Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 15
Capítulo 15




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Vilarejo dos Windrunner em Tranquillien, anos atrás.

 - O que está fazendo? – perguntou ela no meio da noite. Ele estava concentrado acariciando o ventre avantajado de sua esposa.

 - Como pode isso acontecer?

 - Quer que eu explique do modo teórico ou mostre como é...? – os dois riram baixinho no quarto em que ocupavam na casa em que ele construíra sozinho com seu irmão Andrus.

 - Não, não isso... – ainda alisando o corpo da esposa. - Como pode alguém que eu amo tanto estar enfurnado aí dentro...?

 - Não sei... Essas coisas acontecem, você sabe... – a esposa sorriu e beijou-o na testa.

 - E como eu posso amar tanto essa coisinha aí dentro se ainda nem a conheci...?

 - Por que todo pai fica todo sentimental assim...? A coisinha aqui come mais que eu...

 - Mas estou aqui para assegurar que as minhas duas preciosidades comam bem... – beijando a esposa nos lábios e a confortando em um abraço. – E vivam bem...

 - Sylvos...

 - Eu sei... depois que Alleria deu o alerta, eu não sinto que aqui é um lugar seguro...

 - Mas vocês fizeram o que podiam...

 - Perdemos muitos soldados... Amigos... Pelo Sol que nos ilumina a cada manhã... Os gritos ainda ecoam em meus ouvidos... O que fizemos...?

 - Tudo vai ficar bem...

 - Não quero isso para a nossa criaturinha... Essa coisa comilona não pode ficar nesse lugar hostil... E você não merece viver no meio dessa loucura...

 - Iremos para Silvermoon então...

 - Lá é seguro... – convenceu-se Sylvos abraçando Serenath calmamente.

 - Opa!

 - O que foi?! – Sylvos levantou em um pulo da cama.

 - Nossa “criaturinha” chutou! – Sylvos se curvou perto do ventre da esposa e colou o ouvido na superfície.

 - Hey, você está aí?

 - Sylvos...? – Serenath resmungou impaciente.

 - Consegue me ouvir?

 - Sylvos, pára com isso...

 - Sou eu o papai, certo? Aqui fora é um bom lugar, acredite! – Serenath ria agora por Sylvos encostar os lábios e falar com sua barriga. – Papai vai te proteger, ouviu? E mamãe vai te encher de comida!

 - Você está me fazendo cócegas! – ria Serenath gostosamente.

 - Mamãe tem senso de humor! Vai contar piadas sobre os goblins pra você!

 - E ensinar ela a ser clériga... – Sylvos abriu um sorriso malicioso.

 - Como eu amo os clérigos... – beijando o ventre de Serenath e depois a beijando apaixonadamente nos lábios. – Principalmente uma certa clériga que conquistei... – Serenath retribuiu o carinho.

 - E que me fez quebrar meu voto de castidade...

 - Por uma boa causa... Ouviu neném? – beijando rapidamente o ventre da esposa.


Terras Fantasmas.

 - Eu diria que é uma boa tática. Mas flechas explosivas podem ser perigosas. – Sorena disse do nada, chamando atenção dos dois, Theridion e Kalíndorane. – O que foi?

 - Está falando sozinha?

 - Você não falou isso não? Sobre flechas explosivas e inflamadas?

 - Não. – rebateu Kalí cética com a conversa.

 - Mas deve ter pensado.

 - Não. – mas a arqueira mentia, minutos atrás pensava em um jeito de defender dois lunáticos com suas flechas encantadas. Armamento explosivo fora uma de suas hipóteses caso algo acontecesse. – Para onde vamos?

 - O vilarejo, o vilarejo! – Sorena fazia movimentos com os braços abertos para o alto. – Vamos para o vilare...

 - Pelo amor a Belore, menina! Cale já essa boca! – exclamou Windrunner. – Estamos indo para Tranquillien, Willfire. Prepare esse seu arco e avise seus colegas.

 - Por que lá?

 - Tenho negócios a resolver com esta menina...

 - Não sei se poderemos avançar pelas Terras Fantasmas Mestre Windrunner. Desde que a Dama Sombria restringiu a...

 - Para o Maelstron com Sylvanas! Se algum maldito dela passar pela minha frente, juro que se arrependerá do dia em que morreu.

