar indicou a espada em suas costas. – Záz! E seu problema será resolvido...

 - Engraçadinho... No Monastério profano de vocês pode fazer piadinhas?

 - Não fui treinado no Monastério Escarlate!

 - Mas com certeza não treinou o seu senso de humor!

 - Sinto falta das piadinhas de Lorde Varimathras... Oh, oh! Você sabe aquela do paladino, o clérigo e o dreadlord entram em uma taverna e... – o olhar de Derris fez ela se calar. – Está bem, não conto a piada... Mestre Derris está ficando muito ranzinza. Costumava fazer as melhores lá em casa!

 - Undercity não é mais meu lar...

 - Mas continua sendo o meu. E espero voltar logo...

 - Então por que veio? – Derris parou na estrada e apontou no rosto dela.

 - A Dama Sombria estava preocupada com seu bem-estar. Pediu-me que eu viesse com o senhor.

 - Espere um momento... Dama Sombria, Sylvanas Windrunner? – questionou Oxkhar pasmado. – Ela não é a Rainha dos Abandonados? Ela trata todo mundo assim?

 - Ela é a fofura em pessoa, vocês que não a compreendem...

 - Ela é uma víbora do deserto esperando a próxima vítima passar pela pedra em que ela se esconde... – disse Derris.

 - Hey! Isso foi rude! Não fale assim da Dama Sombria!

 - E então Sylvanas mandou você me espionar? Que tremenda estúpida...

 - Pare de falar assim! Ela estava querendo que você ficasse vivo quando voltasse!

 - Eu não vou voltar, menina tola...

 - Claro que vai! O Apotecário Faranell até deixou uma missão para você quando chegasse dessa!

 - Vocês dois, me expliquem o que está acontecendo?! – Oxkhar ficou entre os dois.

 - É uma história complicada, nobre paladino...

 - A Rainha dos Condenados é minha irmã-gêmea. E fez a minha filha Myrtae, que você chama de Sorena, seguir os passos dela quando a desgraçada deu as chaves de Quel’thalas para o maldito Arthas Menethil...

 - E eis a história resumida... – gracejou Imladris, para depois seu rosto se contorcer em asco. – Você chamou a grande Rainha de desgraçada?!

 - E ela não é? – disse Oxkhar ainda duvidoso de sua opinião. – Quero dizer... Ela está morta e sua essência ficará presa ao Rei Lich até o final dos tempos... Até que alguém o derrote... Não é uma... perspectiva boa de se... ahn... viver... – Derris olhava para o paladino com incredulidade.

 - E essa foi a primeira vez que palavras com consistência saíram de sua boca. Parabéns, paladino. Você vai longe com sua sabedoria...

 - Olha aqui seu monte de ossos reanimado! Se não gostou do que falei, venha então me... – Derris fez uma mesura e foi até Imladris. A jovem elfa do sangue estava com a expressão de pânico completo.

 - Então... Então... Se alguém destruir o Rei Lich, nossa Rainha também sucumbirá?

 - E todos os Abandonados...

 - Não, não, eu não quero morrer... Não quero... – repetia Imladris, Derris balançou a cabeça vigorosamente.

 - Mulheres...

 - Immie, você não irá morrer, pode ter certeza disso... – disse Oxkhar com um sorriso decidido.

 - Como não?! A minha vida está atrelada ao destino da Rainha! – o paladino finalmente entendeu a comoção de instantes atrás e segurou a mão de Imladris.

 - Você está viva, Imladris... Sinta isso. – colocando a mão de Imladris sob seu coração descompassado. – Então...?

 - É meu coração batendo?

 - E sempre bateu aí dentro...

 - Podemos parar com a cena romântica e irmos logo? O anoitecer está aí e chegar a Quel’Thalas é a meta até amanhã.

 - Cara apressado! – resmungou Imladris ainda maravilhada com a pulsação de seu coração.


Silvermoon.

                Sorena se sentia desconfortável com a visita. O mago humano olhava atentamente para seus olhos, pedia para que abrisse a boca, fechasse a boca, examinava seus ouvidos e narinas e depois sentava a sua frente e olhava suas mãos. A presença de Vereesa no aposento é que mais incomodava. Ela era muito parecida com sua Rainha. Se não fossem os olhos azuis e a armadura igualmente azulada confundiria facilmente Vereesa com Sylvanas. O velho Theridion segurava a mão da filha mais nova em silêncio.

 - Sim, eu diria que é uma doença rara... Bem mais resistente e escondida que a Praga Original... – Theridion fungou um pouco, mas Vereesa o confortou com um aperto em sua mão.

 - Isso quer dizer que vou morrer? – o mago de Dalaran, Rhonin, consorte de Vereesa, ficou em dúvida. – Quanto tempo eu tenho? Eu vou voltar como uma daquelas coisas lá do Sepulcro? Vou ser uma Abandonada?

 - Não diga isso, menina! – exclamou Theridion em agonia.

 - Mas é isso que vai acontecer não é?!

 - Caro pai. Meus assuntos em Silvermoon são prioritários agora. – sussurrou Vereesa para o velho. – Se me der permissão levarei Myrtae para meu Covenant para tratar de sua moléstia.

 - Não, não, não!! – gritou Sorena se afastando e pulando na cama fofa. – Se ousarem me tirar de perto de minha Rainha, eu juro que mato todos vocês! – Rhonin olhou para Vereesa que olhou para Theridion.

 - Sylvanas envenenou a mente de mais outro... Muito obrigada Rei Lich pela ironia do destino... – disse Vereesa tediosamente, assim como mestre Derris fazia, e saiu do aposento.

 - Não irei sair daqui! Tenho a minha devoção a zelar!! – gritou Sorena para ser ouvida pela elfa. Rhonin seguiu sua esposa e Theridion abaixou a cabeça em pesar. – Vovô, você vai desistir de mim?! Vai deixar esses estranhos me levarem embora?! – mas o velho saiu do aposento em silêncio.


Mão de Tyr, Sudeste de Lordaeron.

                Hrodi chegara à cidadela de Mão de Tyr há algumas horas. Logo percebeu em seu erro em seguir o chamado. As capelas estavam vazias e corpos jaziam por todos os lados. O que destruíra a cidade já fora embora e deixara comida farta para as aves de rapina. O corvo que o seguia se banqueteava em um soldado de infantaria partido ao meio. Em um cartaz na cidade as notícias de que o Monastério Escarlate caíra sobre o poder esmagador dos líderes de Undercity. Tropas vindas de Stormwind mal conseguiram passar por Arathi. Hrodi fez o que eu deveria fazer. Deixou sua mochila de viagem no canto do muro e começou a juntar os corpos em pilhas para cremar.




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