 - Não fale assim, vovô! – e depois caindo na risada - Essa foi muito boa! – exclamou Sorena assoviando uma música que cantarolava antes.

 - Então é verdade... – comentou Kalí para o Mestre. – Ela é mesmo a criança que...

 - Sim, você já sabe da história muito bem... Sinta-se orgulhosa. Sua bravura salvou esta criaturinha aí... – indicando Sorena com a cabeça. – E agora ela não pára de falar... – viraram de direção na trilha e já alcançavam a Apotecária Thedra na fronteira de Tranquillien. – Que o Sol nos acompanhe, cara Thedra! – exclamou ele ao esqueleto da Apotecária. Ela agradeceu o cumprimento com uma reverência.

 - Que a vontade de nossa Dama Sombria esteja sempre em nossos ossos, senhora! – exclamou animadamente Sorena. A Abandonada sorriu enigmaticamente para ela.

 - Carne nova em nossos domínios? Bom saber... Diga-me Theridion: O que fazes tão longe de casa?

 - Não estou nem longe nem perto de casa. Gostaria de visitar meu lar novamente.

 - Oh... – a apotecária ficou encarando Sorena por um tempo. – E esta menina irá com você...? Eu manteria cautela ao adentrar pela trilha. As forças de contenção estão organizadas no centro do vilarejo, não há guardas nas bordas.

 - Agradeço o conselho...

 - Valeu! – disse Sorena apertando a mão descarnada da apotecária.


Vilarejo Fairbreeze.

 - Quando o Flagelo se espalha no corpo, afeta três órgãos fundamentais para a manutenção da vida. – dissertava o Arcanista Helion para Eriol. O jovem estava muito interessado, sentado na relva, com livros no colo e Lirath batendo suas enormes asas a poucos metros dele. – Estômago: Dando-lhes um apetite monstruoso e canibal sobre qualquer ser vivo. O centro de sua alimentação vem desta fome insaciável, assim como as suas forças malignas. Coração: O Flagelo extirpa qualquer emoção e sentimento. Faz o sangue congelar nas veias e não transportar mais alimento para nossos sentidos. Sem coração, sem emoção. – Eriol concordava e passava algumas páginas de um grosso tomo. – Mente: Destroem qualquer sanidade que possuímos, qualquer lembrança que temos, qualquer percepção da realidade. São tragados por uma escuridão desesperadora até o colapso de seus corpos. Para onde vão após a morte verdadeira? Só Elune sabe... – sorriu Helion para seu aprendiz, gostava de chamar o nome de sua Deusa.

 - Então uma vítima do Flagelo não lembrará nem mesmo de um parente vivo?

 - Nem mesmo da pessoa que mais ama no mundo.

 - E os Abandonados?

 - Por alguma razão estranha do destino, estes amaldiçoados fogem de qualquer descrição aqui dada. Não têm fome, emoções afloram, lembranças voltam imediatamente ao acordarem em seu sua segunda vida.

 - O senhor acha que a Lady Sorena estava infectada...?

 - Eu diria que foi outra doença que atingiu ela, não o Flagelo. – sorriu o arcanista.


Vilarejo dos Windrunner em Tranquillien, décadas atrás.

                Sylvanas Windrunner adorava apostar corrida com seus irmãos. Alleria a chamava de trapaceira por ela desviar do caminho original e dar a volta em atalhos para chegar na linha de chegada. Andrus ria muito quando as duas começavam a brigar, mas no final era sempre Sylvos que defendia Sylvanas das acusações da mais velha. Vereesa os assistia com desinteresse, gostava mais dos livros.

 - Aposto que você não consegue dar a volta no riacho e chegar aqui antes que eu... – chiou Alleria para Andrus, ele se animou, assim como Sylvos que arregaçou as mangas da blusa e ajeitou seus suspensórios para segurar bem as calças de linho que eram de Andrus. Mas ao ver Serenath, amiga de infância de Vereesa, a aprendiz dos clérigos de Silvermoon, parou no mesmo. Sylvanas já armava as pernas e zombava da irmã.

 - Alleria... Ainda não se convenceu de que eu sou a mais rápida?

 - Não estou apostando com você... – Andrus resolveu se abster da corrida, o pai o chamava nos fundos da casa para ajudá-lo com as ferramentas. Sylvos deveria ir também, pois era o engenheiro da casa.

 - Por que? Tem medo de perder o seu pão no jantar?

 - Eu não tenho medo de você! – Sylvanas se aproximou da irmã mais nova e deu um peteleco em uma das orelhas dela.

 - Não me chamam de Windrunner à toa...?

 - Veremos, Sylvanas... – e a corrida começava com as duas irmãs engalfinhadas uma na outra. Sylvos riu da cena e pigarreou para se mostrar mais adulto. Fungou e cutucou o nariz com a dobra do dedo indicador para chamar a coragem. Viu que sua blusa estava suja de graxa, praguejou contra todos os deuses e tentou esconder a mancha.

 - Elas nunca desistem de se desafiarem. É tão ridículo... – opinou Vereesa com o rosto grudado no livro que lia. Serenath estava ao seu lado, trançando fios de palha distraidamente e acompanhando a leitura da amiga.

 - Elas são crianças, você sabe... – disse Sylvos tentando ser um pouco mais adulto que já estava tentando ser. Serenath sorriu polidamente.

 - Bom dia, Sylvos...

 - B-bom dia Serenath...

 - Novidades na Floresta Eversong?

 - Além de Sylvanas explodir metade do estoque de fogos de artifício por acidente...? – comentou Vereesa.

 - Foi um erro de calculo... – desculpou-se Sylvos pelo erro da irmã. O rapaz ficou abobalhado pelo olhar que Serenath lhe dirigiu. Como se uma flecha invisível passasse em seu coração, ele sentiu pela primeira vez que havia sim uma mulher mais magnífica do que Sylvanas...

 - Bem, caso algum de vocês saia machucado, eu estarei por perto... – riu Serenath, Vereesa chiou impaciente.

 - Do jeito que os dois são? Vão acabar se matando... – Sylvanas chegava bailando na corrida, Alleria bem atrás dela.

 - Ganhei... Tão fácil quanto acertar um anão no escuro com um olho vendado...

 - Você trapaceou!! – reclamou a mais velha. Sylvanas se vangloriava com um sorriso intimidador, Sylvos gostava disso na irmã.

 - Crianças! – chamou a mãe de todos. – Almoço! – Sylvanas se alongou e estalou seus dedos das mãos.

 - Ah, mais outra refeição cheia de recompensas... – prendendo seus longos cabelos loiros palha atrás da nuca.

 - Ela trapaceou! – acusava Alleria apontando para Sylvanas.


Vilarejo dos Windrunner atualmente.

 - Há só um túmulo aqui! – gritou Sorena impaciente, Theridion limpava as mãos sujas de lama, o susto fez os nervos do velho aflorarem, assim como sua antiga prática de magia, já que era Feiticeiro em seu tempo de juventude.

 - Eu mesmo enterrei meu filho Lirath.

 - Não quero saber de Lirath! Quero meu pai e minha mãe! Sylvos e Serenath!

 - Não precisa gritar, estou te ouvindo bem... – respondeu Theridion calmamente, quase do mesmo jeito que a Dama Sombria respondera na primeira vez que a vira nos dutos de Undercity.

 - Mas que droga! – Sorena descontou a irritação de tantos segredos chutando pedrinhas da trilha.

 - V-você está bem? – Kalí veio em sua direção, ajeitando a alvaja e o arco nas costas.

 - Esse velho caduco está me deixando louca... – murmurou Sorena para ela em confidência.

 - Vamos adentrar uma das casas, por favor! O anoitecer chega e não quero ficar aqui fora quando isso acontece... – Se instalaram em uma das velhas casas da rua dos Windrunner, Theridion escolheu a poltrona mais bem conservada e deitou-se sem cerimônia. Sorena ajudou Kalí e seu companheiro Lethvalin a trancarem as portas e aprontarem barricadas com móveis estragados pelo tempo e sacos de areia.

 - Temos dois alçapões aqui. Podemos fugir caso a briga venha para cá.

 - É tão ruim assim? – perguntou Sorena tremendo as mãos.

 - Desde que a hostilidade dos Abandonados foi estabelecida, é toda noite. – explicou Lethvalin. – Antes eram só batalhas normais, um prisioneiro ali, a maioria morta e carcaça jogada do outro lado das Terras Fantasmas pra apodrecer, agora são ataques consecutivos, explosões e muito armamento vindo dos Abandonados. Acaba atingindo a gente não? Somos minoria e nada bem treinados com essas forças desconhecidas. Decidimos manter as fortificações como estão, se os Abandonados quiserem tirá-las de nós, haverá luta. Mas até agora não se manifestaram quanto a nossa ajuda...

 - E que fiquem assim! – disse o velho verificando seu conforto no sofá.

 - Vovô, estamos indo para o segundo pavimento.

 - É muito arriscado ficar aqui, mas estarei com Mestre Windrunner. – disse Lethvalin, Kalí e Sorena subiram em silêncio.

                O andar de cima não estava tão depredado, mas marcas de violência havia muitas. Teias de aranha enormes e cheiro de mofo latente. Sorena retirou algo de sua mochila e assoprou no ar com cuidado, principalmente no lugar onde estariam camas e mobília. Se sentou em uma dos colchões, enquanto Kalí fechava as frestas das janelas com pedaços de madeiras dali.

 - Por que se empenhar tanto em vir aqui? Está tudo morto! – resmungou Kalí.

 - Minha mãe está enterrada ali no jardim.

 - Ahn?

 - O túmulo de minha mãe... Está ali ao lado do de meu pai. No jardim. Não quero fazer o que tenho que fazer com o velho me olhando.

 - E o que você irá fazer? – estremeceu Kalí.

 - Você não me acerta com uma flecha se eu falar?

 - Sorena... – disse Kalí desconfiada.

 - Vou exumá-la. – a arqueira não entendeu de imediato. – Vou desenterrar os ossos e levar comigo.

 - Com você?

 - Sim.

 - Por quê?

 - Porque meu pai pode reanimá-la e traze-la de volta.

 - Seu pai?

 - Sim.

 - Sylvos Windrunner está vivo?

 - Vivo não, mas está inteiro.

 - Desisto! – exclamou a arqueira jogando os braços para cima. Sorena riu.

 - Não precisa entender. É um desejo bobo que eu quero satisfazer.

 - Então é isso? Tudo que faz é parte de um desejo bobo...?! Você é mais louca que eu imaginava.

 - Você não faz parte do desejo bobo... – Sorena revirou os olhos e foi consultar uma antiga estante arrastada no chão, livros despedaçados estavam espalhados perto dela.

 - Então eu faço parte do quê? – Kalí colocou a alvaja perto da cama em que se deitaria e verificou se havia algum inseto ou animal peçonhento ali perto.

 - Faz parte daqueles sonhos de criança em que o cavaleiro de armadura cintilante vem me salvar... – Sorena murmurou e se abaixou para ver o conteúdo dos livros, Kalí ficou ali encarando ela por um bom tempo.

 - E se esse cavaleiro não existir...? – Kalí descansou seu corpo e despiu sua vestimenta de couro batido que servia de proteção para seu peitoral, cintura e pernas. Sorena virou-se e a olhou por alguns segundos, depois sorriu para o livro que pegou do chão.

 - Tá bom, ele não usa armadura cintilante... Me contento com isso... – preparando a cota de malha de dragão no punho esquerdo e lançando um feitiço em direção do Void Walker que conjurou ao entrarem no vilarejo. O espectro apareceu translúcido perto dela, Sorena o guiou para fora, para que ele ficasse de vigia nas escadarias da casa, principalmente no andar de baixo onde seu avô e o Vigia Lethvalin estavam. Sentou-se no chão por um tempo e ficou a ler os livros ali caídos. Kalí deitou-se na cama que rangeu ao sentir seu peso. A Vigia se espreguiçou lentamente e testou o colchão por algumas vezes. – Tudo bem, eu não vou rir se a cama desabar enquanto você dorme. – Kalí a olhou com desprezo.

 - Largue os livros e vá dormir um pouco. Amanhã será um dia estafante. – se virando na cama e ficando de costas para Sorena. – Se pelo que Mestre Windrunner disser, teremos que ter mais que paciência para enfrentar o cerco em Tranquillien e conversar com o Magistrado.

 - Vovô entende das coisas... Vai convencer o senhor Magistrado...



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